Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: OTTO
CD: “THE MOON 1111”
Gravadora: DECK

Descendente de holandeses e índios, o cantor e compositor pernambucano Otto ingressou profissionalmente no mundo da música como percussionista das bandas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, mas efetivamente começou a ser notado e comentado quando, em 1998, lançou o super elogiado CD "Samba pra Burro". Antes disso, em 1989, ele saiu de Pernambuco para passar dois anos na França onde tocou percussão nas ruas e metrôs de Paris. De volta ao Brasil, aportou no Rio de Janeiro e chegou a animar uma gafieira ao lado da sambista Jovelina Pérola Negra. A seguir, retornou a Recife e foi aí que conheceu as duas pontas de lança do movimento mangue beat: Chico Science e Fred 04.
Todas essas andanças fizeram com que o artista absorvesse várias influências, nascendo, então, um estilo musical único que alia aspectos de raízes da cultura local à música eletrônica atual. Embolando maracatu com drum’n‘bass, forró com rap, música experimental com pitadas de brega, Otto vem sedimentando sua carreira com discos geralmente conceituais (como, por exemplo, o ótimo segundo álbum, “Condom Black”, de 2001), o que torna a acontecer com o lançamento recente de seu mais novo trabalho, o sexto da carreira solo (e o quinto de estúdio). Trata-se do CD intitulado “The Moon 1111”, o qual chegou às lojas no final do ano passado através da gravadora Deck.
Produzido por Pupillo, o álbum é composto por dez faixas, nove delas inéditas e autorais (compostas ao lado dos parceiros Dengue, Rodrigo Coelho, Catatau, Kassin, Lirinha e o já citado Pupillo), além da regravação de “A Noite Mais Linda do Mundo” (de Marcelo e Donizete), sucesso setentista de Odair José (sim, Otto costuma incluir em seus trabalhos releitura de canção de cunho popularesco).
Cantor de recursos vocais não muito extensos, Otto vem amadurecendo continuamente nessa seara e confirma que já aprendeu a suprir possíveis limitações com interpretações adequadas ao que cada canção lhe exige. Em “Ela Falava”, por exemplo, a voz quase sempre rascante abre espaço para uma projeção mais suave. Aliás, no geral, o recém-lançado disco soa menos sisudo que o trabalho anterior (o kafkiano “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos”, de 2009). Neste sentido, se a afro-progressiva faixa-título surge inspirada em Guy Montag (personagem do filme “Farenheit 451, do cineasta francês François Truffaut), a percussiva “Selvagens Olhos, Nego!” (que conta com a participação especial da cantora Luê Soares) foi composta em tributo ao rapper paulista Sabotage.
Alguns dos melhores momentos do repertório ficam por conta das músicas “Dia Claro”, “Exu Parade” e “O Que Dirá o Mundo”, todas três com ótimas chances radiofônicas. Destaque também para “Miss Apple e Zé Pilantra”, até pelo fato de apresentar sugestiva percussão registrada com as batidas dos pés no chão dos integrantes do Balé Afro Magê Molê, captadas na periferia de Olinda (PE).
Trata-se de um bom CD que captura a obra criativa e em constante evolução de Otto. Vale a pena conferir!

N O V I D A D E S

* Se vivo estivesse, Herivelto Martins teria completado cem anos em 2012. Desde muito novo, ele, que foi incentivado pelo pai no caminho da música, do teatro e do cinema, mostrou-se inspirado. Carioca do interior, mudou-se para a Capital e foi lá que teve o seu talento, especialmente o de compositor, reconhecido. Já com o Trio de Ouro começou a colecionar sucessos e o seu intenso relacionamento com Dalva de Oliveira, uma das maiores cantoras da história da nossa música popular, serviu-lhe para criar vários clássicos do nosso cancioneiro, tanto quando eram casados quanto depois da tumultuada separação. Compositor múltiplo, ele não apenas registrava com destreza as desilusões amorosas como também sabia como poucos falar de forma inteligente sobre as transformações sociais que ocorriam à sua volta. Foi em sua homenagem que o produtor Thiago Marques Luiz se uniu ao excepcional violonista e arranjador Ronaldo Rayol e juntos concretizaram o ótimo tributo "Herivelto Martins – 100 Anos", o qual chegou às lojas no finalzinho do ano passado através da gravadora Lua Music. Composto por quatorze faixas, o CD alberga dezesseis canções compostas pelo homenageado, as quais traçam um sintético porém equilibrado painel de sua obra. Calcada unicamente em violões, a sonoridade do álbum revela-se ao mesmo tempo simples e bela, jogando luzes nas canções em si e nas convincentes interpretações dos artistas convidados que vão de Fágner (em "Pensado em Ti") a Agnaldo Rayol (em "A Camisola do Dia"), passando por Cida Moreira (em "Bom Dia") e Agnaldo Timóteo (em "Cabelos Brancos"). Em um álbum cujo resultado soa acima da média, torna-se difícil explicitar destaques, mas não há como deixar de ressaltar as irresistíveis interpretações de Filipe Catto, Verônica Ferriani e Tetê Espíndola para "Atiraste uma Pedra", "Carlos Gardel" e "Caminhemos", respectivamente. Completam o time selecionado Alaíde Costa, Vânia Bastos, Emílio Santiago, Cauby Peixoto, Graça Braga, Jair Rodrigues, Paulo Netto, Márcio Gomes, Ayrton Montarroyos e Ylana Queiroga. Realmente um projeto muito legal!

