Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: SEU JORGE
CD: “MÚSICAS PARA CHURRASCO II”
Gravadora: UNIVERSAL

Nascido em um bairro pobre (Gogó da Ema, em Belfort Roxo, no Rio de Janeiro), o cantor, compositor e também ator Seu Jorge, para ajudar nas despesas da casa, começou a trabalhar com dez anos em uma borracharia, antes de também laborar como contínuo, marceneiro e descascador de batatas em um bar. Em seguida, serviu ao Exército Brasileiro onde fez curso de corneteiro, mas não se adaptou à vida militar já que o verdadeiro desejo era se tornar músico de verdade.
Frequentador, desde a adolescência, de rodas de samba e de bailes funks, o caminho natural era o de se profissionalizar cantando na noite, sonho que foi adiado por conta de uma chacina que vitimou um de seus irmãos e o fez virar um sem-teto durante três anos. Mas como quem tem talento sempre aparece, bastou que o saudoso clarinetista Paulo Moura o convidasse para participar de um musical de teatro para que a carreira artística começasse a deslanchar.
Seu Jorge (que, para quem não sabe, é sobrinho de Jovelina Pérola Negra, primo do sambista Dudu Nobre e ganhou o vistoso apelido do amigo Marcelo Yuka) entrou no mercado fonográfico ao integrar a banda Farofa Carioca, que lançou em 1998 o elogiado primeiro CD (“Moro no Brasil”), o qual trazia uma mistura dos ritmos negros de várias partes do mundo como samba, reggae, jongo, funk e rap.
A carreira solo, entretanto, só teve início três depois com a gravação do álbum “Samba Esporte Fino” e foi aí que a crítica começou, de fato, a lhe dar a devida atenção. De lá para cá, paralelamente a uma bem sucedida carreira de ator (ele participou de filmes de sucesso, tais como “Cidade de Deus”, “The Life Aquatic” e “Tropa de Elite 2”), ele vem lançando discos com regularidade e frequentando as paradas de sucesso com assiduidade.
Em 2011, Seu Jorge pôs no mercado o primeiro dos volumes de um projeto intitulado “Músicas para Churrasco” com o qual pretendia se aproximar de uma camada mais popular de público (ele estava achando que se tornara um artista cult e não era esse definitivamente o seu interesse), ainda que, antes, ele já tivesse alcançado grande receptividade em todas as classes consumidoras de música com as canções “Burguesinha”, “Amiga da Minha Mulher”, “É Isso Aí”, “Mina do Condomínio” e “São Gonça”.
O resultado foi positivo e as vendas o credenciaram para o lançamento de um volume II, o qual acaba de aportar nas lojas através da gravadora Universal. Produzido pelo artista ao lado do experiente Mario Caldato Jr., o CD é composto por dez faixas inéditas e autorais, todas assinadas com parceiros já cativos, a exemplo de Gabriel Moura, Rogê e Pretinho da Serrinha. A miscelânea sonora continua presente, embora as células do samba sejam a mola propulsora do trabalho ao lado de um característico suingue funkeado. Seu Jorge – é fato – já  se faz dono de um estilo próprio e, sem querer reinventar a roda, conseguiu concretizar um produto de fácil assimilação (tanto a nível melódico quanto de letras) sem baixar a qualidade inerente ao conceito inicial.
Dono de bela voz grave, ele sabe cair no suingue como poucos. No entanto, quando a canção pede, ele também mergulha em mares mais suaves, saindo-se igualmente com destreza (é o que se pode constatar através da audição da balada “Tá em Tempo”, candidata inata a entrar em alguma futura trilha sonora de produção global). E até se arrisca alterando o seu timbre vocal natural, alcançando novas e bem-vindas possibilidades em falsete (em “Papo Reto”).
Poucas são as músicas apresentadas que não registram um tipo marcante das comunidades cariocas (“Felicidade” e “Everybody Let’s Go”). Nas demais, personagens do dia-a-dia servem de mote para o desenvolvimento dos temas, seja a menina que muda de humor facilmente (“Ela É Bipolar”), o namorado que sabe que a amada não prima pela beleza (“Mina Feia”) ou o trabalhador que realiza bem as suas tarefas (“Motoboy”). Há também a presença de um tradicional voyeur (“Babydoll) e a apresentação de críticas bem-humoradas, seja ao vício relacionado com celular (“Na Verdade Não Tá”), seja aos tipos exóticos de depilação feminina (“Faixa de Contorno”).
Várias das canções possuem grandes possibilidades radiofônicas e a verdade é que Seu Jorge continua inspirado, marcando com inteligência e musicalidade o seu espaço no cenário da nossa música popular atual. Um CD bem legal que vale a pena ser conhecido!

N O V I D A D E S

* No verão de 2010, a cantora e compositora Joyce (agora artisticamente Joyce Moreno) realizou um show de final-de-tarde na praia de Ipanema (RJ), munida tão somente de seu violão. Daí, nasceu a ideia de gravar um álbum naquele formato com as canções ali apresentadas que eternizassem o amor da artista pela terra carioca. Gravado durante apenas dois dias no ano seguinte, só recentemente chegou às lojas, aqui no Brasil, a tempo de comemorar os 450 anos do Rio (o produto já havia sido lançado anteriormente no mercado europeu), através da gravadora Biscoito Fino, o CD intitulado “Rio de Janeiro” (ou apenas “Rio”, como alternadamente consta de algumas partes do encarte). Quinze canções compõem o repertório do disco que soa arejado e plural. Há desde pouco conhecido trecho da “Sinfonia do Rio de Janeiro” (a faixa “O Mar”, de Tom Jobim e Billy Blanco) até o hino informal mundialmente cantarolado (“Cidade Maravilhosa”, de André Filho). Joyce inseriu também três canções autorais (sua primeira criação, feita aos quatorze anos, “Rio Meu”, uma composta em meados de sua carreira, “Tardes Cariocas”, e outra feita mais recentemente, a inédita “Puro Ouro”). Com sua voz super afinada de timbre claro e bonito, ela resgata ainda, entre outras músicas, “Adeus, América” (de Haroldo Barbosa e Geraldo Jaques), “Vela no Breu” (de Paulinho da Viola e Sergio Natureza), “Valsa de uma Cidade” (de Ismael Netto e Antônio Maria) e “Samba do Carioca” (de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes).

