Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: MARGARETH MENEZES
CD/DVD: “VOZ TALISMÔ
Gravadora: COQUEIRO VERDE RECORDS

Integrante da Coleção Canal Brasil, o projeto “Voz Talismã” (disponível em DVD e CD), que chegou recentemente às lojas através da gravadora Coqueiro Verde Records, comemora os vinte e cinco anos de carreira fonográfica da cantora (e também atriz) Margareth Menezes completados no ano passado (o seu álbum de estreia foi lançado em 1988 e serviu para que, já no ano seguinte, ela excursionasse com o norte-americano David Byrne pela Europa e Estados Unidos). Produzido pela própria artista ao lado do tecladista Luciano Silva, o projeto foi gravado ao vivo durante dois shows realizados, em fevereiro e julho de 2012, na Concha Acústica anexada ao Teatro Castro Alves (TCA) e na sala principal do mesmo espaço cênico, respectivamente.
Em excelente forma vocal, Margareth (que canta desde a infância, tendo começado a compor e tocar violão na adolescência e iniciado sua carreira profissional se apresentando em casas noturnas baianas e, durante o carnaval, em trios elétricos) enfileira, no CD, dezessete canções (as registradas no TCA) que trazem a inconfundível camada percussiva característica da Terra de Todos os Santos, em nenhum momento resvalando para o axé trivial e descartável adotado por vários de seus congêneres.
Nesse que é indubitavelmente um de seus melhores trabalhos fonográficos, ela põe sua voz grave e potente a serviço de temas assinados por alguns dos grandes representantes da nossa música popular, a exemplo de Lenine (“Olho do Farol”), Milton Nascimento (“Fé Cega, Faca Amolada”, parceria com Ronaldo Bastos) e Gilberto Gil (“Toda Menina Baiana”). Arteira, traz para o seu universo temas que já ganharam seus registros definitivos nas vozes de Djavan e Tetê Espíndola (“Alegre Menina”, de Dorival Caymmi e Jorge Amado, e “Escrito nas Estrelas”, de Arnaldo Black e Carlos Rennó).
Também compositora, Margareth apresenta as autorais “Preciso” e “Lambadinha da Ribeira”, criadas solitariamente, e revisita ““Passe em Casa”, feita em parceria com Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown. Ao lado deste, ela também compôs a interessante “Amor Ainda”, um dos melhores momentos de um coeso repertório em que também se destacam “Cordeiro de Nanã” (de Mateus Aleluia e Dadinho), “Cume da Memória” (de Tonho Matéria) e “Negra Melodia” (uma das mais inspiradas parcerias entre Jards Macalé e Wally Salomão). Mister se faz ressaltar que, especialmente nas “Emboladas”, ela comprova sua versatilidade ímpar.
Já o DVD traz sete faixas adicionais (as gravadas na Concha Acústica, recolhidas entre os maiores sucessos da cantora), bem como um documentário que conta com as participações de Gilberto Gil, Daniela Mercury, Elba Ramalho e Paula Lima.
Um projeto comemorativo muito massa que merece ser recebido com atenção e curtido com prazer!

