Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: VANESSA BUMAGNY
CD: “O SEGUNDO SEXO”
Gravadora: INDEPENDENTE

A paulistana Vanessa Bumagny é cantora e compositora e, embora já esteja há algum tempo na ativa, infelizmente ainda não conseguiu fazer com que seu trabalho alcançasse um reconhecimento à altura de seu talento.
Intérprete de voz suave e timbre super agradável, ela se iniciou na música cantando na noite de São Paulo, onde ia de Luiz Gonzaga a Rita Lee, passando por vários sucessos da música americana. Em 1996, mudou-se para a Espanha, fixando residência em Barcelona, onde continuou cantando em casas noturnas. Dois anos depois, ela veio a participar do CD "Pau-de-Sebo nº 2 – Vitrine Brasil", produzido pelo guitarrista Danilo Pinheiro para o selo Regent Music, responsável pela divulgação de artistas brasileiros no mercado europeu. Nesse projeto, gravou a canção "Mito", uma de suas primeiras criações.
No ano 2000, já de volta ao Brasil, Vanessa integrou a trupe do projeto "Prata da Casa", levado a cabo pelo Sesc São Paulo, bisando sua participação no ano seguinte, e em 2005, ao lado de outros artistas brasileiros, apresentou-se na França durante eventos promovidos por conta das comemorações relativas ao ano do Brasil na França.
Antes disso, no entanto, mais precisamente em 2003, ela lançou o seu primeiro CD. Intitulado “De Papel”, era composto por quatorze faixas, treze delas autorais, algumas criadas ao lado de parceiros famosos como Chico César e Marcio Faraco. O lado compositora já se mostrava inspirado, o que veio a se confirmar com o lançamento do álbum seguinte, o caprichado “Pétala por Pétala”, o qual aportou no mercado em 2009 com a participação especial do saudoso Dominguinhos na bela faixa “Linha de Fogo”.
Seguindo sua trajetória corajosa e coerente, Vanessa lançou recentemente seu terceiro CD. Trata-se do independente “O Segundo Sexo” que tem a produção dividida entre o baixista Fernando Nunes, os guitarristas Érico Theobaldo e Zeca Loureiro, o baterista Rogério Bastos e o violonista Tuco Marcondes. Composto por onze faixas autorais e inéditas, o álbum mostra a artista em inspirado momento musical, conforme se pode constatar já através da audição de sua faixa de abertura, a deliciosa “O que For Melhor”. 
O fato é que Vanessa construiu um disco mais arejado e plural até porque soube se abrir a salutares parcerias com Heloíza Ribeiro (“Você Era meu Sonho”), Luiz Tatit (“Do meu Jeito”, bela balada pop, um dos melhores momentos do repertório apresentado), Zeca Baleiro (a delicada “Evapora”) e Luiz Pinheiro (a canção-título, que traz o citado Baleiro como convidado especial na parte em rap do rock). E ela também musicou “A Carlos Drummond de Andrade”, poema de autoria de João Cabral de Melo Neto, aportando-o na praia do reggae.
Outros ótimos momentos ficam por conta da apropriada “Saudades do Futuro" e do contagiante samba “Tristeza Só”, ambas criadas solitariamente por ela que, eclética, se arriscou em compor também no idioma inglês (“Our Rain”).
Enfim, um CD bacana que denota a elegância musical de Vanessa Bumagny, um nome que merece ser muito mais conhecido e reconhecido. Corra e ouça!

