MUSIQUALIDADE

R E S E N H A    D E    C D’s

 

Cantora: MARISA MONTE

Títulos: “INFINITO PARTICULAR” e “UNIVERSO AO MEU REDOR”

Gravadora: EMI

 

Seis anos após o lançamento de seu último álbum de inéditas, o cultuado “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor” (jejum somente quebrado pelo trabalho gravado em conjunto com Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, que gerou os Tribalistas), a cantora Marisa Monte faz chegar ao mercado, ao mesmo tempo, dois CD’s com repertórios quase que totalmente inéditos.

“Infinito Particular” vem sendo vendido para o público como o CD mais pop. Produzido por Alê Siqueira e trazendo vigorosas cordas assinadas por Eumir Deodato, Philip Glass e João Donato, trata-se de um disco de sonoridade cool em que os complexos arranjos foram concebidos para soarem simples. São treze faixas, todas de autoria da própria Marisa com parceiros sortidos, nas quais a cantora desfia sua bela voz de maneira cada vez mais suave, valorizando os graves e as respirações.

As letras, em geral, cresceram em conteúdo se comparadas, por exemplo, com as canções do disco dos Tribalistas. As melodias é que soam pouco inspiradas, tanto que não há nenhuma faixa com pinta de vir a se tornar um grande hit imediato, como ocorreu, por exemplo, como “Amor, I Love You” e “Beija Eu”. É claro que a gravadora deve tentar incluir alguma das faixas nas trilhas das próximas novelas da Rede Globo que vão estrear até o meio do ano (“Cobras e Lagartos”, às 19 horas, e “Retratos da Vida”, às 21 horas) e, assim sendo, a escolhida vai tocar bastante. Mas o fato é que o disco não contém qualquer música que fique, de pronto, na cabeça do ouvinte.

A primeira faixa de trabalho é a delicada “Vilarejo”, mais uma parceira de Marisa com Brown e Arnaldo, porém a característica mais marcante desse CD é o fato de a cantora ter aberto o leque de seus parceiros: há canções com Seu Jorge (“O Rio” e “Levada”, esta uma das melhores do trabalho e que lembra o Kid Abelha em sua fase mais cabeça), Leonardo Reis (a abolerada “Aquela”), Nando Reis (“Gerânio”), Marcelo Yuka (“Quem Foi”), Rodrigo Campelo (a exótica “Pernambucobucolismo”) e Adriana Calcanhotto (“Pelo Tempo Que Durar”).

Já “Universo ao Meu Redor” é o CD voltado para o samba. Produzido por Mário Caldato, o álbum resultou de uma pesquisa feita por Marisa junto a pessoas ligadas ao mais genuíno dos ritmos brasileiros e se mostra bem superior ao outro.

Há boas canções da lavra dos Tribalistas (“Quatro Paredes”, “A Alma e a Matéria” e “Satisfeito”) e a descoberta de uma inédita de autoria de Moraes Moreira, composta na época em que o compositor baiano ainda integrava o grupo Novos Baianos, a graciosa “Três Letrinhas”. Como maior qualidade, traz a lume canções pouco conhecidas de bambas. É o caso de “Lágrimas e Tormentos”, de Argemiro Patrocínio, e da valsa “Pétalas Esquecidas”, de Dona Ivone Lara.

As rádios já executam maciçamente a inspirada “O Bonde do Dom”, mas há destaques tanto entre músicas mais antigas (a criativa “Meu Canário”, de Jayme Silva, e “Perdoa, Meu Amor”, de Casemiro Vieira) como entre as pertencentes à safra mais recente (“Para Mais Ninguém”, de Paulinho da Viola, e a belíssima “Vai Saber?”, de Adriana Calcanhotto).

Marisa Monte é uma artista que sabe o que quer. Comanda com mãos de ferro a sua carreira. Acerta muito mais do que erra. Pôs dois discos num tempo de vacas magras no marcado fonográfico nacional porque sabe que tem espaço e cacife para isso. E certamente ambos serão campeões de venda este ano. Precisa apenas se conscientizar de que é muito melhor intérprete do que compositora e que não deve deixar a emoção superar a razão sob pena de comprometer aquilo que mais a diferencia de suas colegas: o seu talento inato de diva. 

N O V I D A D E S

 

·               E foi finalmente lançado, na semana passada, o CD contendo as 14 finalistas do Festival de Música promovido pelo Banese em 2004. Dentre algumas boas canções e outras apenas razoáveis, merece destaque a bela música que alcançou o primeiro lugar, “O Que Me Acalma” (de Cláudio Barreto), além de “Herança” (de Kléber Melo) e “Quase” (de Lina Souza e Tânia Sevla). Tomara que a iniciativa não morra e que venha a ser, inclusive, copiada por outros órgãos e empresas…

 

·               De volta a Aracaju, a arteira Patrícia Polayne já mostra, nas nossas noites, o seu incontestável talento. Seja bem-vinda, rouxinol, e que seu canto abençoado consiga ultrapassar barreiras e quebrar, de uma vez por todas, a tão malfadada praga do Índio Serigy!

