R E S E N H A    1

Cantor: ZECA PAGODINHO
CD: “MULTISHOW AO VIVO – 30 ANOS – VIDA QUE SEGUE”
Gravadora: UNIVERSAL

Para comemorar os trinta anos de sua vitoriosa carreira (iniciada em 1983 com uma participação em disco de Beth Carvalho, a quem chama de madrinha), o sambista Zeca Pagodinho lançou recentemente, através da gravadora Universal e sob a competente produção de Max Pierre, o projeto comemorativo “Multishow Ao Vivo – 30 Anos – Vida que Segue”, o qual já se encontra disponível nos formatos CD e DVD.
O CD se faz composto por vinte faixas, incluída a bônus, “É a Vida que Segue” (de Serginho Meriti, Rodrigo Leite e Cocão) que conta com a participação especial de Xuxa. Aliás, convidados não faltam. O andar das faixas faz com que o ouvinte se depare ainda com as vozes de Paulinho da Viola (em “Foi um Rio que Passou em minha Vida”, dele próprio), Leandro Sapucahy (em “Batuque na Cozinha”, de João da Baiana) e Marisa Monte (em “Preciso me Encontrar”, de Candeia).
Com arranjos pra lá de empolgantes que ganham e muito com a adesão de metais e de um vigoroso coro (incrementado posteriormente em estúdio, conforme consta da ficha técnica), Zeca conseguiu realizar um trabalho que deverá se transformar em um dos campeões de vendagens do ano (impulsionado certamente pela inclusão da faixa “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa, na trilha sonora da telenovela global “Amor à Vida”).
O repertório, inteligentemente escolhido por Carlos Savalla, é composto por sambas famosos que já se entranharam no inconsciente coletivo. Na interpretação sempre pertinente do artista, no entanto, eles terminam por ganhar novas nuances, como se faz o caso, por exemplo, de “Abre a Janela” (de Arlindo Marques Jr. e Roberto Martins), “Opinião” (de Zé Kéti), “O Sol Nascerá” (de Cartola), “Só o Ôme” (de Edenal Rodrigues) e do medley que reúne “Escurinha” e “Escurinho” (ambos de Geraldo Pereira, o primeiro composto com Arnaldo Passos).
Zeca está mandando bem: sua voz talhada para o samba possui alcance, ginga e boa afinação. Há momentos sensacionais como a versão apresentada de “Gosto que me Enrosco” (de Sinhô) que conta com as presenças de Hamilton de Holanda e Yamandu Costa, virtuoses em seus instrumentos, bandolim e violão, respectivamente, e a pisada nordestina escolhida para “Madame” (inspirado tema de autoria de Zeca em parceria com Ratinho).
Há de se destacar também o trio momentaneamente formado por Rildo Hora (no realejo), Rogério Caetano (no violão de 7 cordas) e Zé Menezes (na guitarra e ao violão) que, participando de forma ativa em várias faixas, abrilhanta incontestavelmente o projeto.
Trata-se do Zeca Pagodinho de sempre, mas que se faz muito bem-vindo!

R E S E N H A    2

Cantora: DORA VERGUEIRO
CD: “DORA VERGUEIRO”
Gravadora: BISCOITO FINO

Nascida e criada no ambiente da música, o destino de Dora Vergueiro não poderia ser outro senão o de se tornar cantora. Abençoada pela natureza, a bela loira de olhos claros, filha do cantor e compositor Carlinhos Vergueiro, está lançando mais um CD, o qual leva o seu nome como título.
Intérprete correta, dona de um timbre agradável, Dora é também compositora e assina ao lado de parceiros seis das canções presentes nas dez faixas que compõem o repertório (a exceção é “Mamãe Oxum”, criada solitariamente, ainda que gravada em medley com “Ijexá”, de Edil Pacheco). A latina “Vento Leste”, parceria da artista com Toquinho, mas que remete à obra de João Donato, abre o disco com alegria, sentimento que permeia todo o trabalho.
O álbum chega ao mercado através da gravadora Biscoito Fino e foi produzido pelo trombonista Marlon Sette, autor da interessante “De Ponta Cabeça”, um dos destaques do projeto, canção criada com Rogê, esperto compositor carioca que assina também a pseudobossa “Estranho Amor” ao lado de Luís Carlinhos e do já citado Carlinhos Vergueiro. Aliás, com seu papai famoso Dora compôs dois bons sambas: “Paixão da Rede” e “Clareou” e da lavra somente dele registrou “Samba do Amor Perigoso” e “Música”, reunidas numa mesma faixa.
A artista também mostra parcerias com Cris Delanno (a bonita “Tanta Água”) e Izabella Rocha (o reggae “Quero Te Encantar”), outros bons momentos. A superconhecida “Meu Drama”, propagada nacionalmente através da gravação do saudoso Roberto Ribeiro, é resgatada com competência, numa versão arejada pela modernidade.
A ficha técnica registra a presença de músicos de ponta, a exemplo de Felipe Pinaud (violão), Donatinho (teclados), Laudir de Oliveira (percussão), Alberto Continentino (baixo), Kassin (guitarra), Paulo Jobim (piano), José Carlos Bigorna (sax), Domenico Lancellotti (bateria) e Afonso Machado (bandolim), o que contribui para a consecução de arranjos muito bem concebidos.
Um CD bacana que registra Dora Vergueiro em um momento muito especial!

