Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: DAÚDE
CD: “CÓDIGO DAÚDE”
Gravadora: LAB 344

Quando surgiu, em 1995, no mercado fonográfico nacional, com o lançamento de seu primeiro homônimo CD, a cantora Daúde demonstrou se tratar de uma cantora diferente. Dona de voz grave, bonita e potente, naquela oportunidade ela já optava por uma sonoridade moderna, recheada de loopings, que servia para apresentar um repertório no qual conviviam harmoniosamente releituras de canções conhecidas de Caetano Veloso e Jorge Ben Jor e temas assinados por autores que, à epoca, ainda batalhavam por um lugar ao Sol, caso de Lenine, Celso Fonseca e Luiz Tatit.
Nascida Maria Waldelurdes Costa de Santana Dutilleux em Salvador (BA), Daúde se mudou aos onze anos de idade para o Rio de Janeiro. Foi na Cidade Maravilhosa que, sete anos mais tarde, ela começou a estudar canto no Instituto Villa-Lobos e artes cênicas no Teatro da Escola Martins Pena, formando-se em Letras pela Universidade Santa Úrsula. Soltou a voz em peças musicais, cafés e boates antes de lançar o primeiro CD, o qual se fez sucedido, dois anos após, por "Daúde #2", álbum que contém uma personalíssima versão de "Pata Pata" (sucesso da sulafricana Miriam Makeba). Em 1999, depois de uma turnê pela Europa, ela pôs no mercado brasileiro "Simbora", disco de remixes para as pistas contendo músicas dos seus dois primeiros discos e, em 2003, chegou ao mercado o aclamado “Neguinha Te Amo”.
Após um jejum de mais de uma década, aportou recentemenete nas lojas o novo CD da cantora. Intitulado “Código Daúde” e produzido por ela ao lado do guitarrista Clauber Fabre, é um trabalho que vinha sendo maturado já há alguns anos. E mesmo (infelizmente) não trazendo nenhuma canção inédita, faz-se forçoso observar que Daúde sabe imprimir suas digitais nas canções que resolveu regravar.
O som continua calcado no que atualmente se convencionou catalogar de “world music” e pode ser consumido tranquilamente em terras estrangeiras, especialmente no continente europeu. Não que a cantora renegue suas raízes. As influências africanas surgem a todo momento, seja na presença sempre oportuna do berimbau, seja em intervenções incidentais como a que ocorre no ínicio da faixa “Babalu” (canção de Margarita Lecuona que ecoou nos quatro cantos do Brasil em gravação antológica de Ângela Maria). Mas o fato é que as programações eletrônicas direcionam o trabalho e, pilotadas por ela mesma, podem ser ouvidas em nove das onze faixas que compõem o repertório.
Antenada, Daúde traz a lume músicas antigas pouco conhecidas de Dorival Caymmi (“Cala a Boca, Menino”) e da dupla Antônio Carlos e Jocafi (“Minhas Razões”) e, atrevida, se aventura inclusive pelo idiona francês (em “J’ai Deux Amours”, hit propagado mundialmente através da voz de Joséphine Baker). De uma safra mais recente, ela selecionou tão somente “O Vento” (de Rodrigo Amarante), conhecida pelo público mais jovem por conta do registro feito pelo grupo Los Hermanos.
Entre os melhores momentos do recém-lançado álbum estão “Sobradinho” (de Sá e Guarabyra, que traz o violino mágico de Nicolas Krassik e, no refrão, as vozes do coral infantil Musimundi), “Eu Não Vou Mais” (de Orlandivo e Durval Ferreira) e “Barco Negro” (de David de Jesus Mourão e Matheus Nunes). E, como cereja do condimentado bolo, há as participações especiais de Alceu Valença (na autoral “Como Dois Animais”), Marcos Valle (em “Que Bandeira”, dele em parceria com Paulo Sérgio Valle e Mariozinho Rocha) e Nelson Sargento (no medley que reúne “Segura Esse Samba”, de Osvaldo Nunes, e “Falso Amor Sincero”, pérola composta pelo próprio Sargento).
Em suma, um CD bem legal que marca o aguardado retorno da ótima Daúde.

N O V I D A D E S

* O selo Discobertas está lançando um box que contempla quatro CDs, três deles reedições de títulos lançados por Jackson do Pandeiro na segunda metade da década de sessenta do século passado (“O Cabra da Peste”, “A Braza do Norte” e “Jackson do Pandeiro é Sucesso”) nos quais o ouvinte se deparará com deliciosos temas, tais como “Capoeira Mata Um”, “A Ordem É Samba”, “Bodocongó”, “Vila Mariana”, “Babá de Cachorro”, “O Pai da Gabriela” e “Tempero de Peixe É Bom”. O quarto CD é uma coletânea com dezessete gravações avulsas do cantor feitas no mesmo período, dentre as quais se destacam “Balanço da Nega”, “O Marido da Vizinha”, “Meu Santo É Brasa”, “A Negra Balançou” e “Brasil na Batata”. Àquela época, não só de cocos e forrós vivia Jackson que também gravou muitos sambas e marchinhas, conforme pode ser constatado.

* O Quarteto Maogani acabou do pôr nas lojas, através da gravadora Biscoito Fino, um novo CD. Trata-se de “Pairando – Maogani interpreta Nazareth”, cujo repertório de doze faixas homenageia a obra do compositor e pianista carioca Ernesto Nazareth.

