Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: BLUBELL
CD: “DIVA É A MÃE”
Gravadora: YB MUSIC

Quando, em 2006, lançou o seu primeiro CD (“Slow Motion Ballet”), a cantora e compositora paulista Blubell ganhou, de cara, uma fã ilustre: a exigente Marisa Monte. Quem até então não havia prestado atenção na artista, imediatamente começou a fazê-lo e o fato é que, de lá para cá, depois de mais dois discos (“Eu Sou do Tempo em que a Gente se Telefonava”, de 2011, e “Blubell & Black Tie” de 2012, lançado com o trio formado por Mário Manga, Swami Jr. e Fábio Tagliaferri), ela vem sedimentando sua carreira de maneira bastante peculiar.
Uma trajetória coerente que alcança o ápice agora com o lançamento do álbum sugestivamente intitulado “Diva É a Mãe”, o qual chegou recentemente às lojas através da gravadora YB Music trazendo a assinatura dela própria na produção bem dividida com Maurício Tagliari e Luca Raele.
São dez faixas solitariamente autorais (duas delas em inglês: “Baecause I Do” e “If You Only Knew”), as quais foram compostas nos últimos três anos, além de vinhetas, mostrando uma compositora inspirada que em algumas vezes pisa fundo na ironia (o tango “Bandido” em que entrega sua paixão por um telefone celular e a atual “A Mulher Solteira e o Homem Chavão”, na qual narra as decepções da mulher hodierna, são bons exemplos) e em outras usa imagens pop bem-humoradas (a passional “Diva uma Ova” em que faz cair por terra rótulos aprisionantes), mas que sabe muito bem falar sério quando assim deseja (as bilíngues “Blue” e “Pra Não Sentir” estão entre exemplos de canções que se impõem pelos versos bem sacados).
Acompanhada por uma banda coesa e bastante afiada formada por Daniel Grajew (no piano), Hugo Hori (no sax), Carlinhos Mazzoni (na bateria) e Igor Pimenta (no baixo), Blubell deita e rola em interpretação propositalmente vintage, ancorada em arranjos apropriados que se aproximam do jazz dos anos cinquenta.
Com um timbre de voz único e já trazendo assinatura própria na sua arte, ela canta de forma aguda e afinada as suas interessantes criações em que se destacam a deliciosa “Regret” (de longe, a melhor da nova safra, contando com um vocal muito massa feito pelos músicos), a romântica “Picnic” e a divertida “Protesto”.
O bacana é que Blubell realmente se destaca entre as artistas de sua geração, revelando-se em contínua evolução, o que se pode ser constatado através desse seu recém-lançado (e ótimo) CD. É pra ouvir e se deliciar!

N O V I D A D E S

* Talvez a mistura de localidades tenha influenciado na arte plural do cantor e compositor Péricles Cavalcanti, afinal não são poucos os cariocas filhos de mãe baiana e pai pernambucano que foram criados em São Paulo e tenham morado em Londres e Paris. Na virada da década de sessenta para a de setenta do século passado, ele começou a desenvolver trabalhos como compositor, tendo sua primeira música gravada por Gal Costa ("Quem Nasceu?") em 1973. A partir de então, viu algumas de suas canções serem interpretadas por Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, Arnaldo Antunes, Cássia Eller, Lulu Santos, Simone, Fafá de Belém e outros. O primeiro disco (“Canções”) saiu em 1991 e, de lá para cá, vem lançando trabalhos que só o avalizam como o autor criativo e inquieto que de fato é. O sétimo álbum de sua carreira acaba de chegar ao mercado: trata-se de “Frevox”, uma produção independente que pode ser visto como um trabalho coletivo, uma vez que são muitos os artistas que do mesmo participam, a maioria integrante da nova geração. Composto por dezoito temas autorais (dezesseis inéditos; as exceções são “O Céu e o Som” e “Marcha da Baleia”, esta complementada com um rap a cargo de Lurdes da Luz), soa como uma grande festa na qual o ouvinte é mais um bem-vindo convidado (o artista sozinho somente dá voz a quatro das canções). Já na primeira faixa, o reggae-eletrônico “Entre Muitos Outros”, Péricles se apresenta de forma bem-humorada, mostrando que o astral pra cima vai predominar do começo ao fim. E se os lendários Lanny Gordon e Lucinha Turnbull e o nome da moda, Marcelo Jeneci, se fazem presentes em “Cínico e Canalha” (em tempo: há ainda a presença de Arrigo Barnabé em “Sex-maxixe”,) os atuais Juliana Kehl, Karina Buhr, Iara Rennó, Tié, Luisa Maita, Rodrigo Campos, Romulo Fróes e Tulipa Ruiz comprovam que realmente se encontram na linha de frente do cenário indie nacional. Há também as participações afetivas dos filhos Nina Cavalcanti e Leo Cavalcanti, os quais mostram possuir o DNA artístico no sangue, e da banda gaúcha Cachorro Grande no rock “Juro”. Alguns dos melhores momentos do repertório ficam por conta das faixas “Bem-Vindos”, “Príncipe das Marés”, “De Alma e de Sangue” e “Se For um Samba”. Trata-se de um rico e multifacetado painel que traz a digital de Péricles com pinceladas de muita gente bem legal. Vale a pena conhecer!

