Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: VIRGÍNIA RODRIGUES
CD: “MAMA KALUNGA”
Gravadora: CASA DE FULÔ PRODUÇÕES

Descoberta em 1997 por Caetano Veloso durante um ensaio do Bando de Teatro Olodum, em Salvador (BA), a cantora Virgínia Rodrigues começou cantando em coros de igrejas católicas e protestantes. De origem humilde, ela, que trabalhou como manicure, traz, no seu canto intenso e sentido, referências populares e líricas de tudo o que ouviu na infância e juventude.
O CD de estreia (“Sol Negro”) saiu naquele mesmo ano e de lá para cá, embora nunca tenha conseguido se transformar em uma campeã de vendagens, Virginia vem gravando discos e realizando turnês dentro e fora do Brasil com relativa frequência, consolidando, desta forma, o seu nome junto aos formadores de opinião.
Seu mais novo CD, lançado há poucos dias e que vem quebrar um jejum de sete anos sem gravar, se intitula “Mama Kalunga” e chega ao mercado através da Casa de Fulô Produções. O álbum, cuja sonoridade acústica se ancora em cordas de violões e de violoncelo e em tambores, se faz composto por treze faixas (cinco delas são músicas inéditas assinadas por Tiganá Santana, compositor e violonista baiano em franca ascensão no mercado, o qual assina a produção do disco ao lado do percussionista Sebastian Notini – dentre essas, destacam-se a faixa-título e “Dembwa”) nas quais a voz grave e extensa de Virginia mergulha com profundidade em sua raiz africana, chegando a entoar algumas canções em dialetos como o kimbundu.
A capella, a cantora abre os trabalhos em grande estilo com “Ao Senhor do Fogo Azul” (de Gilson Nascimento) e, momentos depois, se mostra capaz de trazer sem esforço para o seu universo sambas de estilo díspar como “Nos Horizontes do Mundo” (de Paulinho da Viola) e “Vá Cuidar de sua Vida” (de Geraldo Filme), dois dos destaques do repertório que traz a lume também a ótima “Luandê” (afoxé de Ederaldo Gentil). Nada, contudo, que supere a beleza melódica e poética de “Teus Olhos em Mim” (desde já uma obra-prima de Roberto Mendes e Nizaldo Costa).
E se no medley que reúne dois temas de domínio público (“Cântico Tradicional Afrocubano” e “Belén Cochambre”) Virginia recebe como convidada a cantora peruana Susana Baca, em “Sou Eu” (de Moacir Santos e Nei Lopes) a participação especial fica por conta do já citado Tiganá.
É verdade que se trata de um CD com poucas chances radiofônicas em tempos nos quais lamentavelmente reinam os produtos descartáveis, mas também é inquestionável a alta qualidade do mesmo. Indicadíssimo, portanto, para quem prima pelo bom gosto musical!

N O V I D A D E S

* A curitibana Renata Melão, graduada em Música pela Faculdade de Artes do Paraná, tem as artes presentes em sua vida desde criança. Depois de integrar vários grupos, ela investe agora na carreira solo, pondo nas lojas o seu primeiro CD. Trata-se de “Canção Enquanto Caminho”, distribuído pela Tratore, o qual se faz composto por onze faixas, a maioria delas regravações. Dona de linda voz de timbre suave, Renata se mostra uma intérprete pronta e daquelas que sabe escolher um repertório com competência. Esperta, incluiu no roteiro apenas uma canção de sua autoria (“Alto Mar”, parceria com Tiago Portella), preferindo mergulhar em canções alheias. As escolhas inteligentes, porém pouco óbvias, são um dos pontos altos do álbum. Outro reside nos belos arranjos que emolduram as canções, servindo de suporte para que a emoção de cada uma delas seja ressaltada. Entre músicas dos conhecidíssimos Caetano Veloso (“Minha Voz, Minha Vida”), Dona Ivone Lara (“Nasci pra Sonhar e Cantar”, parceria com Délcio Carvalho) e Paulinho da Viola (“Recomeçar”, feita com Elton Medeiros), Renata pinçou pérolas de Ceumar (“Reinvento”, criada com Estrela Leminski), Godofredo Guedes (“Cantar”) e Consuelo de Paula (“Sete Trovas”, composta com Rubens Nogueira e Etel Frota), transformando estas três nos melhores momentos desse feliz álbum de estreia. Corra e ouça!

* “Guelã”, o terceiro CD de estúdio de Maria Gadú, alinhará dez músicas em um repertório basicamente inédito e autoral (a exceção é “Trovoa”, de Maurício Pereira). Com a produção assinada pela própria artista ao lado de Federico Pupi, estará sendo lançado no começo de junho em edição do selo Slap distribuída pela gravadora Som Livre. Vamos ver o que a tão cultuada artista trará de novo para apresentar aos seus milhares de fãs!

* O CD “Massagueira”, o terceiro e mais recente CD do Fino Coletivo (formado por Adriano Siri, Alvinho Cabral, Alvinho Lancellotti, Daniel Medeiros e Rodrigo Scofield), embora efetivamente lançado no ano passado, serve para comemorar os dez anos de vida do grupo, os quais estão sendo completados este ano. Menos eletrônico que os discos anteriores, o álbum, produzido por eles próprios e composto por dez faixas autorais, desce redondinho. O título remete ao nome de uma vila de pescadores situada a poucos quilômetros de Maceió (AL) e é com esse sentimento de tranquilidade que, entre pitadas nordestinas e uma base carioca, o grupo condimenta a sonoridade do trabalho. A balada “Tudo Fica Lindo”, o samba “Iracema” e a ciranda-afoxé “Porvir” são os destaques do repertório que alcança o seu melhor momento, no entanto, com a bela e suave “Nós”, canção que conta, nos vocais, com a participação especial de Luana Carvalho.

