Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: JOYCE MORENO
CD: “RAIZ”
Gravadora: FAR OUT RECORDINGS

Foi em 1968 que a cantora e compositora Joyce (que há alguns anos vem adotando o nome artístico Joyce Moreno) se lançou no mercado fonográfico nacional (o que a fez completar, no ano passado, cinquenta anos de vitoriosa trajetória musical). Mas foi somente com o estouro nacional da canção “Clareana” (uma homenagem que ela fez às suas duas primeiras filhas), uma das finalistas do Festival MPB 80 realizado pela Rede Globo, que ela veio a ser conhecida de norte a sul do país.
Intérprete de timbre claro e super afinada, ela é uma profícua autora, seja assinando sozinha suas criações, seja as dividindo com outros parceiros, além de se mostrar uma exímia violonista.
Com uma carreira paralela desenvolvida no exterior, ela lançou recentemente o CD intitulado “Raiz”, desta feita com um repertório somente de regravações de músicas alheias. O projeto foi concebido sob encomenda para o mercado japonês, mas está sendo editado também na Europa e, em breve, chegará ao Brasil.
Gravado com o acompanhamento do pianista Hélio Alves, do baixista Rodolfo Stroeter e do baterista Tutty Moreno (o marido da artista), o disco tem como mote a eterna bossa nova, tanto que há a inclusão de dois dos temas mais conhecidos desse movimento que projetou mundialmente a nossa música: “O Barquinho” (de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli) e “Desafinado” (de Tom Jobim e Newton Mendonça, em versão que traz “Aquarela do Brasil”, de Tom Jobim, como citação).
Inteligentemente, Joyce não pretendeu reinventar a roda, até porque não era esse o propósito. Se nos anos noventa, sua música estourou nas pistas de dança da Europa (principalmente Inglaterra, desencadeando um boom da música brasileira no exterior, algo vagamente batizado de "new bossa" ou "drum'n'bossa"), o momento agora é de sedimentar o espaço alcançado com trabalhos que venham a mostrar a versatilidade dos nossos músicos e a pluralidade do nosso cancioneiro. Daí a presença da instrumental “Tamba” (de Luiz Eça), iluminada pelos apropriados vocalises de Joyce.
Entre as canções selecionadas para esse álbum produzido por ela ao lado do japonês Kazuo Yoshida e gravado em estúdio carioca estão deste algumas pouco conhecidas pelo público em geral, tais como “Meu Pião” (de Zé do Norte), “Cartão de Visita” (de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes) e “Canto de Yansan” (de Baden Powell e Ildasio Tavares) até outras que já se tornaram antológicas, a exemplo de “O Morro Não Tem Vez” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), “Copacabana” (de João de Barro e Alberto Ribeiro) e “Na Baixa do Sapateiro” (de Ary Barroso).
Roberto Menescal (compositor e músico carioca responsável por levar Joyce pela primeira vez a um estúdio de gravação) se fez presente ao violão, como convidado especial, em dois momentos: na já citada “O Barquinho” e na bonita “Nós e o Mar” (outra parceria dele com Bôscoli).
O set list se completa com um medley que reúne “Vestido de Bolero” e “Requebre que Eu Dou um Doce” (ambas de Dorival Caymmi), além de duas canções compostas por artistas que são caros ao universo musical de Joyce: “Céu e Mar” (de Johnny Alf) e “Tristeza de Nós Dois” (de Durval Ferreira, Maurício Einhorn e Bebeto Castilho).
Trata-se, enfim, de um CD muito bem concebido e arranjado, o qual vem se juntar à interessante discografia da talentosa Joyce Moreno que, incansável, já anuncia para muito em breve o lançamento de outro trabalho, o qual foi gravado nos Estados Unidos e se faz centrado em sua voz e no piano do músico norte-americano Kenny Werner.

N O V I D A D E S

* A cantora e compositora Lisa Ono, que está completando vinte e cinco anos de carreira, nasceu em São Paulo, mas foi criada no Japão desde a infância. Dona de voz doce, ela está lançando, sob a competente produção de Mario Adnet, o CD intitulado “Brasil”, o qual chegou recentemente ao mercado através da gravadora Deck e marca sua volta ao mercado fonográfico nacional, após considerável período dedicado à música internacional. Composto por doze faixas, todas regravações de temas bastante conhecidos que foram originalmente lançados na década de sessenta do século passado, Lisa (que é considerada a embaixatriz da música brasileira no Japão) conseguiu realizar um disco bem bacana, daqueles que a gente ouve e sente falta quando acaba.  O tratamento sonoro conta com a maciça presença de apropriados vocais a cargo dos irmãos Adnet (além do já citado Mario, estão lá Chico e Antonia) e com a experiência de músicos de ponta, a exemplo de Marcos Nimrichter (no piano), Jorge Helder (no baixo), Rafael Barata (na bateria), Eduardo Neves (na flauta) e Everson Moraes (no trombone). Entre peças atemporais de Jorge Ben Jor (“Mas Que Nada” e “Chove Chuva”), Edu Lobo (“Upa Neguinho” e “Reza”, parcerias com Gianfrancesco Guarnieri e Rui Guerra, respectivamente) e Gilberto Gil (“Roda”, composta com João Augusto), há bons registros para “Tim Dom Dom” (do sergipano João Mello e Codó), “Lapinha” (de Baden Powell e Paulo César Pinheiro) e “Sá Marina” (de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar).

* A baiana Daniela Mercury estará lançando este ano um novo CD. Intitulado provisoriamente de “Cheia de Graça”, terá parte do repertório basicamente autoral.

