Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: CEUMAR
CD: “SILENCIA”
Selo: CIRCUS

Cantora revelada em festivais de música, a mineira Ceumar estreou no mercado fonográfico em 2000 com o ótimo CD “Dindinha”, produzido por Zeca Baleiro, um de seus adiradores confessos. Sua carreira vem sendo construída à margem das leis do mercado e distante das estratégias de marketing, mas a artista é tida no meio musical como uma referência. Compositora, instrumentista e cantora, é especialmente através de sua voz bela, límpida e de irrepreensível afinação que ela mais se destaca.
Residindo já há alguns anos na Holanda, Ceumar fez um pouso em São Paulo, em dezembro do ano passado, para gravar, em apenas cinco dias e praticamento ao vivo em estúdio, o sexto título de sua coerente discografia. Trata-se de “Silencia”, CD que chegou recentemente ao mercado através do selo Circus. Com a direção musical assinada pelo violoncelista francês Vincent Ségal, trata-se de um projeto majoritariamente autoral uma vez que nove das treze faixas são de autoria da própria Ceumar, uma delas (a canção-titulo) assinada solitariamente. As demais são frutos de parcerias com Gildes Bezerra, Sérgio Pererê, Déa Trancoso, Di Freitas, Nando Távora, Tata Fernandes e Kleber Albuquerque.
A ficha técnica faz constatar a participação de grandes músicos da atualidade, a exemplo de Webster Santos (bandolim), Ari Colares (percussão), Swami Jr. (violão de 7 cordas), Zezinho Pitoco (clarinete), Ricardo Mosca (bateria) e Daniel Coelho (baixo acústico). O álbum, que traz uma sonoridade acústica, mostra que Ceumar continua fiel às suas origens, trazendo a lume temas que lhe são caros, tais como a natureza, a liberdade e o amor ao canto. Envolve-os salutarmente a cantora em uma pluralidade de ritmos, terminando por contemplar os ouvintes com samba, xote, marchinha, coco e xula.
Entre os melhores momentos do repertório apresentado estão “Chora Cavaquinho”, “Justo”, “Segura o Coco”, “Encantos de Sereia” (de Osvaldo Borgez), “Engasga Gato” (de Kiko Dinucci e Fabiano Ramos Torres) e “Turbilhão” (de Miltinho Edilberto).
Orgânico, o som de Ceumar torna-se universal pela simplicidade e regionalidade nele contidas. Não são canções que serão ouvidas com assiduidade nas rádias (posto que atualmente se privilegiam barulhinhos muitas vezes não tão bons assim), mas que cabem para ser ouvidas em momentos de contemplações e silêncios. Uma artista que acredita na sua arte, sabe dos riscos que corre, mas prefere permanecer firme nas suas apostas. Como poucas. Como as grandes. Como as ora em extinção. Quem tiver bons e corajosos ouvidos para escutá-la, que o faça!

N O V I D A D E S

* Em mais uma homenagem aos cem anos de nascimento de Dorival Caymmi, seus herdeiros musicais diretos (quais sejam, os filhos Nana, Dori e Danilo) estão fazendo chegar às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, o CD “Caymmi – Centenário”. Com produção e arranjos (em que se privilegiam as cordas) divididos entre Dori e Mario Adnet, o álbum joga luzes sobre alguns dos mais conhecidos temas do compositor baiano, a exemplo de “Nem Eu”, “Saudade da Bahia”, “Dora”, “Rosa Morena”, “João Valentão” e “Vatapá”. E se cada um dos já citados irmãos canta duas das quinze faixas selecionadas (com destaque para Nana com voz surpreendentemente em forma, arrasando como de costume em “Sargaço Mar” e “A Lenda do Abaeté”) e, juntos, finalizam apropriadamente o disco com “Canção da Partida”, Adnet sola somente a deliciosa “A Vizinha do Lado”. O projeto conta com a adesão de três dos nossos maiores compositores, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, fãs confessos de Caymmi, que, juntos, registraram “O que É que a Baiana Tem?” e solam, cada um, também duas faixas. Chico se solta em “Marina”, Gil faz o que pode com as divisões de “Samba da minha Terra” e Caetano interpreta com sofisticação “Sábado em Copacabana”. Embora efetivamente sem grandes novidades, o CD se mostra interessante, em especial para os amantes da MPB, já que, certamente, em alguns anos, se tornará item de colecionador.

* Por falar em Gilberto Gil, ele registrou, durante apresentações realizadas recentemente no Theatro Municipal de Niterói, o áudio e as imagens que se transformarão em DVD a chegar em breve ao mercado. O show “Gilbertos Samba” é inspirado no disco homônimo em que Gil aborda o repertório do cantor baiano João Gilberto.

* E mais uma homenagem a Dorival: intitulado “No Passo de Caymmi”, o sexto álbum do grupo carioca Casuarina será lançado em breve e é o registro de estúdio do show “100 Anos de Caymmi”. Foram selecionadas dezenove músicas do cancioneiro de Dorival Caymmi lançadas entre 1939 e 1994, dentre as quais “Suíte dos Pescadores”, “Saudade da Bahia”, “Maricotinha”, “Oração de Mãe Menininha”, “Saudade de Itapoã”, “Só Louco” e “Maracangalha”.

* “Autorretrato”, o novo CD do cantor e compositor Marcos Sacramento, mostra o artista, sempre mais associado ao samba, mergulhando na seara pop. São treze faixas autorais e inéditas, nove compostas sem parceiros.

* O quinto álbum da cantora baiana Virgínia Rodrigues se intitulará “Mama Kalunga” e será lançado no primeiro semestre do próximo ano. O repertório se concentrará em temas ligados à cultura negra nacional, mais especificamente aos que celebram os rituais afro-brasileiros da umbanda e do candomblé. A conferir!

* “Esmeraldas” é o título do terceiro CD da cantora e compositora paulistana Tiê que ora chega às lojas através da gravadora Warner Music. O sucessor de “Sweet Jardim” (de 2009) e de “A Coruja e o Coração” (de 2011) foi produzido por Adriano Cintra e Jesse Harris entre Brasil e Estados Unidos. O álbum, de sonoridade pop que transita entre o rock e o folk, se faz composto por uma dúzia de faixas, onze delas compostas pela própria artista (apenas uma assinada solitariamente, a faixa-título) ao lado de vários parceiros, e uma, “A Noite”, versão para tema composto pelo italiano Giuseppe Anastasi. E se André Whoong é o responsável pelos arranjos de sopros, metais e cordas que encorpam o som de oito faixas, há também as participações especiais de Guilherme Arantes (piano em “Máquina de Lavar”) e David Byrne (voz na bilíngue “All Around You”). Entre canção composta em inglês (“Gold Fish”), Tiê põe sua voz pequena mas agradável a serviço de canções despretensiosas e faz de “Par de Ases”, “Mínimo Maravilhoso” e “Vou Atrás” os melhores momentos do repertório apresentado.

* “Meu Ziriguidum” é o título do terceiro CD da sambista Aline Calixto. Produzido por Paulão Sete Cordas com Thiago Delgado, o álbum contará com as participações especiais de Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho e chegará às lojas até o final do ano.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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