Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: FILIPE CATTO
CD: “ENTRE CABELOS, OLHOS & FURACÕES”
Gravadora: UNIVERSAL

O cantor e compositor Filipe Catto estreou com o pé direito no mercado fonográfico, em 2011, com o CD “Fôlego”, o qual foi bastante elogiado pela crítica e recebido com boas doses de efusividade pelo público mais antenado. Gaúcho de Lajeado, desde criança ele acompanhava o pai em bailes e festas e, na adolescência, participou de algumas bandas com influências de rock. Quando resolveu seguir a carreira solo, em 2006, começou a divulgar esporadicamente suas canções através da internet e, três anos depois, ao disponibilizar o EP “Saga”, terminou por gerar grande curiosidade sobre sua pessoa. É que sua rara voz de contratenor, logo associada à de Ney Matogrosso, realmente se torna um grande diferencial. Extensa, atingindo graves de barítono ou baixo e, por vezes, lembrando uma voz feminina de registro mais grave, chama a atenção até de um ouvinte mais desatento. Some-se a isso um talento inato para a composição e uma forte presença cênica e se está diante certamente da maior revelação musical dos últimos anos. Mas foi quando se mudou para São Paulo, em 2010, que ele (formado em Design) viu seu trabalho ganhar mais visibilidade, tanto que já no ano seguinte chegou às lojas, através da gravadora Universal, o seu álbum de estreia, o qual, de cara, engatou uma faixa, a retromencionada “Saga”, na trilha sonora da cultuada telenovela global “Cordel Encantado”.
É essa mesma multinacional, agora em parceria com o Canal Brasil, que está fazendo chegar às lojas o CD “Entre Cabelos, Olhos & Furacões” (título retirado de verso da letra de “Ave de Prata”, pungente tema de Zé Ramalho, lançado originalmente por Elba Ramalho em 1979 e agora revisitada com novas tintas por Catto), registro ao vivo de show realizado em fevereiro deste ano no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, e que também se encontra disponível no formato DVD.
Enquanto o CD é composto por dezoito faixas, incluindo a versão em estúdio feita para “Quem é Você” (de Eduardo Dussek e Isolda, hit de Simone propagado nacionalmente em 1995 e que ora faz parte da trilha de “Sangue Bom”), o DVD traz quatro faixas adicionais: “Crime Passional”, “Nescafé”, “2 Perdidos” e o medley que reúne “Eu Menti Pra Você”, “Mente”, “Meu Mundo Caiu”, “Volta Por Cima” e “Galope”. A única convidada especial do projeto é a ótima Blubell em “Johnny, Jack & Jameson”, música feita por Catto em homenagem a Amy Winehouse (tais nomes fazem alusão aos whiskys Johnny Walker, Jack Daniel e Jameson Irish), cantora que se mostra bem à vontade nesse interessante blues com letra em inglês.
Catto é um intérprete acima de média, do time daqueles que se entregam ao que cantam e, talvez por isso, não lhe basta ficar apenas nas suas próprias criações, mas também opta por mergulhar em praias alheias, o que – é bom que se ressalte – faz com bastante propriedade. É o que se pode comprovar através, por exemplo, das personalíssimas releituras de “Alazão” (de Ednardo e Brandão), “Sem Medida” (de Pélico) e “Luz Negra” (de Nelson Cavaquinho e Irani Barros), grandes momentos do set list apresentado. Sem medo de ser feliz, ele não se faz de rogado e resgata, inclusive, sucessos de cunho mais popular, caso de “20 e Poucos Anos” (de Fábio Jr.) e “Eu te Amo” (versão de Roberto Carlos para tema de John Lennon e Paul McCartney).
Como compositor, Catto gosta de falar de amores e paixões passionais e o faz inteligentemente, entregando suas letras a gêneros como o tango, o samba e o samba-canção. Nesta seara, não dá como deixar de se emocionar com “Adoração”, “Ascendente em Câncer” e “A Sós”, típicos exemplos de um artista que não apenas sabe o que quer, mas também como dizê-lo.
Domando alguns excessos de apresentações iniciais e fazendo-se cercar por uma banda enxuta, porém competentíssima (entre os seis músicos estão Fábio Sá no contrabaixo e Fabá Gimenez na guitarra), Filipe Catto se credencia como um nome que se faz merecedor de toda reverência. Seguindo em frente com o destemor que já demonstrou possuir e a pluralidade musical até aqui adotada, certamente se tornará, em pouco tempo, um dos grandes da nossa MPB. Corra e ouça!

