R E S E N H A 1
Cantora: IARA RENNÓ
CD: “I A R A”
Gravadora: JOIA MODERNA
A música popular brasileira vem contando, de uns anos para cá, com a presença de várias cantantes que tentam encontrar um espaço maior para mostrar os seus trabalhos. Geralmente também compositoras, elas transitam por uma zona onde a experimentação é a palavra de ordem, ao menos em um primeiro momento quando ainda testam formatos para suas canções.
Uma das melhores representantes da atual geração é a paulista Iara Rennó que, em 2008, lançou o seu primeiro CD solo, o conceitual “Macunaíma Ópera Tupi”, um trabalho de complexa aceitação, muito pelo fato de as canções dali constantes fugirem do formato tradicional.
Iara, que começou a se tornar conhecida no meio fonográfico ao fazer parte da banda Dona Zica depois de integrar, durante quatro anos, o grupo que acompanhava Itamar Assumpção, é também mais uma que possui o DNA musical na veia: é filha dos compositores Carlos Rennó e Alzira E (esta, irmã de Tetê Espíndola). Desde que nasceu, portanto, a música lhe ronda por todos os lados e, embora não possua a extensão vocal da tia famosa, Iara sabe se utilizar de suas limitações de forma inteligente e convincente. Dona de timbre que, por vezes, roça o infantil, ela possui um charme todo próprio e o que é melhor: consegue se tornar identificável a uma primeira audição, diferentemente da maioria de suas colegas de hoje, quase todas tão iguaizinhas.
Essas qualidades inatas ganham maior visibilidade agora, podendo ser constatadas através da audição de “I A R A”, o segundo álbum da ousada artista, o qual chegou recentemente às lojas através da gravadora Joia Moderna. Composto por doze faixas (computada duplamente a autoral “Outros Tantos”, o maior destaque do set list apresentado, a qual surge em duas versões; a intro e a completa), dentre elas a bilíngue “The Love” (em português e inglês) e “Ma Vox” (composta em idioma francês), o disco foi produzido por Moreno Veloso, o primogênito de Caetano, que soube arregimentar um pequeno time de responsa. Estão lá, além da própria Iara (na guitarra), Ricardo Dias Gomes (no pocket piano) e Leo Monteiro (na bateria, percussão eletrônica e ruídos, estes utilizados na medida certa, sem nunca tomar o pano de frente, contribuindo para dar um ar arejado aos arranjos).
Quase que totalmente autoral, uma vez que a única exceção fica por conta de “Roendo as Unhas”, música da lavra de Paulinho da Viola, ora praticamente desconstruída por Iara (tema coincidentemente redescoberto recentemente também por Ney Matogrosso que o incluiu em “Atento aos Sinais”, o seu mais recente CD), o repertório do disco possui, de fato, alguns momentos bem legais, como é o caso, por exemplo, da mais delicada “Arroz sem Feijão” (samba-canção que, caso incluído em trilha de produção global, tem tudo para emplacar), da roqueira “Já Era” e da afro “Elegbara”.
Em suma, o recém-lançado CD denota um salto e tanto na trajetória de Iara Rennó e, por isso mesmo, deve ser reverenciado. Um produto bastante recomendável para quem gosta de boas novidades musicais!
R E S E N H A 2
Cantora: JANAINA FELLINI
CD: “JANAINA FELLINI”
Gravadora: INDEPENDENTE
A cantora paranaense Janaina Fellini é uma amante da música de qualidade que começou a soltar a voz ainda criança em rodas de família e foi tomando gosto cada vez mais pela coisa, passando a participar de apresentações na escola até chegar, na adolescência, a animar bailes nas regiões próximas onde morava. Em seguida, estudou em pequenas academias do interior e fez parte de corais de igreja e de alguns grupos vocais.
Quando se mudou do interior para Curitiba para cursar Jornalismo, ela resolveu abraçar de vez a carreira artística e, assim, passou a participar de vários projetos como “Música nos Parques”, “Terça Brasileira” e “Som da Cidade”. Mas lhe persistia a vontade de eternizar o seu canto e a concretização disso se deu com o lançamento do seu primeiro e homônimo CD cuja viabilização se fez possível com a ajuda de vários amigos e admiradores de sua arte.
O álbum mostra uma artista pronta que sabe dosar doçura com garra e delicadeza com decisão. Dona de voz afinada com emissão perfeita, Janaina também possui um timbre belíssimo. Mais intérprete que compositora (ela assina somente uma faixa, “Na Roda da Saia Vermelha”, ao lado de Estrela Leminski), Janaina é daquelas que sabe imprimir a emoção correta a cada uma das faixas selecionadas.
O disco tem a produção assinada por Dú Gomide e é composto por doze canções muito bem escolhidas. Influenciada pela estética sonora da world music, do afrobeat e do dub, a cantora passeia por vários ritmos, mostrando elogiável segurança. Passa do reggae (a excelente “Logradouro”, de Kleber Albuquerque) a canção de influência afro (“Oyá”, uma das três criadas pelo já citado Dú) com desenvoltura ímpar, transformando-as, de imediato, em dois destaques do set list. E se na releitura de “Argila” (pérola pinçada do primeiro disco de Carlinhos Brown) Janaína conta com a bem-vinda participação de Dú nos vocais, em “Estrela de Brilhar” (de Felixbravo), o convidado da vez é Bernardo Bravo. Outros ótimos momentos ficam por conta de “Se Vê que Vai Cair, Deita de Vez” (de Junio Barreto), “Sei dos Caminhos” (de Itamar Assumpção e Alice Ruiz) e “Elo” (outra de Alice, agora em parceria com Téo Ruiz, Estrela Leminski e Flávio Alves).
