Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: ANA CAÑAS
CD: “CORAÇÃO INEVITÁVEL”
Gravadora: SOM LIVRE

A cantora Ana Cañas é paulista e, após cantar em points descolados do sudeste maravilha, viu seu nome começar a ser comentado nas rodinhas musicais, o que lhe credenciou para que, em 2007, lançasse “Amor e Caos”, o seu primeiro CD. Após dois anos, “Hein?”, o segundo trabalho, veio confirmar o talento de uma intérprete que tinha cacife para passear por diversas praias, mas que ainda padecia de um mal que costuma assolar muitas de suas colegas: a falta de uma verdadeira identidade. Com “Volta”, disco que chegou ao mercado em 2012, Canãs depurou a sua arte e, em seguida, caiu na estrada com um interessante show cuja esperta direção foi entregue ao experiente Ney Matogrosso. Esse espetáculo ganhou o título de “Coração Inevitável” e, devidamente registrado em maio do ano recém-findo no Teatro Geo, em São Paulo, foi lançado pela gravadora Som Livre, no apagar das luzes de 2013, nos formatos de CD e DVD.
Canãs chama a atenção por sua presença cênica. Moça bonita, esguia e dona de farta cabeleira, ela preenche o palco com atitudes ora mais roqueiras, ora mais sutis. Dona de voz de considerável extensão, ela a faz se modificar de acordo com a intenção da música escolhida, o que requer atenção redobrada a um ouvinte de primeira hora para identificá-la imediatamente.
Enquanto o DVD traz alguns  números a mais (“Stormy Weather”, “L'amour”, “La Vie en Rose”, “Volta”, “Diabo” e “Blues da Piedade”), o CD se faz composto por dezesseis faixas, incluindo as duas bônus gravadas em estúdio: a autoral “Te Ver Feliz” (feita em homenagem ao pai) e a delicada versão de “Acalanto para Helena” (belo tema de Chico Buarque que faz parte da trilha sonora da telenovela global “Joia Rara”).
Canãs se faz acompanhada por uma banda enxuta, porém bastante competente da qual se destacam a guitarra de Fabá Jimenez e o baixo de Fábio Sá, dois nomes de ponta da moderna música brasileira, e conta com a participação especial de Nando Reis em dois momentos: na amena “Pra Você Guardei o Meu Amor” (de Nando, na qual a voz da cantora fica estrategicamente em segundo plano) e na roqueira “Você Bordado” (primeira parceria registrada dos dois, em que ela toma a linha de frente).
Versátil, Cañas salta com tranquilidade de bolero cantado em espanhol (“No Quiero Tus Besos”, dela e Natália Lafourcade) para rock de grande pulsação (“Rock and Roll”, do Led Zepelin), fazendo com que o público a aplauda entusiasticamente. E alia boas canções por ela criadas (“Urubu Rei” e “Esconderijo” são os destaques dessa seara) com releituras de músicas alheias. Em algumas, o resultado soa acima da média, a exemplo de “Escândalo” (obra-prima de Caetano Veloso) e “Mulher o Suficiente” (de Alzira E e Vera Motta). Em outras, soa trivial, caso de “Retrato em Branco e Preto” (de Tom Jobim e Chico Buarque) e “Codinome Beija-Flor” (de Cazuza, Reinaldo Arias e Ezequiel Neves).
Trata-se do primeiro registro ao vivo de Ana Canãs, o retrato de uma artista em evolução que certamente ainda tem muito a aprontar por aí. Sigamos!

N O V I D A D E S

* As quatro primeiras faixas de “Carpe Diem”, o terceiro e recém-lançado CD do cantor, compositor e ator Serjão Loroza, o qual aportou nas lojas através do selo Lab 344, podem dar uma primeira e errônea impressão de que quer ser ele o sucessor de Tim Maia. Embora temas dançantes, alguns recheados de metais arranjados por Marlon Sette (o trombonista da hora) sejam a cereja do bolo desse projeto e se torne incontestável que a voz grave do artista possa lhe remeter ao Síndico, a verdade é que Loroza possui méritos próprios. Com a produção a cargo do antenado Plínio Profeta, o álbum, o melhor dos três já lançados por Loroza (aqui computado um projeto ao vivo), é composto por dez faixas, metade delas compostas por ele ao lado de parceiros como Bruno Migliari, Mu Chebabi e Jomar Magalhães. Fiel ao balanço do projeto, o amigo Rodrigo Maranhão contribuiu com a suingante “Caia”. Já o sambista Arlindo Cruz, geralmente afeto aos batuques e afins, se juntou a Chemma para compor a romântica “Basta a Gente se Olhar”, faixa que, se incluída em alguma trilha televisiva, certamente cairia rapidamente no agrado do grande público. E enquanto a contagiante “Preta Dileta” (inspirada parceria de Loroza com Pedro Luís) se consubstancia como a melhor faixa do disco, a inclusão do samba “17 Beijos” (de Céu, Hyldon e Arnaldo Antunes) sinaliza que Loroza está salutarmente aberto a novas tentativas musicais. Há ainda boas incursões pelos terrenos do partido alto (“Se um Dia Fui Pobre”, de Loroza, Gabriel Moura e Fabinho D’Lélis) e do funk (“Mais Simples”, outra de Gabriel Moura, agora assinado sozinho).

* Já disponível no iTunes, o oitavo CD da cantora e compositora Danny Carlos estará em breve chegando às lojas, no formato físico, através da gravadora Universal. Intitulado “Livre”, o disco apresenta onze temas inéditos e autorais, três deles compostos em inglês.