N O V I D A D E S

* Bebel Gilberto ainda é mais reconhecida lá fora do que aqui no Brasil. Decerto por isso foi que ela direcionou seu novo projeto “In Rio” (disponível nos formatos CD e DVD através da gravadora Biscoito Fino) para o público externo. Trata-se, de certa forma, de um resumo de sua carreira fonográfica (composta por quatro álbuns de estúdio) concretizado através das dezessete faixas selecionadas. Com a produção musical dividida entre Liminha e Kassin e a direção artística a cargo de Gringo Cardia, o registro ao vivo se deu durante apresentação especial realizada em palco montado no Arpoador, Rio de Janeiro, no mês de dezembro do ano passado e só por isso o vídeo merece ser conhecido: a beleza das imagens captadas são belíssimas. A escolha do local tem a ver com o início da trajetória de Bebel: foi ali que ela, assídua frequentadora do Circo Voador, começou de fato a se interessar profissionalmente pela música, mesmo lhe sendo inato o DNA artístico, já que é filha de João Gilberto e Miúcha e, consequentemente, sobrinha de Chico Buarque. Assim, não é de surpreender sua voz pequena, ainda que bem colocada. Também compositora, Bebel incluiu no repertório oito canções de sua autoria, compostas ao lado de parceiros como Suba (“Tanto Tempo”), Dinho Ouro Preto (“Close Your Eyes”) e Nina Miranda (“August Day Song”), entre outros, além de duas conhecidas pérolas suas criadas ao lado de Cazuza e Dé Palmeira (“Eu Preciso Dizer que te Amo” e “Mais Feliz”). No show, a artista contou, na percussiva “Na Palma da Mão”, com a participação especial do seu autor, o rapper mineiro Flávio Renegado. Já em um número adicional gravado em estúdio, “Samba e Amor”, o convidado é nada mais nada menos que o titio famoso, o criador da bela canção. Há boas releituras das nacionais “Samba da Bênção” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes), “Bananeira” (de João Donato e Gilberto Gil) e “Aganju” (de Carlinhos Brown) e das estrangeiras “Rio” (hit do grupo inglês Duran Duran) e “Sun is Shinning” (de Bob Marley). Legal!

* Abrindo uma brecha na gravação de seu próximo CD (que se intitulará “Romances Urbanos”), Hyldon registrou sua participação no DVD que Zeca Baleiro lançará no comecinho do segundo semestre. A canção que une os artistas é “Calma Aí, Coração”, parceria dos dois.

* Para marcar os trinta e cinco anos de existência, o duo de violões formado por Fernando Melo e Luiz Bueno, que artisticamente assina Duofel, está lançando o CD intitulado “Pulsando MPB", no qual reinventam canções de autoria de Chico Buarque, Dorival Caymmi, Edu Lobo, Gilberto Gil e Tom Jobim, entre outros.

* Responsável, junto com o Bangalafumenga, por trazer de volta os blocos de rua ao Carnaval carioca, o Monobloco está lançando, via gravadora Som Livre, um novo CD intitulado “Arrastão da Alegria”. São quatorze faixas em que, através de uma efetiva mistura de ritmos brasileiros, se aliam temas inéditos a outros já conhecidos, os quais, revestidos com a camada percussiva característica do grupo, terminam por ganhar novas nuances. Produzido pela banda Pedro Luís e a Parede, conhecida como PLAP (na verdade, é ela o embrião do Monobloco que conta com muitos outros componentes e tem os cantores Alexandre Momo, Fábio Allman, Pedro Luís, Pedro Quental e Renato Biguli se revezando na interpretação de repertório), o recém-lançado álbum conta com várias participações especiais, a saber: Roberta Sá (em “Samba de Arerê”, de Arlindo Cruz, Xande de Pilares e Mauro Jr.), Preta Gil (na inédita “Tu Quer?”, de Lenine), Diogo Nogueira (em “Nasci para Morrer de Amor”, outra de Arlindo Cruz, agora com Franco e Maurição, também inédita), Fagner (em “Maneiras” de Sylvio da Silva), Nunu da Mangueira (em “Balança Geral”, dele em parceria com Alexandre Nascimento, mais uma inédita), Ivete Sangalo (em “Caio no Suingue”, do já citado Pedro Luís) e Pepeu Gomes (em “Chove Chuva”, de Jorge Ben Jor). É claro que tais convidados conferem um brilho todo especial às respectivas faixas, mas há outros momentos que também merecem ser destacados, como a canção-título (de Rogê, Fred Camacho e Marcelinho Moreira, outra inédita), “Pra São Jorge” (de Paulo César Pinheiro) e o samba-enredo portelense “Das Maravilhas do Mar Fez-se o Esplendor de uma Noite” (de David Correa e Jorge Macedo). É para cair na folia sem medo de torcer o pé!

* Ainda colhendo os louros do CD “Primeira Nota”, gravado e lançado no ano passado ao lado de João Callado, o cantor e compositor carioca Fernando Temporão anuncia que entrará em breve em estúdio para registrar as canções que farão parte do repertório de seu primeiro trabalho solo, o qual será produzido por Kassin e Alberto Continentino. A conferir!

* Hospitalizado já há algum tempo por conta de um câncer de pulmão, o cantor e compositor pernambucano Dominguinhos vê sua obra homenageada através da coletânea “Dominguinhos É de Todos”, um lançamento da gravadora Universal. Trata-se de um trabalho de pesquisa realizado por Rodrigo Faour que resultou em um álbum duplo. No primeiro CD, vários artistas da nossa MPB, a exemplo de Elba Ramalho, Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Nara Leão, Zizi Possi, Nana Caymmi e Fafá de Belém. dão voz a grandes músicas do compositor como “De Volta Pro Aconchego”, “Eu Só Quero um Xodó”, “Pedras que Cantam” e “Isso Aqui Tá Bom Demais”. No segundo CD, é o próprio Dominguinhos quem interpreta suas criações: estão lá, além de três temas instrumentais, as ótimas “Tenho Sede”, “Sete Meninas”, “Lamento Sertanejo” e “Salve-se Quem Puder”, entre outras. Merecido!

* O espetáculo “Histórias e Canções”, marco dos noventa anos de Bibi Ferreira, foi devidamente registrado quando de sua passagem pelo Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG), em março deste ano, e será lançado, ainda em 2013, em DVD.

* E você já sabe, é claro, mas sempre vale relembrar: todas as sextas-feiras, estou apresentando, mais ou menos às 10 horas, o quadro “Musiqualidade”, dentro do programa “Canta Brasil” que é veiculado através da Aperipê FM (104.9) das 9 às 11:30 horas. E só sintonizar!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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