N O V I D A D E S

* O cantor, compositor e violonista mineiro Donizete Anderson está lançando “Casa Nova”, seu primeiro CD, o qual se faz composto por doze temas autorais e inéditos. Autodidata, ele cresceu ouvindo o som das músicas tocadas e cantadas nas reuniões familiares, nas festas populares e nas serestas típicas de Minas Gerais e essas influências se explicitam de imediato em faixas como “Maço e Cinzel”, na qual homenageia o talento do escultor Aleijadinho, e “Rosalinda do Indaiá”, recheada de reminiscências pessoais. Compositor inspirado, ele passeia por diversos temas que, escritos com versos diretos, percorrem desde as forças da natureza (na bonita “Metamorfose das Águas” e em “Quatro Ventos”) até os desatinos do coração (no belo blues “Ninguém Sabe” e em “Vez em Quando”), passando pela dimensão do que é dito (em “Palavras”). E se, na interessante faixa-título, Donizete busca o alcance da paz através de um lugar simbólico, em “A Cor do Teu Sorriso” e “Ser Azul”, ele se utiliza das cores como metáfora para expor sentimentos simples e sinceros. Cantor de voz grave e encorpada, ele soube transformar “O Intruso” (que conta com a excelente cantora Selmma Carvalho como convidada especial) e “Três Tempos” (que contém um solo de trompete arrepiante a cargo de Wagner Souza) em dois dos melhores momentos do coeso repertório apresentado. O álbum, que foi produzido com competência pelo próprio artista ao lado de Sérgio Moreira, conta ainda com as participações de Ladston do Nascimento e do Trio Amaranto e traz, em sua ficha técnica, as presenças de grandes instrumentistas, a exemplo de Rogério Delayon (violão, bandolim e guitarra portuguesa), Lincoln Cheib e Esdra Neném Ferreira (bateria) e Enéias Xavier (baixo). Um CD muito bem-vindo que merece ser conhecido!

* Sempre criativo, o cantor e compositor carioca Edu Krieger pôs recentemente no YouTube uma nova música. Trata-se de “Desculpe, Neymar”, seresta na qual se posiciona contra a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil por conta da atual situação de desmando em que nosso país se encontra. Bastante apropriado!

* ”Samboleria” é o titulo do sétimo CD da carreira do cantor e compositor gaúcho Antonio Villeroy que já se encontra inteiramente gravado e será lançado em breve. O repertório será eminentemente autoral e inédito e trará sambas, bossas e boleros com letras em português e espanhol. A conferir!

* A cantora e compositora Alzira Espíndola está lançando “O Que Vim Fazer Aqui”, o nono título de sua discografia. Trata-se de um trabalho em que se faz assumida a influência de Itamar Assumpção que, desde 1990, é presença marcante na vida musical da artista. O repertório é composto por onze faixas e a sonoridade praticamente acústica faz ressaltar os versos bem escritos, recheados de tiradas inteligentes. Há parcerias entre os dois (“Mesmo que Mal Eu Diga”, “O Que É Que Eu Fiz de Mal?”, “Chuva no Deserto” e “Norte”) e também criações dele com Alice Ruiz (“Tristeza Não”) e dela com Iara Rennó (“Conversa Mole”).

* O selo carioca Mills Records está relançando “São Bonitas as Canções”, CD que uniu a bela voz de Marianna Leporace ao charmoso piano de Sheila Zagury para revisitar parcerias de Edu Lobo e Chico Buarque feitas especialmente para espetáculos teatrais. São quatorze inspiradas canções, algumas já eternizadas no inconsciente coletivo nacional como “Beatriz”, “A História de Lily Braun”, “Valsa Brasileira” e “Choro Bandido” e outras menos conhecidas, mas não por isso menos interessantes, a exemplo de “Meia-Noite”, “Tango de Nancy”, “Na Carreira” e “Abandono”. Difícil selecionar destaques porque o trabalho é um primor do começo ao fim, mas não dá para deixar de citar “Nego Maluco”, “Verdadeira Embolada”, “Bancarrota Blues” e “O Circo Místico”. Produzido por Emerson Mardhine e Paulo Brandão, o álbum conta com preciosas intervenções de instrumentistas do primeiro escalão (Daniela Spielmann no sax e flauta, Fernando Leporace no baixo, José Staneck na gaita, Mila Schiavo na percussão e Cacá Colon na bateria). Chico se faz presente em “Tororó” e Edu participa de “Na Ilha de Lia, no Barco de Rosa”. Bom demais da conta!

* O selo carioca Discobertas está lançando uma segunda caixa com reedições de álbuns gravados por Pery Ribeiro, desta feita cobrindo o período que vai de 1967 a 1972. São sete títulos, devidamente remasterizados, que eternizam o artista em sua fase vocal áurea.

