R E S E N H A
(Fotos: Divulgação) |
Cantora: SIMONE GUIMARÃES
CD: “CLARICE”
Gravadora: INDEPENDENTE
Paulista de Santa Rosa de Virtebo, a cantora e compositora Simone Guimarães teve, em sua formação musical, várias influências, dentre as quais se destacam Tom Jobim e Villa-Lobos. A música entrou cedo em sua vida: foi ainda na infância quando ganhou, aos sete anos, um cavaquinho, passando a se apresentar em eventos escolares. Com quinze anos, mudou-se para Ribeirão Preto onde passou a estudar música no Conservatório Carlos Gomes.
Em 1996, lançou “Piracema”, o seu primeiro CD solo, o qual foi muito bem recebido pela crítica especializada e abriu espaço para que sua carreira ganhasse merecida continuidade, tanto que, já no ano seguinte, o segundo álbum, "Cirandeiro", recebeu duas indicações para o Prêmio Sharp. Com sua obra sendo divulgada a contento, ganhou adesões de peso para o próximo projeto que viria a ser o disco "Aguapé", lançado em 1999 com as participações de Danilo Caymmi, Elba Ramalho, Ivan Lins e Zé Renato. Naquele mesmo ano, Milton Nascimento, que já a conhecia de Belo Horizonte (BH), assumiu sua admiração pela artista e, dali em diante, ela passou a frequentar trabalhos dele, o que atingiu o ápice em três faixas do CD “Pietá” que chegou ao mercado em 2003.
Como cantora, a bonita voz grave e encorpada de Simone a diferencia da maioria de suas colegas. Como criadora, ela vem se mostrando bastante eclética ao passear por estilos que vão do erudito ao regional. Artista corajosa que é, ela não se acomoda nem se entrega a fórmulas estabelecidas tanto que, depois de dois bons CDs chancelados pela gravadora Biscoito Fino (“Casa de Oceano” e “Flor de Pão”), o que, por si só, proporciona confortável visibilidade e adequada distribuição, ela tem se dedicado a projetos conceituais, os quais vêm sendo lançados de maneira independente (caso dos CDs “Cândidos” e “Chão de Aquarela”, este gravado ao lado de Cristina Saraiva).
O mais recente deles e que acaba de aportar no mercado se intitula “Clarice”, nome também da faixa de abertura que homenageia a escritora (ucraniana naturalizada brasileira) Clarice Lispector. Já no texto de abertura, Simone contextualiza o novo trabalho quando afirma que “música é mistura de desconhecido, de trabalho, de inspiração e de transpiração. É um alimentar-se do que será alimento. É meu pão de cada dia e meu vinho visionário, um meu que será seu. Da mesma forma que o sentimento de Clarice se tornou nosso”. Sábias palavras!
Com a direção musical sob a responsabilidade de Ocelo Mendonça, o CD é composto por quatorze faixas, oito delas de autoria de Simone, cinco divididas com parceiros. Em passagens como a canção-título e a inspirada “Raio de Luar” (de Bena Lobo, Bia Paes Leme e Dudu Falcão) há a presença de um belo naipe de cordas, o que contribui para conferir uma apropriada atmosfera etérea.
Integram a ficha técnica do disco grandes instrumentistas da atualidade, tais como André Mehmari e Leandro Braga (piano), João Gaspar (violão) e Tiago Penna da Costa (guitarra).
Alguns dos melhores momentos do repertório ficam por conta da inebriante “Gira Girassol”, da sensível “Vi” (ambas assinadas pela artista solitariamente), da atualíssima "Passarinhada” (de Carla Capalbo) e da contundente “Sem Mais Tristezas” (de Simone e Camilla Inês) que traz Leonel Laterza como convidado (linda voz!). Outras participações especiais ficam por conta de Miúcha (em “Como a Vida”, mais um tema criado unicamente por Simone), Danilo Caymmi (em “Estrela do Mar”, de Simone e Carlos Di Jaguarão), Paulo Jobim (em “Anseios de Sereia”, outra da mesma dupla), Ana de Hollanda (em "Beija-Flor Colibri”, dela e Novelli), Ilessi (em “Rastros do Asfalto”, de Gonzaga da Silva) e Novelli (em “Janaína meu Canto de Guerra”, dele e Simone).
Simone completa o set list com a redescoberta de duas pérolas, uma da lavra do já citado Milton Nascimento (“Vera Cruz”, parceria com Márcio Borges) e outra fruto do auge criativo de Guilherme Arantes (“Muito Diferente”).
