R E S E N H A 1
Cantora: LETÍCIA PERSILES
CD: “AS CARTAS DE AMOR E SAUDADE”
Gravadora: INDEPENDENTE
A cantora e atriz Letícia Persiles tornou-se conhecida do grande púbico quando estrelou a produção global "Capitu". Em 2009, ela também estava à frente da banda Manacá, a qual lançou o seu belo álbum de estreia. Algum tempo após protagonizar a elogiada telenovela “Amor Eterno Amor”, a artista está pondo nas lojas o seu primeiro CD solo.
Trata-se de "As Cartas de Amor e Saudade", gravado de forma independente e composto por oito faixas, cinco delas inéditas e autorais. As exceções ficam por conta das regravações de "Dos Cruces", de Carmello Larrea e Antonio Molina (canção propagada anteriormente, aqui no Brasil, através do definitivo registro de Ney Matogrosso) e "Youkali Tango", de Kurt Weill e Roger Fernay. Completa o repertório a faixa bônus “Quem Sabe”, de Carlos Gomes, pinçada do supracitado disco do Manacá.
Com a direção artística a cargo de Thanara Schonard e a produção dividida pela própria Letícia com Chico Neves, Paulo Brandão e Toninho Ferragutti (este também o responsável pelos arranjos), o disco, em contraposição à sonoridade do Manacá (que, por ser um grupo de rock, possuía muitos instrumentos elétricos), volta-se para o lado acústico, tendo como base o acordeão, o qual se faz executado de forma magistral pelo já citado Ferragutti. Completam o time de instrumentistas que participam do trabalho: Allan Harbas (no violão flamenco), Beto Angerosa (na percussão), Fabiano Segalotte (no bombardino e trombone), Guto Wirtti (no baixo acústico) e René Rossano (ao violão).
Em textos de divulgação, a artista assume que o processo criativo de composição floresceu de um estado de isolamento que se fez fortemente influenciado pela maternidade de seu filho primogênito, Ariel, fruto do casamento com o diretor Luiz Fernando Carvalho. Por isso, as letras falam muito sobre a passagem do tempo e as relações de afeto. O resultado final, originado por uma mistura de várias influências musicais e de diferentes vivências, soa bem bacana, merecendo destaque as canções “Tamarametista”, “No Passo do Passarinho” e “Catavento”.
Cantando bonito, de forma segura e afinada, e sabendo se utilizar de seu viés de atriz para ressaltar as nuances certas que cada música exige, Letícia Persiles mostra um começo realmente promissor e decerto verá, doravante, ser seu nome bastante comentado. Corra e ouça!
R E S E N H A 2
Artistas: SOCORRO LIRA e OSWALDINHO DO ACORDEON
CD: “O SAMBA DO REI DO BAIÃO”
Gravadora: INSTITUTO MOREIRA SALES
E quem acha que Luiz Gonzaga transitou somente pelos caminhos do forró, do baião e do xaxado, precisa saber que o Mestre Lua também compôs e gravou vários outros gêneros musicais. Amostras disso estão presentes no recém-lançado CD “O Samba do Rei do Baião” que a cantora Socorro Lira gravou ao lado de Oswaldinho do Acordeon e acaba de chegar às lojas através de uma iniciativa do Instituto Moreira Sales. O título aparentemente restritivo se justifica pelo fato de que, antigamente, era como as pessoas convidavam outras para uma festa (“- Vamos pra um samba?”), qualquer que fosse ela, desde que se pudessem ouvir e dançar animadamente.
Trata-se de uma verdadeira aula de música popular e, por isso mesmo, torna-se imperdível para quem quer aprender um pouco mais sobre a cultura brasileira. Ao lado da correspondente letra, surge, no rodapé de cada faixa, um rápido verbete explicativo sobre o gênero abordado e, assim, o ouvinte é convidado a realizar um passeio musical bastante interessante.
Socorro, ótima cantora, mostra-se à vontade na condução da viagem, sempre ancorada pela precisão estilística de Oswaldinho que, à frente de seu instrumento, proporciona momentos memoráveis.
As músicas foram compostas tanto por Gonzagão solitariamente (caso de “Aboio Apaixonado”, do chorinho “Sanfonando” e da polca “Fuga da África”, estas duas instrumentais), como por ele ao lado de vários dos parceiros que arrebanhou durante a vida, a exemplo de Humberto Teixeira (o fado “Ai, Ai, Portugal”, com Susana Travassos como convidada), Lourival Passos (o carimbó “Tacacá”), Ary Monteiro (o samba “Meu Pandeiro”), Geraldo Nascimento (o xaxado “Vamos Xaxear”) e Miguel Lima (a mazurca “Dança Mariquinha” e o maxixe “Bamboleado”, que contam com as presenças de Uxia e Oswaldinho da Cuíca, respectivamente).
Alguns dos destaques do irrepreensível repertório selecionado (que tem como grande mérito jogar luzes sobre temas gonzagueanos pouco conhecidos) ficam por conta da valsa “Dúvida” (feita com Domingos Ramos e que traz Ventura Ramirez nos vocais), de “Calango da Lacraia” (composta com J. Portela), do coco “Mariá”, de “Tudo É Baião” e do maracatu “Rei Bantu” (as três parcerias com Zé Dantas, a última contando com a participação especial de Papete).
