R E S E N H A
Cantor: CONSUELO DE PAULA
CD: “O TEMPO E O BRANCO”
Gravadora: INDEPENDENTE
A cantora e compositora Consuelo de Paula estreou no mercado fonográfico nacional em 1998 com o elogiado CD “Samba, Seresta e Baião”. De lá para cá foram mais outros cinco álbuns até que recentemente aportou no mercado “O Tempo e o Branco”, o seu mais novo projeto musical (isso depois de ela ver a sua canção ‘Sete Trovas” gravada por Maria Bethânia no CD “Encanteria”, lançado em 2009).
Produzido pela própria artista, o disco conta com uma sonoridade minimalista e se faz inteiramente calcado no acordeom de Toninho Ferragutti e na viola caipira de Neymar Dias (que, em alguns momentos, pilota também o violão), sendo esses dois exímios instrumentistas também os responsáveis pelos arranjos.
As treze faixas que compõem o repertório foram “provocadas” pelo universo poético de Cecília Meireles. Duas foram criadas solitariamente e as outras onze são fruto da parceria de Consuelo com Rubens Nogueira (falecido em 2012).
O apego à palavra e seu sentido mais apropriado é o chamariz desse trabalho que ratifica o talento de Consuelo tanto como letrista inspirada (que consegue falar das coisas mais simples sem se utilizar de lugares comuns) quanto como intérprete inteligente (que se entrega à carga emocional que cada canção lhe exige).
Dona de voz de timbre claro e bastante peculiar, ela soa suave e intensa nas medidas certas. Sua capacidade de se fazer familiar transporta o ouvinte para um espaço de aconchego, levando-o de imediato para bem próximo dela.
Ousada, não se acomoda e a cada novo álbum apresenta um conceito novo, entregando-se por inteiro àquilo em que acredita e fazendo sempre ressaltar os elementos da cultura musical brasileira, com tudo o que ela tem de particular e de universal, sem, com isso, se esquecer do compromisso com a contemporaneidade.
Sua obra não é descartável e necessita de boa vontade para assentar nos ouvidos. Suas canções não são em geral facilmente assimiláveis e, por isso, exigem um necessário tempo de maturação.
Nesse recém-lançado trabalho, o mergulho se faz ora pelo interior de um Brasil onde ainda se dá valor a sacis e fadas (“Entre o Céu e a Terra”), ora pela necessária valorização da natureza (“O Meu Lugar”) ou ainda pela salutar herança da poesia (“Testamento”).
Entre momentos de extrema melancolia e beleza (“Entre Desertos”) e outros em que o lirismo toma a boca de cena (“Arte”), Consuelo vai desfiando seu rosário de sentimentos e vivências, transformando as faixas “À Flor do Arco-Íris”, “Timbre” e “Cecílias e Dálias” em alguns dos melhores momentos desse CD que já se consolida como um dos pontos altos de sua coerente discografia.
N O V I D A D E S
* Há muito que o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro ameaça lançar um trabalho voltado para o público infantil. Tal anseio se concretiza agora com a chegada às lojas do CD “Zoró – Bichos Esquisitos”. Trata-se do volume 1 de um projeto que se completará com o volume 2, o qual deverá ser viabilizado no próximo ano. Baleiro é compositor fértil e soube se cercar de um time esperto de intérpretes que emprestaram suas vozes a vários dos vinte e oito temas apresentados. Estão lá em participações especiais, entre outros, Tetê Espíndola, Blubell, Carlos Careqa, Fernanda Abreu, Tom Zé, Wado e o grupo MPB-4. Muito bem produzido pelo multi-instrumentista Guilherme Kastrup, o álbum tem como mérito maior não soar tatibitati como costuma acontecer quando um artista acostumado ao público adulto se volta para a criançada. Baleiro se utiliza de versos inteligentes para destacar peculiaridades dos animaizinhos escolhidos e, como de costume, se mostra salutarmente eclético, passeando por diversos ritmos. Há desde o folclore da região central (“Onça Pintada”) e pegadas anordestinadas (“Dona Libélula”, “Tatu Tá?” e “Calango do Calango”) até reggae (“Girafa Rastafári”), rap (“Pula, Canguru”), marcha (“Tubarão que Toca Tuba”) e samba (“Maria Fedida”), canções estas que se juntam a “Deu Zebra”, “Urso Polar” e “Pulga de Sorte” e se transformam nos melhores momentos desse muito bem-vindo CD.
