R E S E N H A
Cantor: VITOR RAMIL
CD: “FOI NO MÊS QUE VEM”
Selo: SATOLEP
Vitor Ramil é cantor, compositor e escritor gaúcho com bons serviços prestados à música popular brasileira, embora infelizmente, ainda que algumas de suas canções tenham se propagado de maneira considerável nas vozes de intérpretes vários (entre eles, Ney Matogrosso, Verônica Sabino, Carlos Navas, Gal Costa, Adriana Maciel e Zizi Possi), seu nome ainda não seja reconhecido pelo grande público.
Irmão caçula dos mais conhecidos Kleiton e Kledir, ele estreou no mercado fonográfico bem jovem (aos dezoito anos) em 1981 e, diferentemente dos dois que optaram por uma obra mais leve e bem-humorada (por vezes até anárquica), Vitor escreve canções (quase sempre solitariamente) via de regra mais interiorizadas. Suas letras nem sempre são diretas e se caracterizam por trazer achados de inquestionável beleza poética.
Após lançar nove álbuns, ele resolveu rever sua trajetória e para isso pôs nas lojas recentemente, através do seu selo Satolep (Pelotas escrita de trás para frente), o CD duplo “Foi no Mês que Vem” (título de uma de suas mais belas canções), o qual se faz composto por regravações de trinta e duas músicas (simultaneamente está sendo também lançado um Songbook que contempla sessenta temas do artista).
Vitor é cantor correto de timbre bonito e emissão clara. Dono de boa extensão vocal, ele – também um ótimo violonista – sabe até onde pode ir e o faz com convicção. É, pois, o intérprete talhado para a sua própria obra que abarca com destreza a cultura do sul do Brasil onde milongas e congêneres povoam cotidianamente o cenário natural.
A sonoridade acústica domina o trabalho e os arranjos são aparentemente simples, mas na verdade de refinada concretude. Tendo como condutor o violão, eles ganham, aqui e ali, o auxílio luxuoso de alguns poucos instrumentos como, por exemplo, a harmônica de Franco Luciani, a tuba de Santiago Castellani, a trompa de Alexandre Ostrowski e a percussão de Marco Suzano e Santiago Vazquez.
Em alguns momentos, o projeto conta com a presença da Orquestra de Câmara Theatro São Pedro e traz várias participações especiais: Milton Nascimento (em “Não É Céu”), Fito Paez (em “Espaço”), Pedro Aznar (em “À Beça”), Ian Ramil (em “Passageiro”), Bella Stone (em “Noturno”), Jorge Drexler (em “Viajei”), o já citado Ney (em “Que Horas Não São?”), Kátia B (em “Joaquim”, tema original de Bob Dylan e Jacques Levy) e os manos Kleiton e Kledir (em “Noite de São João”, um poema de Fernando Pessoa). Outros destaques do repertório selecionado ficam por conta das faixas “Invento”, “Neve de Papel”, “Loucos de Cara” (parceria com Kleiton), “Grama Verde” (feita com André Gomes), “Longe de Você” e “Tango da Independência” (composta ao lado de Paulo Seben).
Trata-se, portanto, de uma excelente oportunidade para se adentrar no universo musical de Vitor Ramil, um nome que muito já disse e que decerto ainda tem muito mais a falar através de seus inspirados versos e melodias…
N O V I D A D E S
* A cantora Marina Elali participou do programa “Fama” na edição levada ao ar pela Rede Globo em 2004 e, de lá para cá, vem tendo canções incluídas em várias trilhas de produções televisivas. Não obstante isso, ainda não viu seu talento consagrado, muito pela forma não muito coerente com que vem conduzindo sua carreira (ora mergulhando em fugazes temas internacionais, ora em canções românticas sem muita consistência). Neta de Zé Dantas, um dos parceiros mais constantes de Luiz Gonzaga, ela resolveu, no ano passado, prestar um merecido tributo aos dois que acaba de chegar ao mercado através da gravadora Som Livre nos formatos CD e DVD. Trata-se de “Duetos – Homenagem a Luiz Gonzaga e Zé Dantas”, gravado ao vivo durante um mega show realizado em outubro de 2012 no Chevrolet Hall em Recife (PE). Enquanto o CD é composto por dezessete faixas, o DVD conta com um número a mais, o final, em que se reuniram todos os convidados para cantar “São João na Roça”. A grande sacada fica mesmo por conta dos arranjos que transportam as músicas para o tempo atual sem, contudo, descaracterizá-las. São modernos e, na sua maior parte, dançantes, mas não deturpam as obras-primas em seus nascedouros. Marina é uma morena alta cuja beleza estonteante chama a atenção de imediato. Porém, sua capacidade vocal também se torna incontestável. Segura e afinada, ela é dona de um timbre belíssimo que envolve o ouvinte rapidamente e a faz sobressair de forma natural, mesmo que esteja dividindo as músicas com vários outros artistas (sozinha, ela canta apenas “Vem Morena”, Adeus Saudade” e “Cintura Fina”). A lista de convidados é bastante eclética e há desde escolhas óbvias, caso de Elba Ramalho (em “Riacho do Navio”), Geraldo Azevedo (em “ABC do Sertão”), Quinteto Violado (em ”Farinhada”) e do sanfoneiro Waldonys (em “Paulo Afonso”) até as insuspeitas participações de Chorão do Charlie Brown Jr. (em “Vozes da Seca”, uma de suas derradeiras apresentações), Zezé di Camargo e Luciano (em “A Volta da Asa Branca”), Tânia Mara (em “Sabiá”) e da banda Aviões do Forró (em “Siri Jogando Bola”). Marina ainda divide o palco virtualmente com os homenageados (ela canta “Acauã” com Luiz Gonzaga e “A Letra I” com o avô) e com Gilberto Gil (em “Dança da Moda”), uma vez que ele não pôde se fazer presente no dia do evento. Completam o time selecionado Daniel Gonzaga, filho de Gonzaguinha e neto de Gonzagão (em “Noites Brasileiras”), e Ivete Sangalo (em “São João no Arraiá”). Esta, aliás, se alia a Marina e Elba e, juntas, arrasam em “O Xote das Meninas”. Um projeto audacioso que resultou muito legal. Merece, portanto, ser aplaudido e conhecido!
