R E S E N H A
Cantora: VERÔNICA FERRIANI
CD: “PORQUE A BOCA FALA AQUILO DO QUE O CORAÇÃO TÁ CHEIO”
Gravadora: INDEPENDENTE
Foi através de um convite do compositor e violonista Chico Saraiva que a ribeirão-pretana Verônica Ferriani estreou como cantora há dez anos. Formada arquiteta pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, ela surgiu cantando inicialmente em redutos paulistas de samba, sendo convidada, em seguida, para passar uma temporada se apresentando no famoso bairro da Lapa carioca. Em 2009, estreou no mercado fonográfico sob a produção de BiD com um álbum homônimo, o qual foi, à época, muito bem recebido pela crítica e em cujo repertório revisitou criações de Cassiano, Marcos Valle e João Donato, entre outros. Logo depois, ao lado do supracitado Saraiva, Verônica participou do disco “Sobre Palavras”, recheado de canções inéditas de autoria dele em parceria com Mauro Aguiar.
Contudo, a vontade de ela se mostrar ao mundo também através de suas próprias composições vinha sendo maturado há algum tempo, desde sua reaproximação com o violão e com a escrita, e terminou por se materializar no CD “Porque a Boca Fala Aquilo do que o Coração Tá Cheio” (título pinçado da letra da faixa “De Boca Cheia”, pop rock da melhor qualidade), um produto independente composto por onze faixas inéditas e solitariamente autorais, o qual foi produzido por Marcelo Cabral e Gustavo Ruiz, e que chegou recentemente às lojas.
Dona de porte inegavelmente vistoso (trata-se de uma morena esguia e bonita, dona de farta cabeleira), Verônica é, de fato, uma intérprete das mais especiais da atualidade. Ainda não tão conhecida pelo grande público, sua bela voz chama a atenção logo de cara. Afinada, ela sabe dosar técnica e emoção com rara precisão. Intérprete corajosa em terrenos alheios, ela agora se apropria de suas próprias emoções e palavras e, recriando-as no terreno musical, as entrega ao ouvinte de forma interessante e apropriada.
Já na faixa de abertura, a inteligente “Estampa e Só”, ela aborda de forma superior o fim de um relacionamento, informando que somente beleza nunca lhe pegou e afirmando saber cuidar de si. Aqui, a bateria pulsante combina à perfeição com o quarteto de cordas. Aliás, os arranjos se mostram muito bem arquitetados e, ainda que contenham sopros de modernidade, o fazem sem esquecer as boas bases do nosso cancioneiro tradicional. Instrumentistas de ponta contribuem para uma sonoridade rica e variada e, nos créditos, podem ser encontrados, além de Cabral (no baixo) e Ruiz (na guitarra), os ótimos Pepe Cisneros (no piano), Guilherme Held (na guitarra), Paulo de Viveira (no trompete), Régis Damasceno (ao violão) e Maurício Takara (no vibrafone).
Alguns dos melhores momentos do repertório ficam por conta da contundente “Zepelins”, da delicada “Esvaziou”, da gostosa “Dança a Menina” e da pós-tropicalista “Não é Não”. E para fechar o projeto com chave de ouro a artista esboça salutar ousadia ao se fazer acompanhar somente por um baixo acústico em “Lábia Palavra”, momento em que incorpora a secura de uma cantadora nordestina, fazendo ecoar o derradeiro e definitivo verso: “O amor morre, a arte não”.
Trata-se, portanto, de uma bem vinda surpresa o novo e autoral trabalho de Verônica Ferriani, já um nome de respeito na cena contemporânea brasileira, talento que merece ser reconhecido e divulgado. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* O grupo InventaRio, formado pelos músicos italianos Ferruccio Spinetti (no baixo), Francesco Petreni (na bateria e percussão) e Giovanni Ceccarelli (no piano e teclados) e pelo brasileiro Dadi Carvalho (no violão) visita o cancioneiro do cantor e compositor carioca Ivan Lins, vertendo-o para o italiano, no CD “InventaRio Encontra Ivan Lins”, o qual aportou há pouco no mercado nacional através da gravadora Biscoito Fino (em 2012, já havia sido lançado na Itália). A maioria das versões foi feita pelo radialista italiano Max De Tomassi que também é parceiro de Ivan em “Imprevedibile”, a boa faixa que abre o álbum. Algumas das canções são bastante conhecidas do público brasileiro já que foram grandes sucessos por aqui, a exemplo de “Começar de Novo”, “Iluminados”, “Lembra de Mim” e “Madalena” (esta revisitada em versão instrumental). O único momento totalmente cantado em português é a bela “O Tempo me Guardou Você” que surge interpretada com delicadeza por Dadi. A maioria das treze faixas, todavia, é cantada com Ivan (que se mostra bem melhor dos problemas vocais) ao lado de um leque de convidados que alberga Chico Buarque, Maria Gadú, Jessica Brando, Maria Pia de Vito, Chiara Civello, Samuele Bersani, Petra Magoni, Vanessa da Mata, Bungaro e Tosca. Os únicos temas não assinados por Ivan e presentes no repertório são “Um Giorno Dopo l’Altro” (de Luigi Tenco) e “Felicità” (de Lucio Dalla), esta gravada em medley com “De Nosso Amor Tão Sincero” (uma das mais felizes e pouco conhecidas parcerias de Ivan com Vitor Martins). Entre os melhores momentos estão “Renata Maria”, “Sou Eu”, “Cartomante” e “Camaleão”. Bem legal!