N O V I D A D E S

* A banda Moinho, formada por Emanuelle Araújo (voz), Toni Costa (guitarra) e Lan Lan (percussão), está lançando o seu segundo CD de estúdio (o primeiro, “Hoje de Noite”, saiu em 2008). Trata-se de “Éolo” (que significa Deus do vento na mitologia grega), produzido por Mauro Berman e Carlinhos Brown, um lançamento da gravadora Coqueiro Verde Records que se faz composto por nove faixas, oito delas resultantes da parceria entre Toni e Lan Lan (em dois momentos, há ainda a colaboração de Brown). A outra é a bonita e romântica balada “Morrendo de Saudade”, de autoria do paraibano Tadeu Mathias, compositor que já visitou com frequência os discos de Elba Ramalho. Com uma sonoridade pop contagiante, no repertório do álbum predominam os sambas, mas há espaço para reggae (a deliciosa faixa-título), funk (“Tu Pira”, que poderia tranquilamente ser gravada por Preta Gil) e ritmos latinos (“Vento Caribenho”). Emanuelle toma a linha de frente, cantando bonito com sua voz de timbre claro e envolvente, mas já se constata uma maior participação de Lan Lan na parte vocal (“Noite Massa” é o maior exemplo disso). Alguns dos melhores momentos ficam por conta de “Mexeu Comigo”, “Do Tempo do meu Avô” e “Foi a Chuva que Caiu”.

* Após doze anos de trabalho em terras cariocas, o grupo Dá no Coro está lançando, através da gravadora Fina Flor, o CD “Negro Cor”, o qual, produzido por Sérgio Sansão, se faz composto por uma dúzia de faixas. Tentando refletir a diversidade cultural da sociedade brasileira, a galera, atualmente composta por quatorze componentes, apresenta um repertório variado que mergulha de cabeça nas nossas raízes indígenas, europeias e africanas. O álbum resulta, assim, acima da média, com arranjos muito bem delineados que terminam por jogar novas luzes a conhecidos temas tais como “Milagres do Povo” (de Caetano Veloso), “Ralampiano” (de Lenine e Moska) e “Jorge da Capadócia” (de Jorge Ben Jor). Ancorados por um virtuoso trio formado por Raphael Gemal (ao violão), Bruno Migliari (no baixo) e Fabiano Salek (na percussão), os cantores deitam e rolam em belíssimas interpretações especialmente conferidas à faixa-título (de Pedro Castello), “Louva-a-Deus” (de Milton Nascimento e Fernando Brant) e “Milagreiro” (de Djavan).

* A cantora e compositora Carol Naine faz sua estreia no mercado fonográfico com o bom disco independente que leva tão somente o seu nome como título. Afinada e dona de uma voz de timbre agradabilíssimo, ela se faz destacar entre as várias cantantes que surgem diuturnamente por aí devido à segurança vocal demonstrada nesse trabalho inaugural. Carol, que já participou de alguns grupos cariocas de samba, abre agora o leque estilístico através das dez faixas apresentadas, todas elas inéditas e autorais (há um quê de Fátima Guedes pelo múltiplo manancial de temas abordados), as quais surgem revestidas por elegantes arranjos elaborados pelo pianista Ivo Senra que também assina a produção do álbum e capitaneia um seleto time de instrumentistas, dentre os quais merecem destaque Guto Wirtti (no baixo), João Hermeto (na percussão), Iura Ranevsky (no violoncelo), Alexandre Caldi (na flauta e sax) e Thiago Silva (na bateria). Os melhores momentos do repertório ficam por conta de “Para Não Esquecer”, “Coisa Arbitrária”, “Aquela” e “Virundum”.

* Antonio Villeroy está lançando, através da gravadora Sony Music, o CD “Samboleria”, produzido por ele com Berna Ceppas. Cantado em português e em espanhol, o repertório agrega sambas, bossas, boleros e outros ritmos latinos. Há as participações especiais de João Donato em “Uni Duni Tê”, de Mart'nália em “Germinal do Samba” e da cantora argentina Dolores Solá na faixa-título.

* Já se encontra praticamente pronto o novo CD do cantor e compositor Celso Fonseca, o qual será lançado no segundo semestre. Sob a produção de Moogie Canazio, o álbum será recheado de novas composições assinadas pelo inspirado artista.

