R E S E N H A
Cantora: NÁ OZZETTI
CD: “EMBALAR”
Selos: CIRCUS / NÁ RECORDS
Ná Ozzetti entrou na música popular brasileira em 1974 quando passou a integrar o grupo Rumo que veio a se tornar um dos ícones da chamada "vanguarda paulista", inovando com arranjos que privilegiavam a voz como instrumento e as entoações da fala nas composições O primeiro disco da galera só chegou ao mercado em 1981 e, após pouco mais de uma década na ativa, alguns de seus membros começaram a enveredar por carreiras-solo. Ná, nascida em uma família de músicos e formada em artes plásticas, lançou seu primeiro álbum individual em 1988 e com ele ganhou o prêmio Sharp na categoria "cantora revelação".
Daí em diante, sua carreira começou a se consolidar e ela viu seu talento ser reconhecido pelos formadores de opinião e pelos colegas mais exigentes. E se é verdade que nunca conseguiu ser uma grande vendedora de discos nem ver seu nome frequentemente estampado pela mídia, também o é que se tornou uma referência entre as intérpretes femininas da atualidade.
Dona de voz suave, mas de considerável extensão, ela possui emissão e respiração perfeitas e um timbre único que a faz ser identificada de pronto sempre que abre sua abençoada garganta para se colocar a serviço das canções. Pouco mais de dois anos após lançar o CD autoral “Meu Quintal”, ela acaba de pôr nas lojas, através de uma parceria entre os selos Circus e Ná Records, o seu mais novo projeto músical. Trata-se de “Embalar, composto por onze faixas, quatro delas assinadas pela própria artista ao lado de parceiros. É, de fato, um dos melhores títulos de sua discografia.
Produzido de forma coletiva, ele soa como um disco de banda, a banda, aliás, que a vem acompanhando desde 2009 e que é formada pelo irmão Dante Ozzetti (violões), Mário Manga (guitarras e violoncelo), Sérgio Reze (bateria) e Zé Alexandre Carvalho (baixo acústico). Eles conseguem concretizar uma sonoridade bastante peculiar, a qual traz muito das lições aprendidas com o supracitado grupo Rumo até porque outras quatro das composições selecionadas são de autoria de Luiz Tatit (três feitas com Dante e uma com Ná), um dos cérebros pensantes daquela formação. E se a faixa-título alude, em sua letra, à salutar mistura de sons, conceituando o trabalho, a deliciosa “As Estações” fala do labutar da mulata que ensaboa o ano inteiro. Já “Musa da Música”, um dos destaques do seleto repertório, conta com as bem-vindas participações vocais de Juçara Marçal e Mariana Furquim, enquanto “Miolo” explicita preocupação com a ecologia. Ná apresenta suas parcerias assinadas com Joãozinho Gomes (a contagiante “Os Enfeites de Cunhã”), Tulipa Ruiz (“Pra Começo de Conversa”) e Alice Ruiz (“Olhos de Camões”, que traz o auxílio luxuoso de Marcelo Pretto nos vocais). Já Dante compôs com Makely Ka a canção “Nem Oi’ que traz inata a característica de seu estilo musical.
Em searas alheias, Ná pesca três verdadeiras pérolas: de Manu Lafer surge a filosófica “A Lente do Homem”, de Kiko Dinucci aparece (em parceria com Jonathan Silva) a bem-humorada e atualíssima “Lizete” (faixa dividida com Kiko) e de Déa Trancoso emerge a sublime “Minha Voz”, tema que permitiu o encontro histórico de Ná com Mônica Salmaso, um verdadeiro duelo (no melhor dos sentidos) de titãs em que sobressai a nobreza de ambas que brilham em igual teor exatamente por uma não querer ofuscar a outra.
