Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: EDU LOBO
CD: “EDU LOBO & METROPOLE ORKEST”
Gravadora: BISCOITO FINO

Filho do compositor Fernando Lobo, o carioca Edu Lobo (pai de três filhos do casamento com a cantora Wanda Sá) é também um exímio musicista, dominando acordeão, violão e piano. No início da carreira, lá pelos idos da década de sessenta do século passado, chegou a integrar um conjunto ao lado de Dori Caymmi e Marcos Valle, tendo gravado o primeiro compacto em 1962. Em seguida, compôs trilhas para teatro e participou de festivais de música, sempre conseguindo se posicionar entre os primeiros lugares. Compositor de ponta da MPB, tem músicas gravadas por gente do porte de Elis Regina, Maria Bethânia e Zizi Possi, entre várias outras, e muitas de suas músicas, a exemplo de “Ponteio”, “Reza”, “Upa, Neguinho”, “Arrastão”, “Beatriz” e “Sobre Todas as Coisas” fazem parte do melhor do nosso cancioneiro. Integram seu leque de parceiros nomes como Chico Buarque, Ruy Guerra, Vinicius de Moraes, Capinam, Paulo César Pinheiro e Aldir Blanc.
É esse artista ímpar que acaba de lançar, através da gravadora Biscoito Fino, mais um CD, o qual foi gravado ao vivo no Teatro Beurs Van Berlage de Amsterdam, Holanda, em maio de 2011, ao lado da Metropole Orkest, capitaneada pelo maestro Jules Buckley e formada por cinquenta integrantes. O grandioso projeto contou com as participações especiais de Gilson Peranzzetta (piano e – com louvor – orquestrações) e Mauro Senise (flauta e sax) e se faz composto por quatorze faixas, todas elas de autoria do próprio Edu, onze delas construídas com alguns de seus colaboradores mais constantes.
Do repertório escolhido a dedo fazem parte dois ótimos temas instrumentais, “Casa Forte” e “Zanzibar”, mas o fato é que o álbum alcança alguns de seus melhores momentos quando conta com a voz grave e bem colocada de Edu. Um deles se cristaliza com “Ave Rara”, cujo arranjo jazzístico abre espaço para memoráveis solos instrumentais. Aliás, cabe ressaltar que a natural suntuosidade oriunda do peso sonoro de uma orquestra, ainda mais do porte da Metropole Orkest, poderia conferir um resultado engessado às canções, mas o que se constata é exatamente o contrário. É que, talvez pelo fato de Edu ser um compositor-músico, suas criações parecem pedir mesmo uma roupagem mais consistente.
Assim, até temas mais batidos como “Choro Bandido”, “A História de Lily Braun” e “A Bela e a Fera”, objetos de anteriores registros muito bem feitos, parecem ganhar novas tintas, retirando do ouvinte uma possível sensação de déjà vu. Quanto às interpretações do artista, elas se mostram seguras e bem adequadas às belas bases que lhe foram apresentadas.
No mais, é de se frisar que, enquanto os metais da orquestra conferem o clima necessário a temas mais regionais como “No Cordão da Saideira” e “Frevo Diabo”, as cordas aproximam canções como “Vento Bravo” e “Canto Triste” do sublime. Outros destaques do set list ficam por conta da delicadeza de “Canção do Amanhecer”, do toque nordestino de “Dança do Corrupião”, da originalidade de “Ode aos Ratos” e da contundência de “Na Carreira”.
Criador de harmonias tão complexas quanto bonitas, Edu Lobo viu sua obra se encaixar perfeitamente à exuberância da Metropole Orkest, sendo isso eternizado através de um disco excepcional que se torna imprescindível em toda e qualquer cedeteca que se preze. Corra e ouça (muito)!

N O V I D A D E S

* Natural de Três Pontas, o cantor, compositor e ator mineiro Hugo Branquinho está lançando o seu primeiro CD. Trata-se de “Embrião”, um trabalho independente produzido pelo irmão, o também músico Heitor Branquinho. Das onze faixas autorais e inéditas que compõem o repertório, três são assinadas por Hugo sozinho. Nas demais, há a colaboração dos parceiros Thales Mendonça, Enrique Aue e Rafael Guerche, além do mano já citado. Hugo canta bonito com sua voz aguda muito bem colocada e afinada. Com dicção e emissão perfeitas, ele consegue transmitir a emoção exata que cada canção exige. Como compositor, alterna suas influências advindas da musicalidade mineira (que afloram incontestáveis em “Nossa Serra”, “Igreja Laranja” e “Fragmentos”) com temas universais como o amor (em “Sol, Lua e um Pouco de Céu” e “Ao Nosso Amor”), o otimismo (em “Sonhar”), a constatação de que tudo se transforma (em “Melhorar”) e a tristeza interior (em “Afogado”). Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Pela Avenida” (um samba tanto delicado quanto cativante), “Aguar” (que conta com a presença de Heitor nos vocais) e especialmente “Antônio” (feita em homenagem ao filho recém-nascido e que traz o auxílio luxuoso de Milton Nascimento, convidado especial da faixa – aliás, convém ressaltar que Hugo já havia trabalhado anteriormente com Milton não somente no aclamado DVD “Pietá”, mas também no mais recente CD "E a Gente Sonhando…", participando do coro e sendo o responsável por um solo vocal na canção "Amor do Céu, Amor do Mar"). A ficha técnica do bem-vindo “Embrião” mostra a adesão de músicos acima da média, tais como Débora Gurgel (piano), Thiago "Big" Rabello (bateria), Emílio Martins (percussão), Raul Coutinho (guitarra e viola), Willian dos Santos (acordeon) e Deni Domenico (bandolim). Enfim, um CD que eterniza uma ótima estreia, apresentando ao Brasil o talento de um jovem artista com muito o que dizer!

