R E S E N H A
Cantora: ITHAMARA KOORAX
CD: “OPUS CLÁSSICO”
Gravadora: INDEPENDENTE
A carioca Ithamara Koorax é, atualmente, uma das melhores cantoras do mundo. Quem afirma isso é a revista americana Downbeat, especializada em premiar anualmente em diversas categorias os melhores intérpretes e instrumentistas do planeta. Dona de uma voz de alcance e extensão privilegiados, Ithamara é afinadíssima e arrasa nos discos e palcos com suas versões quase sempre definitivas das músicas que escolhe para gravar. Como poucas, sabe dosar uma técnica irrepreensível com uma emoção à flor da pele e é isso que a diferencia da grande maioria de suas colegas (algumas corretas, porém gélidas, e outras intensas, mas derrapantes em quesitos básicos necessários a um canto eficiente).
Infelizmente, não faz (ainda) tanto sucesso aqui como na Europa (na Inglaterra, por exemplo, ela é uma das divas do acid jazz), Estados Unidos e Japão, embora venha realizando com frequência shows em terras tupiniquins, sempre com plateias lotadas. Uma de suas mais recentes apresentações aconteceu no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, oportunidade em que ela lançou oficialmente “Opus Clássico – Música Clássica na Voz de Ithamara Koorax”, o seu mais novo (e ousado) CD, em que empresta seu avassalador talento a temas criados por Rachmaninoff (“Vocalise”), Chopin (“Balada em Sol Menor nº 1”) e Ravel (“The Lamp is Low”), entre outros.
No entanto, embora o título assim possa sugerir, Ithamara não restringe o repertório a compositores eruditos, abrindo-o igualmente a autores nacionais, embora a opção pela seara clássica permeie todo o trabalho, o que se solidifica através dos arranjos tão belos quanto delicados executados com destreza pelos exímios músicos Rodrigo Lima ao violão e Filipe Bernardo ao piano (como auxilio luxuoso, o trombonista Raul de Souza tocou em “My Reverie”, parceria de Claude Debussy e Larry Clinton, canção que fecha com chave-de-ouro o luxuoso projeto). Assim, o traço de união entre os dois universos musicais se transforma, pois, no atrativo-chave desse super bem-vindo trabalho que tem sua produção assinada pelo competente Arnaldo DeSouteiro e se fez realizado pela Arte Nova Produções com patrocínio da Petrobrás.
Ithamara, que iniciou a carreira tendo Elizeth Cardoso como madrinha, conheceu o sucesso quando a canção “Iluminada” (de Ary Sperling e Aldir Blanc) foi escolhida pela Rede Globo para ser um dos principais temas da minissérie “Riacho Doce”, estourando nacionalmente de imediato. Incluída no recém-lançado álbum, a nova versãodessa música ratifica o quanto o tempo fez bem a Ithamara, conferindo-se a experiência necessária para adentrar nos templos mais recônditos do ser humano, o que se pode constatar também através da audição de “Corpo e Luz” (de André Sperling e Paulo César Pinheiro).
Explorando seus preciosos agudos, ela mergulha nos primórdios do nosso cancioneiro, resgatando “As Pombas”, pérola pouco conhecida de Chiquinha Gonzaga feita com Raimundo Correia, e trazendo a lume, em “Coração Triste”, versos escritos lá nos primórdios por Machado de Assis e musicados por Alberto Nepomuceno. E não medra ao se aventurar por cinco obras-primas de incontestável complexitude assinadas por Heitor Villa-Lobos, saindo-se com maestria ímpar (“O Trenzinho do Caipira, em poema de Ferreira Gullar, “Ária das Bachianas Brasileiras nº5”, composta com Ruth Valadares Correa, “Prelúdio da Solidão”, com letra de Hermínio Bello de Carvalho, “Melodia Sentimental”, parceria com Dora Vasconcellos, e “O Canto do Pajé”). Momentos de sublime beleza ficam por conta de “Adágio do Concerto de Aranjuez” (de Joaquin Rodrigo), “Pavane” (de Gabriel Fauré) e “Modinha” (de Delza Agrícola).
Trata-se de um dos melhores títulos da discografia da incrível Ithamara Koorax e um dos grandes lançamentos deste ano. Uma cantora no apogeu do seu canto, mostrando que, contra modismos e estratégias oportunistas de marketing, ainda vence uma bela voz. E que voz… Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* Paulista, o cantor e compositor Celso Viáfora começou a trabalhar com música no fim da década de setenta do século passado, participando de festivais. E foi somente após algum tempo tocando em bares e casas noturnas do circuito alternativo de São Paulo e Rio de Janeiro que ele lançou, em 1992, o primeiro disco solo. De lá para cá vem gravando com regularidade, vendo também suas canções receberem registros nas vozes de grandes nomes do nosso cancioneiro, tais como, por exemplo, Ney Matogrosso, Vânia Bastos e Vicente Barreto. Parceiro de gente do porte de Ivan Lins, Guinga, Chico Saraiva e Elton Medeiros, entre outros, Celso acaba de lançar mais um CD. Trata-se do independente “Amores Absurdos”, dirigido por ele próprio e composto por quatorze faixas autorais, algumas assinadas ao lado de parceiros. Bom cantor (dono de grave e bem colocada voz) e ótimo compositor (responsável com passagens bem inspiradas), ele apresenta uma profícua safra de temas inéditos, os quais recebem interessante revestimento acústico em arranjos com cordas dirigidas por Neymar Dias. Entre os destaques do repertório estão as faixas “Memória”, “Dia de São Benedito” “Água de Mágoa”, “Dois Tempos de um Lugar”, “Balaio de Sonhos”, “Venha” e “Hã o Que” (estas duas compostas com Paulo Monarco e Pedro Altério, respectivamente). Dandara Modesto é a cantora convidada da etérea faixa “Ponte dos Sonhos” (parceria com Sérgio Santos). Um álbum super bem vindo que merece ser conhecido!