* A gravadora Rob Digital repõe em catálogo o terceiro disco do sambista Luiz Carlos da Vila. Intitulado “Raças Brasil”, o trabalho foi gravado em 1990 para o mercado japonês, sob a produção de Katsonouri Tanaka e a direção artística do violonista Maurício Carrilho, sendo originalmente lançado no Brasil em 1995 pela gravadora Velas. Há a participação de músicos excepcionais, a exemplo de Raphael Rabello, Marcos Suzano e Mestre Marçal. O repertório contempla grandes temas como “Além da Razão”, “Samba que Nem Rita Adora” e “Sorrir Já Não Basta”.

* Com a mesma formação de seu CD anterior (o elogiado “Ame ou se Mande”), qual seja, Sacha Amback no piano/sintetizador e Marcelo Costa na percussão, a cantora Jussara Silveira acaba de lançar, através da gravadora Dubas, um novo trabalho. Trata-se de “Flor Bailarina”, produzido pelos dois músicos anteriormente citados, e que foi concebido para mostrar ao Brasil a música feita em Angola. São onze faixas, a maioria recolhida junto ao cancioneiro daquele país que também tem o português como língua oficial. Jussara está cantando muito bem e, no que tange ao repertório escolhido, merecem destaque, além da faixa-título, as canções “Carapinha Dura” (de Teto Lando), “Lemba” (de José Manuel Canhanga) e “Muxima” (de Carlos Aniceto Vieira Dias).

* Além do novo CD de Vanessa da Mata, Kassin e Liminha também assinam em conjunto a produção musical do DVD que Bebel Gilberto gravou na primeira semana de dezembro do ano passado durante show realizado no Arpoador no Rio de Janeiro. Ambos a conferir!

* A cantora e compositora Socorro Lira está lançando o seu mais novo CD. Intitulado “Singelo Tratado Sobre a Delicadeza”, o álbum, que tem a direção musical a cargo do violonista Jorge Ribbas, é composto por treze canções inéditas e autorais. Conforme se depreende da informação estampada já na capa, o trabalho conta com a participação ativa do cantor João Pinheiro que surge como convidado em várias faixas, chegando, inclusive, a solar em alguns momentos. A sonoridade suave que permeia todo o disco se faz ressaltada pelos bem estruturados arranjos, os quais se utilizam, entre outros instrumentos, de viola, violino e violoncelo. E as bonitas vozes de Socorro e João conduzem com destreza o seleto repertório do qual se destacam “Da Coisa Linda”, “Pata Humana Pata” e “Absorta”.

* O show realizado pela banda Blitz em dezembro de 2012 na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, para comemorar os seus trinta anos de existência foi devidamente registrado e será lançado em CD e DVD ainda este ano. O repertório, essencialmente de caráter retrospectivo, contempla alguns dos maiores sucessos como “Você Não Soube me Amar”, “A Dois Passos do Paraíso”, “A Verdadeira História de Adão e Eva” e “Betty Frígida”.

* “Acabou Chorare”, o segundo e mais importante disco dos Novos Baianos, o qual foi posto no mercado originalmente em 1972, trazendo uma bem azeitada mistura de rock, samba, frevo e choro, retornou ao catálogo no final do ano passado, através da gravadora Som Livre, a tempo de servir como marco máximo às comemorações dos quarenta anos de seu lançamento. O sucessor de “É Ferro na Boneca” foi produzido por Eustáquio Sena e mostrava o grupo no auge do desbunde e da inspiração. Seus integrantes mais famosos (Moraes Moreira, Baby Consuelo e Paulinho Boca de Cantor – os outros eram: Pepeu Gomes, Dadi, Galvão, Jorginho, Baixinho e Bolacha) são os responsáveis pelos vocais de canções que se tornaram antológicas como “Preta Pretinha”, “A Menina Dança” e “Mistério do Planeta”. Também se tornou inesquecível a regravação da galera feita para “Brasil Pandeiro”, pérola de autoria de Assis Valente. Histórico!

* Após o hiato de uma década, a cantora baiana Daúde anuncia para breve o lançamento de “Código Daúde”, seu quarto e aguardado álbum, que trará, no repertório, canções assinadas por Alceu Valença (“Como Dois Animais”), Dorival Caymmi (“Cala a Boca, Menino”), Margartia Lecuona (“Babalu”) e Sá & Guarabyra (“Sobradinho”), entre outras.

* O selo carioca Discobertas em parceria com a gravadora Warner repôs recentemente em catálogo o álbum "Seu Domingos", lançado originalmente por Dominguinhos através da gravadora Continental em 1987. Herdeiro artístico do forró genuíno de Luiz Gonzaga, o cantor e compositor ratifica em doze faixas o seu talento inato. Delas, sete são autorais, a maioria composta ao lado dos parceiros Nando Cordel, Guadalupe, Clodo e Abel Silva. As demais foram recolhidas entre autores que entendem do riscado, a exemplo de João Silva, Cecéu e Moraes Moreira. Há uma única faixa instrumental, "Nós Dois de Testa", composta solitariamente por Dominguinhos. Entre os melhores momentos do repertório estão "Ninguém Vai nos Separar", "Gandaeira", "Estação" e "Fogo de Amor".

* O novo CD da cantora Daniela Mercury já está pronto e deverá chegar às lojas no próximo mês de março. Trata-se de um trabalho contendo treze faixas e que foi gravado pela grande intérprete baiana com a banda Cabeça de Nós Todos, formada por Aila Menezes, Deco Simões, Emerson Taquari, Leonardo Reis, Mikael Mutti e Sérgio Rocha. Do repertório faz parte a canção “Alma Feminina”, já em rotação em algumas rádios mais antenadas.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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