* Enfim, chegou às lojas o CD com a trilha sonora nacional de “Além do Horizonte”, a telenovela global das 19 horas! Entre os quinze fonogramas selecionados estão “Ilusão” (com Marisa Monte), “Magra” (com Lenine), “Meu Sol” (com a banda Vanguart), “Carimbó da Alegria” (com Gaby Amarantos), “O Amor Verdadeiro Não Tem Vista para o Mar” (com o grupo Pullovers) e “Somente Nela” (com Moska, uma obra-prima!).

* O jornalista Jorge Wagner idealizou um projeto centrado no álbum “Alucinação” (lançado por Belchior em 1976), o qual está sendo disponibilizado em edição digital sob o título de “Ainda Somos os Mesmos”. Parte da obra do artista cearense surge, então, repaginada com releituras feitas por artistas da cena indie nacional, a exemplo de Manoel Magalhães (“Velha Roupa Colorida”), Lucas Vasconcellos (“Como o Diabo Gosta”), Philip Long (“Como nossos Pais”) e Dario Julio & Os Franciscanos (“Apenas um Rapaz Latino Americano”). Concomitantemente, também se faz disponível o EP “Entre o Sonho e o Som”, contendo cinco outros temas de Belchior e do qual faz parte o grupo sergipano The Baggios que regravou de forma bastante pessoal a conhecida balada “Todo Sujo de Batom”.

* E por falar no The Baggios, no próximo sábado, dia 19 de abril, no Teatro Atheneu, às 20 horas, estará se realizando o show comemorativo dos dez anos de carreira desse duo sergipano (formado por Júlio Andrade na guitarra e voz e Gabriel Carvalho na bateria) que vem conquistando o Brasil com talento e versatilidade. Vambora nessa?

* “Encarnado” é o título do recém-lançado álbum solo (e independente) da cantora Juçara Marçal, ela que vem participando ativamente da atual música feita em São Paulo, inclusive como integrante do grupo Metá Metá. Dona de voz afinada e de considerável extensão, ela põe o seu bonito timbre inteiramente a serviço das canções, a elas se entregando com interpretações intensas que jamais soam over. O disco se faz composto por uma dúzia de faixas e os arranjos, secos e rascantes, são executados tão somente por guitarra, cavaquinho e rabeca, instrumentos a cargo de Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Thomas Rohrer, o que termina por conferir uma sonoridade ao mesmo tempo minimalista e pungente, crua e cortante, por vezes até beirando a estranheza, adequando-se, assim, à atmosfera profunda e contundente certamente pretendida pela artista e seus músicos. Os dois maiores destaques, sem sombra de dúvida, recaem sobre as interessantíssimas “Damião” (de Douglas Germano e Everaldo Ferreira da Silva) e “Ciranda do Aborto” (do já citado Dinucci). Aliás, o tema morte permeia o trabalho, opção mais que corajosa de Juçara. Douglas e Dinucci ainda contribuem com outros dois bons momentos (“Canção Pra Ninar Oxum” e “João Carranca”) e o fato é que o set list se abre tanto a nomes emergentes (Rodrigo Campos com a ótima “Velho Amarelo”, Siba com “A Velha Capa Preta” e Gui Amabis com “Pena Mais que Perfeita”, parceria com Regis Damasceno) como a algumas figuras já bastantes conhecidas e reconhecidas (Tom Zé com a criativa “Não Tenha Ódio no Verão” e Itamar Assumpção com “E o Quico?”). Completam o repertório dois temas criados por Romulo Fróes (“Presente de Casamento” e “Queimando a Língua”, compostos com Thiago França e Alice Coutinho, respectivamente) e a autoral “Odoya”. Trata-se, enfim, de um CD ousado, aparentemente de digestão não muito fácil, mas que mostra uma cantora pronta e totalmente entregue a sua arte e propõe ao ouvinte um mergulho direto nos desvãos da alma. Corra e ouça com atenção!

* E não se esqueçam! A partir de hoje, o nosso quadro semanal MUSIQUALIDADE passa a ser veiculado, sempre através da Aperipê FM, todas as segundas-feras a partir das 10 horas. Vale super a pena sintonizar na 104,9 e conferir as melhores novidades musicais sonoras.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
 

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