R E S E N H A
Cantor: KLEBER ALBUQUERQUE
CD: “10 COISAS QUE EU PODIA DIZER NO LUGAR DE EU TE AMO”
Gravadora: SETE SÓIS
O cantor e compositor Kleber Albuquerque, paulista de Santo André, desde pequeno ouviu música de todos os tipos: de rock a canção sertaneja, de samba a hinos evangélicos. Foi essa mistura de influências que terminou por formatar um artista ímpar que, embora esteja construindo sua carreira à margem da mídia, vem colecionando criações de inquestionável beleza, algumas delas gravadas por intérpretes como Eliana Printes, Ceumar e Marcia Castro. Ele aprendeu a tocar violão sozinho, quando, ainda na pré-adolescência, ganhou esse instrumento de presente do pai. Fã de poetas como Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges e Gabriel Garcia Marques, Kleber compõe muito bem sozinho, mas sabe se abrir a parcerias e já fez músicas com Chico César, Zeca Baleiro e Tata Fernandes, entre outros.
Seu primeiro disco saiu em 1997 e veio depois de diversas participações em festivais de música. De lá para cá, lançou mais outros quatro trabalhos até que, no apagar das luzes do ano passado, ele pôs no mercado o seu mais novo álbum, o sexto da trajetória. Trata-se de “10 Coisas que Eu Podia Dizer no Lugar de Eu te Amo", o qual é composto por quatorze faixas autorais, algumas assinadas ao lado de parceiros, e a maioria inéditas. Produzido e dirigido pelo próprio artista, é um projeto mais leve que os seus anteriores. E se entenda isso desde a praticidade das soluções encontradas para os arranjos quanto à forma com que os temas são abordados nas letras.
Kleber canta de maneira bastante graciosa – é, de fato, bem agradável ouvi-lo – e nesse recém-lançado disco, talvez como reflexo da fase de vida pela qual vem passando, optou por emissões mais suaves, terminando por passar ao ouvinte uma sensação natural de salutar entrega. Já no ótimo tema de abertura, “Besouro”, ele se faz responsável não apenas pela voz principal, mas também por todos os vocais que permeiam o desenrolar da faixa. E cercado de ótimos músicos como, por exemplo, Rovilson Pascoal (violão), André Bedurê (baixo) e Ricardo Prado (piano e acordeão), mostra-se à vontade tanto para mergulhar em mares baianos (em “Brincadeira de Amor”, parceria com Sérgio Lima) como para se apropriar do clima havaiano quando fala sobre a poesia na inspirada “Maquinário”, dois grandes momentos do repertório apresentado.
Outros destaques ficam por conta da bem construída “Canoeiro” (delineada sobre um refrão delicioso), da etérea valsa “Permitido” e da sensível “Vazante”, a qual conta com a participação especial da cantora Elaine Guimarães. Outro convidado é o aqui já citado Zeca Baleiro, o qual surge em “Tevê”, uma parceria entre os dois artistas, faixa que já havia sido gravada por Kleber em seu trabalho anterior (“Só a Amor Constrói”, de 2009).
Sem sombra de dúvida, Kleber Albuquerque é um dos mais interessantes artistas da atualidade. Por isso e mais um pouco, vale super a pena conhecer seu novo CD!
N O V I D A D E S
* Através da gravadora Biscoito Fino, chegou às lojas, bem no finalzinho de 2012, “Valentia”, o novo (e quarto) CD do cantor e compositor Bena Lobo. Para quem ainda não sabe, ele é filho de Edu Lobo e já há certo tempo vem batalhando para ver o seu trabalho reconhecido pelo grande público. Intérprete correto e criador talentoso, Bena fez um álbum predominantemente inspirado nas raízes nordestinas de sua família (seu avô Fernando Lobo é pernambucano), principalmente na primeira e melhor metade do repertório composto por dez faixas. O disco teve a participação ativa e direta de outro filho e neto de artistas famosos, no caso Daniel Gonzaga (filho de Gonzaguinha e neto de Luiz Gonzaga), que não somente dividiu com Bena os arranjos e a produção musical, como também executou diversos instrumentos tais como teclados, violão, guitarra, bateria e violino. Isso sem contar com as programações eletrônicas e com a ótima participação especial nos vocais da faixa “Velho Lua”. Embora soe meio repetitivo em alguns momentos, trata-se de um CD equilibrado que faz constatar o amadurecimento musical de Bena ao apresentar bons temas inéditos e autorais, compostos ao lado dos parceiros Paulo César Pinheiro, Rômulo Pacheco, Edu Krieger, Úrsula Corona, Maria de Moraes e Gabriel Moura. Indubitavelmente, entre os melhores momentos estão “Baião Valente”, “O Samba Não Morre”, “Sertão” e “Paixão Nordestina”.
* Ainda neste primeiro semestre chegará ao mercado, através da gravadora Deck, o CD em que as bandas pernambucanas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A abordarão uma o repertório da outra. Ícones do movimento rotulado como Mangue Beat, deverão garantir aos fãs de ambas momentos interessantes.
