R E S E N H A
Cantora: ANDREIA DIAS
CD: “PRISIONEIRA DO AMOR”
Gravadora: JOIA MODERNA
Com a enxurrada de novas cantoras que assola a música popular brasileira de uns anos para cá, torna-se de fato tarefa hercúlea para um ouvinte comum identificá-las de imediato. É que as formas de cantar são parecidas posto que suas vozes pequenas geralmente aderem ao estilo cool de interpretação, os repertórios se concentram nas criações dos amiguinhos da hora e as sonoridades dos álbuns refletem a busca de um almejado ar de novidade, ficando, no entanto, condenadas a uma junção entre teclados setentistas e programações que pululam aos borbotões.
Uma das salutares exceções fica por conta da cantora e compositora paulista Andreia Dias que se mostra à frente de suas colegas muito pela assumida postura que vem emprestando à sua trajetória. Ousada, já aos dezessete anos ela fugiu de casa porque seus pais, evangélicos, teimavam em não permitir que ela frequentasse shows de rock.
Formada em canto popular pela Universidade Livre de Música Tom Jobim, ela fez parte da primeira formação do grupo Farofa Carioca e foi também uma das fundadoras da banda Dona Zica, juntamente com Iara Rennó e Anelis Assumpção, e ainda integrou a Banda Glória. Em carreira solo há alguns anos, Andreia chega agora ao seu quarto CD com o recente lançamento de “Prisioneira do Amor” que aporta no mercado através da gravadora Joia Moderna.
Trata-se de um projeto que se concentra no cancioneiro da primeira fase da carreira individual de Rita Lee (que havia estourado pouco antes ao integrar o lendário grupo Mutantes), o que se deu no começo da década de setenta do século passado. Com a direção artística de Marcus Preto e sob a produção musical de Tim Bernardes (o líder do grupo paulistano O Terno, o qual executou todos os instrumentos), o CD foi gerado dentro de um “universo roqueiro erudito psicodélico” e se faz composto por dez faixas, não necessariamente recolhidas entre temas autorais da homenageada.
Estrategicamente aberto com “Viagem ao Fundo de Mim” (de Rita Lee) em que várias pulsações se alternam no esperto arranjo, conferindo coerência à letra lisérgica, o disco traz, pela primeira vez, os versos originais de “Beija-me, Amor” (de Arnaldo Baptista e Élcio Decário) que não constam de sua gravação de 1970 por ordem da censura, e o registro oficial de “Bad Trip” (de Rita Lee), canção gravada por ela em 1973 para o seu primeiro LP pós-Mutantes, mas que terminou sido abortado pela gravadora Philips (uma curiosidade: essa música teve sua primeira parte reaproveitada em 1980, transformando-se na bela “Shangri-lá”, parceria com Roberto de Carvalho).
E se o único hit constante do repertório apresentado, “Ovelha Negra” (de Rita Lee) surge em desconcertante versão que a traz para o modo menor, “Precisamos de Irmãos” (de Élcio Decário) reflete as inquietudes de um período específico da história em que a guerra fria era polarizada entre russos e americanos e Caetano Veloso fazia a cabeça da juventude. Já “Superfície do Planeta” (de Arnaldo Baptista) esbanja viagem imaginária e a faixa-título (de Élcio Decário) comprova que, de há muito, os nossos ídolos flertam com o brega.
Entre os melhores momentos apresentados estão a soturna “Tempo Nublado” (de Rita Lee e Élcio Decário), a esquecida “Glória ao Rei dos Confins do Além” (de Paulo César de Castro) e a delicada “Modinha” (de Rita Lee).
Mais um bom passo na ainda curta mas coerente discografia de Andreia Dias, um nome a ser observado com mais atenção dentre as tantas intérpretes nacionais da atualidade!
N O V I D A D E S
* O cantor, compositor e escritor Luís Capucho nasceu em Cachoeiro de Itapemirim (ES), mas desde a adolescência reside em Niterói (RJ). Participante da mesma safra de artistas em que surgiram Pedro Luís e Arícia Mess, ele foi incluído, pela imprensa dos anos noventa, em um movimento que ficou conhecido como “Retropicalismo”. Com canções gravadas por Rita Peixoto, Daúde, Eleonora Falcone, Suely Mesquita, Clara Sandroni e Cássia Eller, Capucho vê agora a chance de disseminar sua obra para zonas mais abrangentes com a promessa de Ney Matogrosso em incluir algumas de suas criações no seu próximo disco. Enquanto isso não se concretiza, o artista lançou recentemente, de maneira independente, o seu quarto CD (o sucessor de “Lua Singela”, de 2003, “Cinema Íris”, de 2012, e “Antigo”, de 2013). Intitulado “Poema Maldito” e produzido pelo músico Felipe Castro, o álbum se faz composto por onze faixas autorais, cinco delas feitas com colaboradores. São canções apresentadas em estado praticamente cru, basicamente no formato voz e violão com intervenções sonoras adicionais em alguns momentos feitas por baixo, guitarra e piano. Capucho interpreta suas canções com a propriedade de quem as pôs no mundo, mas é fato que elas poderão crescer com o acréscimo de novas nuances através de outras vozes. Não são músicas fáceis de serem assimiladas em um primeiro momento, requerendo maior atenção do ouvinte médio para se ater a melodias pouco convencionais e captar o real sentido de versos muitas vezes chocantes. Entre os melhores momentos do repertório estão as faixas “Soneto” (parceria com Marcelo Diniz), “Formigueiro”, “Meu Bem” e “Cavalos”.