* O cantor e compositor pernambucano Silvério Pessoa está lançando mais um álbum em que reverencia o cancioneiro de Jackson do Pandeiro, doze anos após abordar a obra carnavalesca do artista em “Batidas Urbanas – Micróbio do Frevo”. Trata-se de “Cabeça Feita”, título que condensa vinte e quatro músicas distribuídas em quinze faixas e que traz um delicioso repertório, abrangendo ritmos como coco, xote e xaxado sem deixar de cair no samba.

* “Liberdade Aparente” é o titulo do segundo disco do cantor e compositor Márcio Lugó. Produzido por ele próprio ao lado do guitarrista Rafa Moraes, o álbum se faz composto por dez faixas autorais, duas delas criadas com parceiros. Lugó canta bem legal e se faz cercado por músicos que estão em alta no cenário brasileiro, tais como Curumin (na bateria), Fernando Nunes (no baixo), Da Lua (na percussão), Érico Theobaldo (na bateria e programações) e Clayton Gama (no acordeão). Está presente também, no baixo da faixa “Você É”, o nosso Beto Vasconcelos. A sonoridade é pop contemporânea e os melhores momentos ficam por conta das faixas “Tsunami”, “Promessas”, “Pra Durar” e “Inverte e Roda”.  É um nome a se prestar atenção!

* A cantora Duda Brack, uma gaúcha de 21 anos, ora radicada na cidade do Rio de Janeiro, está lançando “É”, o seu primeiro CD, o qual se faz disponibilizado, por enquanto, somente em plataformas digitais. Produzido por Bruno Giorgi, o álbum apresenta uma cantora segura, de timbre forte, que tem tudo para se firmar como uma das grandes revelações do ano pela sua postura visceral, mas nunca exagerada. O repertório de apenas oito faixas traz temas assinados, entre outros, por Dani Black, Tais Feijão, Paulo Monarco, Elio Camalle e Celso Viáfora. Vale a pena ir atrás para conhecer!

* Já se encontra nas lojas, através da gravadora Universal Music, “Ser Humano”, o novo CD de Zeca Pagodinho. São quatorze sambas produzidos pelo experiente Rildo Hora que empresta sua tradicional gaita para a faixa de abertura (“Amor pela Metade”, de Dunga e Gabrielzinho do Irajá) e ousa adicionar belas cordas em algumas passagens. Zeca está cantando muito bem e escolheu o repertório do recém-lançado álbum entre temas criados pelos melhores sambistas da atualidade, a exemplo de Nelson Rufino, Fred Camacho, Marcelinho Moreira, Monarco, Mauro Diniz, Serginho Meriti, Xande de Pilares, Arlindo Cruz, Sombrinha e Almir Guineto. Há as participações especiais de Juninho Thybau (voz em “Tempo de Menino”), do ator Pedro Bismarck, incorporando o seu famoso tipo Nerso da Capitinga (em “Mané, Rala Peito”) e de Pepeu Gomes (guitarra em “A Monalisa”). Não é um dos melhores títulos da já vasta discografia do artista, mas traz como destaque “Nas Asas da Paixão”, inédita canção do saudoso Luiz Carlos da Vila composta em parceria com Marcos Valle. Outros bons momentos ficam por conta de “Foi Embora”, “Mangas e Panos”, “Samba na Cozinha” e “Boca de Banzé”.

* O Coletivo Samba Noir é um grupo carioca formado pela cantora e compositora Katia B, pelo violonista Luís Filipe de Lima, pelo percussionista Marcos Suzano e pelo instrumentista Guilherme Gê. O homônimo primeiro álbum dessa galera acaba de chegar ao mercado de forma independente e traz uma sonoridade que busca fundir sons acústicos e eletrônicos. O repertório alinha compositores vários, tais como Ary Barroso, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa, Tito Madi e Wilson Baptista. Há as participações especiais de Egberto Gismonti ao piano em “Risque”, de Carlos Malta nos sopros de “Pra Que Mentir?”, de Arto Lindsay na guitarra de “Meu Mundo É Hoje” e de Jards Macalé nos vocais de “Volta”.

* E esta semana será repleta de boas alternativas musicais aqui em Aracaju: na terça-feira, dia 26, vai rolar mais uma edição do Projeto MPB Petrobrás, desta feita com o cantor e compositor baiano Luiz Caldas. A banda sergipana NaurÊa vai ser a responsável pelo show de abertura. Na quinta-feira, dia 28, será a vez de o Quinteto Violado homenagear Dominguinhos em apresentação que, decerto, será bastante concorrida. E no dia seguinte, sexta-feira, dia 29, o nosso Lula Ribeiro receberá Zeca Baleiro em um encontro imperdível. Todas essas apresentações se darão a partir das 21 horas no Teatro Tobias Barreto. Em tempo: e também na sexta, a partir das 23 horas, no Maori Bar, a cantora Sandyalê, talento da terra, estará se apresentando num show muito bacana, recheado de participações especiais. Vambora conferir tudinho?

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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