* A roqueira Pitty está lançando, através da gravadora Deck, o DVD intitulado “Pela Fresta” que vem a ser uma espécie de documentário sobre a gravação de seu mais recente CD (“Sete Vidas, lançado no ano passado). A maior parte das filmagens foi feita pela própria artista sob a direção de Otávio Souza. Há também entrevistas com a cantora, com os músicos de sua banda e com Rafael Ramos, o produtor do CD. Produto aconselhável para fãs!

* Uma nova versão do lendário musical “Rosa de Ouro” vai estrear na próxima terça-feira, dia 12, às 19 horas, no Teatro Ginástico, no Rio de Janeiro. Desta feita, o espetáculo será protagonizado pelas cantoras Áurea Martins e Mariana Baltar e pelo grupo Samba de Fato (formado por Alfredo Del-Penho, Pedro Miranda, Paulino Dias e Pedro Amorim). Realmente imperdível para quem estiver em terras cariocas!

* Durante a turnê do show que vêm realizando já há alguns meses pelo Brasil, o maranhense Zeca Baleiro e a carioca Zélia Duncan compuseram juntos algumas novas canções. E por conta disso pensam seriamente em gravar um disco de estúdio com essas músicas inéditas. Esse fato, contudo, não vai inviabilizar o registro audiovisual do show que será feito em breve e que resultará na edição de um DVD, o qual chegará às lojas até o final do ano.

* Aos quase noventa anos, o cantor José Tobias está gravando um CD sob a produção de Altay Veloso e Paulo César Feital. O álbum, que deverá ser lançado ainda este ano, conta com as participações de músicos de ponta, tais como Hélio Delmiro (violão), Arthur Maia (baixo) e João Carlos Coutinho (piano), entre outros. As cantoras Ninah Jo, Sáloa Farah e Telma Tavares são as responsáveis pelos coros e alguns vocais. Certamente virá coisa muito boa por aí!

* O novo CD do cantor português António Zambujo acaba de ser lançado, aqui no Brasil, em edição do selo MP,B Discos com distribuição da gravadora Som Livre. Intitulado “Rua da Emenda”, contém quinze faixas, dentre as quais as nacionais “Último Desejo” (de Noel Rosa) e “Valsa Lisérgica” (de Rodrigo Maranhão e Pedro Luís). Antenado, Zambujo já anuncia que em seu próximo álbum, ainda a ser gravado, ele mergulhará no cancioneiro de Chico Buarque. O homenageado deverá se fazer presente em participação especial.

* Com texto de apresentação escrito por Zeca Baleiro e a participação especial de Elba Ramalho na faixa “Dominguinhos, Dez Dedos de Ouro”, chegou recentemente às lojas o novo CD da cantora e compositora Anastácia. Trata-se de “Ave de Arribação – 60 Anos de Forró e MPB”, álbum que surge para comemorar a vitoriosa trajetória da artista que conseguiu emplacar pelo menos três memoráveis parcerias com Dominguinhos entre as pérolas do nosso cancioneiro: “Eu Só Quero um Xodó”, “Tenho Sede” e “Contrato de Separação”, temas que já foram gravados por Gilberto Gil, Nana Caymmi e Zizi Possi, entre outros. Composto por dezenove faixas, o novo disco mostra que Anastácia se encontra em ótima forma vocal e revela boas parcerias dela com Liane (“Não Quer Saber de Mim”, “Amor na Fogueira” e “Olhar de Criança” estão entre elas). Músicas menos conhecidas compostas com o já citado Dominguinhos também constam do repertório, caso da canção-título, de “Redenção” e de “Se Meus Olhos Falassem”.

* O segundo álbum de estúdio do rapper paulistano Emicida está sendo gravado em pelo menos três trincheiras: São Paulo, Luanda (Angola) e Praia (Cabo Verde). A cantora Vanessa da Mata surgirá como a convidada da faixa “Passarinhos”, integrante desse novo e aguardado álbum que tem como previsão inicial de lançamento o próximo mês de junho. Quem viver, ouvirá!

* O duo sergipano (de São Cristóvão) The Baggios (formado por Julio Andrade na guitarra e voz e Gabriel Carvalho na bateria) tem se destacado nacionalmente por condimentar uma azeitada mistura de ritmos como o blues, o rock sessentista e o garage rock. Na estrada há dez anos, os rapazes estarão lançando oficialmente o CD e DVD “Dez Anos Depois” em show a ser realizado na próxima quarta-feira, dia 13 de maio, a partir das 21 horas, no Teatro Tobias Barreto. O evento contará com as participações de Vinicius Bigjohn (na sanfona), Júlio Rego (na gaita), André Lima (no trompete) e Mario Augusto (no saxofone). A gente se vê por lá!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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