* O bom cantor Arlindo Neto é filho de Arlindo Cruz e herdou, no sangue, o DNA do amor ao samba. Ele acaba de lançar o seu primeiro e homônimo CD, o qual foi gravado ao vivo e conta com as participações especiais de Jorge Aragão (em “Já É”), Stephan (em “Se Não Der Não Deu”) e do grupo Os de Paula (em “Rio Sampa”), além – é claro! – do papai famoso (em “Meu Povo” e “Meu Caminho”). Composto por quatorze faixas (das quais cinco são de autoria do próprio Arlindo Neto com parceiros), o álbum alcança os seus melhores momentos com as músicas “Bom Aprendiz”, “Tudo Improvisado”, “Você É o Espinho e Não a Flor” e “Pra Não Tá Sozinho”.

* Bebel Gilberto estará lançando ainda este mês “Tudo”, seu quinto CD, o qual chegará ao mercado através da gravadora Sony Music. O repertório trará, entre outras canções, a inédita faixa-título (primeira e inédita parceria de Bebel com Adriana Calcanhotto) e as releituras de “Harvest Moon” (de Neil Young) e de “Vivo Sonhando” (de Tom Jobim).

* Bastante produtivo, Carlinhos Brown lançou recentemente mais um disco. Trata-se de “Vibraaasil – Beats Celebration”, CD de inéditas inspirado na Copa do Mundo. Há samba (“Meninas, Chocalho”), samba-marcha (“Time Gaiato”), axé (“Faz Um, Brasil”), reggae (“Campeões do Amor”), funk (“Nota de Dólar”) e várias outras pegadas.

* Elisa Queiroga é cantora mineira de bela e doce voz que, de maneira independente, fez chegar ao mercado “Movimento, Luz e Cor”, o seu segundo CD. Produzido por ela ao lado de Alexandre Lopes e Cláudio Faria, o álbum é composto por dez faixas, metade delas regravações.  Destas, destacam-se “Capitão” (belo e pouco conhecido tema de Joyce criado ao lado de Fernando Brant), “Cores Vivas” (música da fase mais pop de Gilberto Gil) e “Saci” (delicada canção resultante da parceria de Guinga e Paulo César Pinheiro). Também compositora, Elisa assina “Fruto” (com o já citado Alexandre Lopes) e “Silêncio da Palavra” (com o também anteriormente destacado Cláudio Faria) e faz de “Esperar pelo Impossível” (de Alessandro Queiroga) um dos destaques do seleto repertório. Uma intérprete digna de nota que, realmente, merece ter o seu talento reconhecido nacionalmente!

* Gravado durante recente apresentação realizada por Margareth Menezes no Rio de Janeiro, o novo projeto musical da baiana deverá chegar ao mercado ainda este ano nos formatos CD e DVD. Trata-se de vigoroso mergulho nos universos musicais de Gilberto Gil e Caetano Veloso que contou com as participações de Bem Gil, Moreno Veloso, Preta Gil, Rosa Passos e Saulo Fernandes, além do próprio Gil. Já os manos Caetano e Maria Bethânia far-se-ão presentes em faixas-bônus a serem gravadas em estúdio.

* E por falar em Bethânia, a inclusão da música “Povos do Brasil” em “Meus Quintais”, o recém-lançado CD da Abelha Rainha, jogou luzes sobre o cantor e compositor paulistano (criado no Rio de Janeiro) Leandro Fregonesi, revelação do atual cenário do samba. O jovem, formado em Administração, compõe desde os dezesseis anos e hoje já conta com mais de trezentas músicas. Quinze delas, algumas feitas ao lado de parceiros, constam de “Festa das Manhãs”, o seu segundo e independente CD (dirigido pelo competente Maestro Ivan Paulo) que tem o repertório (que alberga partido-alto, sambas dolentes, sambas de amor e de terreiro) completado pelas releituras de “O Poder da Criação”, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro, e “Por um Dia de Graça”, de Luiz Carlos da Vila. Luiz, aliás, é um dos convidados de Leandro nesse álbum, com ele dividindo os vocais da bela faixa “Retemperar”, um dos melhores momentos apresentados, ao lado da sensível “Flor Sem Xaxim”, que conta com o auxílio luxuoso de Áurea Martins. As demais participações ficam por conta de Monarco (em “É Verdade”) e Thaís Motta (em “Cambaleando”). Outros destaques são as canções “Pra Quem É de Choro” e “De Leve no Tamborim”.

* Ainda que tendo sido lançado no ano passado, o CD “Eslavosamba” do violonista, compositor e cantor Cacá Carvalho não merece passar em branco. Produzido por Gui Kastrup, o álbum apresenta dez canções inéditas do artista (e mais três vinhetas de “Pagode Polaco”) criadas com colaboradores como Eduardo Climachauska, Arthur Nestrovski, Guilherme Wisnik, Vadim Nikitin e André Stolarski, entre outros. Há diversas participações especiais permeando o disco, o que termina por lhe conferir cores plurais, a exemplo de Ná Ozzetti, Celso Sim, Rodrigo Campos, Juçara Marçal, Arrigo Barnabé e Luciana Alves. Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Sim” (com Elza Soares e Zé Miguel Wisnik), “Divino Flerte” (com Cacá e Marcia Castro) e “Não Veio” (com Cacá, Romulo Fróes e Kiko Dinucci).

* No próximo domingo, dia 10, a partir das 20 horas, o palco do Teatro Atheneu receberá a elegante cantora Célia Gil em “Entre Aspas”, grandioso espetáculo musical produzido pelo tecladista Plínio Vasconcelos que contará com as participações dos cantores Ítalo Lima e Zek’ Oliver. Realmente imperdível!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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