R E S E N H A
Cantora: ROGÉRIA HOLTZ
CD: “NATOCAIA”
Gravadora: INDEPENDENTE
A cantora paulista Rogéria Holtz chegou a se formar em Designer, mas a música a chamava de há muito. Ganhou do pai, aos dez anos, o primeiro violão, porém foi somente varios anos depois, já em Curitiba, no Paraná (para onde se mudou, aos dezesseis anos, com o objetivo de aprofundar-se nos estudos), que a vida a conduziu definitivamente para o caminho das artes e, assim, ela terminou se profissionalizando.
O primeiro CD, “Acorda”, foi lançado em 2003 e, ali, já se esboçava a intérprete segura que hoje, de fato, é. O repertório, tão eclético quanto bem costurado, reunia canções de Rita Lee, Beto Guedes, Egberto Gismonti, Alzira E e Itamar Assumpção. Com essse trabalho, ela ganhou prêmios e troféus e levou seu trabalho para várias cidades, vez que foi selecionada para participar do Circuito Cultural do Banco do Brasil, do Rumos do Itaú Cultural e do Projeto Pixinguinha, quando, então, dividiu o palco com Mart’nália e Celso Fonseca. Foi ele, aliás, o responsável pelos arranjos, além de ser o diretor e produtor musical do segundo CD de Rogéria, o aclamado “No País de Alice”, de 2012, no qual ela mergulhou nas canções da poetisa paranaense Alice Ruiz compostas com seus diversos parceiros, entre eles: Zeca Baleiro, Zé Miguel Wisnik e Arnaldo Antunes.
Chegou recentemente ao mercado (de maneira independente) o seu terceiro e ótimo álbum (“Natocaia”), o qual foi inteiramente gravado com o acompanhamento dos quatro músicos que integram o grupo Natocaia (o baixista Glauco Sölter, o guitarrista Mario Conde, o baterista Endrigo Bettega e o tecladista Jeff Sabbag). O projeto soa muito legal, resultado da presença de instrumentistas pra lá de talentosos (que se põem a serviço das canções sem tentar exibir preciosismos) e de uma cantora de voz única (dona de um dos mais bonitos timbres da atualidade), detentora de técnica irretocável e que sabe escolher o repertório com precisão.
São treze as músicas selecionadas a dedo (“Choro Romântico” aparece em duas versões, uma delas trazendo um solo arrepiante do trombonista Raul de Souza) que aliam algumas regravações a canções que recebem o seu primeiro registro. Entre as primeiras estão “Filho de Santa Maria” (de Paulo Leminski, já gravada de forma magistral por Zizi Possi – a versão de Rogéria, contudo, não fica nada a dever), “Milagre dos Peixes” (uma das mais complexas parcerias entre Milton Nascimento e Fernando Brant) e “Beiral” (tema da fase mais sincopada de Djavan). Isso sem falar em “Camarim”, obra-prima criada por Cartola e Hermínio Bello de Carvalho que, de cara, se transforma em um dos pontos altos do disco. Já no campo das inéditas, prevalecem músicas compostas por autores paranaenses e entre elas se destacam “Céu e Blues” (de Marcelo Sandmann e Benito Rodrigues) e “Cicatriz” (de Wellington Wella). Nomes que já costumam frequentar o repertório de shows e discos de Rogéria também marcam território, como é o caso dos já citados Alice Ruiz e Zé Miguel Wisnik (que juntos assinam “Dois em Um”) e de Carlos Careqa (que surge como convidado na sua autoral “44”). A artista ainda recheia o set list com quatro canções por ela compostas ao lado de parceiros. Destas, destacam-se a interessantíssima “Estrela Cadente” (feita com Marcos Pamplona) e a singela “Cacos” (dividida com Estrela Leminski).
Trata-se de um CD de fato bem bacana que deve ser conhecido por todos, tanto quanto Rogéria Holtz, uma cantora acima da média que merece ter o seu talento difundido de norte a sul deste imenso Brasil, infelizmente ainda tão reticente à música de real qualidade. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* O cantor e compositor Luiz Pinheiro está lançando o CD intitulado “3,1415…”, reunindo nove canções de sua autoria. Sob a direção musical de Valter Gomes, o álbum traz canções bem resolvidas numa abordagem plural, tanto no que tange à sonoridade (em vários momentos recheada de programações eletrônicas) quanto no que diz respeito aos temas abordados. O artista expressa o prazer de contestar (em “Burcas”) e retrata cruamente a realidade das ruas de um grande centro (em “Nômade Urbano”, que conta com a participação de Jorge Mautner). Em faixas que de certa forma se conectam, ele analisa a função social de quem serve como formador de opinião (em “O Artista”) e define metaforicamente sua arte (em “Traficante”). Bom cantor e compositor inspirado, Pinheiro reverbera ecos de Caetano Veloso em “Broto Bruto” (parceria com outro Luiz, o Gayotto), um dos destaques do repertório, ao lado da contundente e bem-humorada “Brejo”. Outros bons momentos ficam por conta do lisérgico samba “Barra/Macaco” (feito com Leila Romero) e do maracatu “Bois de Recife” (criado com Marcos Nigro) que traz Lirinha, Vanessa Bumagny e Nô Stopa como convidados. Na faixa- título, ele espertamente se utiliza da dubiedade entre a primeira sílaba de seu sobrenome e o símbolo matemático para se mostrar como um ser em construção.
