R E S E N H A
Cantores: VÁRIOS
CD: “ELIS POR ELES”
Gravadora: AMZ MÍDIA
E enquanto Maria Rita, filha caçula de Elis Regina, marcou os trinta anos de falecimento da mãe completados em 2012 com o lançamento do projeto “Redescobrir” (perpetuado em CD duplo e DVD), Pedro Mariano, o filho do meio, arregimentou vários intérpretes masculinos da nossa MPB e realizou no Teatro Positivo, em Curitiba (PR), em agosto próximo passado, uma apresentação especial que, devidamente registrada, se transformou no CD intitulado “Elis por Eles” que chegou às lojas pouco antes dos últimos festejos natalinos.
O álbum, também disponível no formato DVD, leva a assinatura de Otávio de Moraes na direção musical e conta com quatorze faixas que traçam um interessante painel do legado da Pimentinha. É claro que nenhum dos cantores convidados tentou rivalizar com as gravações originais, quase todas praticamente insuperáveis, mas o fato é que, diferentemente do que acontece em projetos desse tipo em que o resultado soa irregular, a recém-lançada homenagem desce redondinha.
E se há momentos menos interessantes (caso de “O Mestre Sala dos Mares”, por Jorge Vercillo, “Aprendendo a Jogar”, por Rogério Flausino, e “Cai Dentro”, por um quase irreconhecível Seu Jorge), os acertos surgem em maioria. Jair Rodrigues, ainda em grande forma vocal, mostra-se à vontade no medley de abertura que reúne duas canções de difícil estrutura melódica, “Upa Neguinho” e “Arrastão”, assim como seu filho, Jair Oliveira, que surpreende no molejo de “Madalena”. Os veteranos Cauby Peixoto e Emílio Santiago ratificam a costumeira elegância nas interpretações de “Só Tinha de Ser com Você” e “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, respectivamente, e o novato Felipe Catto confirma que veio para ficar com uma versão personalíssima de “Tatuagem”, um dos melhores momentos do repertório selecionado, ao lado do irretocável Lenine em “Atrás da Porta” e do emocionante registro a capella do grupo Roupa Nova para “Casa no Campo”. Até Chitãozinho & Xororó, aparentemente uma dupla fora do contexto emepebista, mostra competência em “Como Nossos Pais”. Há ainda a participação correta de Moska em “Nada Será Como Antes” e o domínio da arquitetura do samba de Diogo Nogueira em “Amor Até o Fim”. Ao final, Pedro Mariano, um cantor acima da média mas que infelizmente ainda não conseguiu deslanchar na proporção do seu talento, desfia com segurança uma das músicas que mais ficaram ligadas à imagem da mãe, a obra-prima “O Bêbado e a Equilibrista”.
Um projeto de fato à altura da eterna Elis e que vale a pena ser conhecido!
N O V I D A D E S
* Mesmo que até agora não tendo sido lançado em formato físico, vale a pena conhecer o terceiro CD do cantor e compositor Rodrigo Bittencourt. Trata-se de “Casa Vazia”, composto por onze faixas, todas elas disponíveis para download gratuito no site oficial do artista desde o ano passado. Criador inventivo e intérprete de agradabilíssima tessitura vocal, ele apresenta uma safra realmente interessante de músicas inéditas. Somente pela canção “Santinho”, delicada e deliciosa ao mesmo tempo, já valeria a pena conhecer esse trabalho, mas o fato é que há outros temas muito bem construídos que, se propagados em alguma trilha de telenovela global, certamente chegariam bem fácil ao topo das paradas. Entre eles, merecem destaque a bela faixa-título, a apropriada releitura de “Samba Meu” (música gravada originalmente por Maria Rita e que deu título ao CD por ela lançado em 2007), a inteligente “Macunaíma” e as ótimas “Pra Não me Machucar” e “Agora”, as quais contam, nos vocais, com as participações especiais de Alexia Bomtempo e Mariana Rios, respectivamente. Corra e ouça!
* O cantor, compositor e produtor Gui Amabis está lançando, através da gravadora YB Music, “Trabalhos Carnívoros”, seu segundo CD, o sucessor de “Memórias Luso/Africanas”, de 2011. Não se esperem canções de assimilação fácil posto que, na verdade, elas não seguem o formato mais tradicional, o qual se caracteriza por versos rimados e a presença de refrão. Cercado por uma banda enxuta, o artista apresenta dez faixas autorais e inéditas (uma delas instrumental, “Pausa”), criadas ao lado dos parceiros Régis Damasceno, Dengue e Rica Amabis. Os destaques do repertório ficam por conta de “Merece Quem Aceita” e “Um Bom Filme”, além da faixa-título.
* Aportou recentemente nas lojas, através da gravadora Biscoito Fino, o CD “Almamúsica Ao Vivo”, recital de piano e voz que une os talentos do casal Francis e Olívia Hime. Gravado ao vivo em novembro de 2011 no Teatro Fecap, em São Paulo, o álbum é um registro de delicadeza e bom gosto musical que reúne canções atemporais criadas por Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Ary Barroso e Vinicius de Moraes, entre outros.