* E por falar em Leo, “Despertador” é o título do seu segundo CD, o qual estará chegando ao mercado em breve. Produzido pelo próprio cantor e compositor ao lado de Fábio Pinczowski, o repertório apresenta canções autorais e inéditas compostas com Omar Salomão, Carlos Rennó e Nenung, entre outros.

* E também falando na cantora e compositora paulistana Tiê, ela já está em estúdio, preparando o terceiro álbum que contará com a presença do compositor norte-americano Jesse Harris. Deve vir coisa boa por aí!

* Um dos maiores expoentes da Bossa Nova, o violonista Roberto Menescal, se aliou à cantora Andrea Amorim e juntos gravaram o CD intitulado “Bossa de Alma Nova”, um lançamento do selo Albatroz. Menescal dispensa comentários, já que algumas de suas parcerias com Ronaldo Bôscoli rodaram o mundo em várias releituras, a exemplo de “O Barquinho” e “Você”, as duas únicas faixas em que ele solta a voz junto com Andrea, uma ex roqueira pernambucana, que sola as doze outras músicas que completam o repertório do bem-vindo álbum. Ela canta bonito e de forma segura, terminando por ressaltar novas nuances a temas já bastante conhecidos, como é o caso de “Vagamente”, “Rio”, “Nós e o Mar” e “Bye Bye Brasil”. Alguns dos melhores momentos ficam por conta de “A Morte de um Deus de Sal”, “Solidão Nunca Mais”, “Eu Canto meu Blues” e “Copacabana de Sempre”.

* O novo CD da cantora baiana Mariene de Castro, o quinto de sua carreira, está chegando às lojas esta semana. O álbum conta com as participações especiais de Maria Bethânia (em “A Força que Vem da Raiz”, de Roque Ferreira), Zeca Pagodinho (em “Colheita”, de Nelson Rufino) e Beth Carvalho (em “Samba da Bênção”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes).

* O cantor e compositor capixaba Álvaro Gribel está lançando o seu segundo CD. Trata-se de “São Francisco”, um produto independente produzido por Rodrigo Campello que, pilotando guitarra, violão e cavaquinho, se une ao violão de Gribel, ao baixo de Jorge Helder e à bateria de Jurim Moreira para, juntos, darem vida às nove canções inéditas e autorais que compõem o repertório. Com voz bem colocada e interpretações discretas, o artista faz de “Sagração”, “Autorretrato” e “Marcha de Autopeça” os melhores momentos de um trabalho que transita tranquilo entre sambas e bossas.

* As raras gravações ao vivo feitas por Cartola e lançadas original e postumamente em disco de 1991 acabam de ser relançadas pela gravadora Kuarup. São onze faixas, entre as quais os clássicos “Amor Proibido”, “O Sol Nascerá”, “Acontece”, “As Rosas Não Falam”, “O Inverno do meu Tempo”, “O Mundo é um Moinho” e “Peito Vazio”.

* Em maior evidência por conta de sua participação no programa global “The Voice”, a cantora baiana Claudia Leitte acaba de lançar, através da gravadora Som Livre, “Axemusic”, disponível nos formatos CD e DVD (vendidos juntos ou separados). Gravado ao vivo durante show realizado em agosto do ano passado na Arena Pernambuco, em Recife (PE), o projeto desce alguns pontos quando comparado a “NegaLora”, lançado por ela em 2012. Ali, esboçando um upgrade, parecia que a cantora iria começar a se arriscar em novos voos. Ledo engano. A loira bonita e serelepe, dona de inegáveis presença cênica e voz potente (cujo timbre lembra e muito o da rival Ivete Sangalo), volta ao axé contagiante mas rasteiro com vistas a atingir uma (grande) parcela de público tão somente ávida por se entregar a baticuns e refrões-chiclete. Neste sentido, certamente serão muito executadas no Carnaval que ora se aproxima canções como “Tarraxinha” (que traz Luiz Caldas em participação especial, anunciado pela artista como ‘o pai do axé’), “Amor Toda Hora”, “Me Pega de Jeito” e “Artemanha”, por exemplo. O time de convidados é o maior exemplo de como a maior preocupação é mesmo atingir a fatia mais popularesca do mercado atual. Estão lá Naldo Benny, Wesley Safadão, Thiaguinho e Wanessa, sobrando espaço para Armandinho Macedo, Nação do Maracatu Porto Rico e Zumba Fitness. Atirando em várias direções, Claudia termina por soar oportunista até quando baixa o fogo em “Quer Saber”, balada romântica entoada pelos inúmeros fãs que deliram quando ela os faz sair do chão com os já hits “Claudinha Bagunceira”, “Turbina” e “Dia da Farra e do Beijo”. Vai vender muito, mas ela já mostrou que pode bem mais…

* “Amigo da Arte” é o título do novo CD do cantor e compositor Alceu Valença, o qual chegará às lojas muito em breve através da gravadora Deck. O repertório gira em torno da folia de Pernambuco, priorizando frevos e cirandas em repertório que mistura músicas inéditas com regravações de sucessos de lavra própria e alheia. Há as participações da cantora portuguesa Carminho (em “Frevo nº 1 do Recife”, de Antônio Maria) e da nossa Fafá de Belém (em “Beija-flor Apaixonado”, do próprio Alceu).

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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