De fato, um grande lançamento que entrelaça lirismo e sofisticação, intimismo e melancolia, como bem soube fazer Clarice em sua obra atemporal, e, por assim ser, se consubstancia como um dos melhores CDs do ano. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* O cantor e compositor Wado, nascido em Florianópolis (SC) e radicado desde a infância em Maceió (AL), vem prestando bons serviços à nossa música atual com suas canções criativas e cheias de toques de modernidade que trazem como principais ascendências o samba e o rock. Com seu nome em crescendo (principalmente entre os mais descolados), ele já conseguiu construir um estilo próprio, identificado à primeira audição, muito por conta do entrosamento com a banda que o acompanha há algum tempo. Talvez numa tentativa de diversificar sua rota, ele resolveu se entregar às mãos de Marcelo Camelo e Fred Ferreira, os produtores de seu novo CD, o oitavo da carreira, intitulado “Vazio Tropical” e recentemente lançado através do selo Oi Música. Para quem acompanha o trabalho do artista dá para constatar de imediato uma alteração substancial tanto na sonoridade quanto no conceito desse novo projeto, o qual se faz composto por onze faixas, dez delas autorais e inéditas (algumas, é verdade, já compostas há algum tempo). A única canção alheia é a inspirada “Flores do Bem”, do mineiro Momo (convidado da faixa, um dos destaques do set list apresentado). Momo, aliás, tem presença ativa no disco, bem como o carioca Cícero e o já citado Camelo que também toca diversos instrumentos, o que termina fazendo com que venha a lume sua estética musical ancorada na melancolia. Talvez por conta da influência dos três, o álbum se reveste de uma aura de tristeza. E se há, na verdade e por um lado, a constatação de salutar amadurecimento na obra de Wado, por outro é fato que o novo disco se ressente de certo desprendimento demonstrado em trabalhos anteriores. Como cantor, a deliciosa voz do artista confere um charme todo especial a temas como “Cidade Grande”, “Canto dos Insetos”, “Primavera Árabe” (feita com o guitarrista Vítor Peixoto) e “Cais Abandonado” (composta com Adalberto Rabello Filho, integrante do grupo paulistano Numismata). Há as participações especiais do cantor e compositor uruguaio Gonzalo Deniz em “Carne”, de Camelo na interessante “Tão Feliz” e de Mallu Magalhães em “Rosa” e “Quarto Sem Porta” (parceria de Wado com o alagoano Júnior Almeida), esta contando também com os vocais de Cícero que ainda se faz presente na bonita “Zelo”, outro bom momento do repertório.
* O cantor, compositor e guitarrista carioca Gabriel Muzak está lançando “Quero Ver Dançar Agora”, seu segundo CD. Composto por dez canções inéditas, o trabalho se caracteriza pela diversidade rítmica.
* Último dos parceiros de Vinicius de Moraes de uma lista que inclui, entre os mais frequentes, Tom Jobim, Baden Powell e Carlos Lyra, o cantor, compositor e violonista Toquinho também faz sua homenagem ao centenário de nascimento do Poetinha através do recém-lançado CD “Obrigado, Vinicius”, um lançamento da gravadora Sony Music. Do repertório constam pérolas que Vinicius compôs ao lado dos três artistas acima citados, a exemplo de “Garota de Ipanema”, “Chega de Saudade”, “Berimbau”, “Canto de Ossanha”, “Primavera” e “Samba do Carioca”.
* O cantor e compositor carioca Mombaça lançará em breve o seu terceiro CD, o qual foi produzido pela sua principal parceira, a cantora Mart’nália e trará um repertório recheado de canções inéditas e autorais.
* Filha de Alzira E, irmã de Iara Rennó, sobrinha de Tetê Espíndola e prima de Dani Black, Luz Marina não poderia mesmo escolher outro caminho que não fosse a música. Cantora e compositora, ela acaba de lançar (de maneira independente) o seu primeiro homônimo CD, o qual é composto por uma dúzia de faixas, nove delas criadas pela artista ao lado de parceiros como a mãe e a irmã, além de Lucina, Thalma de Freitas e Anelis Assumpção, entre outros. As exceções ficam por conta de “Só” (de Luiz Melodia e Perinho Santana), “Clandestina” (de Paulo Viggu e Daniel Viana, este o produtor do álbum ao lado da própria Luz) e “Coração Absurdo” (de Itamar Assumpção). Com voz doce e bem colocada, ela se revela através de letras curtas e certeiras e faz das faixas “Balança o Pé”, “Full Moon” e “Asas de Kairós” os melhores momentos do repertório apresentado.
* “Questão de Tempo” é o título do novo CD do cantor e compositor paulista Sérgio Reis, o qual já se encontra disponível no mercado. Moacyr Franco surge como convidado especial da faixa-título.
* A cantora e compositora capixaba Tamy está lançando “Caieira”, o novo CD que chega ao mercado de maneira independente. Produzido a quatro mãos por Francisco Vervloet e Rodrigo Campello, o álbum se faz composto por onze faixas, dez delas inéditas e autorais, algumas criadas pela artista com parceiros como Roberto Menescal, Lili Araújo, Lokua Kenza e Donatinho (a exceção fica com a alheia e abaianada “Atotô”, do já citado Vervloet e Danielle Passos). Dona de um timbre suave que passeia entre os de Rosa Passos e Fátima Guedes, Tamy canta bonito de forma segura e afinada. A ficha técnica do disco abriga grandes instrumentistas da atualidade, a exemplo de Kassin, Jr. Tostoi e Davi Moraes (guitarras), Alberto Continentino (baixo), Jam da Silva e Marcos Suzano (percussões), Sacha Amback (teclados), Bebê Kramer (acordeão) e Jaques Morelenbaum (cello). O ponto alto do repertório é, sem sombra de dúvida, a deliciosa “Eu Tô com Você”, mas outros bons momentos ficam por conta das faixas “Te Esperei”, “Dava Pra Ver” e “Eu Bem que Avisei”.
* Dia 21 (quinta-feira próxima, portanto) o terceto Café Pequeno estará mais uma vez se apresentando no Café do Museu da Gente Sergipana. E no dia 22 (sexta-feira), será a vez de a cantora Héloa mostrar o seu talento na Livraria Saraiva do Shopping Riomar. Ambos os shows terão início às 19:30 horas. Trata-se de duas ótimas oportunidades para se prestigiar a prata da casa de real valor!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
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