Como que a comemorar os vinte e cinco anos do lançamento de seu disco solo de estreia que trazia na capa uma Ná com roupa de bailarina prestes a iniciar o ensaio e talvez fechando trilogia com o álbum “Estopim” (originalmente de 1999) que a mostrava em movimento, dançando nas fotos da parte gráfica, o recém-lançado CD também traz, em sombras, imagens de dança da cantora. Ao embalar influências de forma inteligente, Ná Ozzetti ratifica sua arte originalíssima que merece ser cada vez mais conhecida e compartilhada. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* Depois de Mariene de Castro e Carla Visi lançarem CDs lembrando os trinta anos em que Clara Nunes nos deixou, agora é a vez de a cantora potiguar Valéria Oliveira prestar o seu tributo através do álbum “Em Águas Claras”, o oitavo de sua carreira, o qual chega às lojas de maneira independente e sob a produção de Rildo Hora. Valéria é cantora competente que possui voz forte e um timbre bem interessante. No texto constante do encarte, ela confessa ter sido Clara o seu maior ponto de referência e a foto da capa tem como pano de fundo a casa humilde em que nasceu a homenageada, ainda de pé em Caetanópolis, no interior das Minas Gerais. O disco foi gravado entre Rio de Janeiro e Natal (RN) e conta, na sua ficha técnica, com músicos de vasta experiência, a exemplo de Jamil Joanes (no baixo), Carlinhos 7 Cordas (no violão), Misael da Hora (nos teclados), Pretinho da Serrinha e Marcos Esguleba (ambos na percussão). O repertório é composto por dezoito faixas, a maioria selecionada entre os maiores sucessos que Clara colecionou ao longo de sua curta mas profícua trajetória. Estão lá, entre outras, pérolas como “Minha Missão” (de João Nogueira e Paulo César Pinheiro), “Canto das Três Raças” (outra de Paulinho, agora em parceira com Mauro Duarte), “Conto de Areia” (de Toninho e Romildo), “Tristeza Pé no Chão” (de Armando Fernandes), “Basta um Dia” (de Chico Buarque), “O Mar Serenou” (de Candeia) e “Juízo Final” (de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares). Abalizado por Dona Mariquita, irmã mais velha de Clara, o projeto traz ainda, em duas partes, “Puxada de Rede do Xaréu” (de Maria Rosita Salgado Goes) e a obra-prima “Casinha Pequenina” (de domínio público). A Velha Guarda da Portela (escola do coração de Clara) e o compositor Monarco marcam presença em “Jardim da Solidão” (de autoria dele próprio). Trata-se de um painel preciso do legado musical que a Mineira Guerreira nos deixou, redesenhado através da voz de uma cantora acima da média. Vale a pena conhecer!
* A banda Crove Horror Show, sucesso inquestionável no cenário musical sergipano a partir da segunda metade da década de oitenta, estará lançando oficialmente o seu primeiro e interessante CD intitulado “Depois do Rock” (antes dele, só havia saído alguns demos) em show especial que será realizado na Casa da Rua da Cultura, localizada na Praça Camerino, nesta Capital, a partir das 23 horas do dia 04 de outubro (sexta-feira próxima, portanto). Composto por Luiz Eduardo (voz e guitarra), Marcos Odara (bateria) e Fábio Snoozer (baixo), o grupo mantém os dois primeiros integrantes de sua formação original. O repertório é composto por uma dúzia de canções autorais que representam as várias fases pelas quais vem passando o Crove desde o seu começo até os dias atuais. A gente se encontra por lá!
* O show que resultará no segundo DVD da carreira da cantora e compositora Isabella Taviani foi realizado na quinta-feira passada no Centro Cultural João Nogueira – Imperator, no Rio de Janeiro, e contou com as participações especiais de Elba Ramalho, Myllena, Moska e Zélia Duncan. O roteiro apresentou sucessos e quatro temas inéditos.