Vale super a pena conhecer!
N O V I D A D E S
* A série “Tons”, salutar iniciativa da gravadora Universal, prossegue com o box que contempla três belos álbuns de Alceu Valença. Trata-se de “Cinco Sentidos”, “Anjo Avesso” e “Mágico”, lançados originalmente em 1981, 1983 e 1984, respectivamente. Interessante constatar que, naquela época, os grandes nomes da nossa MPB lançavam um disco por ano e, via de regra, quase todos continham grandes e inesquecíveis canções (hoje o fazem sazonalmente e geralmente sem grande inspiração). Já disponível nas melhores lojas, o aludido box deve fazer parte de toda cedeteca que se preze pois Alceu ali se encontrava no seu auge vocal e criativo, emplacando um sucesso atrás do outro. São títulos emblemáticos de uma geração que então se encantava e não se cansava de propagar temas como “Cabelo no Pente”, “Fé na Perua”, “Marim dos Caetés”, “Anunciação”, “Rouge Carmin”, “Dia Branco”, “Solidão” e “Moinhos”, entre outros. Realmente imperdível!
* Um dos cinco integrantes do ótimo grupo 5 a Seco (responsável por “Em Paz”, a música de abertura da telenovela global “Flor do Caribe”, interpretada por Maria Gadú), o cantor e compositor Vinicius Calderoni também desenvolve carreira solo e, por assim ser, acaba de lançar o seu segundo CD, o qual se intitula “Para Abrir os Paladares”. Produzido por Tó Brandileone, o álbum é composto por uma dúzia de faixas autorais e inéditas, as quais revelam um compositor inspirado, cheio de boas ideias, e um cantor correto que sabe colocar a bonita voz de forma a valorizar as canções. Entre os destaques do coeso repertório estão “Mesmo Quando a Boca Cala”, “Ponte Incerta sobre Rio Selvagem”, “O Nome, a Pessoa” e “Uma Ligeira Impressão”. Na boa, aconselhável para quem curte música inteligente!
* A cantora Simone encontra-se em estúdio carioca gravando as canções que integrarão o CD comemorativo de suas quatro décadas de carreira. Com a produção a cargo da talentosa e incansável Zélia Duncan, o álbum chegará ao mercado no segundo semestre deste ano. O repertório por enquanto é mantido em sigilo.
* “Lugar Comum”, disco originalmente lançado por João Donato em 1975, foi recentemente reeditado no formato de LP pela Polysom. No excelente repertório, parcerias do artista com Gilberto Gil, Caetano Veloso e Guarabyra.
* A cantora e compositora paulistana Rita Figueiredo pôs nas lojas recentemente seu primeiro CD homônimo, o qual, produzido pelos ótimos músicos Webster Santos, Marcelo Jeneci e Milton Mori, se faz composto por dez faixas, nove delas criadas pela própria artista (a exceção é “Valsa”, de Rômulo Fróes e Clima). Dona de voz bastante peculiar, Rita (que paralelamente desenvolve atividades de diretora de filmes de animação e de ilustradora) soube se cercar de músicos de primeira extirpe, a exemplo de Marcio Arantes (baixo), Guilherme Kastrup (percussão), Luiz Waack (viola caipira) e Sérgio Reze (bateria). Suas composições não soam comuns e a maioria revela histórias de locais e pessoas. Entre os destaques estão as faixas “Casinha Estrela”, “Carolina de Jesus” e “Vagabundo”.
* O sétimo CD de estúdio do Jota Quest já está sendo gravado para ser lançado no segundo semestre e conterá dez músicas inéditas.
* Tida como hino da campanha pela aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a inédita canção “Joga Arroz” já vem sendo executada maciçamente por algumas rádios. De autoria de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, o tema pop foi gravado por eles numa clara alusão ao efêmero grupo Tribalistas.
* Como já deve ter sido notado, as músicas nacionais que vêm sendo executadas durante a telenovela global “Sangue Bom” são muitas e por isso não caberiam num só CD. O primeiro volume dessa trilha sonora está saindo do forno e chegando às lojas na próxima semana. Contendo quatorze faixas, a seleção contempla artistas mais populares como Thiaguinho (“Simples Desejo”), Naldo (“Exagerado”), Michel Teló (“Love Song”) e a dupla do momento Munhoz & Mariano (“Camaro Amarelo”), ícones da MPB como Rita Lee (“Dias Melhores Virão”) e Ney Matogrosso (“Poema”), nomes em ascensão no mercado fonográfico atual como Monique Kessous (“Calma Aí”), Thaís Gulin (“Até Pensei”) e Roberta Campos (“De Janeiro a Janeiro”, faixa que conta com a participação de Nando Reis) e fonogramas especialmente registrados para o projeto como “Toda Forma de Amor” (a música de abertura), “Solteirinha da Pompéia” e “Zoião”, os quais foram gravados pelo grupo Sambô, pela atriz Ellen Roche e pelo rapper Emicida, respectivamente.
* Sob a produção assinada pelo tão aclamado quanto disputado Kassin, Erasmo Carlos se encontra atualmente em estúdio gravando as canções que farão parte de seu próximo CD, o qual receberá o sugestivo título de “Gigante Gentil”. Quem viver, ouvirá!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
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