* A cantora e compositora Tulipa Ruiz tem pronto o seu terceiro e aguardado CD, o qual chegará às lojas em maio próximo e trará a participação especial do paraense Felipe Cordeiro na faixa “Virou”. Sob a produção de Gustavo Ruiz, seu irmão, a artista gravou o novo álbum com patrocínio obtido no programa Natura Musical. João Donato e o grupo paulistano Metá Metá também surgirão como convidados.
* O EP “Fafá, Frevo e Folia – Coração Pernambucano” que foi lançado em edição física em circuito restrito durante o Carnaval de 2013 ganhou recentemente edição digital via iTunes. Com produção de Zé da Flauta e direção musical de Bráulio Araújo, o EP ganha uma faixa adicional, além das cinco músicas originais: trata-se de “Beija-Flor Apaixonado” (tema de Alceu Valença, que surge como convidado especial).
* Roberto Carlos vai realizar show com repertório em espanhol no estúdio Abbey Road, em Londres, o qual, devidamente registrado, se transformará em CD e DVD que, muito embora sejam prioritariamente direcionados para o mercado latino de língua hispânica, também chegarão às lojas brasileiras no segundo semestre deste ano.
* A trilha sonora da telenovela global “Babilônia”, que estreia logo mais às 21 horas, vai trazer, entre os seus fonogramas, canções interpretadas por Mart’nália, Maria Bethânia, Daniel Chaudon, Zizi Possi e Ana Carolina, entre outros.
* O cantor e compositor pernambucano Lenine atualmente se encontra à frente dos trabalhos de pré-produção de seu próximo CD, o qual, sob o título de “Carbono”, chegará às lojas ainda este ano. Enquanto isso, ele regravou a canção “Fé Cega, Faca Amolada” (de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) para integrar a trilha sonora do filme “Meus Dois Amores”, dirigido por Luiz Henrique Rios.
* Um dos nomes mais cultuados do atual cenário independente nacional, o tecladista Donatinho, filho do pianista e compositor João Donato, está lançando “Zambê”, o seu primeiro CD solo, o qual chega ao mercado através da gravadora Pimba e sob a produção de Alex Moreira. Embora jovem, ele já possui um tempo considerável de estrada, vez que começou sua carreira artística aos dezesseis anos, como integrante da banda do pai. Com atuação relevante em discos e shows da cena contemporânea brasileira, em especial da carioca, Donatinho realizou um álbum esperto, demonstrando personalidade e carisma. O eclético repertório de dez faixas autorais se abre a parcerias em todos os seus momentos e o artista investe descaradamente na mistura da música regional brasileira com as programações eletrônicas. Ritmos como samba, choro, moda de viola, coco, ponto de candomblé, batuque indígena e carimbó são reprocessados com batidas de house, electro, trip-hop, hip hop e dub e, ao final, resultam em um todo homogêneo. O projeto conta com várias participações especiais, a exemplo de Márcio Montarroyos, Akira Presidente, Luka, Davi Moraes e Plinio Profeta. Como Donatinho não é cantor, ele arregimenta um interessante time de intérpretes para dar voz às suas criações, caso de Rita Benneditto (em “Janaína”), Dona Onete (em “Dança dos Urubus”), Totonho Cabra (em “Ladrão de Alma”), Maria Joana (em “Ladeira do Samba”) e Tamy (em “Discurso Independente”).
* O rapper paulistano Emicida já se encontra em estúdio gravando as canções que estarão em “Ubuntu”, seu segundo álbum de estúdio, o qual apresentará repertório inédito e autoral.
* Enfim, estará chegando às lojas, no início do próximo mês, o primeiro e aguardado CD da cantora paranaense Simone Mazzer. Trata-se do álbum intitulado “Férias em Videotape”, o qual reúne um repertório que une canções pouco conhecidas (a exemplo de “Tango do Mal”, de Luciano Salvador Bahia, e “Dei um Beijo na Boca do Medo”, de Bernardo Pellegrini) a outras já bastante executadas (caso de “Camisa Listada”, de Assis Valente, e “Back to Black”, de Amy Winehouse e Mark Ronson). Há ainda interessantes regravações de “Babalu” (de Margarita Lecuona), “Mente, Mente” (de Robson Borba) e “Parece que Bebe” (de Itamar Assumpção). Elza Soares surge como convidada especial na faixa “Essa Mulher” (outra do londrinense Bernardo Pellegrini).
* O poeta, escritor e médico Marcelo Ribeiro fará hoje (dia 16 de março) o lançamento do CD intitulado “Fina Flor” através do qual apresenta ao público sergipano parcerias com Sérgio Botto. Será a partir das 19 horas, no restaurante Expresso, situado à Avenida Tancredo Neves, entrada leste do Conjunto Inácio Barbosa (quase em frente à nova Cimavel). Imperdível!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Estúdio Aperipê”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 11 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br