R E S E N H A
Cantor: WILSON DAS NEVES
CD: “SE ME CHAMAR, Ô SORTE”
Gravadoras: MP,B/UNIVERSAL
Num país como o nosso onde só quem está na linha de frente encontra visibilidade, infelizmente se torna improvável que o grande público conheça Wilson das Neves, um de nossos maiores bateristas, o qual faz parte da banda que acompanha Chico Buarque em shows e estúdios desde 1982 e integra a Orquestra Imperial desde 2003. Também um ótimo compositor e jeitoso cantor, ele acaba de lançar, através de uma parceria entre as gravadoras MP,B e Universal, mais um CD. Trata-se de “Se me Chamar, Ô Sorte” que vem a ser o quarto título de sua carreira solo.
Wilson começou a tocar nos anos cinquenta do século passado em orquestras e conjuntos como o de Steve Bernard e o de Ed Lincoln, tendo sido contratado, na década seguinte, pela Rádio Nacional. Integrou a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e tocou com nomes de ponta da nossa MPB como Elis Regina, Roberto Carlos, Egberto Gismonti, Alcione, Nara Leão, Jorge Ben Jor, Emílio Santiago, Elizeth Cardoso e Elza Soares (com quem, aliás, dividiu um fantástico disco em 1968), além de astros internacionais como Michel Legrand, Toots Thielemans e Sarah Vaughan. Após mais de quarenta anos de carreira como instrumentista, Wilson lançou, em 1996, o álbum "O Som Sagrado de Wilson das Neves" que foi muito bem recebido pela crítica especializada. Daí em diante vem compondo com frequência, tendo como sua base autoral o bom e insuperável samba (em seguida, ele gravou “Brasão de Orfeu”, lançado em 2004, e “Pra Gente Fazer Mais um Samba”, que chegou ao mercado em 2010).
O recém-lançado CD foi produzido pelo próprio sambista ao lado de Berna Ceppas e Paulo César Pinheiro, este um de seus mais constantes parceiros. Composto por quatorze faixas autorais, mas todas geradas ao lado de colaboradores tais como Tuninho Gerais, Vitor Bezerra e Delcio Carvalho, o projeto resulta bem legal, especialmente porque Wilson entende demais da conta sobre o terreno em que está pisando e o faz com uma naturalidade ímpar. Do alto de seus setenta e seis anos e em ótima forma vocal, ele esbanja inacreditáveis charme e criatividade.
Entre os melhores momentos do repertório estão a deliciosa faixa-título (composta com Claudio Jorge e que conta com a participação vocal deste), “Fragmentos do Amor” (feita com Nelson Sargento), “Limites” (criada ao lado de Toninho Nascimento), “Cara de Queixa”, “Trato” e “Jeito Errado” (as três frutos da profícua parceria com o já citado Paulo César Pinheiro). Outro destaque é indubitavelmente “Samba para João”, de Wilson e Chico Buarque, canção feita como uma espécie de recado para o neto criança do artista. E se os belos vocais executados por Mariana Bernardes, Clarice Magalhães e Alice Passos conferem um brilho especial a algumas das faixas, não há como deixar de ressaltar a presença de Áurea Martins que, como convidada especial de “Ao Nosso Amor Maior” (de Wilson e Luis Carlos da Vila), dá um banho de talento interpretativo e de segurança vocal.
Convém ainda destacar que os arranjos foram entregues, entre outros, a músicos experientes, a exemplo do pianista João Rebouças, do baixista Jorge Helder e do violonista Luis Claudio Ramos, e isso por si só se faz garantia de música de qualidade.
Trata-se, assim, de um ótimo CD feito com requinte e simplicidade, abstratos que no dicionário podem soar antagônicos, mas que conduzidos com maestria por Wilson das Neves convivem num mesmo terreno em perfeita harmonia. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* Para comemorar três décadas de trajetória, a cantora Patricia Marx está lançando, através da gravadora Lab 344, o CD intitulado “Trinta”, o décimo primeiro título de sua discografia. Ela, que começou a carreira ainda na infância quando integrou o grupo Trem da Alegria, também assina ao lado de parceiros sete das dez faixas apresentadas. Produzido por Filiph Neo, Sorry Drummer e Bruno E., o álbum traz uma sonoridade calcada no que atualmente se convenciona chamar de neosoul e é aí que reside o maior senão já que a maior parte dos arranjos termina soando de certa forma repetitiva. Patricia canta suave e dá a impressão, em alguns momentos, que não põe à prova todo o potencial de sua melodiosa voz. Há as participações especiais de Seu Jorge, Ed Motta e do rapper Diego Oliveira nas faixas “Espelhos d’Água” (esta a de maior chance radiofônica), “Tudo o que Eu Quero” e “Menino”, respectivamente (coincidentemente, os destaques do repertório). Em tempo: está prevista, até o fim do ano, a edição do segundo volume desse projeto, após o lançamento de um CD/DVD ao vivo.
