Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: JORGE MAUTNER
Box: “ANOS 80 – ZONA FANTASMA”
Selo: DISCOBERTAS

Há um time de artistas na nossa MPB que são conhecidos como “malditos”. Entre eles, se inclui Jorge Mautner (cantor, compositor, escritor, violinista, pianista, bandolinista, cineasta e artista plástico), nome que sempre transitou com facilidade entre alguns dos medalhões do nosso cancioneiro como Gilberto Gil e Caetano Veloso (com quem, aliás, dividiu o disco “Eu Não Peço Desculpa” em 2002), mas que, por motivos inexplicáveis, nunca caiu nas graças do grande público.
Ainda na ativa (ele vem gravando álbuns com regularidade), Mautner acaba de ver três dos títulos de sua discografia, os lançados durante a década de oitenta do século passado, devidamente remasterizados e repostos no mercado através de um box intitulado “Anos 80 – Zona Fantasma”. Completa o pacote, uma iniciativa do selo carioca Discobertas, capitaneado pelo incansável Marcelo Fróes, o inédito registro ao vivo do show-manifesto “O Poeta e o Esfomeado”, o qual foi realizado por Mautner ao lado de Gil e do percussionista Repolho em março de 1987 no Palácio das Convenções do Anhembi (SP).
É este indubitavelmente o maior chamariz para o recém-lançado pacote, muito pelo fato de eternizar o encontro histórico de dois artistas em suas fases áureas criativas. Dividindo-se nos solos das canções e por vezes juntos nas intervenções sonoras, Mautner e Gil apresentaram um repertório que contemplou, entre outras canções, “Positivismo” (de Noel Rosa e Orestes Barbosa), “O Teu Olhar” (de Ismael Silva) e “Você me Chamou de Nego” (de Gasolina), além das autorais “Vampiro”, “O Filho Predileto de Xangô” e “Maracatu Atômico” (as três de Mautner, a última uma parceria com o saudoso Nelson Jacobina), “Casinha Feliz”, “Mamma” e “Hino da Figa” (estas da lavra de Gil). Há ainda a versão de rara parceria entre os dois, a inspirada “O Rouxinol”.
Dos três discos gravados em estúdio, o mais palatável é “Bomba de Estrelas”, originalmente lançado em 1981 pela gravadora Warner que, à época, tentava fazer com que o trabalho de Mautner se tornasse mais radiofônico. O projeto audacioso contou com as participações dos já citados Gil e Caetano (este dividindo os vocais da antenada “Cidadão-Cidadã”, outra parceria de Mautner com Jacobina que se tornou famosa pelos visionários versos finais: “Vivamos em paz / Porque tanto faz gostar de coelho ou de coelha”), além outros nomes que se encontravam no auge da popularidade, caso de Amelinha, Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Robertinho do Recife e Zé Ramalho. É desse trabalho que fazem parte as ótimas “A Força Secreta daquela Alegria”, “Namoro Astral” e “Encantador de Serpentes”.
“Antimaldito” chegou às lojas em 1985 através da gravadora PolyGram e esboçava ideias de um artista preocupado com as coisas que aconteciam ao seu redor, o que pode ser constatado através de faixas como “Cinco Bombas Atômicas”, “Índios Tupy Guarany” e “A Bandeira do meu Partido”. Grandes momentos ficam por conta do blues “Cachorro Louco” e da latina “O Tataraneto do Inseto”.
Já em 1988 foi a vez de Mautner lançar o obscuro “Árvore da Vida”, trabalho dividido (inclusive com crédito na capa) com Nelson Jacobina. Trazia novas versões para os já sucessos “Vampiro”, “Maracatu Atômico” e “Lágrimas Negras” (canções propagadas de norte a sul do Brasil em antológicas gravações feitas por Caetano, Gil e Gal Costa, respectivamente), mas continha também interessantes temas até então inéditos, a exemplo de “Yeshua Bem Joseph”, “Zum-Zum” e “Perspectiva” (esta trazendo os belos e diretos versos: “gosto de quem gosta das coisas sem querer prendê-las”).
Artista que segue sua trajetória sem se amoldar às regras do mercado, o criativo Jorge Mautner tem agora uma ótima (e merecida) oportunidade de ver parte de sua obra conhecida pelas gerações atuais. Vale super a pena fazê-lo!

