R E S E N H A
Cantora: ELLEN OLÉRIA
CD: “ELLEN OLÉRIA”
Gravadora: UNIVERSAL
Pouca gente tomou conhecimento, mas, antes de ser projetada nacionalmente através do programa da Rede Globo “The Voice” (levado ao ar no ano passado e do qual se consagrou vencedora), a cantora e compositora brasiliense Ellen Oléria já havia lançado um CD de maneira independente. Intitulado “Peça”, o produto passou, à época (em 2009), despercebido pelo grande público. Não é, todavia, o que deverá acontecer agora com o lançamento do segundo álbum, o qual leva o seu próprio nome no título e acaba de chegar às lojas através da gravadora Universal. Aguardado com ansiedade pelos já milhares de fãs conquistados, o disco comprova que Ellen é uma artista pronta, embora quem já a viu e ouviu no palco saiba que ao vivo ela se agiganta.
Ellen nasceu em Brasília e foi criada no Chaparral, região de Taguatinga. Inicialmente se interessou por instrumentos, tendo começado a cantar em coros de igreja por influência dos pais. Profissionalmente, iniciou a carreira de cantora aos dezesseis anos e também é atriz, tendo se formado em artes cênicas pela UnB. Dona de voz personalíssima, de belo timbre e alcance fora do comum, ela deverá contar com uma divulgação maciça tanto da multinacional quanto do poderio global para fazer com que seu nome seja doravante cada vez mais veiculado pela mídia.
Nada mal para uma mulher que teve que enfrentar vários tipos de preconceitos infelizmente ainda enraizados na nossa cultura (é negra, pobre, gay e gorda). Mas se pode dizer que ela é uma vencedora. Atualmente, sua agenda de shows está cheia e provavelmente algumas das faixas do recém-lançado trabalho deverão fazer parte de produções televisivas o que, decerto, ajudará a alardear ainda mais o seu enorme talento.
Com a direção musical dividida entre Alexandre Castilho e Torcuato Mariano, o CD é composto por uma dúzia de faixas e se nota um fatiamento bem pensado entre elas: metade é de regravações; das outras, cinco são de autoria de Ellen e a restante, a menos expressiva das selecionadas e talvez incluída por critérios afetivos, é “Me Leva”, de Paulo Djorge e Ricardo Ribeiro.
Na área das releituras, há duas canções de Jorge Ben Jor (“Zumbi”, numa alusão explícita à descendência afro de Ellen, e “Taj Mahal”, em registro carregado de suingue) e outras duas de Milton Nascimento em parceria com Fernando Brant (“Maria, Maria”, ressaltando a força da mulher que ultrapassa várias barreiras, e “Aqui É o País do Futebol” que conta com a participação especial de Carlinhos Brown, o mentor da cantora no já citado programa “The Voice). Estas duas últimas canções – frise-se – mereceram anteriores registros antológicos de Elis Regina e o fato de as versões de Ellen não soarem inferiores comprova a real dimensão de sua capacidade vocal. Completam a parte de resgate dois grandes sucessos de Alceu Valença (“Anunciação”, em que se destacam as flautas executadas por Zé Carlos Bigorna) e de Hermes Aquino (“Nuvem Passageira”, em interessante registro que merece ser destacado).
Já no tocante à seara autoral, se é fato que Ellen ainda não se mostra uma compositora à altura da intérprete, também não se pode negar que há ótimos lampejos de criatividade em suas criações, especialmente na anordestinada “Córrego Rico” e no samba “Geminiana”. Eclética, ela também assina o funk “Linhas de Nazca”, a balada-blues “Não Lugar” e o rap “Testando” em cuja letra autobiográfica narra as aventuras e desventuras de sua trajetória (estas duas também fizeram parte do repertório de seu álbum anterior).
Enfim, o novo CD de Ellen Oléria se apresenta como um bom cartão de visitas para a sua arte, não obstante se saiba que ela pode mais. Esperemos pelos próximos CDs, torcendo para que, em breve, venha a integrar o seleto panteão das grandes divas da nossa MPB. Vale a pena conhecer!
N O V I D A D E S
* Com um CD de inéditas prontinho, a cantora e compositora matogrossense Vanessa da Mata preferiu aguardar para lançá-lo futuramente e acaba de pôr no mercado, através da gravadora Sony Music, um álbum em que revisita o cancioneiro do Maestro Soberano. “Vanessa da Mata Canta Tom Jobim” é o título do disco que foi gravado em estúdio no mês de abril deste ano logo após shows por ela realizados com o mesmo repertório e que integraram o projeto “Nívea Viva Tom Jobim” (ela segue em turnê pelo Brasil neste segundo semestre). Parece que virou moda dizer que a artista desafina, mas desafinam todos os que cantam (ora essa!) e a verdade é que ela vem amadurecendo muito nesse quesito com o passar dos anos. Utilizar-se de recursos tecnológicos para corrigir erros também é comum no meio musical e tais foram criados para isso mesmo. Louvável, então, se faz a coragem de Vanessa, não por mergulhar no belo universo jobiniano (que é complexo, mas não tanto como querem fazer supor alguns), mas por insistir em um trabalho de resgate de canções que já ganharam registros à exaustão. Não há como reinventar a roda, ainda que o produtor Kassin se esforce para fazê-lo, tentando conferir uma aura de jovialidade, inclusive recrutando talentosos músicos da atualidade (entre eles Gustavo Ruiz na guitarra, Alberto Continentino no baixo e Stephane San Juan na bateria) e contando com o auxílio luxuoso do experiente Eumir Deodato no piano e na condução dos arranjos. Nem mesmo jogar insuspeitos ares de bolero em “Se Todos Fossem Iguais a Você” chega a surpreender de fato e fica difícil crer que as novas gerações vão querer conhecer a obra de Tom por aí. Com isso não se está a dizer que o disco seja ruim. Pelo contrário, as dezesseis faixas terminam descendo redondinho e é justo reconhecer que Vanessa se mostra em fase de efetivo crescimento artístico mesmo porque o seu sucesso até agora foi ancorado em suas próprias criações. Os melhores momentos do set list ficam por conta de “Falando de Amor”, “Fotografia”, “Chovendo na Roseira”, “Desafinado” e “Só Tinha de Ser com Você”. Em tempo: Querer comparar Vanessa com outras intérpretes que também já dedicaram trabalhos inteiros ao universo jobiniano (Elis Regina, Gal Costa, Elizeth Cardoso e Olívia Byington, por exemplo) é tolice! Cada uma tem sua personalidade, sua forma própria de ver determinada canção e de dizer os versos das letras. Os que curtem Vanessa, irão gostar. Os que idolatram Tom, talvez não. Para os primeiros, a artista satisfaz. Para os segundos, se assim preferirem, é só buscar os registros originais. E a vida segue…
* O roqueiro baiano Marcelo Nova está lançando o CD “12 Fêmeas”, a princípio somente em meio digital (encontra-se disponível no iTunes), cuja sonoridade se faz calcada em violões e guitarras distorcidas.
