Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: RITA BENNEDITTO
CD: “ENCANTO”
Gravadora: BISCOITO FINO

Primeiro e aguardado trabalho depois que trocou o nome artístico de Rita Ribeiro para Rita Benneditto, “Encanto” é o título do CD que a cantora maranhense está pondo nas lojas, encampado pela gravadora Biscoito Fino.
Produzido a quatro mãos por Felipe Pinaud e Lancaster Lopes, o álbum comprova que o Brasil está diante de uma artista acima da média, fato que já se esboçara anteriomente através dos ótimos três primeiros discos por ela lançados entre 1997 e 2001. Dona de voz privilegiada (potente, afinada e marcante), Rita deu à luz um belo projeto conceitual que pode ser visto como uma continuação do seu aclamado “Tecnomacumba”, show estreado em 2003 que virou disco de estúdio em 2006 e ganhou registro ao vivo em CD e DVD lançados em 2009.
São treze faixas, as quais surgem, na grande maioria, alinhavadas por temática religiosa em que, embora predominem as referências africanas (presentes não apenas nas citações e músicas incidentais que se multiplicam faixa a faixa, mas principalmente em músicas como “Guerreiro do Mar”, do citado Lancaster em parceria com Marcio Local, e “De Mina”, de Josias Sobrinho, que traz a participação especial de Frejat na guitarra solo), também tem aberto o espaço para o catolicisco, explitado na regravação em versão roqueira de “Fé” (de Roberto e Erasmo Carlos), uma das grandes sacadas do repertório.
Entre vinhetas (“Centro da Mata” e “Filha de Tupinambá”), a artista regata com propriedade um ótimo reggae de Gilberto Gil (“Extra”) e uma das mais bonitas e esquecidas músicas de Djavan (“Água”), além de relembrar canções que se tornaram conhecidas nas vozes de Jorge Ben Jor (“Santa Clara Clareou”, dele próprio) e Clara Nunes (“Banho de Manjericão”, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro). E ao lado dos dois produtores, Rita assina a contundente “Pedra do Tempo”, mostrando também possuir talento como autora.
Com uma sonoridade forte, o CD tem como ponto marcante a presença de um arsenal percussivo todo próprio, além de programações que servem para criar e acentuar climas, ressaltando intenções. Em meio a isso, surgem ainda cordas que embelezam os arranjos de “Estrela É Lua Nova” (de Heitor Villa Lobos) e “Babalu” (de Margarita Lecuona). Fechando o CD, aparece o samba inédito “O que É Dela É Meu” (de Rogê, Marcelinho Moreira e Arlindo Cruz, com a participação especial deste último), o qual, por se distanciar das demais, poderia ter sido incluído como faixa-bônus.
No geral, trata-se de um CD muito legal que revela elaboração e concretização muito bem feitas e se transforma, de logo, em outro ponto alto da discografia de Rita Benneditto, uma cantora que veio para ficar e merece ser cada vez mais conhecida e valorizada!

N O V I D A D E S

* Cultuada por um público jovem descolado, a cantora e compositora Céu, após lançar três discos de estúdio, faz chegar às lojas, através do selo Slap, integrante da gravadora Som Livre, o seu primeiro projeto registrado ao vivo (gravado durante apresentação feita, em julho de 2014, no Centro Cultural Rio Verde, em São Paulo), o qual também se faz disponível no formato DVD (este contendo nove números a mais que os quinze que fazem parte do CD, e mais alguns videoclipes). A artista de voz suave passeia pelas canções de maior aceitação do seu repertório, a maior parte autoral, a exemplo de “Cangote”, “Baile de Ilusão”, “Lenda”, “Rainha”, “10 Contados” e “Malemolência”, e resgata “Mil e uma Noites de Amor”, de Baby do Brasil, Fausto Nilo e Pepeu Gomes (sucesso deste último em meados dos anos oitenta), além de, mais uma vez, revisitar “Concrete Jungle”, de Bob Marley, tema por ela gravado em seu primeiro álbum. Com um repertório que abrange pop, samba, reggae, MPB e jazz, Céu se faz acompanhada por uma banda enxuta, porém bastante entrosada, a qual se faz composta por Lucas Martins (no baixo), Dustan Gallas (na guitarra), Bruno Buarque (na bateria) e DJ Marco (nos scratches e MPC). O resultado é bem legal porque Céu possui, de fato, marcante personalidade musical!

* Já se encontra disponível a caixa “Ruas que Sonhei” que contempla as reedições dos álbuns lançados pelo cantor e compositor carioca Paulinho da Viola na gravadora Odeon entre 1968 e 1979. Realmente imperdível para quem quer conhecer mais sobre o elegante e refinado sambista.

* O quadro “Bem Sertanejo”, levado ao ar recentemente pelo programa dominical “Fantástico”, no qual Michel Teló recebeu alguns convivas para interpretar clássicos do repertório sertanejo se eterniza no CD e DVD homônimo que aportaram recentemente no mercado através da gravadora Som Livre. Teló divide os vocais de canções como “Saudade de Minha Terra”, “Chalana”, “Fio de Cabelo” “Ainda Ontem Chorei de Saudade”, “Índia” e “Mágoa de Boiadeiro”, entre outras, com nomes que vão de Almir Sater a Gusttavo Lima, passando por Paula Fernandes e Luan Santana, além das duplas Milionário & José Rico, Chitãozinho & Xororó, Jorge & Mateus, Zezé Di Camargo & Luciano e Fernando & Sorocaba.

