R E S E N H A
Banda: TITÃS
CD: “NHEENGATU”
Gravadora: SOM LIVRE
É bem verdade: os tempos são outros! E as coisas estão muito diferentes do que aquilo que acontecia em 1982 quando oito rapazes se uniram e formaram a banda de rock Titãs, uma das que dominaram as paradas de sucesso da época com hits como “Sonífera Ilha”, “Polícia”, “Comida”, “O Pulso”, “Homem Primata”, “Bichos Escrotos”, “Marvin” e “AA UU”. O primeiro disco saiu em 1984 e a banda logo se consolidou com uma formação onde brilhavam Arnaldo Antunes, Nando Reis, Marcelo Fromer, Charles Gavin, Paulo Miklos, Branco Mello, Tony Belloto e Sérgio Britto. Mas o pulso pulsa! E, em 1991, não obstante o sucesso conquistado, Arnaldo resolvou sair do grupo para, logo em seguida, investir na carreira solo. Dez anos depois, Fromer faleceu vítima de atropelamento. Em 2002, foi a vez de Nando largar o projeto. E, por fim, em 2008, Gavin anunciou também sua saida, alegando questões pessoais.
Reduzidos a quatro, Miklos (voz e guitarra), Branco (voz e baixo), Belloto (guitarra) e Sérgio (voz e teclado), tiveram que enfrentar vários percalços para manter a banda na ativa. Amadureceram não só com o passar do tempo, mas com as tempestades que se lhes abateram. Erraram e acertaram em doses parecidas e, após um período em que se mostraram meio desanimados, terminaram por lançar recentemente, através da gravadora Som Livre, um novo CD.
Trata-se de “Nheengatu” (que significa "Língua Geral" e é uma referência à forma de comunicação artificial criada pelos jesuítas no Brasil para facilitar a compreensão entre os povos indígenas e os colonizadores portugueses), o qual foi gravado sob a produção de Rafael Ramos e, tendo como convidado o músico Mario Fabre (na bateria), se faz composto por treze faixas inéditas e autorais e mais a oportuna regravação de “Canalha”, obra-prima da lavra de Walter Franco.
Tentando retratar o estado atual do nosso país, a capa se faz baseada em pintura de Peter Bruegel que mostra a Torre de Babel, monumento mítico construído pelos homens para alcançar os céus, mas destruída pela ira de Deus, o que resultou na dispersão dos seres pela Terra que, então, passaram a desenvolver idiomas próprios e não mais se entenderam.
Dentro desse conceito, o álbum termina por tocar em temas nacionais, tanto atualíssimos como as manifestações populares causadas por insatisfações várias e a violência disso resultante (em “Fardado” e “Mensageiro da Desgraça”) quanto ácidos como a certeza da morte (em “Cadáver sobre Cadáver”) e um abominável distúrbio sexual (em “Pedofilia”), não se esquecendo de jogar luzes sobre o constrangimento doméstico contra a mulher (em “Flores pra Ela”) e a intolerância sexual e racial (em “Quem São os Animais?”).
Há, é claro, algumas canções que abordam assuntos mais amenos, até para não pesar demais a mão, e estas ficam por conta de “República das Bananas” (em cuja letra desfilam vários tipos com quem nos deparamos diariamente por aí), “Fala, Renata” (que narra a impaciência masculina decorrente de uma companheira que fala demais) e “Chegada ao Brasil” (retrato bem humorado do nosso descobrimento). E se em “Eu me Sinto Bem”, o viés é o positivo ócio, em “Não Pode”, ganham a linha de frente as inúmeras proibições que nos são jogadas na cara diuturnamente. Há ainda espaço para uma súplica ao divino em “Senhor” e a inesperada e bem-vinda citação de um clássico bossa-novista (“Bim Bom”, propagada através de registro de João Gilberto) em “Baião de Dois”. Já musicalmente falando, o CD pode ser considerado como um retorno às origens uma vez que a banda volta a trabalhar com uma sonoridade pesada, a exemplo do que ocorreu com os álbuns “Cabeça Dinossauro” e “Titanomaquia”, por exemplo.
É, o país não é mais o mesmo e os titãs parecem saber disso! O novo CD, que já se consolida como um dos melhores da discografia da banda, é um nítido exemplo dessa consciência, aliada à percepção de que se pode (e deve) andar pra frente sem se esquecer dos ensinamentos do passado. Muito legal!
N O V I D A D E S
* Quando estourou de norte a sul do Brasil em 1989 com o lançamento do álbum “MM”, a cantora e compositora Marisa Monte se credenciou como uma artista versátil que teria vida longa na nossa MPB. Discos se sucederam e ela foi engatando vários sucessos e explorando cada vez mais o seu lado autoral. A sazonalidade dos seus lançamentos aliada à adesão, de uns tempos para cá, a um cancioneiro com forte apelo popular pode ter feito com que seu nome já não seja atualmente tão idolatrado, embora continue um fato que ela permanece a ser uma ótima vendedora de discos. Para marcar a turnê de seu mais recente CD de estúdio (o mediano “O que Você Quer Saber de Verdade”, lançado em 2011), Marisa gravou o espetáculo intitulado “Verdade, uma Ilusão” durante apresentação realizada em agosto do ano passado na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. É esse registro que chegou recentemente às lojas, através da gravadora EMI, nos formatos CD e DVD. Logicamente, o vídeo expressa bem melhor o show, uma vez que a artista é expert em se cercar de aparatos visuais tecnológicos de última geração. E é indiscutível que o produto resultou (como de costume) caprichado, fazendo-se indispensável para o seu séquito de fãs posto que enfileirou alguns de seus maiores sucessos, a exemplo de “Diariamente” (de Nando Reis), “Gentileza” (dela), “Depois” (dela, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes), “De Mais Ninguém”, “Não Vá Embora” e “Ainda Bem” (as três compostas por ela e Arnaldo). Marisa apresentou ainda boa versão feita por ela e Arnaldo para “Ilusão”, de Julieta Venegas, e incluiu no repertório “Dizem” (de Arnaldo e Dadi), “Sono Come Tu mi Vuoi” (de Antonio Amurri, Bruno Canfora e Maurizio Jurgens, hit da cantora italiana Mina) e “E.C.T.” (dela, Nando e Brown, tema propagado nacionalmente por Cássia Eller), estas até então inéditas em sua voz. Isto posto e página virada, que venha logo o próximo CD de inéditas!