* O compositor Riachão é cultuado na Bahia de forma intensa e merecida. Criador popular que faz de suas canções verdadeiros retratos de seres de seu convívio e de situações pelas quais passou, ele lançou recentemente o CD “Mundão de Ouro”, o qual se faz composto por quinze faixas, incluindo causo (“História do Bochecha Grande”), vinheta (“Cadungo Tacupá Tacapá Pulugundum”) e observação (“Vai no Coração”). Entre deliciosos sambas buliçosos (a exemplo de “Eu Vou Chegando” e “Parabéns”) e outros mais calmos (caso de “Eu Queria Ela” e “Valdinéia”), o repertório abre espaço ainda para releituras de dois de seus mais famosos temas: “Vá Morar com o Diabo” e “Chô Chuá”, propagadas em todo o território nacional nas antológicas gravações feitas por Cássia Eller e Caetano Veloso com Gilberto Gil, respectivamente. Um lançamento imperdível!

* Durante apresentação realizada em outubro do ano passado no Teatro Alfa, em São Paulo, foram colhidos som e imagem que farão parte do próximo lançamento de Pedro Mariano, o qual chegará ao mercado este ano nos formatos CD e DVD. Gravado com a participação da Orquestra Eleazar de Carvalho, sob a regência do maestro Otávio de Moraes, o projeto de cunho sinfônico alia, no seu repertório, regravações de músicas conhecidas, a exemplo de “Certas Coisas” (de Lulu Santos e Nelson Motta), “Faltando um Pedaço” (de Djavan), “Você” (de Roberto Carlos e Erasmo Carlos), “A Medida da Paixão” (de Lenine e Dudu Falcão), “Pontos Cardeais” (do papai Ivan Lins e Vitor Martins) e “Sangrando” (de Gonzaguinha), com canções inéditas, caso de “Um Pouco Mais Perto” (de Ana Carolina, Chiara Civello e Edu Krieger) e “Sem Você Sou Não” (de Jair Oliveira).

* A derradeira fornada de canções compostas pelo saudoso pernambucano Dominguinhos, onze melodias (entre xote, baião, choro, bolero e fado) entregues ao cearense Xico Bizerra que criou as letras, faz parte do CD “Luar Agreste no Céu Cariri", o qual já se encontra disponível nas melhores lojas e integra, como décimo título, o projeto Forroboxote. O álbum conta com a participação de diversos intérpretes que emprestam suas vozes aos temas inéditos, entre eles André Rio, Elba Ramalho, Maciel Melo, Waldonys e Socorro Lira. A derradeira faixa, “Lua Brasil”, foi composta somente por Xico em homenagem a Luiz Gonzaga e conta com vigoroso registro feito por Dominguinhos. Ótima pedida!

* O grupo paranaense Fato tenta alcançar reconhecimento nacional com o lançamento em breve de um novo CD, desta feita produzido por Pedro Luís. Além do próprio Pedro, o disco contará com as participações especiais de Lenine, Yuri Queiroga, João Cavalcanti, Rodrigo Campello e Neuza Pinheiro.

*A trilha sonora do filme “Coração Vazio” já se encontra disponível e conta com nove temas assinados por Alberto Araújo e William Borjazz, os quais se fazem interpretados pelo ator Murilo Rosa que surpreende de maneira bastante positiva. Ele canta muito bem, de forma segura e com uma projeção de voz que, por vezes, lembra Fábio Jr. no início de sua carreira. Merecem destaque as faixas “Diamante Raro”, “Atemporal”, “Coração Festeiro” e “Astronauta Pequenino”.

* E assim como é inquestionável que Sam Alves, o vencedor da 2ª temporada do programa global “The Voice Brasil”, era o melhor dentre os quatro que chegaram à final, também é fato que existiam candidatos bem mais interessantes, os quais, por contingências várias, terminaram ficando pelo caminho, a exemplo de Rafael Furtado, Luna Camarah e Dom Paulinho Lima. Esses quatro e outros dezesseis participantes fazem parte do CD que foi lançado pela gravadora Som Livre no final do ano passado e que é atualmente um dos mais vendidos em todo o Brasil. Dos vinte fonogramas constantes do disco somente metade deles é cantada em português, o que sinaliza que, para uma próxima edição, deveria ser proibida a inclusão de músicas estrangeiras até para fazer jus ao nome do produto. Nada de xenofobia, apenas uma maneira real de valorizar a nossa música, a mais diversificada feita atualmente em todo o planeta!

* Ainda neste primeiro trimestre, estará chegando às lojas, através da gravadora Eldorado, o novo projeto da cantora Zizi Possi. Trata-se do CD ao vivo “Tudo se Transformou” (gravado durante apresentação realizada em agosto de 2012 na casa Tom Jazz, em São Paulo) que traz no seu repertório, entre outras canções, novas versões de “Sem Você” (de Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes), “Contrato de Separação” (de Dominguinhos e Anastácia) e “Lábia” (de Edu Lobo e Chico Buarque), além da inédita “No Vento” (de Necka Ayla).

* O cantor e compositor sergipano Nino Karvan está lançando o ótimo “José”, CD em que resgata as várias influências musicais que terminaram por cristalizar a sua carreira. Composto por onze faixas autorais, a maioria inéditas, o álbum, gravado inteiramente em Aracaju e masterizado na Bélgica, foi produzido pelo próprio artista ao lado de Dudu Prudente e Thiago Ribeiro. Nino canta muito legal e suas composições passeiam por vários ritmos, o que confere uma pluralidade bem interessante ao trabalho. Entre os melhores momentos estão a bela balada “Bem me Quer”, o chorinho “Incondicional” (parceria com Zequinha Melodia), o reggae “Prosseguir” e pseudobrega “A Canção”. Vale a pena conhecer!

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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