 

·               A paraibana Elba Ramalho desvinculou-se da multinacional Sony & BMG, mas confirma para este ano o lançamento de seu novo CD, o acalentado projeto que será produzido pelo pernambucano Lenine. Algumas canções já estão garantidas no repertório, tais como: “A Dança das Borboletas” (de Zé Ramalho e Alceu Valença), “Anjo Azul” (de Jorge Ben Jor), “Boas Novas” (de Jorge Vercilo) e a obra-prima “Conceição dos Coqueiros” (de Lula Queiroga).

 

·               É difícil de classificar a música de Fernando Catatau, um novo nome que já surge como cult na nossa música brasileira e que acaba de pôr no mercado o CD intitulado “Cidadão Instigado e o Método Tufo de Experiências” através da pequena gravadora Slag Records. Com marcante influência do baiano Tom Zé, Catatau mostra-se corajoso ao mostrar, em seu trabalho de estréia, canções que poderiam rotulá-lo de brega (caso de “Te Encontra Logo” e “O Tempo”). Com sotaque fortemente nordestino, o artista, todavia, mostra-se talentoso e apto para conseguir conquistar o grande público. As faixas “O Pobre dos Dentes de Ouro”, “Chora, Malê” e “Apenas Um Incômodo” (as melhores do disco) dão pistas de que isso pode vir a acontecer rapidinho…

 

·               Em registro especialmente feito para a trilha da nova novela da Rede Record, “Cidadão Brasileiro”, entraram em estúdio Edu Lobo e Zizi Possi. Os dois regravaram a antológica “Ponteio”, parceria de Edu com Capinam. O resultado, como não poderia deixar de ser, ficou de arrepiar!

 

·               A afinada Vânia Bastos lança em breve o seu primeiro DVD, fruto do registro de show realizado recentemente no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. No repertório, músicas de Adoniran Barbosa, Tom Jobim e Arrigo Barnabé, artista com quem a cantora começou sua carreira no início dos anos 80 quando era vocalista da banda dele, a irreverente Sabor de Veneno.

 

·               Gravado ao vivo em Salvador (BA), já se encontra nas lojas, via gravadora Universal, o novo trabalho do baiano Luiz Caldas, recém-contratado da Caco de Telha Produções, firma de propriedade de sua conterrânea Ivete Sangalo. Para quem não se lembra, Luiz foi o precursor do axé music e o grande responsável por vários grandes sucessos populares, todos presentes no recém-lançado CD (“Fricote”, “Haja Amor”, “É Tão Bom”, “Tieta”, “Magia”, “Odé e Adão”). O cara é bom compositor e tem energia na voz, qualidade fundamental para quem quer despertar multidões. Há melodias deliciosas e as letras, embora em sua maioria sejam bem simples, são bacaninhas. O problema maior do atual disco reside nos arranjos. Se eles podem funcionar no palco, em CD o som termina resultando frouxo e meio artesanal. Por outro lado, há que se destacar a qualidade dos backing vocals, bem entrosados e afinados na medida certa. Dentre as cinco canções da safra mais recente do artista que estão presentes no repertório do disco, o destaque cabe à contagiante “Cantiga de Amor”. Mas os melhores momentos ficam mesmo por conta das conhecidas e bem-humoradas “O Que Essa Nega Quer?” e “Lá Vem o Guarda”. Há, ainda, as participações especiais de Ivete (em “Ajayô”), de Durval Lelys, o vocalista da banda Asa de Águia (em “Vaza”), de Fágner (em “Amazonas”) e de Carlinhos Brown (em “Beverly Hills”).

 

·               Mais uma cantora que abraça a linguagem pop surge no cenário musical brasileiro. Trata-se da pernambucana Claudia Holanda (radicada no Rio de Janeiro há oito anos) que está pondo no mercado, de maneira independente, o seu primeiro CD. Dona de voz grave e marcante (que, às vezes, chega a lembrar o timbre de Zélia Duncan), mas dotada de uma doçura particular, a cantora é também a autora das dez faixas que compõem o seu trabalho de estréia. Uma certa pegada roqueira permeia o trabalho, embora haja espaço para outros ritmos, como o reggae (na deliciosa “Alvo e Flecha”) e o blues (na contundente “Infame”), dois dos melhores momentos do disco, ao lado da dançante “Bolero Não” e da nordestina “Cruz Cabugá”. A canção “No Meio do Sol”, por ter refrão bastante contagiante, já começa a tocar nas rádios do sudeste do país. Boa sorte para a bela moça!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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