* Apadrinhado por Milton Nascimento, o quinteto carioca Dônica estará lançando o seu primeiro CD no primeiro semestre deste ano. O álbum chegará às lojas através da gravadora Sony Music. As canções da banda são de autoria de Tom Veloso (filho de Caetano) em parceria com o vocalista e pianista José Ibarra.

* O cantor e compositor Criolo lançou, no finalzinho do ano passado, um novo CD. Trata-se de “Convoque seu Buda”, o qual foi produzido a quatro mãos por Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral. São dez faixas autorais, algumas criadas ao lado de parceiros, através das quais o artista expressa suas inquietudes alicerçadas nos percalços do mundo atual. Talentoso, ele, que iniciou sua carreira como rapper (e, nesta seara, incluiu no repertório, além da faixa-título, “Esquiva de Esgrima” e “Duas de Cinco”, por exemplo), abre de vez os horizontes musicais, transformando os melhores momentos do álbum quando mergulha no samba (“Fermento Pra Massa”) e no reggae (“Pé de Breque”). Outros destaques ficam por conta de “Casa de Papelão” e “Pegue Pra Ela”. O projeto conta com as participações especiais de Tulipa Ruiz e Juçara Marçal em “Cartão de Visita” e “Fio de Prumo”, respectivamente.

* A cantora e compositora baiana Sylvia Patricia tenciona gravar CD e DVD ao vivo para comemorar os vinte e cinco anos de sua carreira fonográfica. O repertório, além de logicamente contemplar músicas já gravadas pela cantora em seus seis álbuns, incluirá composições inéditas.

* “Leminskanções” é o título do CD duplo que o grupo Estrelinski e os Paulera estão lançando com o objetivo de jogar novas luzes sobre a obra musical do aclamado poeta Paulo Leminski. Capitaneado por Estrela Leminski e Téo Ruiz, o projeto traz, no primeiro CD, canções compostas somente pelo homenageado, algumas delas conhecidas nas vozes de Caetano Veloso (“Verdura”), Zizi Possi (“Filho de Santa Maria”) e do lendário grupo A Cor do Som (“Mudança de Estação”). Já o segundo CD abre espaço para parcerias feitas com nomes como Moraes Moreira (“Transformar”), Itamar Assumpção (“Dor Elegante”), Zé Miguel Wisnik (“Sinais de Haicais”) e Alice Ruiz (“Nóis Fumo”). Há as participações especiais de Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Zélia Duncan, Ná Ozzetti, Serena Assumpção e Bernardo Bravo. Uma amostra bastante aconselhável que se torna obrigatória para toda e qualquer cedeteca que se preze!

* A caixa “Ultraje a Rigor 30 Anos” chega ao mercado embalando reedições dos cinco primeiros álbuns da banda, lançados entre 1985 e 1993 pela gravadora Warner Music. As reedições são aditivadas com dezessete faixas-bônus extraídas de singles, discos promocionais, coletâneas e projetos especiais.

* O volume 2 da trilha sonora da telenovela global “Boogie Oogie” já chegou às lojas. Enquanto o primeiro só trazia canções internacionais, este se faz preenchido primordialmente por temas nacionais que se tornaram sucessos na década de setenta do século passado, época em que se passa a trama. Entre os fonogramas selecionados estão “Barato Total” (com Gal Costa), “Acabou Chorare” (com os Novos Baianos), “Coisas da Vida” (com Rita Lee), “Deusa do Amor” (com Pepeu Gomes) e “A Noite Vai Chegar” (com Lady Zu).

* Registrado durante apresentação realizada em maio do ano passado no Imperator, no Rio de Janeiro, o novo projeto musical de Mart’nália, ”Em Samba! – Ao Vivo”, chegou ao mercado nos formatos CD e DVD através da gravadora Biscoito Fino. É mais um título que registra a alegria e o charme inatos da filha mais famosa de Martinho da Vila (que, aliás, assinou a direção do show e também aparece como convidado), cantora talhada para o palco. Trata-se de uma reunião de sambas conhecidos, a exemplo de “Peço a Deus”, “Coração em Desalinho”, “Quem te Viu, Quem te Vê”, “Pra Que Chorar” e “Feitiço da Vila”. Há homenagens explícitas a Emílio Santiago (em “Saigon”) e Dona Ivone Lara (no medley que reúne três composições da nossa dama do samba) e o rapper Emicida participa de “Chiclete com Banana” e “Quero Ver Quarta-Feira”. Alguns dos melhores momentos ficam por conta das releituras bastante originais para “Casa Um da Vila” (em que Mart’nália, assumida e moleca, muda o último verso do delicioso samba de Monsueto), “Um Dia Desses” (parceria de pegada latina entre João Donato e Carlinhos Brown) e “Avião” (interessante e menos conhecido samba de Djavan). Ao final, surgem duas faixas bônus gravadas em estúdio: o inédito samba-canção “Sinto lhe Dizer” (mais um presente de Moska) e a apropriada regravação suingante de “Tem Juízo, Mas Não Usa” (de Lula Queiroga e Pedro Luís, com este dividindo os vocais). Uma dessas duas canções, aliás, deverá entrar na trilha de “Babilônia”, a próxima telenovela global das 21 horas.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Estúdio Aperipê”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 11 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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