R E S E N H A
Cantor: NEY MATOGROSSO
CD: “ATENTO AOS SINAIS”
Gravadora: SOM LIVRE
É realmente admirável o pique de Ney Matogrosso! Do alto de setente e dois anos muita gente prefere passar o tempo assistindo televisão, viajando para resorts ou reclamando de doenças. Ney, não! Continua na ativa, rebolando pelos palcos com um vigor que parece não esmaecer. Ele, que já confessou ter levado uma vida de excessos tanto no lado sexual quanto no de experiências pouco aconselháveis (foi adepto, inclusive, de chás alucinógenos), permanece com sua voz em forma, conforme se pode constatar através da audição de seu novo CD intitulado “Atento aos Sinais”, o qual acaba de chegar ao mercado através da gravadora Som Livre.
Ney, como se sabe, surgiu na música popular brasileira como vocalista do grupo Secos & Molhados que, na década de setenta do século passado, conquistou o Brasil de norte a sul de maneira arrebatadora e instantânea. O país vivia o período mais conturbado da ditadura e três jovens seminus e pintados chamavam a atenção com canções não muito convencionais, mas que pegavam facilmente quem as ouvisse. Foram apenas dois discos e confusões internas resultaram no racha que jogou Ney na vitoriosa carreira solo que hoje contabiliza inúmeros sucessos.
Como não compõe, ele soube se aprofundar como intérprete e, plural, passeou com maestria, ao longo dos anos, por compositores díspares sem perder sua identidade, marca maior do seu sucesso. Gravou marchinhas de Carnaval, mergulhou no nordestino terreno do forró, pescou de cara limpa pérolas da MPB mais tradicional, gravou discos temáticos revisitando o cancioneiro de Chico Buarque, Ângela Maria e Cartola e se arriscou com coragem na seara do pop rock nacional..
O recém-lançado álbum vem em muito boa hora porque, com a enxurrada de novidades musicais surgindo diariamente em cada esquina, o artista inteligente tem que ter a compreensão de que, se ficar algum tempo fora da mídia, corre o risco de sucumbir em meio a tantos novos ídolos (a maioria, é verdade, fabricada, mas que consegue fisgar consideráveis nhacos do mercado).
Composto por quatorze faixas, o CD segue a fórmula que Ney vem adotando há alguns anos: primeiro ele sai pela estrada com o repertório escolhido e somente depois de testá-lo nos palcos é que entra em estúdio para registrá-lo. O show homônimo vem rodando várias Capitais desde fevereiro deste ano com um roteiro de dezenove canções. O disco, gravado em junho, chega agora às lojas com quatorze delas (ficaram de fora “Vida Louca Vida”, de Lobão e Bernardo Vilhena, “Two Naira Fifty Kobo”, de Caetano Veloso, “Amor”, de João Ricardo e João Apolinário, “Astronauta Lírico”, de Vítor Ramil, e “Fico Louco”, de Itamar Assumpção as quais certamente entrarão no prometido futuro registro em DVD ao vivo). A competente produção a cargo do inspirado tecladista Sacha Amback dá ênfase, nos arranjos, aos metais, o que confere ao disco um peso especial, aproximando-o de alguns trabalhos emblemáticos do próprio Ney.
O repertório, no entanto, soa um pouco irregular. Se é fato que Ney é dos raros que ainda se abrem a compositores que ainda não são do conhecimento do grande público, também o é que os nomes que ele escolheu para esse projeto já caíram nas graças de um seleto grupo de formadores de opinião que se concentra no eixo Rio-São Paulo. Estão lá (e – frise-se! – isso não os desmerece em seus talentos): Dani Black (que é apadrinhado por Maria Gadú e Chico César) com sua “Oração”, Rafael Rocha (integrante do grupo Tono do qual faz parte Bem Gil, filho de Gilberto Gil) com “Não Consigo” e “Samba do Blackberry”, esta uma parceria com Alberto Continentino, Dinho Zampier e Pedro Ivo Euzébio (integrantes da banda que acompanha Wado) com “Tupi Fusão”, composta ao lado de Vitor Pirralho e André Meira, Dan Nakagawa (que também é ator e já participou de algumas produções globais) com “Todo Mundo o Tempo Todo” e o rapper paulista Criolo (o queridinho da hora) com “Freguês da Meia-Noite”.
E como está na moda revisitar Itamar Assumpção (embora seja público e notório que Ney foi um dos primeiros grandes nomes do nosso cancioneiro a gravar temas criados pelo Negro Dito), este ressurge em dois bons momentos: “Noite Torta” (canção que anteriormente já ganhou dois interessantes registros por parte de Tetê Espíndola e Silvia Machete) e “Isso Não Vai Ficar Assim” (recentemente resgatada por Carlos Navas e Zélia Duncan). Outros destaques do repertório que efetivamente apresenta apenas uma canção inédita (“Beijos de Ímã”, de Jerry Espíndola, Alzira E e Arruda) são as releituras de “Roendo as Unhas” (de Paulinho da Viola), “A Ilusão da Casa” (de Vitor Ramil) e “Rua de Passagem” (de Arnaldo Antunes e Lenine, escolhida pela gravadora como a primeira música de trabalho, arrojado tema que já mereceu vigoroso registro de Elba Ramalho). Completam o set list as medianas “Pronomes” (da banda Zabomba, composta por Beto Boing e Paulo Passos) e “Incêndio” (de Pedro Luís).
De fato, trata-se de mais um bom CD a se juntar aos outros quarenta e dois da discografia oficial do artista, mas a gente sabe que Ney pode mais, muito mais… Sigamos, pois!
N O V I D A D E S
* O cantor e compositor Mingo Santana está lançando “Eco-se”, o seu aguardado terceiro CD. Nome dos mais queridos e antenados da cena sergipana, Mingo transforma o novo álbum em um dos pontos altos de sua trajetória. Produzido por ele próprio e com a direção musical a cargo do tecladista Melquisedek, o disco, que é composto por quatorze faixas, consiste em um mosaico muito bem costurado das opções musicais do artista, que abrange desde influências mundiais da chamada wordmusic até reminiscências de sua aldeia através do que se costuma denominar de música nativa sergipana. O compositor é eclético e divide suas criações com vários parceiros, entre eles Neu Fontes, Kleber Melo, Marcelo Top’s, Tonho Baixinho, César Corojazz, Cláudio Barreto e Rubens Lisboa. Já o cantor se mostra único com seu timbre grave inconfundível que o torna o intérprete ideal para suas próprias criações. Com bela capa em que predomina óleo em tela criado pelo artista plástico Nil Cavalcante, o trabalho já vem sendo sugestivamente alcunhado como a “pílula verde”, numa sugestiva alusão à “pílula azul”, pois uma vez que esta é uma motivadora para a libido, aquela seria uma incentivadora da alegria musical. Os melhores momentos do repertório apresentado ficam por conta das faixas “O Alto das Laranjeiras”, “Dias de Domingo”, “Na Orquestra dos Meninos”, “Choro do Flamingo” e “Na Zona”, esta transformada em um bacanérrimo blues. Os interessados poderão adquirir o CD na Casa do Artista, localizada no Calçadão da Rua Laranjeiras, 190. Excelente pedida para as festas de fim de ano!
* Zélia Duncan é uma dos cinco artistas presentes na homenagem a Tom Jobim perpetuada através do CD e do DVD relativos à turnê do 24ª Prêmio da Música Brasileira, os quais aportaram há pouco no mercado através da gravadora Universal. Ao lado de Adriana Calcanhotto, João Bosco, Roberta Sá e Zé Renato, Zélia dá voz a alguns clássicos do Maestro Soberano. Não há nenhuma interpretação definitiva e as canções praticamente são as mesmas (já regravadas à exaustão), mas a segurança de Zélia se destaca junto à leveza de Roberta e à precisão do canto de Zé Renato. Cada um desses artistas surge sozinho em dezoito das vinte e uma faixas que compõem o projeto. As três restantes (que, não por acaso, se consubstanciam como os melhores momentos) os reúnem em duetos: Bosco com Zé em “Tereza da Praia”, Zélia com Calcanhotto em “Outra Vez” e Zé com Roberta em “Eu Te Amo”.
* O quinteto fluminense Tereza, formado por Vinicius Louzada (voz), João Volpi (baixo), Rodrigo Martins (bateria), Mateus Sanches e Sávio Azambuja (guitarra e teclados), lançou no ano passado, de maneira independente, o CD intitulado “Vem Ser Artista Aqui Fora”. A boa receptividade por parte da crítica e do público fez com que o selo Slap, integrante da gravadora Som Livre, se interessasse pelo trabalho da banda tanto que recentemente o reeditou, possibilitando, assim, uma distribuição mais efetiva em todo o território nacional. Trata-se de pop rock da melhor qualidade, concretizado em um álbum bem concebido, bem tocado e bem cantado. O repertório se faz composto por dez canções (dentre as quais merecem destaque “Vamos Sair Para Jantar”, “Sandau”, “Siris” e “Calçada da Batalha”) e mais uma faixa-bônus (“Endorfinar” que traz a participação especial do DJ João Brasil).
* Registrado recentemente durante realização de show no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro, o DVD comemorativo dos quarenta anos de carreira da cantora Wanda Sá, que contará com arranjos assinados por Dori Caymmi, só será efetivamente lançado no próximo ano. Haverá também takes gravados em estúdio com o filho Bena Lobo e com a cantora norte-americana Jane Monheit.
* Já se encontra disponível a trilha sonora da telenovela global “Joia Rara”, realmente um primor de seleção musical! Vale a pena mergulhar no auge do Clube da Esquina de Milton Nascimento com “Nascente”, escutar a versão definitiva de “Folhetim” na voz de Gal Costa, se emocionar com o canto preciso de Dick Farney em “Não Tem Solução” e rememorar Chico Buarque lá nos primórdios entoando sua “Valsinha”. Chico, aliás, domina a trilha, sendo o autor de seis das quatorze canções, duas delas em registros recentíssimos feitos por Ana Cañas (“Acalanto para Helena”) e Filipe Catto (“Flor da Idade”). E ao lado da interessante música de abertura criada especialmente por Gilberto Gil, o ouvinte ainda relembra grandes momentos de Elis Regina (“Aprendendo a Jogar”), Novos Baianos (“A Menina Dança”) e Zizi Possi (“Beatriz”). Completam o time Tim Maia (“Eu Amo Você”), Frenéticas (“Ai Se Eles Me Pegam Agora”) e os manos Caetano Veloso (“Gayana”) e Maria Bethânia (“Eu Não Existo Sem Você”).
* O terceiro álbum do cantor e compositor paraense Felipe Cordeiro está chegando ao mercado. Intitulado “Se Apaixone pela Loucura do seu Amor”, o álbum vem recheado de músicas inéditas e autorais, além da regravação de “Marcianita”, sucesso da época da Jovem Guarda.
* Nossos parabéns aos aniversariantes famosos desta semana: hoje (dia 23), completa mais uma primavera a cantora Cristina Buarque (irmã de Chico Buarque, Miúcha e Ana de Hollanda), amanhã (terça-feira, dia 24) será a vez de Olivia Byington apagar as velinhas e, no dia de Natal, Simone estará comemorando com os mais chegados outro ano de vida. Já no próximo domingo (dia 29), vai ser a vez de Jorge Ben Jor receber os cumprimentos de amigos e fãs. Saúde, paz e muita música para todos eles!
* E o nosso blog Musiqualidade deseja aos seus seguidores um Feliz e Santo Natal! Que as bênçãos do Santo Menino cubram todos com paz e luz e que abramos os nossos corações para o perdão e a solidariedade tão necessários para a reconstrução de um mundo mais justo e fraterno!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br