* Estreia hoje “Sete Vidas”, a nova telenovela global das dezoito horas, e sua trilha sonora já começa a se delinear: Mônica Salmaso far-se-á presente com a regravação de "Na Primeira Manhã" (um dos mais bonitos temas criados por Alceu Valença) e Moska revisitou, especialmente para a produção, a inspirada "Terra" (de Caetano Veloso). Confirmadas também versões feitas por Alessandra Maestrini para "Love Is a Losing Game" (do repertório de Amy Winehouse) e por Tiago Iorc para "What a Wonderful World". “Ritmo Perfeito” na voz de Anitta e “Eu Não Merecia Isso” com Luan Santana são dois outros fonogramas confirmados.

* Chegará às lojas em breve o segundo CD da cantora e compositora Nanda Garcia, o qual levará a assinatura do baixista Arthur Maia na produção. O disco contará com as participações especiais de Zeca Baleiro (em “Cebola Cortada”, de Petrúcio Maia e Clodo) e de Dudu Nobre (em “Riscando o Chão”, samba de Márcio Proença e Jorge Simas).

* O tenor Jean William lançou recentemente o CD duplo “Dois Atos” através da gravadora Dabliú. Enquanto o CD 1 foi gravado em estúdio e traz nove faixas (com destaque para “Estrelinha”, de Nelson Ayres e Edgard Poças, “Hymme a L’amour”, de Marguerite Monnot e Edith Piaf, e “Poema dos Olhos da Amada”, de Paulo Soledade e Vinicius de Moraes), o CD 2 contempla sete faixas e é fruto de registro ao vivo feito durante apresentação realizada na Sinagoga Shalom (e traz, entre outras, árias de Gaetano Donizetti e Giuseppe Verdi, além da releitura de “Melodia Sentimental”, de Heitor Villa-Lobos e Dora Vasconcelos). Com a produção e a direção musical a cargo de Edgard Poças e Ney Marques, o projeto mostra um intérprete de voz poderosa e timbre bonito e peculiar. Além das efetivas participações da Orquestra Filarmônica Bachiana Sesi – SP e do Coral Luther King, surgem diversos convidados especiais, a exemplo das cantoras Fafá de Belém (em “Noche de Ronda”, de Maria Tereza Lara), Mônica Salmaso, Céu e Paula Morelenbaum (na “Suíte dos Pescadores”, medley que reúne nove canções praieiras de Dorival Caymmi). A ficha técnica atesta a presença de exímios instrumentistas, tais como Zeca Assumpção e Rodolfo Stroeter (contrabaixo), Webster Santos e Marco Pereira (violões) e André Mehmari (piano).

* Pai e filho se unem para lançar um disco de inéditas que deve dar o que falar. É, Moraes Moreira e Davi Moraes estarão pondo em breve no mercado o CD “Nossa Parceria” que vai registrar a afinidade musical entre os dois.

* Ainda que tenha sido lançado em 2012, vale a pena trazer a lume o CD “Fragmentos”, o segundo da carreira do cantor e compositor Zeca Costa, um andarilho que, em 1992, começou a tocar em bares na cidade de Belo Horizonte (MG). Três anos depois, já em Campina Grande (PB), passou a trabalhar na noite, apresentando-se em vários locais da cidade. Depois de participar, nos anos seguintes, de festivais de música onde se viu sempre bem classificado e de ter, em 1998, gravado a composição "Pequeno Mapa do Tempo", no CD "Cancioneiro Geral", no qual vários artistas interpretaram músicas de Belchior, o artista foi trabalhar com Oswaldo Montenegro como instrumentista até que, em 2002, estreou no mercado fonográfico com o álbum “Boas Novas”. Uma década se passou para que saísse o trabalho seguinte, mas este se mostrou, de fato, uma agradável surpresa. Composto por uma dúzia de faixas autorais, o disco traz a assinatura do experiente Perinho Santana na produção musical e nos arranjos. Intérprete correto, Zeca é um autor talentoso que bebe em diversas fontes da nossa MPB (há nítidas e salutares influências de Djavan e Caetano Veloso, por exemplo, em sua obra). Embora o samba predomine no repertório (entre eles: “A Doce Vida”, “Geral” e o delicioso “Sotaque no Pé”), há momentos mais tranquilos, como é o caso da faixa-título e da bonita “Espelho Meu”, e outros de constatável inteligente construção melódica, a exemplo de “Fio Fino” e do reggae “Doces”. O projeto conta com as bem-vindas participações especiais de Vander Lee (na bela balada “Doido”) e de Geraldo Azevedo (na nordestina “Amarelo com Marrom”), o que comprova que Zeca Costa trilha o caminho certo (e merecido) ao encontro de um reconhecimento maior. Vale a pena conhecer!

* O primeiro álbum da Dônica será lançado em abril pela gravadora Sony Music e já se faz cercado de grande expectativa muito pela anunciada participação especial de Milton Nascimento já que o som do Clube da Esquina é uma das principais influências do pop progressivo da banda.

* Bastante aguardado, o terceiro CD do cantor e compositor carioca Edu Krieger será lançado este ano e virá recheado de canções inéditas no repertório. Quem viver, ouvirá!

* O cantor e compositor João Bosco é o nome principal da próxima edição do Projeto MPB Petrobrás a se realizar, em apresentação voz e violão, hoje e amanhã (dias 9 e 10 de março), no nosso Teatro Tobias Barreto, sempre a partir das 21 horas. Na abertura, o público sergipano poderá conferir o trabalho da banda local Samba de Moça Só. A gente se encontra por lá com certeza!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Estúdio Aperipê”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 11 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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