* Todas as sextas-feiras, dentro do programa "Canta Brasil" que é exibido das 9 às 11:30 horas pela Aperipê FM (104.9), está sendo veiculado um novo quadro: trata-se do Musiqualidade, por mim apresentado e que, assim como este blog, tem como função dar voz e vez a ótimos artistas e belas canções com preponderância nos lançamentos da atual cena independente nacional. É curtir, se envolver e divulgar!
Em tempo: o Musiqualidade será veiculado mais ou menos umas 10 horas…

* Devagarzinho, Ana Carolina começa a liberar as canções que constarão de seu novo CD, o qual será lançado em junho e terá como título “#AC”. Já podem ser ouvidas no iTunes uma nova versão de “Leveza da Valsa”, primeira parceria dela com o compositor e violonista carioca Guinga, e “Un Sueño Bajo El Agua”, feita com a colaboração da cantora e compositora italiana Chiara Chivello.

* Prosseguindo com seu intuito de resgatar discos que fazem parte da história da nossa música popular, o selo carioca Discobertas, capitaneado pelo produtor e pesquisador Marcelo Fróes, repôs recentemente em catálogo, pela primeira vez no formato CD, o coletivo “Nem Todo Crioulo É Doido”, título originalmente lançado no já distante ano de 1968 pelo selo DiscNews. O maior mérito desse álbum foi trazer os quatro primeiros registros fonográficos de Martinho da Vila, quais sejam as canções “Pra Que Dinheiro?”, dele próprio, “Deixa Serenar”, de Sidney da Conceição e Castelo, “Se Eu Errei…”, de Tolito, e “Querer É Poder”, de Picolino, Colombo e Noca (há de se ressaltar, por oportuno, que o sambista só viria a lançar o seu primeiro LP solo no ano seguinte, emplacando temas como “Casa de Bamba”, “O Pequeno Burguês” e “Quem É do Mar Não Enjoa”). Composto por treze faixas, o CD traz, nas demais faixas, as vozes de Darcy da Mangueira, Anália, Antônio Grande, Cabana, Mário e Zuzuca, além da participação do Brasil Ritmo 67. Entre os melhores momentos do repertório estão “Só Deus” (de Walter Rosa e Jorginho Pessanha), “Sinfonia do Mosquito” (de Aurinho da Ilha) e “Berço do Samba” (de Silas de Oliveira).

* A obra de Ângela Ro Ro está sendo revista por dezessete cantores da nova geração paulista no CD “Coitadinha, Bem Feito”, o qual aportará no mercado muito em breve. Idealizado pelo DJ Zé Pedro para sua gravadora Joia Moderna e produzido sob curadoria do jornalista Marcus Preto, o projeto relembra belas canções tais como “Tola Foi Você”, “Came e Case”, “Não Há Cabeça”, “Balada da Arrasada” e “Fogueira”. Entre os nomes convidados estão Dani Black, Lucas Santtana, Rodrigo Campos, Romulo Fróes e Thiago Pethit.

* O CD com a trilha sonora da telenovela “Amor à Vida” (que estreia hoje às 21 horas) já se encontra em fase de prensagem e em breve chegará ao mercado. Como está se fazendo de costume com as mais recentes produções globais, caracteriza-se pelo ecletismo e reúne, entre outros, fonogramas gravados por Daniel (“Maravida”, de autoria de Gonzaguinha e que foi lançada originalmente por Maria Bethânia, a qual foi escolhida para ser a música de abertura), Wanessa (“Amor, Amor”), Paula Fernandes (“Um Ser Amor”), Charlie Brown Jr. (“Pontes Indestrutíveis”), Gabriel Valim (“Piradinha”) e Pedro Luís & A Parede (“Caio no Suingue”).

* “Fogo no Beco” é o nome do grupo sergipano que está lançando o CD intitulado “7 Léguas”, um trabalho voltado para o autêntico forró, mas com tintas de modernidade. São dez faixas através das quais se abordam temas universais como o amor ou se abordam casos típicos do interior nordestino. Formado por Deison Nobre (zabumba), Ivan Reis (voz e violão) e Tonho Manoel (triângulo), a gravação foi feita no Estúdio 3 e contou com as participações dos músicos Cobra Verde (sanfona), Marcell Veloso (baixo), Dudu Monte-Santo (rabeca), William Gonçalves (sax) e Ton Toy (percussão). Entre os destaques do bom repertório inédito estão as canções “Tabaréu”, “Gaiola” e “Na Bula do Tango”. Vale a pena conferir!

* E nunca é demais lembrar: o cantor Carlos Navas estará se apresentando aqui em Aracaju na próxima sexta-feira, dia 24, no Museu da Gente Sergipana a partir das 19 horas. A entrada será franca, mas há a necessidade de garantir os ingressos lá mesmo. Intérprete de incontestável elegância, tanto cenicamente falando quanto no que se refere à escolha do repertório, ele estará pondo sua bela voz a serviço de canções de grandes autores da nossa MPB, a exemplo de Chico Buarque, Vinicius de Moraes e Custódio Mesquita. Realmente im-per-dí-vel!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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