Uma cantora e um CD que merecem, de fato, ser conhecidos!
PS – Atualmente, para nossa alegria, Janaina se encontra entre nós, em Aracaju, aqui pretendendo ficar até meados do próximo mês. Uma ótima oportunidade de se absorver um pouco do seu talento!
N O V I D A D E S
* Diogo Nogueira anuncia para breve o lançamento de um disco que gravará em duo com o bandolinista Hamilton de Holanda. O CD se fará baseado no projeto “Bossa Negra”, oriundo de show feito pelos dois, de improviso, em Miami (EUA), há cinco anos. Participarão também do álbum o baixista André Vasconcellos e o percussionista Thiago da Serrinha.
* A pernambucana Ylana Queiroga estreou no mercado fonográfico com o CD “Ylana”, o qual se fez disponível através da gravadora Joia Moderna. Composto por uma dúzia de faixas cuja sonoridade reflete muito bem o que vem sendo feito atualmente em Recife, o álbum foi produzido pelo irmão da artista, o polivalente instrumentista Yuri Queiroga. Ylana, para quem não sabe, é sobrinha do cantor e compositor Lula Queiroga, o parceiro mais frequente de Lenine, e filha da cantora Nena Queiroga com o Maestro Spok. Dona de voz pequena mas bastante agradável, ela recria músicas de Alceu Valença (“Pedras de Sal”) e “Capiba” (“Não Quero Mais”), concentrando, no entanto, o repertório no disco em temas atuais, os quais foram pescados, entre outros, da obra de Ortinho (“Aquela Rosa Vermelha”), Siba (“Tempo”), China (“Overlock”), Isaar (“Trancelim de Marfim”) e da Nação Zumbi (“Toda Surdez Será Castigada”).
* Gilberto Gil já tem pronto um novo CD que chegará ao mercado este ano. Nele, o artista baiano revisita somente músicas associadas à obra de seu conterrâneo João Gilberto, a exemplo de “Eu Vim da Bahia” (do próprio Gil), “Aos Pés da Cruz” (de Marino Pinto e Zé da Zilda) e “Eu Quero um Samba” (de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa). A boa ideia na realidade nem é tão original assim pois Ithamara Koorax já lançou um CD nestes mesmos moldes há pouco tempo. A conferir!
* Leny Andrade, cantora de excepcional alcance vocal e expert na divisão rítmica, está lançando, através da gravadora Albatroz, o CD “As Canções do Rei”. Produzido por Raymundo Bittencourt, o disco é composto por onze faixas, dez delas vertidas para o espanhol (a exceção é “Não Quero Ver Você Triste”), as quais se transformaram em grandes sucessos na voz de Roberto Carlos. Seis delas são resultado de sua parceria com Erasmo Carlos (entre elas “Detalles”, “Desahogo” e “Emociones” que, no original, são as nossas conhecidas “Detalhes”, “Desabafo” e “Emoções”, respectivamente) e uma ele assina solitariamente (“Como Es Grande Mi Amor Por Ti”, leia-se: “Como É Grande o Meu Amor Por Você”). As demais pertencem a Caetano Veloso, Isolda, e Carlos Colla com Maurício Duboc. Um ouvinte mais atento já reconhece o peso dos anos na voz de Leny, mas a verdade é que ela ainda manda muito bem e faz do recém-lançado álbum mais um ponto alto de sua ótima discografia.
* Composto por quinze faixas que contemplam quatorze canções autorais e inéditas, “Funky Funky Boom Boom”, o novo CD do Jota Quest abre parcerias da banda mineira com Seu Jorge, Pretinho da Serrinha e Gabriel Moura em “Jota Quest Convidou”, Xande de Pilares em “É de Coração” e China em “Realinhar”. Nada de grandes novidades no ar, vez que a sonoridade dançante, meio black, meio funky, recheada de programações eletrônicas a qual se faz produzida, desta feita, por Jerry Barnes, continua dando as cartas. Há bons momentos como “Pretty Baby”, “Dentro de um Abraço” e “Waiting For You” (esta em duas versões), todas com boas chances radiofônicas, e também canções que, se incluídas em trilhas de telenovelas, caso de “Mandou Bem” e “Ela É do Rio”, certamente se transformariam em hits instantâneos. Rogério Flausino, o vocalista, canta bem com suas influências de canto americanizado, conduzindo com dignidade um trabalho caprichado voltado para uma fatia de público que se satisfaz com letras superficiais.
* O pianista carioca Antonio Adolfo gravou, em dezembro do ano passado, dois novos discos, os quais serão lançados este ano. Um se trata de um álbum de piano solo e será disponibilizado por aqui através da gravadora Deck ainda neste primeiro semestre. O outro sairá, a princípio, somente no mercado internacional e conta com as presenças de Jorge Helder no baixo, Marcelo Martins na flauta e Rafael Barata na bateria.
* O grupo brasiliense Móveis Coloniais de Acaju, composto por dez integrantes (André Gonzales, BC, Beto Mejía, Coaracy, Eduardo Borém, Esdras Nogueira, Fabio Pedroza, Ofuji, Paulo Rogério e Xande Bursztyn), lançou no ano passado o terceiro CD, o qual chegou às lojas através da gravadora Som Livre. Com o pé no chamado pop rock e intitulado “De Lá Até Aqui”, o álbum tem a direção artística assinada por Carlos Eduardo Miranda e é composto por quatorze temas autorais e inéditos, dentre os quais se destacando “Sem Fim”, “Saionara”, “Beijo Seu” e “Não Chora”.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
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