R E S E N H A
Cantor: CARLOS DAFÉ
CD: “BEM-VINDO AO BAILE”
Gravadora: ATRAÇÃO
Nascido no bairro carioca de Vila Isabel em uma família de músicos, o cantor e compositor Carlos Dafé aprendeu com o pai a tocar cavaquinho, bandolim e acordeão para, mais tarde, estudar baixo e piano por iniciativa própria. Na década de sessenta do século passado, começou a trabalhar como cantor em boates no eixo Rio-São Paulo e terminou firmando-se como um dos maiores nomes da soul music brasileira (ao lado de Tim Maia, Cassiano, Hyldon e Gerson King Combo), especialmente após o lançamento do segundo disco "Venha Matar Saudades", em 1978, no qual se fez acompanhado pela Banda Black Rio (o primeiro, “Pra Que Vou Recordar”, saiu em 1977, contendo o sucesso “Pra que Vou Recordar o que Chorei?”).
Após alguns anos longe do mercado fonográfico (o último trabalho saiu em 1997), Dafé volta agora com o CD intitulado “Bem-Vindo ao Baile”, o sétimo título de sua discografia, o qual acaba de chegar às lojas através da gravadora Atração (ainda que efetivamente gravado em 2009), sob a produção de Felipe Pinaud e Marlon Sette.
Trata-se de um álbum que mostra o artista em ótima forma vocal. Dafé abre seu leque de parceiros, compondo com Zeca Baleiro a metalizada “Sigo Só”, faixa em que o maranhense também surge como convidado especial. Outras participações ficam por conta de Marcelo Yuka (presente tanto na vinheta de apresentação que abre o CD como na regravação de “A Cruz”, de Dafé e Tania Mara, música resgatada do primeiro álbum do soulman), do MC Marechal (em “Cantar com o Coração”, de Georgemari Dafé, William Félix, Toninho Lemos e Marechal), de Da Ghama (em “Da Alegria Raiou o Dia”, criada com Mita) e de Toni Garrido (em “Venha Matar Saudades”, esta um dos pontos altos do recém-lançado projeto ao lado do pseudo-afoxé “Ana Foliana”, feita ao lado de Heitorzinho dos Prazeres, e do samba “Dafé”, um presente que ganhou de Jorge Aragão).
E se “Quando o Amor Chegar”, hit do cancioneiro do já citado Hyldon (gravada originalmente com o título de “Novas Emoções”), é revisitada com bastante propriedade, “Escorpião” (parceria com Nelson Motta que constava do repertório do segundo disco) sobressai com sua pegada genuinamente soul, o que o ouvinte também pode facilmente constatar com a audição de “Bem Querer” (composta com Lucio Flávio).
Um CD que chega em muito boa hora e merece ser conhecido. Corra, ouça e divulgue!
N O V I D A D E S
* “Nossa Parceria” é o titulo do CD que une o talento de pai e filho em dez faixas meticulosamente escolhidas. Trata-se do novo projeto de Davi Moraes e Moraes Moreira, o qual chega ao mercado através da gravadora Deck. Moraes já não possui o viço vocal de antigamente e Davi, um excelente músico, não é, de fato, o que se pode chamar de cantor, mas o resultado do projeto soa bastante agradável. A sonoridade praticamente acústica escolhida para permear os arranjos das canções deve ser muito mais resultado dos tempos financeiramente complicados por que estamos todos passando do que por uma opção artística. Mesmo assim, o álbum (produzido pelos dois ao lado de Chico Neves) desce redondinho. Entre duas canções instrumentais (“Chorinho Pra Noé” e “Seu Chico”), os artistas apresentam canções inéditas feitas pelos dois (“Quando Acaba o Carnaval” e a faixa-título), além de temas criados por Moraes solitariamente (“Só Quem Ama Leva Tombo” e “Frevo Capoeira”) e parcerias de Davi com Alvinho Lancellotti (“Coração a Batucar”, lançada originalmente por Maria Rita) e Carlinhos Brown (“Centro da Saudade”, um dos destaques do repertório, a qual tem a colaboração também de Pedro Baby). Outros dos melhores momentos ficam por conta das oportunas regravações de “Bossa e Capoeira” (de Batatinha) e “Bahia Oi Bahia” (de Vicente Paiva e Augusto Mesquita).
* Encontra-se em estúdio a cantora Elza Soares, já gravando as canções que farão parte do seu novo projeto musical: um disco com músicos da cena paulistana. Produzido por Guilherme Kastrup, o álbum contará com as participações de Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos e Romulo Fróes. Deve vir coisa boa por aí!
* Penúltimo CD, lançado por Lô Borges em 2009 (depois dele já saiu, em 2011, o “Horizonte Vertical”), “Harmonia” é um disco que passou batido, mas que, depois de algum tempo, merece ser revisitado com um especial olhar de atenção. Produzido pelo próprio artista ao lado de Barral, é composto por treze faixas (quatro delas instrumentais criadas solitariamente e nove resultantes de parcerias entre Lô e o irmão Márcio Borges). Descrito como popular, erudito, inovador, musical e pessoal, o álbum (que surgiu e foi concebido quando, depois de decretar o fim dos trabalhos de “Bhanda”, seu disco lançado em 2007, ele começou a compor alguns temas musicais que poderiam ser registrados com o auxílio das cordas) é fruto de um desafio que Lô propôs para si mesmo: inserir a orquestração de cordas em canções populares. Entre os melhores momentos estão as faixas “Caminho”, “Cordão de Ouro”, “Onde a Gente Está” e “Tudo de Novo”.
