R E S E N H A     1

Cantor: CHICO BUARQUE

Título: “CARIOCA”

Gravadora: BISCOITO FINO

Chico Buarque de Hollanda é inquestionavelmente o melhor compositor de toda a história da música popular brasileira. Dono de uma voz tímida, porém bastante peculiar, e autor de clássicos como “Olhos nos Olhos”, “Eu Te Amo” (com Tom Jobim), “Mil Perdões”, “Trocando em Miúdos” (com Francis Hime), “Injuriado” e “Sobre Todas as Coisas” (com Edu Lobo), o artista tem lançado discos de maneira esporádica, muito porque vem explorando seguidamente o seu lado de escritor.

A chegada às lojas de um novo CD de Chico transforma-se, portanto, em um evento de alcance nacional e se justifica pela curiosidade em conhecer as canções inéditas que passarão a ser conhecidas.

Marcado pela sua discrição, diferentemente de Caetano Veloso (o mestre do marketing) que, quando está na entressafra criativa, termina regravando canções de outros compositores (a maioria delas de cunho mais popular), Chico reserva-se ao direito de apenas participar de discos de colegas quando não se encontra em processo criativo.

“Carioca”, o álbum que marca a estréia de Chico na gravadora Biscoito Fino”, chega às lojas esta semana revestido de uma pesada estratégia de divulgação. São doze faixas, algumas delas regravações, muito bem produzidas por Luiz Cláudio Ramos, violonista que acompanha Chico já há bastante tempo.

As costumeiras parcerias fazem-se presentes através de “Ode aos Ratos”, com Edu Lobo (canção já gravada pelo próprio Chico na trilha sonora do musical “Cambaio”, mas que na presente versão soa revitalizada pela inclusão de um trecho cantado em forma de rap), de “Bolero Blues”, com o baixista Jorge Hélder (de melodia complexa de ser assimilada), de “Renata Maria”, com Ivan Lins (gravada originalmente no último disco de Leila Pinheiro), de “Leve” com Carlinhos Vergueiro (composta para o primeiro disco de Dora Vergueiro) e de Imagina, a primeira melodia composta por Tom Jobim (que fez parte da trilha do filme “Para Viver Um Grande Amor”) e que conta com a participação especial da cultuada cantora Mônica Salmaso.

O recém-lançado disco não está entre os melhores trabalhos de Chico. Isso é fato. O compositor mostra-se por vezes um pouco enferrujado (resultado, talvez, de um período de quase oito anos praticamente afastado da área musical) como em “Subúrbio” e “Sempre”, mas a sua verve criativa surge em momentos de maior inspiração como “Outros Sonhos”, “Porque Era Ela, Porque Era Eu” e “Dura na Queda”, esta composta especialmente para um musical baseado na vida da cantora Elza Soares. Apaixonado por futebol e por cinema, Chico homenageia essa sua segunda paixão através de duas faixas: “As Atrizes” e “Ela Faz Cinema”.

Um disco de Chico Buarque é sempre muito bem-vindo e este não deve se fazer exceção à regra. Se acaso não correspondeu à expectativa de muitos, pelo menos serviu para marcar o retorno desse grande talento à música.

R E S E N H A     2

Cantora: LUÍZA POSSI

CD: “ESCUTA”

Gravadora: EMI

Assim como a parábola do filho pródigo que volta para a casa do pai e este comemora o seu retorno, a música brasileira deveria estar soltando fogos com o lançamento do novo CD da cantora Luíza Possi. Em seu terceiro trabalho, a moça de olhos claros que é filha da fenomenal Zizi Possi deixa de lado as músicas insossas, melosas e sem sentido que caracterizaram o seu CD de estréia e boa parte do seu segundo disco e mergulha de cabeça em canções inteligentes que podem catapultá-la ao posto de uma das melhores intérpretes da nossa nova geração.

É claro que a mudança é perigosa. A garota já contava com um público considerável que acompanhava a sua opção musical anterior. Com o novo trabalho, corre o risco de perder os fãs já conquistados e, mais complicado ainda, não ganhar de cara novos admiradores, aqueles fiéis à boa MPB, que podem olhá-la com desconfiança.