N O V I D A D E S

* Os mais jovens podem não conhecê-lo, mas o fato é que o cantor e compositor Tito Madi, nascido numa família de músicos, obteve grande sucesso nas décadas de 1950 e 1960 como intérprete de samba-canções e temas ligados à bossa nova. Influenciou vários cantores, de Roberto Carlos a Wilson Simonal, e criou algumas músicas até hoje lembradas por muitos, caso de "Cansei de Ilusões", "Balanço Zona Sul" e "Chove Lá Fora”.  Também nascido numa família de músicos, o pianista e arranjador Gilson Peranzzetta começou a estudar acordeão aos nove anos, decidindo-se, um ano depois, pelo piano. Trabalhou com grandes nomes da nossa música popular, a exemplo de Gonzaguinha, Simone, Gal Costa, Joanna, Edu Lobo e Ivan Lins, com quem atuou também, durante dez anos, como arranjador, diretor e produtor musical. Também compositor, ele já foi gravado, entre outros, por Djavan, Jane Duboc, Joyce, Leila Pinheiro e Nana Caymmi. Juntos, Tito e Peranzzetta lançaram o CD “Quero te dizer que Eu Amo”, o qual chegou às lojas através da gravadora Fina Flor sob a produção de Eliana Fonseca Peranzzetta. Trata-se de um disco delicado, de sonoridade sofisticada (quase camerística) que une as vozes dos dois somente na canção-título, a derradeira das quatorze faixas que compõem o repertório inédito. As demais são interpretadas por Tito que, embora se mostre por vezes meio cansado por conta do peso de seus 85 anos, ainda esboça vigor na maioria das passagens. Peranzzetta assina cinco canções ao lado dos parceiros Paulo César Pinheiro, Nelson Wellington e Regina Werneck. As outras músicas (com exceção de “Amanhecer”, de Chiquito Braga e Ana Maria) são assinadas por Tito, uma solitariamente e sete com os colaboradores Delcio Carvalho, Armando Schiavo, Regina Lúcia, Ronaldo Bastos, Sergio Natureza, William Prado e Lysias Ênio. Ancorados por uma banda que tem feras como Mauro Senise (flauta e sax), João Cortez (percussão) e Paulo Russo (contrabaixo acústico), os artistas realizaram um álbum interessante que trouxe de volta à cena Tito em momento especial de vida e carreira, depois de sofrer um AVC que o tirou dos estúdios e palcos há mais de sete anos (seu último lançamento do cantor “Ilhas Cristais”, em 2001). Alguns dos melhores momentos ficam por conta das faixas “O Vento Atravessou Icaraí”, “Amor de Um Só”, “Momento de Amar”, “Indiferença” e “Flor de Mim”.

* O novo álbum do cantor e compositor carioca Zeca Pagodinho, “Ser Humano’, estará sendo lançado pela gravadora Universal Music no começo do próximo mês. Produzido por Rildo Hora, o CD traz como convidados Juninho Thybau, Pedro Bismark e Pepeu Gomes. O repertório alinha quatorze faixas assinadas, entre outros expoentes do samba, pelos compositores Gabrielzinho do Irajá, Nelson Rufino, Fred Camacho, Dudu Nobre, Marcelinho Moreira, Monarco, Mauro Diniz, Serginho Meriti, Xande de Pilares, Almir Guineto, Arlindo Cruz e Sombrinha. “Nas Asas da Paixão” é parceria póstuma entre Marcos Valle e Luiz Carlos da Vila.

* Em seu novo CD, em breve nas melhores lojas do ramo, Fênix resolveu mergulhar no cancioneiro alheio, deixando de lado, ao menos por enquanto, o lado compositor que ele vinha priorizando em seus trabalhos mais recentes. O quinto álbum do artista, que tem a produção assinada por Jaime Alem e JR Tostoi, se intitula “De Volta ao Começo” e traz, no repertório, canções criadas por Caetano Veloso (“Motriz”), Gilberto Gil (“Língua do P”), Pixinguinha (“Yaô”) e Zeca Baleiro (“Minha Casa”).

* O cantor e compositor Jean Garfunkel ficou conhecido pelas canções criadas em parceria com o irmão Paulo Garfunkel, as quais foram gravadas por intérpretes exigentes como Elis Regina, Zizi Possi e Maria Rita. No entanto, ele agora resolveu investir em carreira solo, o que se consubstancia com o lançamento do CD “13 Pares e um Fado Solitário”, cujo repertório apresenta treze músicas compostas pelo artista com treze parceiros diferentes, além do fado criado solitariamente ao qual se remete o título. A conferir!

* “Tomada” é o título do segundo e aguardado CD de estúdio do cantor e compositor Filipe Catto. Produzido por Kassin, o álbum será lançado no segundo semestre e, além de “Depois de Amanhã”, canção resultante da primeira parceria entre o artista e Moska, o repertório apresentará “Partiu”, música inédita composta por Marina Lima.

* “Tempestade” é o título do novo disco do cantor, compositor e guitarrista Marcio Tucunduva. Após cinco anos do lançamento de "Antimoderno", o artista apresenta seu novo trabalho que leva a assinatura dele próprio na produção ao lado do também guitarrista Marcos Ottaviano. Gravado no Estúdio Eletrofônico, em São Paulo, mixado no Texas (EUA) por Chris Shaw e masterizado em Nashville (EUA) por Joe Palmaccio, o álbum se faz composto por dez faixas autorais, as quais denotam salutares influências musicais de Raul Seixas, Jimi Hendrix, John Lennon e Bob Dylan. Embora possa ser catalogado como um disco de rock, encontram-se, na obra de Tucunduva, vários elementos da música brasileira. O lançamento será no próximo dia 05 de maio, inicialmente somente no formato digital.

* O show realizado por Lulu Santos em outubro do ano passado na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro (RJ), foi registrado e estará chegando ao mercado muito em breve, nos formatos CD e DVD. O projeto “Toca Lulu” é mais um lançamento da gravadora Sony Music. Quem viver, verá e ouvirá!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais