Musiqualidade

A    M Ú S I C A    S E R G I P A N A    E M    2 0 1 3

Realmente, 2013 não foi um ano que vá marcar a música sergipana. Aqui, foram realizados pouquíssimos shows pelos nossos artistas, merecendo maior destaque o tributo prestado por Tonho Baixinho ao nosso saudoso Irmão, o qual conseguiu reunir vários nomes, tais como Alex Sant’Anna, Amorosa, Joésia Ramos, Paulo Lobo, Rubens Lisboa e Sena. De fora, recebemos tão somente as visitas de Carlos Navas, Maria Bethânia e Nando Reis em um ano atípico que sequer contou com a realização do Projeto MPB Petrobrás. 
No que tange ao lançamento de discos, o primeiro semestre foi dominado pelo lançamento de “Buraqueiro”, o CD que mostrou a ótima produção autoral do também magistrado Sérgio Lucas, e pela concretização do projeto “Fábrica de Alegria”, salutarmente voltado para a criançada e que teve a condução segura da cantora e compositora Celda Fontes.
A grande surpresa ficou mesmo por conta do EP “Solta” que apresentou a todos o brilho de Héloa, uma artista que, de fato, vai dar ainda muito que falar. Senhora de si, despudoradamente alegre e sem medo de ser feliz, ela escancarou sua arte plural e, dominando o palco com marcante presença cênica, mostrou suas composições muito bem costuradas. Também Thais Nogueira, filha do querido Erivaldo de Carira, se candidatou promissora com o CD “Sou Brasil”, eminentemente voltado para o forró mais tradicional.
Já no finalzinho do ano, dois ótimos lançamentos surgiram para levantar nossa autoestima: os CDs “Eco-SE” e “José”, dos talentosos Mingo Santana e Nino Karvan. Em ambos, pode-se constatar a real vontade de fazer uma música de qualidade, com influências várias, mas dotada de personalidade própria.
Para 2014, aguardam-se com ansiedade os já anunciados segundos álbuns de Patrícia Polayne e Raquel Delmondes, ao tempo em que se anseia por um ano bem mais profícuo no que tange a realizações musicais nestas terras do Índio Serigy.

O S    D O Z E    M E L H O R E S    C D s    D E    2 0 1 3

01 – “OPUS CLÁSSICO” – A grande cantora Ithamara Koorax já se credenciou como um dos maiores nomes da história do nosso cancioneiro, embora sua voz possante de belíssimo timbre ainda seja mais conhecida lá fora. Quando ela parecia já ter feito de um tudo, consegue surpreender com o lançamento de um insuperável trabalho no qual une a música clássica à canção popular brasileira, trazendo, no repertório, pérolas de Villa-Lobos, Ravel, Debussy, Chiquinha Gonzaga e Chopin.

02 – “MADE IN CHINA” – Sempre mais compositor que propriamente um cantor, o inventivo Carlos Careqa fez de 2013 um ano bastante produtivo e com o CD produzido por Marcio Nigro conseguiu o seu título mais equilibrado, apresentando safra de canções inéditas muito legais, com destaque para “O Q Q Cê Tem na Cabeça” e “Feito Pra Continuar”.

03 – “FRANCIS & GUINGA” – Um é às no piano, o outro arrebenta ao violão. Ambos compositores de fina extirpe, Francis Hime e Guinga uniram seus talentos em um CD infelizmente pouco comentado, mas que se transformou de imediato em um ponto alto de suas carreiras. E, revisitando temas atemporais criados anteriormente, tais como “A Noiva da Cidade” e “Senhorinha”, ainda apresentaram parcerias inéditas, as belas “A Ver Navios” e “Doentia”.

04 – “TONI FERREIRA” – Em uma época em que, a cada semana, surgem dúzias de cantantes mulheres, soa como uma dádiva quando aparece um nome masculino de fato interessante como o é Toni Ferreira, cantor de bonita voz, além de fértil compositor. Já tendo sido gravado (e avalizado por Maria Gadú), ele mostra através de seu CD de estreia que tem muita bala na agulha. Para comprovar, basta que se ouçam, por exemplo, as faixas “Reflexo de Nós” e “Leve”.