* Samuel Rosa e Zélia Duncan estarão presentes, como convidados especiais, de “Na Medida do Impossível”, o novo CD solo de Fernanda Takai, a vocalista da banda mineira Pato Fu, que chegará às lojas ainda este mês.
* O cantor e compositor Otto está atualmente ensaiando para, em breve, subir aos palcos com um show no qual abordará o repertório do disco “Canta Canta, Minha Gente”, álbum histórico gravado por Martinho da Vila e originalmente lançado em 1974. É a homenagem do artista pernambucano ao samba. Em tempo: a banda que o acompanhará contará com as presenças de Pupillo e Bactéria, dois dos nomes de primeira hora da geração manguebeat. Decerto, se o projeto for bem aceito pelo público, será registrado para se transformar em CD e DVD ao vivo.
* Sob a direção de Roberta Sá, a cantora e compositora carioca Anna Ratto realizou recentemente show que vai se transformar em breve em CD e DVD ao vivo. Ela contou com Erasmo Carlos e Lucas Vasconcellos como convidados.
* O volume 2 do projeto “Um Barzinho, Um Violão – Novelas Anos 80” chegou recentemente ao mercado e, em dezesseis faixas, traz em sua maioria os mesmos artistas do volume anterior, mas logicamente interpretando outras canções em formato acústico. Gravado ao vivo em junho do ano passado no Hotel Windsor Barra, no Rio de Janeiro, a iniciativa da gravadora Universal em parceria com o selo Zeca Pagodiscos reúne, entre outros, Michel Teló, Chitãozinho & Xororó, Paula Fernandes, Mariene de Castro, Zeca Pagodinho e Sandy. Os melhores momentos ficam por conta de Vander Lee, Jorge Vercillo, Ivete Sangalo e Toni Garrido com suas respectivas releituras para “As Vitrines” (de Chico Buarque), “Luiza” (de Tom Jobim), “Deixa Chover” (de Guilherme Arantes) e “Muito Estranho” (de Dalto e Cláudio Rabello).
* O compositor paulista Galvão Frade disponibilizou recentemente no portal SoundCloud as canções que fazem parte de seu CD “Volta e Meia”. A faixa “Because de Você,” foi gravada com a participação de Ná Ozzetti e do sobrinho de Galvão, Camilo Frade, jovem cantor de dezessete anos que vem começando a se destacar no cenário musical brasileiro.
* Enquanto não entra em estúdio para gravar as canções inéditas que farão parte de seu próximo trabalho, Zeca Baleiro está revendo o repertório de seu terceiro CD “Líricas”, lançado em 2000, em um show alternativo que vem sendo apresentado em algumas cidades. A curiosidade é que as doze faixas do álbum são tocadas na íntegra e na sequência exata com que foram dispostas no disco.
* O show “Olhos de Onda” foi devidamente registrado, no mês passado, em terras cariocas e, em breve, se consubstanciará, nos formatos CD e DVD, no novo projeto da cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto. O repertório de caráter retrospectivo abre espaço para a inédita música-título e para outras duas canções de sua autoria por ela nunca antes gravada: “Tua” (entregue a Maria Bethânia em 2009) e “Motivos Reais Banais”, parceria com Waly Salomão (gravada por Mariana de Moraes em CD ainda não lançado).
* Após um jejum fonográfico de onze anos, a cantora baiana Daúde anuncia para este semestre o lançamento de seu quarto CD, o qual chegará ao mercado através do selo Lab 344. Intitulado “Código Daúde”, o álbum contará com as participações especiais de Alceu Valença (em “Como Dois Animais”) e Nelson Sargento (em “Segura Esse Samba, Ogunhê”).
* E, enfim, chegou recentemente às lojas o box “Três Tons de Emílio Santiago”, um lançamento da gravadora Universal que contempla, devidamente remasterizados, os álbuns lançados originalmente em 1977, 1979 e 1980 pelo grande e saudoso intérprete. Em “Comigo É Assim”, o artista alcançava o sucesso nacional com o estouro de “Nega” (de Vevé Calazans) e o disco continha outras ótimas canções como “Minha Esquina” (de João Nogueira e Paulo César Pinheiro), “É Hora” (de Djavan) e “Quando Chegares” (de Carlos Lyra). Já “O Canto Crescente de Emílio Santiago” trazia, no primoroso repertório, temas criados por Chico Buarque (“Homenagem ao Malandro “ e “Trocando em Miúdos”, esta uma parceria com Francis Hime), Luiz Melodia (“Dores de Amores”) e Cartola (“As Rosas Não Falam”), além do grande hit “Logo Agora” (de Jorge Aragão e Jotabê) e da participação especial de João Nogueira em “Amigo É Pra Essas Coisas” (de Sílvio da Silva Júnior e Aldir Blanc). Em “Guerreiro Coração” (título também de música que ele ganhou de Gonzaguinha), trabalho gravado ao vivo em estúdio, Emílio se encontrava no auge de sua forma vocal, eternizando com maestria personalíssimas versões para “A Noite” (de Ivan Lins e Vítor Martins), “Minhas Madrugadas” (de Candeia e Paulinho da Viola) e “De Repente” (de Sylvio César). Realmente imperdível!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.
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