* O cantor e compositor Eduardo Gudin já se encontra em estúdio gravando as canções que farão parte de seu próximo CD. Com repertório inédito, o álbum, que chegará ao mercado no início de 2015, contemplará parcerias do artista com Carlinhos Vergueiro, Carlos Lyra, Ivan Lins, J.C. Costa Netto, Maurício Sant'Anna, Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro, Theo de Barros e Toquinho.
* O sexto volume do projeto “Samba Social Clube” chegará ao mercado neste mês que ora se inicia. Com o subtítulo “Uma Homenagem a Chico Buarque”, o CD e DVD apresentam gravações inéditas do cancioneiro do cantor e compositor carioca nas vozes de Zeca Pagodinho, Roberta Sá, Mariene de Castro, Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Jorge Aragão e Leci Brandão. Entre os temas selecionados estão “Morena de Angola”, “Samba do Grande Amor”, “Apesar de Você”, “Vai Levando” e “Homenagem ao Malandro”.
* “Lado D”, o disco póstumo do compositor fluminense Delcio Carvalho (sambista de alta estirpe e parceiro mais frequente de Dona Ivone Lara em conhecidíssimos sambas como “Alvorecer”, “Acreditar” e “Sonho meu” e que teve temas registrados por Beth Carvalho, Clara Nunes e Nara Leão, entre outros) que foi gravado sob a direção musical de Afonso Machado, chegou há pouco ao mercado, trazendo entre suas doze faixas belos temas, a exemplo de “Em Canto, uma Esperança”, “Nasci para Sonhar e Cantar”, “Há Música no Ar”, “Canto do meu Viver” e “Doces Recordações”. Bem legal!
* A cantora gaúcha Ana Lonardi está se preparando para lançar em breve o seu primeiro CD que contará, ao violão, com a participação especial de Roberto Menescal. A conferir!
* E o Pará continua mandando ver! Agora, é a vez de Juliana Sinambú, cantora e compositora que está lançando o seu primeiro CD através do selo Na Music. Trata-se de “Una”, produzido por Donatinho que, através de bem sacados arranjos condimentados com a participação de músicos espertos da atualidade (entre eles: Alberto Continentino no baixo, Stephane San Juan na bateria e Kassin na guitarra e lap steel), soube vestir o repertório simples de onze faixas, conferindo-lhe agradáveis tessituras. Juliana canta bonito e se mostra segura especialmente nos seis temas por ela compostos. A sonoridade predominantemente dançante (a exceção é a faixa “Pra Você Voltar”, adornada somente com cordas) passeia pelos ritmos característicos da região norte do país. Há as participações especiais de Otto (voz em “Vodka”) e João Donato (piano em “Nua Ideia”, uma parceria dele com Caetano Veloso, gravada originalmente por Gal Costa no álbum “Plural”, de 1990). Entre os destaques do repertório estão as autorais “Simpatia” e “Para um Tal Amor”, além de “Não me Provoca” (da veterana conterrânea Dona Onete).
* A cantora Ná Ozzetti está trabalhando a todo vapor em dois discos que serão lançados no próximo ano. Um deles é um projeto desenvolvido com o grupo paulistano Passo Torto. O outro está sendo gravado com o compositor paulista Zé Miguel Wisnik e joga luzes sobre canções por ele compostas, algumas delas inéditas.
* O grupo mineiro Pato Fu estará lançando ainda este mês “Não Pare pra Pensar”, o novo disco que se faz composto por onze músicas inéditas e autorais. Há a participação de Ritchie na música “Pra Qualquer Bicho”.
* O filme “O Vento Lá Fora”, dirigido por Marcio Debellian, no qual a cantora Maria Bethânia recita versos do poeta português Fernando Pessoa ao lado da professora Cleonice Berardinelli será editado, brevemente, nos formatos CD e DVD pelo selo Quitanda, e chegará às lojas através da gravadora Biscoito Fino. Imperdível!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br