* O terceiro CD de Pélico se intitula “Euforia” e já se encontra disponível para download gratuito no site do artista. O repertório é composto por quatorze faixas, dentre elas “Meu Amigo Zé”, composta em tributo ao cantor e compositor baiano Tom Zé. Há as participações especiais da atriz Letícia Spiller e da cantora Caru Ricardo na canção “Repousar”.
* Há dez anos era posto no mercado, através da gravadora Dabliú, o CD “Canções de Chico Buarque na interpretação de Zé Luiz Mazziotti”. Com a direção musical de Marcus Teixeira, o álbum (que foi totalmente gravado em apenas quatro dias) eternizou o talento desse grande cantor, infelizmente ainda tão pouco conhecido pelo público em geral. Vale a pena pesquisar para conhecer esse primoroso trabalho que conta com a participação especial do próprio Chico na faixa “Cadê Você” (uma parceria dele com João Donato). Com sua bela voz de timbre grave e super bem colocada, Mazziotti foge das escolhas óbvias quanto ao repertório e põe lado a lado pérolas seminais da obra buarquiana (como “Mulher, Vou Dizer Quanto Eu te Amo”, “Ela Desatinou” e “Carolina”) e temas compostos pelo homenageado em sua fase áurea criativa (a exemplo de “As Vitrines”, “Almanaque” e “Estação Derradeira”). Parcerias famosas com Dominguinhos, Tom Jobim e Francis Hime se fizeram presentes com a inclusão de “Tantas Palavras”, “Meninos, Eu Vi” e “Embarcação”, respectivamente.
* Idealizado para celebrar a obra musical de Tim Maia, o show “Nívea Viva Tim Maia” tem unido, no mesmo palco, Ivete Sangalo e Criolo, os quais se alternam em números separados, mas também juntos. Sob a direção musical de Daniel Ganjaman, a cantora baiana e o rapper paulistano desfiam vinte e oito músicas no repertório que destaca, entre outros hits, “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”, “Gostava Tanto de Você”, “Azul da Cor do Mar”, “Primavera”, “Chocolate”, “Não Vou Ficar”, “Coroné Antonio Bento”, “Canário do Reino”, “A Festa de Santo Reis”, “Me Dê Motivo”, “O Descobridor dos Sete Mares” e “Vale Tudo”. Deve rolar um registro ao vivo para futuro lançamento nos formatos CD e DVD. A confirmar!
* O compositor carioca Tibério Gaspar tornou-se conhecido, no meio musical, na década de sessenta do século passado quando compôs, ao lado de Antônio Adolfo, seu parceiro mais constante, diversos sucessos, tais como “BR-3”, “Sá Marina” e “Teletema”, os quais foram propagados nas vozes de famosos, a exemplo de Toni Tornado, Wilson Simonal, Ivete Sangalo e do grupo Kid Abelha. Para mostrar que ainda continua na ativa, tanto cantando quanto compondo, ele lançou no ano passado, de maneira independente, o CD intitulado “Caminhada”, também o título da música que foi finalista do II Festival Internacional da Canção, realizado em 1967 e exibido pela TV Globo. Além dela, compõe o repertório desse álbum (produzido por Alex Moreira sob a direção musical de Júlio Brau) outras onze canções (quatro criadas solitariamente e as demais fruto de parcerias com Nonato Buzar, Aécio Flávio e Guilherme Lamounier, entre outros). Entre temas com influência nordestina (a canção-título e “Coração Maluco”), Tibério mostra registros que bem poderiam ter sido gravados por Roberto Carlos e Tim Maia (“Será que Eu Pus um Grilo na sua Cabeça?” e “Vê se Vê”, respectivamente). E se “Luz na Escuridão” foi composta em homenagem ao filho Victor Marú, em “Dono do Mundo” há a participação especial do já citado Antonio Adolfo nos teclados. Nem mesmo a presença de música menos inspirada (“Sideral”) retira o brilho de um ótimo álbum que soube resgatar “A Voz da América” e ensina que uma canção simples dotada de um bom refrão pode resultar interessante (“Vitória do Bem”). Os melhores momentos do repertório, no entanto, ficam por conta de “Dança Mineira”, “Companheiro” e “O Melhor Amigo”.
* Onze músicos admiradores do swing da era das big-bands formam a Orquestra Atlântica que acaba de lançar o primeiro e homônimo CD instrumental. Composto por onze faixas, o álbum de sonoridade jazzística chega ao mercado de maneira independente. O repertório alinha temas autorais (como “Chico”, de Danilo Sinna, “Passeio Público”, de Jessé Sadoc, e “Passo Ponto”, de Jorge Helder) com regravações de músicas conhecidas (a exemplo de “Rio”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, “Nós”, de Johnny Alf, e “Preciso Aprender a Ser Só”, de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle). Vale a pena conferir!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
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