* Desde já bastante esperado, chegará em breve às lojas o novo CD do cantor e compositor Hyldon. Esse trabalho trará parcerias inéditas do artista com Arnaldo Antunes, Céu, Jorge Vercillo e Pedro Luís, além da participação especial da cantora Roberta Spindel na faixa “O Velho e Novo Amor”.
* Chegou às lojas recentemente mais um box da série “Tons” no qual a gravadora Universal faz voltar ao catálogo títulos importantes de seu acervo. Depois de “Dois Tons de Maysa” e “Três Tons de Fafá de Belém”, é a vez de “Dois Tons de Carlos Lyra”, contendo dois álbuns remasterizados do cantor e compositor carioca, mais precisamente os originalmente lançados em 1971 e 1972, quais sejam, “…E no Entanto É Preciso Cantar” e “Eu & Elas…”, cada um composto por uma dúzia de faixas. O primeiro foi produzido por Roberto Menescal com arranjos de Théo de Barros e traz, no repertório, clássicos do nosso cancioneiro como “Minha Namorada”, “Primavera” e “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”, as três em parceria com Vinicius de Moraes. Mas há outras faixas bem interessantes como as conhecidas “Maria Ninguém” e “Canção que Morre no Ar” (composta com Ronaldo Bôscoli) e as menos batidas “Lenda do Rio Vermelho” e “Até Parece”. Chico Buarque é o parceiro e também o convidado especial da faixa “Essa Passou”, uma dúbia alusão a férrea censura da época. Já o segundo disco traz a assinatura de Paulinho Tapajós na produção e os arranjos a cargo de Hugo Bellard. A canção que mais se destacou foi mesmo “Entrudo” (parceria com Ruy Guerra), embora haja outros bons momentos como “Só Choro Quando Estou Feliz” e “Lá Vou Eu”.
* A cantora Wanda Sá lançará este ano um DVD que contará, no repertório, com uma nova versão para “Rio de Maio”, bela canção resultante da parceria de Ivan Lins com Celso Viáfora.
* Até o meio do ano Ney Matogrosso estará lançando seu novo CD. Mas antes disso ele sairá em turnê testando o repertório a ser efetivamente gravado em estúdio. Dentre as canções que poderão ser brevemente registradas estão algumas de nomes emergentes do mercado fonográfico nacional como Maria Gadú, Dani Black, Criolo, Dan Nakagawa e Vitor Pirralho, mas também haverá espaço para compositores bastante conhecidos, a exemplo de Chico Buarque, Itamar Assumpção e Arnaldo Antunes.
* A cantora Juliana Aquino, dona de voz bonita e suave, está lançando seu segundo CD, o qual foi produzido pelo marido Tuta Aquino. Trata-se de “2 x Bossa” e, como o próprio título já entrega, é um trabalho no qual as canções receberam tratamento sonoro que as remete à Bossa Nova. O repertório é composto por nove faixas (mais duas surgem ao final, como bônus, mas são canções já presentes cantadas em outros idiomas). Juliana interpreta “Lately” (tema que ficou conhecido, aqui no Brasil, como “Nada Mais” na voz de Gal Costa), mas em contrapartida registra a original “Estrela” (de Gilberto Gil) em inglês, transformando-a em “Star”. Entre os melhores momentos estão “Não Tem Jeito” (de Alexandre Leão e Carlos Santos) e “Aqueles Olhos Verdes” (em versão nacional assinada por João de Barro). A ficha técnica reúne vários músicos de ponta, a exemplo de Sylvio Mazzucca (no baixo), Teco Cardoso (na flauta), Torcuato Mariano (no violão), Paulo Braga (na bateria) e Beto Paciello (ao piano), este também responsável pela co-produção musical.
* Ed Motta está anunciando para dentro em pouco o lançamento de seu próximo CD. Quem viver, ouvirá!
* O sambista Marcelinho Moreira acabou de pôr no mercado, através da gravadora Sony Music, o CD intitulado “Fé no Batuque”. Produzido a quatro mãos por Arlindo Cruz e Rogê e composto por dezesseis canções dispostas em quatorze faixas, o álbum mostra um compositor que realmente conhece o universo do samba (é dele a autoria de nove dos temas apresentados, a maioria criada ao lado de parceiros) e um cantor talhado para investir nesse que é o gênero musical mais popular do Brasil. Há as oportunas participações de Seu Jorge, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Regina Casé e Hélio De La Peña, além do já citado Arlindo Cruz. Os melhores momentos ficam por conta de “Filosofia de Vida”, “Deixa de Dar Defeito”, “Finas Iguarias”, “Pra Bom Enté Meia Pala Bá” e “Recriando a Criação”. Bem legal!
* Aproveitando o ótimo momento artístico, enquanto colhe os elogios por “Tudo Esclarecido”, seu novo CD no qual aborda o cancioneiro de Itamar Assumpção, a cantora Zélia Duncan já começa a excursionar pelo Brasil com o show homônimo. E ainda anuncia para o próximo mês o lançamento do DVD que trará, na íntegra, o registro do espetáculo teatral “TôTatiando”, baseado na obra do compositor paulista Luiz Tatit. Ela pode e faz!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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