05 – “VAMBORA LÁ DANÇAR” – A paraibana Elba Ramalho não pode ficar muito tempo afastada do mercado fonográfico porque faz uma falta danada. Seus discos sempre trazem uma baforada de novo e o CD lançado este ano ratifica que os anos parecem não passar para ela. Entre forrós e temas românticos, ela pôs sua inconfundível voz a serviço de ótimas canções como “Embolar na Areia”, “Quando Fecho os Olhos” e “Onde Deus Possa Me Ouvir”.

06 – “EDU LOBO & METROPOLE ORKEST” – Não fosse tão bom, certamente Edu Lobo não teria colecionado, ao longo de sua trajetória, parceiros como Chico Buarque, Paulo César Pinheiro e Vinicius de Moraes. Algumas das obras-primas compostas com eles foram revisitadas no CD gravado ao vivo em Amsterdam (Holanda) com acompanhamento da Metropole Orkest, a exemplo de “Choro Bandido”, “Vento Bravo” e “Canção do Amanhecer”.

07 – “NA LOJINHA DE 1 REAL EU ME SINTO MILIONÁRIO” – As canções de Paulo Padilha denotam, de imediato, as diversas influências que formataram o compositor que ele é hoje. Eclético, passeia por vários gêneros e se mostra também um intérprete acima da média. O quarto CD de sua carreira, que veio embalado em um livreto, mostra um considerável amadurecimento e o credencia como um dos melhores de sua geração. Para constatar, é só ouvir “Tapa”, “Partido Baixo” e “Áio no Ôio”.

08 – “CÉU E MAR” – Embora lançado anteriormente lá fora, foi somente em 2013 que chegou ao mercado brasileiro o excelente álbum no qual Leila Pinheiro deita sua melodiosa voz sobre a cama fornecida pelo violão preciso de Nelson Faria, transformando-o em um dos grandes momentos de sua inatacável discografia. Canções já atemporais como “Embarcação”, “Bolero de Satã” e “Cada Tempo em Seu Lugar” encontraram o tratamento minimalista e acústico necessário para verem realçadas novas e insuspeitadas nuances.

09 – “EMBALAR” – Referência no meio musical, Ná Ozzetti vem lançando discos com regularidade e no mais recente, um trabalho de banda, conseguiu realizar um álbum primoroso ao juntar inspirados temas autorais (como “Miolo” e “Os Enfeites de Cunhã”) com interessantes obras alheias (a exemplo de “Musa da Música”, “A Lente do Homem” e “Lizete”). Sua voz límpida e de irretocável projeção a coloca em lugar privilegiado no panteão das divas nacionais ao lado de Mônica Salmaso que com ela divide os vocais da delicada “Minha Voz”.

10 – “O GLORIOSO RETORNO DE QUEM NUNCA ESTEVE AQUI” – Depois de disponibilizar com sucesso várias canções na internet e de lançar um trabalho ao vivo dividido com Criolo, o rapper Emicida pôs nas lojas o seu primeiro CD, mostrando que tem perfeitas condições de alargar o seu universo musical. Com a direção dividida pelo próprio artista com Evandro Fióti, o disco se mostrou um caldeirão de boas ideias, endossadas pelas participações especiais de Fabiana Cozza, Wilson das Neves, Pitty, Tulipa Ruiz e Elisa Lucinda.

11 – “TUDO EM MOVIMENTO” – A amazonense Eliana Printes é dona de uma das vozes mais bonitas da atualidade. Com timbre grave, afinada ao extremo e sagaz na escolha de repertórios que sempre fogem da obviedade, ela cercou-se apenas de três músicos para conseguir a bonita sonoridade que permeia todo o álbum. Os colegas Luiz Melodia e Isabella Taviani surgem como convidados especiais nas faixas “Congênito” e “Se Tudo Pode Acontecer”, respectivamente, e grandes momentos ficam por conta de “Ai” e “Pra Começar”, duas criações de Kleber Albuquerque.

12 – “CLARICE” – Em mais um trabalho temático, a cantora e compositora Simone Guimarães mergulhou no universo da escritora Clarice Lispector e apresentou um álbum recheado de convidados (Miúcha, Ana de Hollanda, Paulo Jobim, Danilo Caymmi e André Mehmari estão entre eles), os quais, em perfeito entendimento com o proposto, mergulham de cabeça nas mensagens e sons delineados, com destaque para as canções “Estrela do Mar”, “Gira Girassol” e “Beija-Flor Colibri”. Um projeto corajoso de uma artista que sabe o que quer!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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