R E S E N H A
Cantora: TETÊ ESPÍNDOLA
CD: “ÁLBUM”
Selo: SESC
A cantora e compositora Tetê Espíndola, dona de uma voz aguda com extensão fora do comum, nasceu no Mato Grosso do Sul em meio a uma família de artistas e foi esse ambiente que lhe proporcionou se apaixonar pelos mais genuínos sons da natureza. Embora tenha começado a carreira no início da década de setenta do século passado ao lado de seus irmãos no grupo LuzAzul, o primeiro disco só saiu em 1979 ("Tetê e o Lírio Selvagem”) e, nele, ela já executava com maestria o instrumento que a acompanha até hoje, a craviola (instrumento de 12 cordas que funde o cravo com a viola caipira). Ao se mudar para São Paulo, conheceu Arrigo Barbabé e passou a integrar o movimento musical denominado “Vanguarda Paulista” do qual também faziam parte Itamar Assumpção e Vânia Bastos. O estouro nacional, no entanto, veio a ocorrer em 1985 quando ela venceu o Festival dos Festivais, promovido pela Rede Globo, com a música "Escrito nas Estrelas" (de Arnaldo Black e Carlos Rennó).
Após sete anos afastada do mercado fonográfico (período em que apenas participou de alguns projetos especiais alheios), Tetê está voltando inteira com “Álbum”, um caprichado box recentemente lançado pelo selo Sesc, o qual acondiciona dois CDs: o inédito “Asas do Etéreo” (composto por doze canções autorais, oito delas compostas ao lado dos parceiros Marta Catunda, Bené Fonteles, Breno Ruiz, Luhli, Arnaldo Black e Carlos Rennó) e o remasterizado “Pássaros na Garganta” (trabalho por ela originalmente lançado em 1982 e que, à época, foi entusiasticamente recebido pela crítica especializada). Marcado por ritmos de influência paraguaia e temas da natureza pantaneira, esse álbum contém interpretações antológicas. Nele, Tetê se entregou tanto a temas por ela compostas (a exemplo de “Amor e Guavira” e “Sertão”, feitas com os já citados Carlos Rennó e Arrigo Barnabé, respectivamente) quanto a músicas recolhidas junto a outros compositores (tais como “Sertaneja”, de Renê Bittencourt, “Cunhataiporã”, de Geraldo Espíndola”, e “Longos Prazeres de Amor”, de Celito Espíndola).
O CD inédito, contudo, é mesmo o chamariz desse novo e muito bem-vindo projeto. Com a produção assinada por ela ao lado de Paulo Lepetit (presente no contrabaixo na faixa “Canção”) e um projeto gráfico bem bacana, o álbum traz, no encarte, fotos de Tetê tiradas na nossa Praia de Atalaia feitas pela sergipana Maria Quaranta Lobão.
Recheado de convidados especiais que surgem a cada faixa, o disco comprova que Tetê continua em plevo vigor vocal, domando possíveis excessos típicos da juventudade, mas pondo sua abençoada garganta a serviço dos sentimentos das canções. E se o piano educado de Egberto Gismonti dialoga com a craviola da artista na bonita “Acácias”, a doce flauta de bambu executada por Teco Cardoso confere a pureza exigida pela faixa-título.
Tetê optou por uma sonoridade eminentemente acústica, valorizando, assim, os instrumentos em si e sua voz, ela própria soando como outro instrumento. Desta forma, perfeitamente cabíveis o vibrafone de Felix Wagner em “Beijo n’Água” e a percussão corporal feita pelo mago Marcelo Pretto no belo samba “Triste Acauã”, um dos destaques do repertório ao lado da mística “Aos Elementais”, ancorada pelo Trio Croa, e da bem construída “Crisálida-Borboleta”, que conta com o auxílio luxuoso de Hermeto Pascoal na escaleta.
Utilizando-se de inata sensualidade, tão natural como se lhe é o ato de cantar, ela mergulha com propriedade no terreno do amor (em “Amarelando”, com a presença de Bocato no trombone, e “Passarinhão”, em que brilha o Duofel que é formado por Luiz Bueno e Fernando Melo com seus violões fantásticos). Mas também sabe exaltar o carinho (em “Trigo do Amor”, em que o filho Dani Black surge cantando e também na guitarra), a força interior do ser humano (em “Menina”, com o violoncelo de Jaques Merelenbaum) e o poder da decisão (em “Diga Não”, que traz Arrigo Barnabé nos vocais).
Longe da grande mídia que dita regras e catapulta ao sucesso nomes com a mesma velocidade com que, em seguida, os aniquila, Tetê Espíndola continua fazendo de sua música um verdadeiro oásis para os ouvidos mais exigentes. Para bom entendedor, só música boa é que basta!
