Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

E como acontece com relação a todo ano que se finda, torna-se imprescindível um balanço geral dos lançamentos musicais que nele ocorreram. 2012 até que não foi um ano ruim para a nossa música popular, senão vejamos: João Bosco comemorou os quarenta anos de sua vitoriosa trajetória com um saboroso projeto registrado nos formatos CD e DVD, os fora-de-série Caetano Veloso e Djavan lançaram álbuns inéditos, os quais, se não roçaram a genialidade de trabalhos anteriores, se revelaram os seus melhores nos últimos anos e até o Rei Roberto Carlos mostrou que ainda possui bala na agulha ao vender mais de um milhão de cópias do EP que contém “Esse Cara Sou Eu”, outro mega sucesso de sua iluminada carreira.

Quanto ao ano que ora se inicia, este marca o centenário de nascimento de Vinicius de Moraes, Wilson Batista e Cyro Monteiro. Assim sendo, certamente diversas homenagens serão prestadas a esses artistas. Já no terreno dos lançamentos, chegarão às lojas os novos CDs de Elba Ramalho, Ney Matogrosso, Ana Carolina, Vanessa da Mata e da banda Skank. Zizi Possi, Amelinha e Gal Costa disponibilizarão os registros ao vivo de shows elogiados pela crítica especializada. E Filipe Catto, começando de fato a colher os merecidos louros, gravará o seu primeiro DVD. O grande burburinho, contudo, deverá mesmo recair sobre os aguardados primeiros álbuns das cantoras Simone Mazzer e Ellen Oléria, duas intérpretes acima da média que – graças a Deus! – cantam de verdade. A primeira, há anos batalhando por um lugar ao Sol, finalmente vem tendo o seu talento reconhecido no Sudeste maravilha e a segunda, vencedora do “The Voice Brasil”, se não for descaracterizada pela gravadora que comprou o seu passe, deverá fazer explodir a força de sua personalidade musical.

Enquanto tudo isso (e mais) não chega, fiquemos com os doze melhores CDs lançados em 2012 na opinião deste blogueiro, a qual é pessoal e intransferível e, por isso mesmo, sujeita a possíveis equívocos e/ou esquecimentos. Vamos lá!

O S     D O Z E     M E L H O R E S     C D s     D E     2 0 1 2

Marcia Castro

01 – “DE PÉS DO CHÃO” – Marcia Castro
A vigorosa cantora baiana chega ao segundo CD depois de ser bastante elogiada em seu trabalho de estreia. Com espetacular segurança, trouxe para o seu universo atualíssimo temas de grandes mestres da MPB como Cartola, Monsueto e Tom Zé e ainda mostrou uma capacidade inata para redesenhar canções bastante conhecidas de Moraes Moreira, Gonzaguinha e Rita Lee.

02 – “OÁSIS DE BETHÂNIA” – Maria Bethânia
Dona de um gênio reconhecidamente forte, a filha da saudosa Dona Canô deixou de lado os discos temáticos e a presença única do violonista Jaime Alem à frente da produção e dos arranjos e lançou um álbum conciso, porém arejado, cujo repertório (com canções de Chico Buarque, Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro) é a base do belo show com o qual vem percorrendo o Brasil.

03 – “TUDO ESCLARECIDO” – Zélia Duncan
A corajosa intérprete carioca continua incansável na busca pela beleza maior das canções e mergulhou de cabeça na obra do controvertido compositor paulista Itamar Assumpção. Construiu um dos pontos altos de sua elogiável discografia, aliando músicas conhecidas a outras inéditas, algumas resultantes de parcerias entre o Nego Dito e a poetisa Alice Ruiz.

04 – “SEGUNDA PELE” – Roberta Sá
Talvez a maior representante da nova e bem sucedida safra de cantoras nacionais, a linda potiguar confirma sua graciosidade em um CD não tão bom como o seu excepcional segundo trabalho, mas que tem lá alguns grandes momentos com canções assinadas por compositores da moderna geração como João Cavalcanti, Rubinho Jacobina e Quito Ribeiro.