* “Favela Brasil 2 – Soldado do Samba” é o título do novo projeto do sambista Leandro Sapucahy que, composto por CD e DVD, deverá chegar ao mercado até o final deste ano. Gravado ao vivo durante apresentação na Fundição Progresso em julho próximo passado, a qual se fez restrita a convidados da produção e do artista, foi construída uma espécie de favela cenográfica para servir de cenário. O repertório alinhou sambas conhecidos com músicas inéditas, a exemplo de “Comunidade” (de Fernando Magarça e Xande de Pilares, este presente como convidado em “Bonde Pesado”) e “Cuca Quente” (de Renato Milagres e Serginho Meriti, este em participação especial em “Tião”).
* O segundo projeto musical da cantora Valéria Lobão será um CD duplo em que ela mergulhará na obra de Noel Rosa, alternando releituras de canções conhecidas com alguns lados B criados pelo Poeta da Vila. Atualmente em fase de produção, o trabalho deverá ser lançado ainda este ano, contando com a participação de grandes pianistas, a exemplo de André Mehmari, Gilson Peranzzetta, Leandro Braga, Itamar Assiere, Rafael Vernet, Vitor Gonçalves, Marcelo Caldi, Délia Fischer, Adriano Souza, Cristóvão Bastos, Robert Fuchs, Eduardo Farias e Carlos Fuchs. Decerto virá coisa muito boa por aí!
* Sobrinha do compositor Lula Queiroga e filha da cantora Nena Queiroga com o Maestro Spok, Ylana Queiroga traz a música no sangue. Ela acaba de lançar, através da gravadora Joia Moderna e sob a produção de Yuri Queiroga (seu irmão), o primeiro CD (“Ylana”) que traz, no repertório de doze faixas, canções assinadas, entre outros, por Capiba (“Não Quero Mais”), Isaar (“Trancelim de Marfim”), Ortinho (“Aquela Rosa Vermelha”), Siba (“Tempo”) e Alceu Valença (“Pedras de Sal”).
* O novo CD da cantora Verônica Ferriani já está sendo gravado em estúdio paulista e chegará às lojas ainda em 2013. Neste trabalho produzido por Gustavo Ruiz, a artista dará vez e voz a canções de sua própria autoria. Uma palhinha já pode ser ouvida: é que se encontra disponível na rede a música “Tu, Neguinha”, composta com Giani Viscardi.
* O quinto álbum de inéditas do cantor compositor Max de Castro se intitulará “A Fantástica Fábrica de Champignon” e chegará às lojas muito em breve. A conferir!
* Dois dos melhores títulos da discografia do cantor e compositor Edu Lobo acabam de ser relançados, devidamente remasterizados, dentro da série “Tons” que a gravadora Universal vem pondo regularmente nas lojas. O box “Dois Tons de Edu Lobo” acondiciona os discos “Camaleão” e “Tempo Presente”, lançados original e respectivamente em 1978 e 1980. Cada um deles contém dez faixas, duas delas instrumentais, e mostra o artista em momentos inspirados, após a participação nos lendários festivais de música e antes das históricas parcerias com Chico Buarque. Enquanto o primeiro tem como destaques as canções “Lero-Lero”, “O Trenzinho do Caipira” e “Branca Dias”, o segundo alcança os seus melhores momentos com as músicas “Rei Morto, Rei Posto” (com a participação especial de Joyce), “Desenredo” (que traz Dori Caymmi como convidado especial) e “O Dono do Lugar”. Realmente imperdível!
* É também da gravadora Universal a iniciativa de repor em catálogo registros do encontro musical denominado “Phono 73”, uma espécie de festival de música realizado no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo, entre os dias 10 e 13 de maio de 1973. Na realidade, tratou-se de um evento de marketing da gravadora que pretendia promover nacionalmente o catálogo de seus artistas contratados, mas que acabou revestido por um forte viés político, haja vista que o Brasil se encontrava nos anos mais pesados da ditadura militar. O relançamento conta com um DVD e dois CDs dos quais fazem parte, entre outros, Elis Regina, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Jorge Ben Jor, Raul Seixas, Erasmo Carlos, Nara Leão e Fagner. Importante registro de uma época das mais inspiradas do nosso cancioneiro.
* A cantora e compositora Patrícia Polayne, atualmente residindo em terras cariocas, está se apresentando todas as quintas-feiras no Bar Semente, point alternativo localizado no Bairro da Lapa (RJ). Quem quiser conferir de perto o talento dessa grande artista, é só aparecer por lá a partir das 22 horas e assistir ao show “As Canções Tarja Preta” no qual ela põe sua bela voz a serviço de músicas das mais diversas vertentes, ratificando, assim, a sua versatilidade inata.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
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