R E S E N H A
Cantor: ANTONIO VILLEROY
CD: “SAMBOLERIA”
Gravadora: SONY MUSIC
Aos treze anos, o cantor e compositor gaúcho Antonio Villeroy ganhou o seu primeiro violão e, ato contínuo, começou a criar suas próprias canções. Ao resolver se dedicar exclusivamente à música, o que se deu em 1985, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou harmonia funcional com Jan Guest e contraponto com Koellreuter e fez pesquisas nas áreas de história da música e musicoterapia. Nesse período, lecionou violão e harmonia e compôs trilhas para espetáculos de teatro e dança. Mas como quase todo começo, as coisas não foram tão fáceis e o artista, que chegou a assinar artisticamente Totonho Villeroy, voltou a Porto Alegre (RS), onde gravou seu primeiro disco, uma produção independente que contou com as participações especiais de Toninho Horta e Renato Borghetti e recebeu o Prêmio Sharp de Revelação da Música Popular Brasileira e o Prêmio Açorianos na categoria Melhor Disco do Ano.
Em 1995, Villeroy lançou o disco “Trânsito” e passou a se apresentar com frequência na Europa. O ansiado estouro nacional, no entanto, somente viria a se dar quatro anos depois, quando Ana Carolina lançou o seu primeiro CD, o qual a catapultou ao estrelado com a propagação imediata da faixa “Garganta”, uma das mais felizes composições de Villeroy que, dali em diante, se tornou parceiro constante da cantora, tendo várias de suas criações registradas por ela em seus trabalhos seguintes.
Aí, natural se tornou, então, o seu retorno às terras cariocas, até porque geografica e estrategicamente ficaria mais fácil para ter suas canções gravadas por vários nomes de primeira linha da nossa MPB (a exemplo de Maria Bethânia, Gal Costa, Ivan Lins, Moska e Eliana Printes) e de continuar a carreira em alta, o que se consolidou com o lançamento, em 2004, de um álbum gravado ao vivo com a Orquestra de Câmara Theatro São Pedro, o qual foi indicado ao Grammy Latino por conta da música “São Sebastião”. Outro trabalho ao vivo, “Sinal dos Tempos”, viria em 2006, até que, em 2010, ele lançou o elogiado “José”, CD que ratificou o seu talento inato para criar ótimas músicas.
Seguindo sua trajetoria vitoriosa, ele acaba de fazer chegar ao mercado, através da gravadora Sony Music, o seu mais novo projeto musical: trata-se de “Samboleria”, álbum produzido pelo próprio Villeroy ao lado de Berna Ceppas e que se fez viablizado por conta de uma plataforma de financiamento coletivo. O álbum é composto por treze faixas autorais, duas delas apresentadas como bônus (a delicada “De Corpo Inteiro”, em registro violão e voz, e uma nova versão para a bonita “Recomeço” – que já havia feito parte do trabalho anterior com a participação especial de Maria Gadú – ora regravada somente por Villeroy para fazer parte da trilha sonora da telenovela global “Em Família”).
Há três canções compostas em espanhol (“Nostalgia Pasajera”, “Te Vês Tan Bien” e “El Guión”, parcerias com o cubano Descemer Bueno, o colombiano Jorge Villamizar e o americano Don Grusin, respectivamente, esta última contando também com a colaboração de Bebeto Alves), mas os melhores momentos ficam indubitavelmente por conta dos temas em português. É o caso da deliciosa “Fast Folhinha”, da dolorida “Germinal do Samba” (adornada pela presença sempre iluminada de Mart’nália) e da contagiante “O Peixe Quer Água”, além da faixa-título que transborda de latinidade e traz a participação especial da argentina Dolores Solá.
Embora recheado de influências, os sambas predominam o set list do disco e, nessa seara, tanto “Eureka” quanto “No Balanço do Bedeu” soam igualmente bem construídas, cada uma dentro do seu universo particular. E, salutarmente, Villeroy abre parcerias com Moraes Moreira (a inspirada “Ponto Com e Sem”) e João Donato (o característico bolero “Uni Duni Tê”), ciente de que novos ares são sempre muito bem-vindos para todos.
Cantando cada vez melhor e cercado de instrumentistas de ponta da atual cena nacional, Antonio Villeroy construiu um CD bem bacana que se consolida como um dos pontos altos de sua coerente discografia. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* A baiana Ju Moraes participou, em 2012, do programa global “The Voice Brasil”, levado ao ar pela Rede Globo. Ofuscada (como assim o foram todos os participantes daquela primeira edição) pela presença fora-do-comum de Ellen Oléria cuja voz potente arrebatou a plateia e o publico logo de cara, ela não teve a oportunidade de se fazer realmente notada. Conhecida já nas rodas musicais de sua terra, Ju agora pode ver seu talento reconhecido por um público maior devido ao lançamento de seu primeiro e ótimo CD intitulado “Em Cada Canto Um Samba”, já nas lojas através da gravadora Universal (disponível também em DVD). Dona de potência vocal considerável e de um bonito timbre, a morena vistosa de olhos verdes é formada em Direito, mas a paixão pela música sempre lhe falou mais alto. Na adolescência, ganhou o primeiro violão, aprendendo-o a tocar sozinha. Também compositora, ela assina seis das dez faixas de seu álbum de estreia (três delas com parceiros) e mais a versão de “Todavia” que conta com a participação especial do conterrâneo Carlinhos Brown. O disco, cuja produção ficou sob a responsabilidade do pianista Mikael Mutti, embora conte com momentos mais tranquilos, possui, no geral, uma sonoridade contagiante em que se misturam elementos do samba e influências da música baiana. Cláudia Leitte, técnica de Ju no supracitado programa, também surge como convidada em um dos pontos altos do repertório, a faixa “Samba Rock com Dendê”. Outros destaques ficam por conta de “Na Palma da Mão”, “Mulher no Samba”, “Vai” e “Colar de Guia”. A regravação de “A Menina Dança”, um dos sucessos dos Novos Baianos, surpreende pela pegada nordestina conferida ao arranjo, o qual conta, inclusive, com a inserção de uma sanfona. Se bem divulgado, o disco tem tudo para propagar nacionalmente o talento de Ju, uma intérprete que, logicamente urdida com digitais próprias, não faz feio frente a outras atuais vozes femininas que, pisando como ela no terreno do samba e da MPB, já conquistaram o Brasil, caso de Roberta Sá e Maria Rita, por exemplo. Vale, então, a pena conhecer esse seu CD de estreia!