* “As Cores do meu Coração” é o título do segundo CD da cantora e compositora Andréa Montezuma. Majoritariamente autoral e inédito, o repertório do álbum, produzido pelo baixista Jorjão Carvalho, abre espaço para as releituras de “Passarim”, tema ecológico de Tom Jobim, e “Amor e Paixão”, canção pouco conhecida de Milton Nascimento e Fernando Brant.
* “Aquário” é o título do terceiro e independente CD do grupo Tono que é formado por Ana Cláudia Lomelino (voz), Bem Gil (violão e guitarra), Bruno Di Lullo (baixo), Eduardo Manso (teclados) e Rafael Rocha (bateria e voz). Produzido por Arto Lindsay e composto por onze faixas inéditas e compostas por integrantes da banda com parceiros como Domenico Lancellotti, Alberto Continentino, Bela Meirelles e José de Castro, o repertório denota, de fato, uma considerável evolução com relação aos discos anteriores. O melhor momento fica indubitavelmente por conta de “Leve”, mas também podem ser destacadas as canções “Tu Cá Tu Lá”, “Murmúrios” e “Pistas de Luz”, além da personalíssima releitura de “Chora Coração”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, a qual conta com a participação especial e afetiva de Maria Luiza Jobim. O outro convidado do álbum é Gilberto Gil, coautor do ótimo samba “Da Bahia”.
* Tulipa Ruiz lançou recentemente um disco de remixes na forma de compacto de vinil que, por ora, pode ser adquirido nos shows da cantora. Também disponibilizado para venda no iTunes, apresenta novas versões para as pistas das músicas “Aqui” (produzida por Rica Amabis com a participação do rapper carioca B Negão) e “Víbora” (produzida por Daniel Ganjaman).
* Quebrando um jejum fonográfico de sete anos, a banda pernambucana Nação Zumbi (responsável pela divulgação do Mangue Beat) acabou de lançar, através do selo Slap, um novo e homônimo CD, o qual se fez produzido por Berna Ceppas e Kassin. Formado atualmente pelo vocalista Jorge Du Peixe, o baixista Dengue, o baterista Pupillo e o guitarrista Lúcio Maia, o grupo apresenta um repertório inédito de onze faixas (todas assinadas pelos quatro – em “O que te Faz Rir”, há a colaboração de Junio Barreto), algumas com grande potencial radiofônico, a exemplo de “Foi de Amor” e “Cicatriz”, os dois melhores momentos de um coeso repertório que traz também como destaques “Nunca te Vi”, “Novas Auroras” e “Um Sonho”. Marisa Monte surge como convidada na faixa “A Melhor Hora da Praia”. O som percussivo dos tambores de sempre recebeu um tratamento pop e o resultado atual pode até desagradar aos fãs de primeira hora, mas ficou bem mais palatável.
* “Da Gávea” é o título do samba composto por Marina Lima que fez parte de seu primeiro show de voz & violão intitulado “No Osso”, realizado recentemente em São Paulo. A cantora e compositora começa, assim, a testar um novo repertório visando à gravação futura de seu próximo CD.
* “Segura Dom Dom” é o título da inédita parceria entre Dorival Caymmi e Assis Chateaubriand que ganhou registro de Danilo Caymmi e fará parte do repertório do CD que o artista está gravando com músicas do pai. Com a produção dividida entre Domenico Lancellotti e Bruno Di Lullo, o álbum chegará às lojas ainda este ano a tempo de celebrar os cem anos do nosso Buda Nagô.
* “Ecos da Rua” é o título do primeiro CD do cantor e compositor carioca Brunno Monteiro, uma produção independente capitaneada por JR Tostoi. São dez faixas inéditas e autorais, a grande maioria composta por ele ao lado de parceiros, as quais mostram o talento de um jovem que bebe descaradamente na praia do pop rock. Ótimo cantor, Brunno conta com a participação especial de Marcello H na faixa “Na Gaveta”, um dos destaques do repertório que também traz, entre seus melhores momentos, as faixas “Mau pra Mim” e “Se Entender”.
* Deverá chegar às lojas, o mais tardar em setembro, o esperado CD que trará a cantora Vanusa de volta ao mercado fonográfico. Produzido por Zeca Baleiro, esse novo disco apresentará um repertório majoritariamente inédito (a cantora ganhou música do próprio Baleiro e de Zé Ramalho), mas há algumas regravações, a exemplo de “Esperando Aviões” (de Vander Lee) e “Compasso” (de Angela Ro Ro e Ricardo McCord).
* O segundo CD de Marcela Bellas já pode ser baixado no site oficial da cantora e compositora baiana. É a produção independente “Chega de Chorar de Amor!” através do qual a artista ratifica sua personalidade artística ao misturar ritmos, sempre com bom humor e leveza. O repertório tem reggae (a faixa-título), rock (“I Love Lucy”), jovem guarda (“Ana Maria”) e clima de cabaré (“Bar de Bira”), além da releitura de “Telúrica”, hit oitentista de Baby do Brasil (à época, ainda Baby Consuelo).
* Será na próxima sexta-feira, dia 18 de julho, às 19:30 horas, no Café do Museu, espaço anexo ao Museu da Gente Sergipana, a primeira das duas apresentações do show “Lisboa canta Hollanda”. Trata-se do mais novo projeto musical do compositor e cantor Rubens Lisboa que estará, assim, homenageando os setenta anos de Chico Buarque de Hollanda, recentemente completados, ao interpretar várias canções do maior nome da nossa MPB. Vale a pena ir lá conferir!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
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