Mas o fato é que o recém-lançado “Escuta” é um belíssimo disco, que leva na produção a assinatura do competente Líber Gadelha, o pai de Luíza. E a cantora recebe, nessa empreitada, o aval de gente de peso como Ana Carolina, Chico César, Vander Lee, Moska, Isabella Taviani e Jorge Vercilo que lhe cederam ótimas canções inéditas (a boa faixa-título, a inspirada “Da Fonte Que Deus Dá”, a belíssima “Seu Nome”, o ótimo samba “Paixão e Medo”, a contundente “Outro Mar” e a razoável “Tudo a Ver”, respectivamente). Dentre as regravações, as boas surpresas concentram-se em “Um Pequeno Imprevisto” (parceria de Herbert Vianna e Thedy Corrêa), “Pedra e Areia” (de Lenine e Dudu Falcão) e “Se No Meio Do Que Você Tá Fazendo Você Pára” (de Arnaldo Antunes e Nando Reis). Há ainda duas parcerias da própria Luíza com seu ex-namorado Nelson Jr. (hoje ela está com o ator Pedro Neschling) que se tivessem ficado de fora do repertório não fariam falta. Mas são percalços menores dentro de um trabalho bacana que marca a virada na carreira de uma artista promissora. Ouça!

N O V I D A D E S

·               A primeira canção composta por Gilberto Gil desde que ele virou Ministro da Cultura se intitula “Outros Viram” e é fruto de uma parceria com o compositor Jorge Mautner. Esta e a também inédita “Os Pais”, um rock balada, vão integrar o próximo disco de Mautner que atualmente se encontra em fase de mixagem e vai contar com as participações especiais de Caetano Veloso, Preta Gil e do grupo AfroReggae. É aguardar para conhecer!

·               O próximo CD de Orlando Morais chegará às lojas no segundo semestre e vai contar com as participações especiais dos astros estrangeiros Sting, Peter Gabriel e Youssou N’Dour. Será que o marido da Glorinha está podendo?

·               Compondo mais do que nunca, Lulu Santos já está em estúdio registrando várias canções inéditas que farão parte de seu novo CD, nas lojas até o final do ano.

·               Em mais um lançamento de extrema qualidade da gravadora Biscoito Fino, encontra-se nas lojas o primeiro CD do grupo carioca Casuarina. Trata-se de um trabalho recheado de brasilidade, no qual os sambas predominam, mas há lugar também para o chorinho e o forró. Os cinco jovens que compõem o grupo são responsáveis, além da voz e vocais, pelo violão, cavaquinho e bandolim, e mostram-se sábios na escolha do repertório. São grandes canções, a maioria delas pouco conhecidas pelo grande público, o que termina por conferir uma aura de ineditismo ao trabalho. Os melhores momentos ficam por conta de “Já Fui Uma Brasa” (crítica esperta de Adoniran Barbosa), da obra-prima “Súplica Cearense” (de Gordurinha e Nelinho, transformada em um melancólico chorinho), da bonita “Minha Filosofia” (de Aluísio Machado) e do Pot-Pourri contendo cinco músicas do mestre Jackson do Pandeiro. Há, ainda, as participações especiais de Teresa Cristina em “Swing de Campo Grande” (de autoria da galera dos Novos Baianos) e de Pedro Miranda em “400 Anos de Favela” (de Zé Kéti).

·               Além de ter sido escolhida a vocalista dos shows que os Mutantes vão realizar em Londres, a onipresente Zélia Duncan confirma a realização, em agosto próximo, de uma apresentação em conjunto com a cantora Simone, a qual fará parte do projeto Tom Acústico.

·               Além de retomar parceria com Aldir Blanc, o mineiro João Bosco está buscando novos parceiros para as canções que serão incluídas no próximo disco que começará a gravar em julho. Um deles será o sambista Nei Lopes, com quem o autor de “O Bêbado e a Equilibrista” acabou de compor três músicas.

·               Beth Carvalho prepara-se para o lançamento de um novo CD intitulado “Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia”. No repertório estarão presentes canções de autoria de Dorival Caymmi, Gilberto Gil e Riachão. A cantora pretende, nesse trabalho, contar com as participações especiais de Gal Costa, Caetano Veloso e Carlinhos Brown.

·               Uma boa notícia! A excelente compositora Ângela Ro Ro, afastada do mercado fonográfico desde 2000, assinou contrato com a gravadora Indie Records para gravar um álbum recheado de composições inéditas, o qual deverá chegar às lojas até o final do ano.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

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