* O filme “A Busca” (do cineasta Luciano Moura), atualmente em cartaz, traz, como destaque de sua trilha sonora, a canção “Olha Pra Mim”, de Arnaldo Antunes. A curiosidade é que tal produção cinematográfica marca a estreia como ator do filho do ex-titã, Brás Moreau Antunes.
* Lenine, em recuperação da dengue que recentemente lhe acometeu, avisa que voltará em breve a realizar o show “Chão”, oriundo de seu mais recente CD, e em duas versões: uma tradicional com sua banda e outra sinfônica com requisitadas orquestras do país. Neste caso, o artista e o maestro Ruriá Duprat aliarão recursos de quadrifonia à sonoridade dos instrumentos clássicos. Além disso, ele, no próximo mês, será acompanhado pelo maestro holandês Martin Fondse na turnê “The Bridge”, a qual terá início na Alemanha e seguirá pela Holanda, Espanha e Portugal. É… De Pernambuco para o mundo!
* A cantora Valéria Oliveira está lançando “Em Águas Claras”, seu oitavo CD através do qual homenageia Clara Nunes. O sambista Monarco e pastoras da Velha Guarda da Portela (Áurea, Surica e Neide) participam da faixa “Jardim da Solidão”. Produzido por Rildo Hora, o projeto abarca dezessete canções, dentre as quais “Alvoroço no Sertão”, “Você Passa, Eu Acho Graça” e “À Flor da Pele”.
* Falando em Clara, para lembrar as três décadas que nossa maior sambista tão precocemente nos deixou, a gravadora EMI reporá em catálogo, no próximo mês, vários de seus álbuns. Além de ser reeditada a caixa “Clara”, disponibilizar-se-ão de forma avulsa os títulos mais significativos da discografia da saudosa intérprete mineira em embalagem digipack e contendo faixas-bônus. Merecido!
* Seguindo com sua bem-vinda série de reedições, a gravadora Universal põe nas lojas, com áudios remasterizados e partes gráficas adaptadas dos discos originais, o box “Três Tons de Luiz Melodia” que contempla os álbuns “Pérola Negra”, “Felino” e “Pintando o Sete”, lançados pelo artista carioca em 1973, 1983 e 1991, respectivamente. Estão lá grandes canções tais como “Estácio, Holly Estácio”, “Magrelinha”, “Farrapo Humano”, “Pássaro Sem Ninho”, “Maura”, “Codinome Beija-Flor” e “Cara Cara”, entre outras. De fato, uma excelente oportunidade para quem ainda não possui esses bons discos…
* A turnê “Nivea Viva Tom Jobim” estreou semana passada na casa de shows Vivo Rio, no Rio de Janeiro, e agora segue para uma série de apresentações pelo Brasil, passando por cidades como São Paulo, Salvador, Recife, Porto Alegre e Brasília. Capitaneado por Vanessa da Mata, o projeto presta um tributo ao Maestro Soberano, autor de temas atemporais do nosso cancioneiro como “Wave”, “Desafinado”, “Dindi”, “Sabiá”, “Eu te Amo” e “Águas de Março”. Com a curadoria e a direção artística do espetáculo a cargo de Monique Gardenberg e sob a produção do cultuado Kassin, a cantora mato-grossense se faz acompanhada pelo experiente Eumir Deodato ao piano e mais uma banda formada por jovens músicos como Alberto Continentino, Dustan Gallas e Gustavo Ruiz. O repertório é formado por pouco mais de 20 canções e privilegia os maiores sucessos de Tom. Na apresentação da estreia carioca, como cereja do bolo, houve ainda a participação mais que especial de Maria Bethânia em quatro números.
* E já que citamos Bethânia, convém informar que a Abelha Rainha realizou duas apresentações, no final de semana próximo passado, na casa de espetáculos “Vivo Rio” (RJ), os quais tiveram som e imagem devidamente captados para dar origem ao CD e DVD “Carta de Amor”, os quais chegarão ao mercado ainda este ano através da gravadora Biscoito Fino. Trata-se efetivamente do mesmo show que a baiana vai realizar no dia 21 deste mês aqui em Aracaju, a partir das 20 horas, no Teatro Tobias Barreto. Quem puder ir ($$$) que o faça!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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