* Através do selo SLAP, pertencente à gravadora Som Livre, chegou recentemente às lojas o primeiro CD do cantor, compositor e também ator Leandro Léo. Ele vem paulatinamente conquistando o seu espaço desde que Maria Gadú se transformou em uma espécie de madrinha sua, convidando-o para dividir os vocais da canção “Laranja” em seu elogiado disco de estreia e, pouco depois, gravando a sua canção “João de Barro”. Intitulado “Parto”, o recém lançado álbum mostra um artista inspirado que assina (sozinho ou ao lado de parceiros) onze das treze faixas do repertório apresentado, o qual é aberto com “Valsa da Saudade”, bela vinheta instrumental, e se completa com a inclusão de “Rei da Palavra”, bom tema de Dani Black, e a regravação de “Firmamento”, versão propagada no Brasil pela banda Cidade Negra. Ótimo cantor, dono de voz rouca e muito bem colocada, Leandro conta com as participações especiais da citada Gadú, a produtora do CD ao lado de Maycon Ananias (em “Felicidade”, um dos destaques), Fernando Caneca (em “Amanhã”) e Vinícius Bolinho (em “Fim de Romance”). Outros dos melhores momentos ficam por conta das faixas “Bacabá Mirim”, “A Última Batalha”, “Nega”, “Estrela” e “Zé Pereira da Silva”.

* Bob Lelis é o personagem que o baixista sergipano Iguassu Cândido criou para soltar a voz cantando canções engraçadas (e bem boladas) de duplo sentido. E é por esse caminho que ele acaba de lançar o EP “Bob Lelis e o Forró Gozado”, composto por seis faixas autorais, as quais comprovam a criatividade do rapaz. Com projeção de voz que intencionalmente leva o ouvinte para o lado do bom humor explícito, o artista faz chegar o seu produto em época bastante apropriada: às vésperas dos festejos juninos. Muito bem gravado em estúdio soteropolitano pilotado pelo primo e multi-instrumentista Thiago Ribeiro, o disco conta com uma sonoridade moderna, trazendo os arranjos calcados na guitarra (o que, talvez, seja o único senão, já que o violão teria mais a ver com o gênero escolhido). Entre os destaques do interessante repertório estão as faixas “Chuvinha” e “Você Tá Nova”. Vale a pena conhecer!

* Jovi Joviniano é percussionista e compositor carioca que se transformou, ao longo da carreira, em grande conhecedor dos ritmos populares brasileiros. Discípulo do saudoso Paulo Moura, ele atuou junto à escola de samba Imperatriz Leopoldinense, além de ter frequentado com assiduidade rodas de samba de fundo-de-quintal no bloco carnavalesco Cacique de Ramos. Autodidata, como instrumentista já acompanhou diversos grandes nomes da nossa MPB, a exemplo de Emílio Santiago, Beth Carvalho, Ney Matogrosso, Marisa Monte, Gilberto Gil, Gal Costa e Lenine. Como compositor, possui canções gravadas por Fernanda Abreu, Daúde, Ana Carolina e pelo grupo Farofa Carioca. Agora, ele se arrisca também como cantor ao lançar o CD independente “O Outro”, por ele próprio produzido ao lado do também percussionista Marcos Suzano. O álbum se faz composto por onze canções, nove delas autorais, criadas ao lado dos parceiros Seu Jorge, Gabriel Moura e Alex Meirelles, entre outros. Completam o repertório as personalíssimas releituras de “O Meu Guri”, de Chico Buarque (linkada com “Pivete”, de Chico e Francis Hime), e “Segura Esse Samba”, de Oswaldo Nunes. Na seara autoral, o CD explicita influências da black music, em especial de Tim Maia (em “Devo Não Nego”), e algumas letras demonstram a preocupação do artista com os menos favorecidos  (em “A Boca Sujou”) e com a provável futura escassez dos recursos naturais (em “Hagua”), contemplando funk (“Doidinha Pra Ter Neném”) e samba (“Sou Brasileiro”). Entre os melhores momentos estão a ótima canção-título e “O Pequinês e o Pitbull”, tema propagado pelo já citado Seu Jorge.

* E é já com enorme saudade que este blogueiro envia muita luz para a querida cantora Marlene que partiu para o andar de cima na sexta-feira passada. Ela, que sempre esteve à frente do seu tempo, serviu de inspiração para várias gerações de intérpretes, inclusive para este que ora aqui escreve. Que o bom Deus a acolha ao seu lado e que sua voz ecoe eterna!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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