N O V I D A D E S
* Encontra-se disponível para download no site “A Musicoteca” o segundo CD do cantor e compositor Diogo Poças, paulistano que, antes de se dedicar à música, atuou durante dezesseis anos na área da publicidade, criando jingles, spots e dublagens. Em pouco mais de trinta minutos, ele desfia as nove canções que fazem parte de “Imune”, trabalho produzido com elegância por Leonardo Mendes e em tudo superior ao álbum de estreia do artista (“Tempo”, de 2009). Irmão da cantora Céu, Diogo canta suave, mas faz bonito inclusive em temas melódicos mais complexos, como “O Perdão”, faixa de abertura do novo trabalho, grande canção composta por Roberto Mendes e J. Velloso. Esta é uma das quatro canções não autorais presentes no trabalho. As outras são o samba-canção “Folia” (de Daniel Taubkin e Luisa Maita, que conta com a participação especial desta), o singelo acalanto “Nina” (de Edgard Poças, pai de Diogo) e “Mais um Lamento” (parceria da já citada Céu com Danilo Moraes). Céu, inclusive, surge como convidada especial no interessante samba de gafieira que dá título ao disco (criação de Diogo com Jesse Santo e Marcos Tanaka). Aliás, sambas predominam no seleto repertório, vez que esse gênero também se faz representado pelas ótimas “Senhora Rainha” e “Feitiço da Vila Madalena” (ambas parcerias de Diogo e Edgard, o qual comparece nos vocais da segunda). E se “Pra Ser Amor” (de Diogo e Yaniel Matos) prima pela delicadeza absoluta, “Dizem Por Aí” (de Diogo e Sérgio Carvalho) se revela deliciosa tanto por conta da sua malemolência rítmica como pela esperta letra. Ambas as canções se consubstanciam como pontos altos desse muito bem-vindo CD que possui as qualidades necessárias para projetar o talento de Diogo no cenário musical brasileiro.
* Gero Camilo é mais conhecido com ator, mas o fato é que ele também compõe e canta. Nesta seara musical, ela está lançando seu segundo CD. Intitulado “Megatamainho”, o álbum traz, no eclético repertório, parcerias do artista com Luiz Caldas (“Meu Diadorim”), Otto (“O Amor a Fonte a Poesia”), Rubi (“A Mensagem”) e Vanessa da Mata (“Cordel em Desacordo”). Há também a inclusão de música inédita de autoria de Criolo (“Chuchuzeiro”).
* Enfim, o aguardado primeiro CD da ótima cantora Simone Mazzer começa a ser gravado! Natural de Londrina (PR), ela, que integrou a banda paranaense Chaminé Batom antes de se radicar no Rio de Janeiro, começa a ver o seu nome comentado com assiduidade nas rodas musicais. Quem viver, ouvirá!
* O cantor e compositor capixaba Silva lançou recentemente “Vista Pro Mar”, o seu segundo CD, o qual chegou às lojas através do selo Slap, integrante da gravadora Som Livre, sucedendo ao álbum inaugural (“Claridão”, de 2012). Produzido pelo próprio artista, o disco se faz composto por onze faixas, dez delas resultantes da parceria dele com seu irmão, Lucas Silva. “Ainda” é a única que foi criada solitariamente e também a que surge com ele somente sendo acompanhado por um violão. Nas demais, os arranjos surgem recheados de programações eletrônicas, uma marca da obra de Silva. O maior destaque do repertório é, sem sombra de dúvida, a faixa-título, mas “Disco Novo” e “Okinawa” (esta contando com a participação especial de Fernanda Takai) também se destacam.
* “Universo Elegante” é o título do álbum de estreia do cantor e compositor carioca Sergio Pi, o qual chegará ao mercado no início do segundo semestre através do selo indie carioca Lab 344. Com repertório eminentemente autoral, o álbum contará com parcerias de Pi com o guitarrista norte-americano Paul Pesco e com o compositor japonês Hide Tanaka e trará duas regravações: “Girassóis da Noite”, de Lobão, e “Barriga da Mamãe”, de Rita Lee e Roberto de Carvalho.
* Djavan já compõe canções novas visando ao lançamento de um CD de inéditas a chegar ao mercado em 2015. Antes de entrar em estúdio, contudo, o artista alagoano irá lançar este ano uma caixa que embalará reedições de seus álbuns, celebrando, assim, os quarenta anos de carreira fonográfica.
* Da série “Merece Ser Recordado”: o CD “Olha Quem Chega”, segundo trabalho de Dona Inah, lançado em 2008 através da gravadora Dabliú, deve ser conhecido não apenas por jogar luzes sobre o talento da cantora, dona de voz de timbre personalíssimo, mas também por reverenciar a obra do compositor Eduardo Gudin. Nas suas dezesseis faixas, o álbum resgata dezoito canções criadas por ele ao lado de seus parceiros ilustres: Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro, Paulo Vanzolini, Roberto Riberti, J. C. Costa Netto, Mauro Duarte e Dino Galvão Bueno. Dona Inah é paulista de Araras e desde pequena se cercou de música já que é filha de trompetista, tendo, inclusive, chegado a estudar bandolim. Na década de cinquenta do século passado, cantou em programas de rádio e se apresentou em orquestras, bailes, clubes e casas noturnas. Mas as dificuldades da vida fizeram com que ela se afastasse dos palcos até 2002, quando foi convidada para participar do musical "Rainha Quelé", em homenagem a Clementina de Jesus, ao lado de Marília Medalha e Fabiana Cozza. A partir de então, voltou a receber convites e a cantar com frequência. Em 2004, ela gravou o primeiro álbum intitulado, "Divino Samba Meu", e, no ano passado, saiu o terceiro disco, o elogiado "Fonte de Emoção". Gudin, por seu turno, iniciou sua trajetória musical em 1966, aos dezesseis anos, quando foi convidado por Elis Regina para se apresentar no extinto “O Fino da Bossa”, musical da TV Record. Autor de mais de trezentas canções, a maioria sambas, já foi gravado por nomes de ponta da nossa MPB, a exemplo de Leila Pinheiro, Fátima Guedes e Vânia Bastos (com quem, aliás, foi casado durante anos). Assim, o CD ora em tela, produzido por Thiago França, se revela um feliz encontro, tornando-se obrigatória a audição das versões feitas para verdadeiras pérolas como “Ainda Mais”, “Boa Maré”, “Verde”, “Mente”, “Chorei” e “Maior é Deus”. Item realmente obrigatório!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
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