* Sergio Mendes está lançando “Magic”, seu novo trabalho que chega ao mercado através da gravadora Sony Music. Como já é de costume em seus discos, ele conta com participações de artistas brasileiros e norte-americanos. Estão lá, entre outros, Ana Carolina, Carlinhos Brown, Maria Gadú, Milton Nascimento e Seu Jorge, além dos rappers norte-americanos Cody Wise e will.i.am e do cantor de soul John Legend.
* Gravado ao vivo em julho do ano passado durante apresentação realizada no Teatro Tom Jobim, que fica dentro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, “Baile do Brenguelé”, o novo projeto musical do cantor e compositor carioca Rogê, aportou recentemente nas lojas através da gravadora Warner e nos formatos CD e DVD. Artista que já batalha há mais de quinze anos, nos últimos tempos ele vem conseguindo mostrar o seu talento para uma fatia maior de público desde que se aproximou de Seu Jorge e Arlindo Cruz com os quais vem compondo regularmente. Arlindo, aliás, é um dos convidados especiais, assim como Marcelinho Moreira, Serginho Meriti e Wilson das Neves. Com uma sonoridade dançante, azeitada por arranjos recheados de metais, são apresentadas quatorze faixas, todas compostas por Rogê ao lado de parceiros. O samba domina o repertório, surgindo em várias de suas vertentes, e se torna nítida a influência de Jorge Ben Jor. Entre os destaques do repertório estão as faixas “Cuidar de Mim”, “Minha Pressão”, “Na Veia”, “Lapalá” e “Remédio pro Veneno”, esta um duas versões, uma delas registrada em estúdio.
* O aclamado espetáculo “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”, da vitoriosa dupla formada por Charles Möeller e Claudio Botelho, está ganhando edição em CD duplo pela gravadora Biscoito Fino. O disco, produzido por Vinicius França, traz o repertório integral da peça e foi gravado em estúdio com os mesmos arranjos e intérpretes. São quarenta faixas que condensam grandes temas criados por Chico Buarque, os quais ganharam novas nuances nas vozes de Soraya Ravenle, Davi Guilherme, Estrela Blanco, Felipe Tavolaro, Lilian Valeska e Renata Celidonio, além do já citado Botelho. O destaque é a inclusão da inédita “Invicta”, mas há momentos sensacionais como “Ciranda da Bailarina”, “Mambembe”, “Beatriz”, “Geni e o Zepelim”, “Mar e Lua”, “A Cidade dos Artistas”, “Tatuagem”, “Bem Querer”, “Basta um Dia”, “Flor da Idade” e “O Circo Místico”.
* O cantor e compositor paulista Celso Sim fez chegar recentemente às lojas “Tremor Essencial”, o seu quarto e novo CD, o qual foi produzido por Guilherme Kastrup e Estevan Sinkovitz. Composto por doze faixas, dez delas criadas pelo próprio artista ao lado de parceiros, o álbum mostra um cantor corretíssimo que sabe se cercar de bons instrumentistas, os quais valorizam as melodias apresentadas, nem sempre muito convencionais. Há a participação especialíssima de Elza Soares em “A Liberdade É Bonita” (de Jorge Mautner e Zé Miguel Wisnik), um dos destaques do repertório ao lado da faixa-título, de “Um Fio 2” e “Tupitech”.
* Dando continuidade ao seu projeto de lançar discos temáticos, o cantor e compositor baiano Luiz Caldas disponibilizou para download gratuito e legalizado em seu site oficial mais um álbum, desta feita dedicado ao forró. Convém destacar que, anteriormente, ele já havia se voltado a projetos que contemplaram a salsa, o pop e a MPB.
* E a cantora e compositora baiana Marcela Bellas também está disponibilizando, na íntegra para download gratuito através de seu site oficial, o seu segundo CD. Intitulado “Chega de Chorar de Amor!”, o trabalho se faz composto por uma dúzia de faixas e ratifica o talento dessa artista inquieta que faz de tiradas bem sacadas e recheadas de bom-humor seu principal cartão de visitas. Dona de voz agradável, ela transforma a releitura de “Telúrica” (conhecido tema propagado por Baby do Brasil, à época ainda Baby Consuelo) em um dos melhores momentos do repertório que também traz como destaques a faixa-título, “Ana Maria”, “I Miss Her”, “Acreditei” e “Orai”.
* A sergipana Coutto Orchestra foi uma das vencedoras da edição 2014 do prêmio Mimo Instrumental. A galera está de parabéns e se prepara agora para as apresentações, a partir do final deste mês, em Ouro Preto (MG), Olinda (PE), Paraty (RJ) e Tiradentes (MG). Antes disso, a Coutto se apresentará no Festival de Jazz de Rio das Ostras (MG) e, logo em seguida, na Virada e no Circuito Cultural Paulista. É Sergipe entrando de vez no circuito nacional da música!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br