* “Ian” é o título do primeiro CD do cantor e compositor gaúcho Ian Ramil, filho de Vitor Ramil. Produzido pelo argentino Matias Cella, o álbum independente já se encontra disponível e se faz composto por treze faixas inéditas e autorais, algumas compostas ao lado de parceiros. O tio Kleiton aparece em dois momentos do soturno repertório que traz como destaques as canções “Segue o Bloco”, “Nescafé”, “Entre o Cume e o Pé” e “Transe”.
* O Prêmio da Música Brasileira deste ano foi dedicado ao samba e terminou resultando em um espetáculo itinerante que percorreu algumas cidades brasileiras, reunindo os talentos de Arlindo Cruz, Beth Carvalho, Dudu Nobre e Mariene de Castro. Com roteiro criado pelo empresário José Maurício Machline, o show foi gravado ao vivo para dar origem a CD e DVD que serão editados no segundo semestre. O repertório logicamente contempla pérolas do gênero, a exemplo de “Foi um Rio que Passou em minha Vida” (de Paulinho da Viola), “Juízo Final” (de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, 1973) e “O Mar Serenou” (de Candeia).
* “Transbordada” é o título do quarto álbum solo de Paula Toller, o qual está sendo produzido, no Rio de Janeiro, por Liminha. O repertório será prioritariamente autoral e inédito e a cantora vai contar com as participações especiais do rapper mineiro Renegado e de Hélio Flanders, vocalista da banda mato-grossense Vanguart.
* Alcione vem desenvolvendo um trabalho contínuo na nossa música popular desde que surgiu no mercado fonográfico em meados da década de setenta do século passado. No início divulgando o samba tradicional e depois mergulhando em baladas ultrarromânticas, ela conseguiu se transformar em uma das mais respeitadas intérpretes do nosso cancioneiro, além de uma grande vendedora de discos. Dona de voz poderosa, a canotra comprova se encontrar em boa forma (ainda que um ouvinte mais atento possa constatar algumas ranhuras vocais, resultantes decerto dos anos de estrada) com o lançamento do projeto “Eterna Alegria – Ao Vivo”, disponível nos formatos CD (composto por quinze faixas) e DVD (que contém dez números adicionais), o qual chegou recentemente ao mercado através de uma parceria entre a gravadora Biscoito Fino e o selo Marrom Music. Gravado durante apresentação realizada na Barra Music, no Rio de Janeiro, em novembro do ano passado, tem os arranjos recheados de metais e o repertório calcado no que compõe o seu mais recente CD de estúdio, mas conta, como plus, com as participações especiais de Andreia Caffé, Cezzinha, Tárcio e da dupla Victor & Léo. Entre os melhores momentos, além da faixa-título, estão “Sem Palavras” (de Francis Hime e Thiago Amud), “Produto Brasileiro” (de Xande e Gilson Bernini), “A Dona Sou Eu” (de Nenéo e Paulinho Rezende), “Ogum Chorou que Chorou” (de Arlindo Cruz) e os medleys que reúnem “Mudança de Ventos” (de Ivan Lins e Vitor Martins) com “A Voz de uma Pessoa Vitoriosa” (de Caetano Veloso e Waly Salomão) e “Quem me Levará Sou Eu” com “Contrato de Separação” (ambas de Dominguinhos, a primeira em parceria com Manduka e a segunda com Anastácia). Aconselhável para constar de toda cedeteca que se preza!
* No segundo semestre, chegará às lojas uma caixa que reunirá a discografia dos Paralamas do Sucesso. Os títulos serão devidamente remasterizados e trarão faixas-bônus com registros raros e inéditos da banda carioca.
* Os compositores Mombaça e Mu Chebabi compuseram o samba “Vamos Vencer” para denunciar e combater o racismo no futebol que está sendo disponibilizado em áudio e vídeo nas redes sociais. Vários artistas aderiram à ideia e participam do projeto, a exemplo de Chico Buarque, Gilberto Gil e Marcelo Yuka.
* “Coisa Boa” é o titulo do novo CD que Moreno Veloso está lançando esta semana. Produzido pelo próprio artista ao lado do guitarrista Pedro Sá, o álbum apresenta repertório essencialmente inédito, contendo parcerias com Domenico e Quito Ribeiro, mas resgata temas autorais como “Hoje”, “Um Passo à Frente” (ambas gravadas originalmente por Gal Costa em 2005) e “Lá e Cá” (música lançada por Nina Becker em 2010). Há também a regravação da valsa “Num Galho de Acácias”, versão em português de “Un Peu d'Amour”.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
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