* Leonardo está lançando mais um CD, o qual chega às lojas através da gravadora Universal. Intitulado “Vivo Apaixonado”, do repertório consta a regravação de “Aquela Velha Canção” (tema de Marisa Monte e Carlinhos Brown que, no registro da primeira, fez parte da trilha sonora da telenovela global “Guerra dos Sexos”), a qual ganhou acento sertanejo em arranjo em que são priorizados viola e acordeão.
* A banda Isca de Polícia, que acompanhou durante certo tempo o saudoso Itamar Assumpção, estará lançando, em breve, um CD que trará, no repertório, algumas músicas inéditas dele. Atualmente formado por Marco da Costa (bateria), Luiz Chagas (guitarra), Paulo Lepetit (baixo), Suzana Salles (voz) e Vange Milliet (voz), o grupo convidou Zélia Duncan para cantar, como convidada especial, em uma faixa.
* A cantora Karyme Hass resolveu dar uma reviravolta na carreira e abraçou o universo do samba em seu novo CD, o qual chegou recentemente às lojas de maneira independente. Também compositora, ela assina metade das quatorze faixas de “Barra da Saia”, duas delas em parceria com Carlinhos 7 Cordas, o produtor do álbum. A faixa-título conta com a participação especial de Zeca Pagodinho e se transforma no maior destaque inédito do repertório ao lado de “Caminhos” (de Toninho Geraes e Toninho Nascimento). Além da regravação da bonita “Céu e Mar”, de Johnny Alf, há ainda outras três releituras, pinçadas de grandes representantes do samba nacional: Cartola, Nelson Cavaquinho e Adoniran Barbosa (“Peito Vazio”, “Vou Partir” e “Saudosa Maloca”, respectivamente). Karyme canta bonito e de forma afinada e parece à vontade no novo caminho abraçado.
* Jorge Ailton ainda é mais conhecido como o baixista da banda que acompanha Lulu Santos. Mas, insistindo na carreira solo, ele (também cantor e compositor) estará lançando, ainda este mês, o seu segundo CD. Intitulado “Canções em Ritmo Jovem”, o álbum foi produzido por Alexandre Vaz e traz o citado Lulu como convidado especial da inédita faixa “Chega de Longe”. O repertório contempla parcerias de Jorge com Kassin e Ronaldo Bastos e apresenta a releitura de “Criança” (música de Marina Lima).
* Também disponível no formato DVD, já se encontra nas melhores lojas o CD que une os talentos de Criolo e Emicida. Com distribuição da gravadora Universal, o registro ao vivo aconteceu durante apresentação realizada pelos dois rappers paulistas no Espaço das Américas em São Paulo no mês de setembro do ano passado. Há as participações especiais de Mano Brown, Rodrigo Campos e Evandro Fióti. O repertório, baseado nos álbuns “Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida Até que Eu Cheguei Longe” (lançado por Emicida em 2009) e “Nó na Orelha” (o disco que consagrou Criolo em 2011), contém dezoito faixas, não se restringindo ao rap. Os destaques recaem sobre as músicas “Zica, Vai Lá”, “Subirusdoistiozin”, “Não Existe Amor em SP”, “Rua Augusta”, “Grajauex”, “Bogotá” e “Linha de Frente”.
* A trilha sonora do remake da telenovela “Saramandaia”, atualmente no ar pela Rede Globo, conserva apenas cinco temas da primeira edição, quais sejam: “Pavão Mysteriozo” (com Ednardo), “Xamego” (com Fafá de Belém), “Jeca Total” (com Gilberto Gil), “Chão, Pó, Poeira” (com Gonzaguinha) e “Capim Novo” (com Luiz Gonzaga). No mais, foram arregimentados fonogramas gravados por Adriana Calcanhotto (“Lindo Lago do Amor”), Ney Matogrosso (“A Cor do Desejo”), André Abujamra (“Imaginação”), Lenine (“Se Não For Amor Eu Cegue”), Filipe Catto (“Adoração”), Qinho (“O Tempo Soa”) e Zélia Duncan (“Enquanto Penso Nela”).
* A nossa querida cantora Célia Gil estará realizando o show “Cantar É Preciso” no próximo domingo, dia 21/07, a partir das 19 horas no Teatro Atheneu Sergipense. Trata-se de um espetáculo beneficente em prol da Creche Casa do Pequenino que merece ser prestigiado por todos. Os cantores Zéq’ Oliver e Ítalo Lima far-se-ão presentes em participações especiais. A gente se encontra por lá!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
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