* Quem viveu a música popular brasileira no início da década de oitenta certamente não passou incólume ao talento da cantora e compositora paraibana Cátia de França. Multi-instrumentistas (ela toca violão, piano, flauta, sanfona e percussão), é autora de grandes temas gravados, entre outros, por Amelinha (“Coito das Araras”), Elba Ramalho (“Kukukaya” e “Oitava”) e Xangai (“Antoninha Me Leva”). Cátia sempre viveu de música, mas passou todo esse tempo ao largo do mercado dominado pelas gravadoras. Recentemente, ao lado da Camerata Arte Mulher (grupo liderado pelo maestro Carlos Anísio, porém composto somente por mulheres), ela lançou o CD intitulado “No Bagaço da Cana, um Brasil Adormecido”, belo álbum temático que joga luzes sobre uma fatia do Nordeste que não quer e nem pode ser esquecida. O repertório é formado por uma dúzia de canções autorais e a maioria delas é inédita. Cátia canta de forma única: dona de voz guturalmente grave, ela traz toda a força e amargor de seu povo. Entre os melhores momentos estão as faixas “O Bonde”, “Tangerinos”, “Focinho da Lebre do Coração”, “Engenho Novo” e “Itabaiana”.
* Em breve, estará disponível no mercado o primeiro CD solo do cantor e compositor carioca Fernando Temporão. Trata-se de “De Dentro da Gaveta da Alma da Gente”, o qual foi produzido a quatro mãos por Kassin e Alberto Continentino. Há arranjos que trazem a assinatura do maestro Arthur Verocai. A conferir!
* Está chegando às lojas, através da gravadora Joia Moderna, o segundo disco solo da cantora e compositora paulista Iara Rennó. Intitulado “I A R A” e com a produção assinada por Moreno Veloso, o álbum é composto por um repertório primordialmente inédito e autoral, mas há a regravação do samba “Roendo as Unhas” (de Paulinho da Viola).
* “Elvira” é o título do CD que a cantora Elvira Helena lançou recentemente através da gravadora Fina Flor. Produzido por ela própria e composto por treze faixas, todas elas autorais (três criadas solitariamente e as restantes com parceiros), o álbum mostra uma intérprete pronta, dona de voz muito bem colocada e de timbre suave (que, por vezes, lembra o de Fátima Guedes). Embora o viés romântico predomine no trabalho, há incursões pelo samba, pelo choro e pelo terreno nordestino. Tivesse aberto espaço para temas alheios, decerto o resultado soaria ainda melhor posto que nem todas as faixas possuem o mesmo nível de inspiração. A ficha técnica reúne grandes instrumentistas, a exemplo de Jaques Morelenbaum (violoncelo), Zé Carlos Bigorna (flauta e sax), Jota Moraes (vibrafone), Robertinho Silva (percussão) e Ricardo Costa (bateria). Entre os melhores momentos estão “Reclama de Mim”, “Partitura”, “Por Quanto Tempo Mais?”, “Elvira e Mexe” e “Georgina”.
* O cantor Edson Cordeiro está lançando via iTunes o que ele denomina de “Elektronic Trilogy”. O projeto disponibiliza “Or la Tromba” (da ópera do compositor alemão George Friedrich Händel), “Carmen” (do compositor francês Georges Bizet) e o tema sacro “Stabat Mater” (do compositor italiano Giovanni Pergolesi). Legal, mas volta logo para o popular também, rapaz!
* ”Vertigem” é o título do terceiro CD do cantor e compositor mineiro Pedro Morais, já disponível no mercado. Trata-se de um trabalho independente, produzido por Gustavo Ruiz e que pôde ser realizado uma vez que o artista venceu pelo voto popular o Festival “Música Pra Todo Mundo”, patrocinado pelo Oi Futuro. Composto por onze temas autorais, alguns criados ao lado de parceiros, o álbum resulta dançante num flerte entre o pop rock e a MPB, embora seja, na realidade, de difícil catalogação. Além de Pedro (violão) e Gustavo (guitarra), fazem parte da afiada banda-base Dustan Gallas (guitarra), Lucas Martins (baixo), Samuel Fraga (bateria) e André Lima (teclado). Um dos destaques do repertório, a canção “Ê, Camarada!”, surge em duas versões, uma delas remix. E se em “Nuvem”, há a participação especial da cantora Juliana Perdigão, em “Bilhete” Pedro põe melodia sobre belos versos escritos por Mário Quintana. Outros bons momentos ficam por conta das faixas “Para Repetir”, “Liga” e “O Amanhã”.
* Recentes apresentações realizadas por Djavan na casa HSBC Brasil servirão de base para o seu próximo DVD, nas lojas em 2014. Com o repertório calcado em “Rua de Amores”, o seu mais recente CD, o projeto joga luzes também sobre alguns dos grandes sucessos colecionados pelo artista alagoano ao longo da vitoriosa carreira.
* E na quinta-feira, dia 19, a MPB estará em festa pois a bela e talentosa cantora Roberta Sá estará comemorando mais um ano de existência. Já o aniversariante famoso do sábado, dia 21, será o cantador Elomar, responsável pela autoria de belas canções, tais como “O Pedido”, “Cantiga do Estradar” e “Arrumação”. Muita música acompanhada de saúde e paz é o que desejamos aos dois!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
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