* Formado pelo tecladista Alexandre Moreira, pelo DJ Marcelinho Da Lua e pelo baixista Márcio Menescal, o Bossacucanova está comemorando quinze anos de carreira com “Nossa Onda É Essa!”, o quarto CD de estúdio que acaba de ser lançado pela gravadora Coqueiro Verde e que traz o samba como protagonista, envolto em bem sacadas programações eletrônicas. Produzido pelos próprios músicos, o novo álbum é composto por onze faixas, três delas inéditas, e se revela como o melhor do grupo até agora. Como eles não cantam, cada música recebe um convidado especial que fica responsável pelos vocais, o que termina por conferir um charme especial ao projeto. Estão lá, entre outros, Elza Soares, Maria Rita, Moska, Emílio Santiago, Martinho da Vila e Teresa Cristina. Muito legal!
* Mais conhecido como produtor, arranjador e instrumentista, ao longo de sua carreira Dori Caymmi também lançou alguns discos cantando e, na maioria das vezes, interpretando suas próprias composições. Dono de bela voz grave, certamente herdada do pai (Dorival Caymmi, um dos pilares do nosso cancioneiro), Dori ganhou, no final do ano passado, uma homenagem da gravadora EMI. Trata-se de “O Cantador”, ótima compilação que reúne quatorze fonogramas gravados pelo artista no período entre 1971 e 2012. A maioria do repertório selecionado é bastante conhecida, caso de “Saveiros”, “Alegre Menina” e “Desenredo”, temas compostos ao lado de Nelson Motta, Jorge Amado e Paulo César Pinheiro, respectivamente. Mas há espaço também para outras belas músicas, ainda que menos propagadas, a exemplo de “Evangelho” e “De Onde Vens?”. Quase que totalmente autoral, o set list abre espaço para criações alheias somente em três momentos: “Estrada do Sol” (de Tom Jobim e Dolores Duran), “Peguei um Ita no Norte” e “Canoeiro” (ambas de Dorival). Os manos Nana e Danilo Caymmi surgem em participações especiais.
* O cantor e compositor Léo Jaime, atualmente no ar como ator na ótima novelinha “Malhação” da Rede Globo, está relançando o melhor CD de sua carreira, o qual foi originalmente gravado em 1995 quando ele já tinha de certa forma abandonado os roquezinhos adolescentes. Trata-se de “Todo Amor”, trabalho muito bem produzido pelo tecladista Fábio Fonseca e composto por doze faixas, uma delas (“Diz”, balada de autoria de Dudu Falcão) inédita, registrada especialmente para essa reedição. Nas demais, Léo canta de maneira suave e bastante agradável músicas de Lulu Santos (“Esse Brilho em Teu Olhar”), Djavan (“Outono”) e Ângela Ro Ro (“Tola Foi Você”), entre outros. Os melhores momentos, contudo, ficam por conta de “Minha Mulher” (de Caetano Veloso), “Preciso Dizer que te Amo” (de Dé, Cazuza e Bebel Gilberto) e “Eu Amo Você” (de Cassiano e Sílvio Rochael).
* Uma ótima pedida é o CD de estreia da cantora Camila de Ávila. Intitulado “B”, trata-se de um produto independente de real qualidade que apresenta uma intérprete muito interessante de voz bonita e bem colocada. Com a produção assinada por Jairo de Lara, o álbum é composto por uma dúzia de faixas, dentre as faixas se destacam “Foguete” (de Roque Ferreira e J. Velloso), “Eu e Tu” (de Rodrigo Salvador), “Lola” (de Chico Buarque), “Noite Severina” (de Lula Queiroga e Pedro Luís) e “Os Passistas” (de Caetano Veloso).
* Mais um nome advindo da Bahia começa a ganhar projeção nacional. Trata-se do cantor e compositor Magary Lord que lançou recentemente, através da gravadora Universal, o CD intitulado “Inventando Moda”. A sonoridade apregoada é voltada para o black semba que vem a ser uma mistura de black music com som angolano, mas que traz também alguns momentos que flertam com o reggae e o forró. Com participações especiais de Elba Ramalho (em “Anarriê do Semba”), Preta Gil (em “Aperitivo”) e Saulo Fernandes (em “Don’t Wait”), o álbum de dezesseis faixas encontra os seus melhores momentos com as canções “Pessoal Particular”, “Carro de Lata” e “Pegada de Dodó”.
* Encontra-se em fase de gravação o CD que marcará a volta da cantora Vanusa ao mercado fonográfico. O novo álbum, que ainda não tem seu título definido, terá Zeca Baleiro como produtor, o qual também se fará presente como compositor dentro de um repertório que conterá ainda canções da própria artista, além de um tema inédito de autoria de Zé Ramalho.
* A atriz, diretora e cantora Inez Viana acaba de lançar, através da gravadora Fina Flor, o CD “Samba no Teatro”, um sonho por ela acalentado há pelo menos três anos. São doze faixas pinçadas de espetáculos teatrais e que abrangem sambas assinados, entre outros, por Chiquinha Gonzaga, Noel Rosa e Paulo César Pinheiro. Produzido por João Callado, o álbum conta com as participações especiais de Chico Buarque (em “Biscate”, de sua própria autoria), Pedro Miranda (em “No Tabuleiro da Baiana”, de Ary Barroso) e do ator Sérgio Britto, num de seus derradeiros trabalhos (no texto de introdução a “Tatuagem”, outra de Chico Buarque, mas agora em parceria com Ruy Guerra). Graciosa e afinada, Inez canta muito bem e, por trazer nas veias o DNA de atriz, sabe imprimir as emoções corretas de acordo com o que cada letra sugere. Entre os destaques do repertório selecionado estão “Eu e o meu Amor” (parceria pouquíssimo conhecida de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), “Pop Pop Popular” (de Eduardo Dussek) e “Cacilda” (de José Miguel Wisnik).
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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