* “Por Enquanto” é o título do primeiro CD da cantora e compositora Maria Thalita de Paula, o qual acaba de ser lançado pelo selo Bolacha. Produzido pelo pai da artista, o violonista Zé Maurício, o álbum é composto por onze faixas (dez delas de autoria da própria Thalita ao lado de parceiros), contabilizado o contagiante frevo “Hino das Trepadeiras” que surge como bônus. Aliás, é quando foge do óbvio predominante nas letras que o disco alcança os melhores momentos, caso de “Tá Tranquilo Pra Boi” e “Surdo da Marcação”. A única canção alheia é “Deixa Pra Lá” (de Paulinho Cavalcante e Paulo Bruce) e o cantor Ruy Faria é o convidado especial da faixa-título. Thalita possui voz aguda e timbre bastante peculiar, o que, a princípio, poderá causar certa estranheza, mas decerto será o que a diferenciará neste país de cantoras atualmente tão xerocopiadas. Intérprete segura e afinada, ela lembra, ainda que de longe e às vezes, a saudosa Nara Leão. Outros destaques do repertório ficam por conta de “Redundância” e “Ainda Dói”, duas das nove canções compostas por Thalita ao lado de Zé Maurício.
* Com a produção dividida entre Bia Paes Leme e Leandro Braga, o novo CD da cantora Simone chegará às lojas no próximo mês, a tempo de comemorar os quarenta anos de carreira da baiana. O repertório é inteiramente centrado em canções compostas por mulheres, a exemplo de Angela Ro Ro, Fátima Guedes, Marina Lima, Rita Lee, Sueli Costa, Teresa Cristina e Zélia Duncan.
* Através de uma parceria entre as gravadoras Kuarup e Sony Music, encontra-se nas lojas o primeiro CD do cantor e compositor Bruno de La Rosa. Com os arranjos e a direção musical assinados por Marcos Alma (parceiro em cinco das doze faixas, dez delas autorais), o álbum apresenta um intérprete bastante interessante. Afinado e com um timbre belíssimo (que lembra o grave encorpado de Edu Lobo), Bruno conta com o aval e as participações especiais de Renato Teixeira (em “A Estrada e o Violeiro”, de Sidney Miller), Toquinho (em “Um Grito Parado no Ar”, de autoria do convidado em parceria com Gianfrancesco Guarnieri) e Leopoldina (em “Quintal” e “Novela da Voz”, duas das cinco faixas criadas por Bruno solitariamente).
* Gravado recentemente durante show realizado pelo cantor e compositor carioca Rogê no Espaço Tom Jobim no Rio de Janeiro, o ”Baile do Brequelê” se transformará em CD e DVD. O projeto aportará no mercado ainda este ano e trará, como convidados especiais, Arlindo Cruz, Serginho Meriti e Wilson das Neves.
* A gravadora Dubas Music convidou e a cantora Jussara Silveira aceitou e, assim, deverá, em breve, estar entrando em estúdio para gravar um CD que conterá apenas parcerias de Beto Guedes com Ronaldo Bastos. Quem viver, ouvirá!
* Os shows que se realizarão em outubro no Espaço Sesc Copacabana, nos quais o pianista João Carlos Assis Brasil estará celebrando os cento e cinquenta anos de nascimento de Ernesto Nazareth, servirão de base para CD e DVD que chegarão ao mercado no próximo ano. O projeto contará com as participações especiais de Carlos Navas (em “Bambino” e “Odeon”, melodias de Nazareth letradas por José Miguel Wisnik e Vinicius de Moraes, respectivamente) e de Alaíde Costa (em “Sertaneja”, parceria de Nazareth com Catulo da Paixão Cearense). Em estúdio, também serão registrados alguns takes. Muito legal!
* Entre os aniversariantes famosos desta semana estão Adriana Calcanhotto e Zé Ramalho. Ambos criadores e intérpretes, estarão a receber merecidos cumprimentos no dia 03, quinta-feira próxima. Saúde e muita música para eles!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
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