R E S E N H A
Cantor: DHENNI SANTOS
CD: “PEDRA DE RIO”
Selo: MILLS RECORDS
Quando lançou, em 2009, “Do Mundo”, o seu primeiro CD, o cantor e compositor carioca Dhenni Santos ainda assinava artisticamente Denilson Santos. Com um repertório composto por canções próprias, de outros autores e releituras de clássicos da MPB, já naquele trabalho inaugural ele dava pistas de se tratar de um artista corajoso e eclético, posto que soube condimentar com requinte o caldeirão sonoro que abrigou samba, xaxado, blues e choro.
Admirador assumido de Luhli e Lucina, duas grandes compositoras e cantoras que, de 1972 a 1998, gravaram juntas, criando belas canções e lançando discos que se tornaram referência para toda uma parcela apaixonada por uma música mais artesanal, Dhenni resolveu homenageá-las em seu segundo álbum, o qual chegou recentemente às lojas através do selo Mills Records.
Intitulado “Pedra de Rio”, o recém-lançado CD se faz composto por vinte faixas e isso também comprova a ousadia do cantor que não economizou nem na quantidade nem na qualidade dos arranjos (assinados pelo violonista Daniel Drummond e pelo pianista Felipe Radicetti, ambos responsáveis também pela produção musical), os quais surgem ora mais simples, ora mais consistentes (e, aqui, se enquadram cordas e naipe de metais), mas sempre de acordo com o que cada canção exige.
Envolto por um caprichado trabalho gráfico, o projeto não se restringe às parcerias entre as duas, abrindo espaço para canções que elas compuseram com outros colaboradores (Luhli com Alexandre Lemos em “As Horas” e na deliciosa “Regando o Mar” e Lucina com Paulinho Mendonça em “Amanhã” e com Zélia Duncan em “Cometa”) e conta com as participações especiais das homenageadas: Luhli surge nos vocais de “Nunca” (dela e Dhenni), Lucina em “Samba da Risada” (dela, Luhli e Dhenni) e, juntas, se jogam em “Viola de Prata” (das duas e Joãozinho Gomes) – detalhe: essas três são inéditas em disco.
Temas associados a registros antológicos de Ney Matogrosso, tais como “Coração Aprisionado”, “Chance de Aladim” e “Bugre” ganham novas versões e, especialmente nesta última, Dhenni mostra se tratar, de fato, de um intérprete especial que possui luz e talento próprios. Dono de voz de timbre grave que não se enquadra em qualquer classificação comum, ele a empresta sem medo às mais diversas emoções. E se o petardo “Flor Lilás” abre o CD em temperatura máxima, o delicado “Choro de Viagem” soa apropriado com seu passeio sonoro pelos diversos lugares citados na letra, esta repleta de achados. São dois dos maiores destaques do repertório selecionado, ao lado da contundente “Escultura” e da irretocável “E Se For”, duas verdadeiras obras-primas.
Não por acaso, o álbum se encerra com “Ao Menos”, a última música que as duas assinam juntas e que assume ar filosófico com os versos “O tempo corta / Mas se for verdadeiro / O que importa / É ser inteiro / E até o fim”, deixando a certeza do muito que Luhli e Lucina já contribuíram para o nosso cancioneiro. Quanto a Dhenni… Bem, ele está só no começo de uma trajetória que promete vários trabalhos tão legais como esse disco que merece fazer parte de toda e qualquer cedeteca que se preze. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* O grupo vocal Arranco de Varsóvia foi criado em 1996 no Rio de Janeiro, tendo como principal identidade um repertório ligado ao samba. No início, chegou a ter entre os seus integrantes as cantoras Zélia Duncan, Eveline Hecker, Soraya Ravenle e Jurema de Cândia, além do talentoso Muri Costa, e, de lá para cá, terminou passando por várias formações até chegar à atual que, desde 2010, conta com a presença do remanescente Paulo Malaguti Pauleira e as belas vozes de Andréa Dutra, Cacala Carvalho e Elisa Queirós. Com arranjos vocais e instrumentais modernos, mas que sabem respeitar a base da nossa história musical, o grupo lançou o primeiro CD em 1997 e, após trabalhos dedicados às obras de Cartola e Martinho da Vila, fez chegar recentemente às lojas, através da gravadora Mills Records, o ótimo e suingante “Na Panela Pra Dançar”, o sexto da carreira, composto por dez faixas, entre inéditas e regravações. Com a direção musical sob os cuidados do já citado Malaguti (que se destaca ainda ao piano), o álbum já se transforma em um dos destaques deste ano, consolidando-se como um dos pontos altos da discografia do grupo. Malaguti também compôs três das faixas apresentadas: uma delas, o samba “Desarvorada, Ô” (de sua lavra solitária) pega o ouvinte logo de primeira e é uma música que merece, de fato, ser conhecida por quem gosta de coisas bonitas, e outra, a canção-título (uma “espécie de juju music afro dançante”, composta ao lado de Valmir Vignolli), revela-se literalmente deliciosa e dançante. O CD se abre em grande estilo com o samba-enredo “Apogeu e Glória do Arranco de Varsóvia”, inusitado e bem- vindo tema resultante da parceria entre Danilo Caymmi e Claudio Nucci e, ao longo de sua duração, apresenta momentos bastante interessantes como as releituras de “O Dia em que Faremos Contato” (de Lenine e Bráulio Tavares) e “Um Choro” (de Sergio Santos e Paulo César Pinheiro). Outros destaques ficam por conta da especialidade da galera: o samba, o qual ora surge em tons sérios (como em “Malandro Também Chora”, de Mauro Diniz), ora aparece com tintas de humor (a exemplo de “Papinha”, de Arlindo Cruz, Maurição e Carlos Sena). Trata-se, em suma, de uma excelente pedida!