Mart’nália

05 – “NÃO TENTE COMPREENDER” – Mart’nália
Sempre bem posicionada, cheia de ginga e dona de voz bonita e rouca, a filha mais famosa de Martinho da Vila lançou um álbum em que alarga suas possibilidades musicais até então direcionadas prioritariamente para o samba. Com um pé no pop e um repertório que abriga canções de Moska, Lula Queiroga, Marisa Monte, Adriana Calcanhotto e Nando Reis, engatou faixas em trilhas de produções globais, sedimentando seu caminho com habilidade ímpar.

06 – “RECEITA” – Sandra Duailibe
Apenas uma voz e um piano. Mas a dona da voz é uma cantora de fartos recursos e uma intérprete inteligente, daquelas que sente e entende o que está a dizer. Já o pianista é ninguém mais, ninguém menos que o exímio Leandro Braga. Aí, o resultado não poderia soar diferente: um CD primoroso que reúne, no repertório de pura elegância, pérolas de Noel Rosa, Ângela Ro Ro, Lenine, Chico Buarque e Dori Caymmi.

07– “O DISCO DO ANO” – Zeca Baleiro
Artista que sempre se mostrou aberto a diversas vertentes e novidades, o maranhense, enfim liberto de algumas amarras, deu o primeiro passo para o reencontro com sua criatividade característica, chamariz maior de seus dois primeiros estupendos discos. Com parceiros como Frejat, Hyldon e Wado ou compondo sozinho, ele fez um álbum leve e ao mesmo tempo bem gostoso de ouvir.

08 – “AMORÁGIO” – Ivan Lins
Com fama reconhecida inclusive no exterior, o compositor e pianista apostou suas fichas no mercado interno e apresentou o seu melhor CD em muitos anos. Trazendo a produção a cargo do antenado Rodrigo Vidal e contando com participações especiais de gente da safra mais recente da nossa MPB, como Pedro Luís, Tatiana Parra e Maria Gadú, o álbum apostou em um tratamento sonoro menos pomposo, o que caiu bem tanto para as canções inéditas quanto para algumas resgatadas do baú.

09 – “QUE SE DESEJA REVER” – Mateus Sartori e Guilherme Ribeiro
No ano em que se comemorou o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, várias e oportunas homenagens foram feitas ao Rei do Baião. Nenhuma, contudo, soou mais interessante que a concebida por dois grandes artistas, um cantor irrepreensível (que antes já havia gravado um ótimo tributo a Dorival Caymmi) e um pianista pra lá de talentoso que também se mostra um ás no acordeão. Com arranjos tão primorosos quanto delicados, as canções ganharam novas e insuspeitadas nuances.

Tulipa Ruiz

10 – “TUDO TANTO” – Tulipa Ruiz
Depois de um excessivamente cultuado primeiro disco, a cantora e compositora poderia cair em um lugar comum e continuar na trilha esboçada até porque conquistou, de imediato, um fiel séquito de fãs. Mas um rápido e muito bem-vindo amadurecimento musical pode ser efetivamente constatado nesse segundo trabalho, produzido com competência por Gustavo Ruiz, seu irmão, e que traz a participação especial de Lulu Santos. Caso real de arte em evolução…

11 – “GAMBITO BUDAPESTE” – Nina Becker & Marcelo Callado
Ela é uma das vocalistas da charmosa Orquestra Imperial e vem de dois monocórdios CDs lançados simultaneamente (“Azul” e “Vermelho”). Ele é integrante da banda indie Do Amor. Juntos, o casal soube transpor para a música a relação afetiva, o que resultou em um álbum acima das expectativas e bastante agradável para se ouvir (e reouvir), seja sozinho ou a dois.

12 – “TERESA CRISTINA + OS OUTROS = ROBERTO CARLOS” – Teresa Cristina
Não é qualquer artista que se arrisca em sair de sua zona de conforto. Nem é fácil se dar bem em uma praia distante da sua. Mas a sambista carioca ousou e surpreendeu positivamente ao se unir a uma banda formada por quatro jovens músicos e se debruçar sobre o cancioneiro mais antigo de Roberto Carlos. O Rei, geralmente arisco a esse tipo de iniciativa, gostou, tanto que liberou suas canções para integrarem o projeto, o qual resultou de fato harmonioso.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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