N O V I D A D E S

* Já se encontra  disponível o primeiro CD do cantor, compositor e magistrado sergipano Sérgio Lucas. Intitulado “Buraqueiro” (numa alusão ao município em que nasceu, Porto da Folha), o álbum é composto por treze canções inéditas e autorais e se volta para o mais genuíno forró. A única parceria é “Tô Numa Boa”, um dos destaques do repertório apresentado, composta com Pedro Kelman, o qual também participa da faixa como convidado. Há ainda as participações especiais dos conterrâneos Sergival, Rubens Lisboa e Rogério. Com uma sonoridade muito agradável, o trabalho apresenta um compositor inspirado e um cantor que cumpre direitinho o riscado. Em meio a tantos oportunistas do gênero, é muito alvissareiro poder constatar que ainda existe quem valorize a cultura nordestina de raiz. Entre os melhores momentos estão “Forró É MPB”, “Pearl Harbor” e “Amo Aracaju”. Vale super a pena conhecer!

* Obviamente com vistas ao grande público que se fará presente à Jornada Mundial da Juventude que ocorrerá em julho no Rio de Janeiro, a cantora Fafá de Belém está lançando o EP (CD contendo apenas quatro faixas) intitulado “Amor e Fé” que contém novos registros para “Nossa Senhora” (de Roberto e Erasmo Carlos), “Ave Maria” (de Schubert, em versão feita pela própria Fafá com Dudu Falcão), “Gracias a La Vida” (da chilena Violeta Parra) e “Eu Sou de Lá” (do padre Fábio de Melo). Ficou bonito pra caramba até porque a cantora é dona de uma das vozes mais interessantes do nosso cancioneiro.

* Além da participação especial de Cida Moreira, o cantor pernambucano Gonzaga Leal terá outra convidada em “De Mim”, o seu próximo CD: trata-se de Marília Medalha, intérprete famosa na época dos lendários festivais de música dos anos sessenta, a qual declamará texto de autoria de Lula Queiroga. O lançamento do disco está previsto para o início do segundo semestre.

* E o segundo CD de Fiuk, em breve nas lojas de todo o Brasil, vai contar com a presença do papai Fábio Jr. na faixa “Caso Sério”. Sob a produção de Rick Bonadio, o álbum (que se intitulará “Vira-lata”) trará também as participações de Thiaguinho, do rapper Rappin' Hood e de MC Sapão.

* A gravadora Biscoito Fino está pondo nas lojas o CD “Jasmin” que une os talentos do saxofonista e pianista Mauro Senise com o pianista Gilson Peranzzetta. O repertório de doze faixas recai sobre a obra do pianista e compositor catalão Federico Mompou e adaptações. A dupla gravou o álbum na igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, no Rio de Janeiro, visando a encontrar uma acústica mais próxima da perfeição. É luxo só!

* Ainda este mês chegará ao mercado, através da gravadora Universal, o aguardado CD da cantora Ellen Oléria, a vencedora da primeira edição do programa global “The Voice”, levado ao ar no ano passado. Trata-se, na verdade, do segundo disco dessa brasiliense de voz hiper potente e forte carisma cênico posto que já houve um anterior (“Peça”) que foi lançado em 2009 de forma independente. No novo trabalho, além de interpretar canções de sua própria autoria, Ellen empresta seu vozeirão a temas assinados por Milton Nascimento, Jorge Ben Jor e Hermes Aquino. Haverá a participação especial do seu mentor musical Carlinhos Brown.

* “Rotomusic de Liquidificapum”, primeiro disco do Pato Fu, originalmente lançado em 1993, está sendo reeditado, desta feita no formato vinil, para marcar os vinte anos de existência da banda mineira. Produzido por John Ulhoa e Haroldo Ferretti, o trabalho traz doze músicas, entre elas a releitura de “Sítio do Pica Pau Amarelo” (de Gilberto Gil). Ótima pedida!

* Será lançada no segundo semestre uma caixa que condensará a reedição de toda a obra fonográfica de Djavan. O projeto está sendo vistoriado pelo próprio artista. Mais que merecida essa homenagem ao artista alagoano!

* ”É o que Temos” é o corajoso e sugestivo título do segundo CD da cantora e compositora fluminense Bárbara Eugenia, o qual acaba de chegar às lojas através do selo Oi Futura. O álbum foi produzido por Clayton Martin e Edgard Scandurra e se faz composto por treze faixas (computada a bônus “Out To The Sun”), onze delas criadas pela própria artista. Completam o repertório uma versão de Rossini Pinto para tema de Neil Diamond (“Porque Brigamos”) e uma tradução livre feita para canção de Adanowsky (“Sozinha”). Bárbara é cantora integrante da fase atual em que a opção por projetar a voz de forma suave parece imperar. Quanto aos arranjos, eles sugerem passeios pela já distante Jovem Guarda (“Coração”) e trazem a lume, por vezes, pitadas do que se convencionou chamar de brega (“O Peso dos Erros”, canção adornada com o imponente trompete de Guizado). Entre músicas com letras em inglês (“I Wonder” e “You Wish, You Get It”) e francês (“Jusqu’a La Mort”), surgem as participações especiais dos emergentes Pélico (em “Roupa Suja”) e Tatá Aeroplano (em “Não Tenho Medo da Chuva e Não Fico Só”). O maior destaque fica indubitavelmente por conta da graciosa “Ugabuga Feelings”.

* E para não ter a desculpa de que se esqueceu: todas as sextas-feiras, estou apresentando, mais ou menos às 10 horas, o quadro “Musiqualidade”, dentro do programa “Canta Brasil”, o qual é veiculado através da Aperipê FM (104.9) das 9 às 11:30 horas. Como já de costume, aguardo vocês por lá!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br