* Mart’nália realizou recentemente show no Rio de Janeiro, o qual, dirigido por Martinho da Vila (seu pai), foi devidamente registrado e se transformará em CD e DVD ao vivo que chegarão às lojas no segundo semestre. Entre inéditas que ganhou de Martinho e também de Moska, a cantora deu voz a clássicos do samba.
* O show no qual o maranhense Zeca Baleiro interpreta canções do paraibano Zé Ramalho ganhou registro audiovisual durante apresentação recentemente realizada em Salvador (BA) e chegará ao mercado, nos formatos CD e DVD, ainda este ano.
* Deverá estrear em agosto, em Salvador (BA), o show que Elba Ramalho está ensaiando com o grupo SaGrama e o Quarteto Encore, ambos de Pernambuco. Será devidamente registrado ao vivo, para sair, em seguida, em CD e DVD. O repertório contempla canções de Luiz Gonzaga, Caetano Veloso e Marcelo Jeneci, entre outros.
* “AntroPOPhagia” é o título do registro ao vivo de show realizado, em dezembro de 2012, pela cantora e compositora Beatriz Azevedo no Lincoln Center, em Nova York, o qual chegou recentemente ao mercado através da gravadora Biscoito Fino. Com direção musical do pianista Cristóvão Bastos e participação especial de Vinicius Cantuária, o álbum contempla, em seu repertório de quatorze faixas, três poemas de Oswald de Andrade musicados pela artista (“Erro de Português”, “Cântico dos Cânticos” e “Relicário”) e um de Raul Bopp (“Coco de Pagu”), além de releituras de clássicos de Cole Porter (“That Is This Thing Called Love”) e de Tom Jobim com Vinicius de Moraes (“Insensatez”). No mais, são apresentadas canções criadas pela própria Beatriz ao lado de parceiros como Angelo Ursini, Matheus Von Kruger e Deni Domenico das quais merecem ser destacadas “Devoro”, “Toda Sorte” e “Bis”.
* Diz a letra de uma canção antiga da sábia Rita Lee, a rainha do rock nacional, que “roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido”. Mas o fato é que agora os tempos são outros e os roqueiros nacionais são perfumadinhos e usam grifes da moda. Neste encaixe encontra-se a cantora e compositora baiana Pitty que, fugindo da obviedade rítmica de sua terra natal, surgiu no mercado fonográfico, em 2003, como uma alternativa feminina para axés e similares. Ela tem conseguido se manter na ativa, lançando discos com regularidade, os quais costumam cair nas graças de um público já fiel. Não é uma cantora excepcional e seu timbre vocal não tem nada que a diferencie de tantas outras, mas possui carisma e vocação e isso supera qualquer problema. Após dar uma pausa na carreira solo (período em que se uniu ao guitarrista Martin Mendezz e formou o duo pop folk Agridoce), ela retorna com o CD intitulado “Sete Vidas”, um lançamento da gravadora Deck. Produzido por Rafael Ramos, o álbum é composto por dez faixas inéditas e autorais, quatro delas criadas ao lado do supracitado Martin. Constata-se, nesse trabalho, um salto evolutivo no que se refere às canções apresentadas, decerto fruto de uma maturidade adquirida pela artista, e isso fica claro já em “Pouco”, a bem construída faixa que abre o disco. Outros temas bem interessantes são “Pequena Morte” e “Boca Aberta”, além da eficiente canção-título. Nada, contudo, que supere a beleza de “Serpente”, momento recheado de coro e percussão no qual Pitty sai, surpreendentemente, de sua zona de conforto, mostrando que pode render muito se decidir por se arriscar mais.
* O álbum de inéditas gravado pelo grupo brasiliense Capital Inicial e produzido por Liminha já se encontra pronto. A conferir!
* Cantora e compositora do grupo paulista Samba de Rainha, formado somente por mulheres, Nubia Maciel está pondo no mercado o seu primeiro CD solo. Trata-se de “Uma Qualquer”, álbum produzido por Gustavo Ruiz e que alinha, no repertório, nove temas, a exemplo de “Como É Bom esse Amor”, “Mexe Mexe” e “Peito Rasgado”.
* E será na próxima sexta-feira, dia 25 de julho, às 19:30 horas, no Café do Museu, espaço anexo ao Museu da Gente Sergipana, a segunda apresentação do show “Lisboa canta Hollanda”. Trata-se do novo projeto musical do compositor e cantor Rubens Lisboa que estará, assim, homenageando os setenta anos de Chico Buarque de Hollanda, recentemente completados, ao interpretar várias canções do maior nome da nossa MPB. Vale a pena ir lá conferir!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
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