Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: LENINE
CD: “CARBONO”
Gravadora: UNIVERSAL MUSIC

O pernambucano Lenine se mudou para o Rio de Janeiro aos dezoito anos e em 1982 lançou o primeiro disco, "Baque Solto", em parceria com Lula Queiroga. Por uma década inteira ele batalhou, sem grandes êxitos, para mostrar a sua música ao grande público, mas o caminho não se fez, de início, muito fácil. Foi com o elogiado CD “Olho de Peixe”, feito ao lado do percussionista Marcos Suzano em 1993, que ele, devagarzinho, viu chegando o almejado reconhecimento, ainda que tal efetivamente só viesse a acontecer quatro anos depois quando, já contratado por uma grande gravadora, ele lançou o álbum “O Dia em que Faremos Contato", o qual veio a ser o seu primeiro trabalho solo. Nele, já se faziam presentes as digitais de um estilo único que vem se ratificando com o passar dos anos: a música de Lenine é pop, sim, mas num salutar sentido que mistura elementos tradicionais nordestinos e do samba com ritmos e células eletrônicas. Basicamente percussiva, ela muitas vezes soa seca com o inimitável violão tocando com precisão e conduzindo, sagaz, os inusitados caminhos melódicos.
Tendo sua obra aclamada por grandes nomes da nossa MPB, a exemplo de Maria Bethânia, Simone, Ney Matogrosso, Zizi Possi e Elba Ramalho, os quais já registraram algumas de suas músicas, o cantor e compositor de Recife acaba de lançar mais um ótimo disco. Trata-se de “Carbono”, o qual chegou ao mercado através da gravadora Universal Music.
Produzido por ele próprio ao lado de Bruno Giorgi (um de seus filhos) e JR Tostoi, o CD se faz composto por onze faixas inéditas e autorais, dentre elas a instrumental “Undo”. Sozinho, Lenine assina apenas “Quem Leva a Vida Sou Eu”, momento inspirado que vai à contramão explicita de conhecido samba propagado por Zeca Pagodinho. As demais canções são resultado de parcerias do artista com os frequentes colaboradores Carlos Rennó, Dudu Falcão e Lula Queiroga, além dos novatos Carlos Posada, Vinicius Calderoni e Marco Polo, além de João Cavalcanti (outro filho) e do pessoal do grupo Nação Zumbi. Com essa galera, aliás, Lenine apresenta o ponto mais alto do álbum, a já antológica “Cupim de Ferro”.
Temas os mais diversos são abordados. Se em “Quede Água?” é expressa a preocupação de que a seca não é mais ‘privilégio’ dos nordestinos e resulta da ‘desrazão’ dos seres, em “Simples Assim” se prega o quão desnecessárias se fazem a vaidade e a complicação humanas, ambas tão em voga nos tempos atuais. Já em “O Impossível Vem pra Ficar” faz-se usada a metáfora do ciclo de uma gota para expressar que a possibilidade de tudo acontecer é sempre uma constante.
Destacam-se também, em meio a um repertório coeso e muito bem alinhavado, a possível autobiográfica “Castanho”, a profunda “A Causa e o Pó”, a pulsante “Grafite Diamante” e a suave “O Universo na Cabeça do Alfinete” (esta contando com a presença das cordas e dos sopros holandeses da Martin Fondse Orchestra). Há que se ressaltar ainda “À Meia Noite dos Tambores Silenciosos”, faixa gravada no palco do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), com a participação da Orkestra Rumpilezz, regida pelo maestro Letieres Leite.
“Carbono” é, portanto, um CD acima da média que se credencia como um dos melhores da carreira de Lenine e que, por todas as suas qualidades, deve e merece ser conhecido por todos. Palmas merecidas para o Leão do Norte!

N O V I D A D E S

* Dessa enxurrada de novas cantoras que povoam o cenário indie nacional, talvez a que mais tenha dado certo até agora seja mesmo Tulipa Ruiz. É indiscutível que a paulistana conquistou um público fiel, o qual lota as suas apresentações e canta com ela a maioria das músicas. Dona de voz potente e afinada, Tulipa é adepta de certos floreios vocais que puxam a nota final para o agudo, meio que lembrando Tetê Espíndola (o que, se usado em excesso, pode cansar o ouvinte). Depois de um CD de estreia muito bem recebido e de um álbum seguinte que veio sedimentar seu nome junto aos formadores de opinião, chegou recentemente às lojas o seu terceiro disco. Trata-se de “Dancê”, mais uma vez produzido pelo irmão guitarrista Gustavo Ruiz e que se faz composto por onze faixas inéditas. A artista assina solitariamente apenas “Old Boy” (único momento suave do set list apresentado). As demais foram criadas em parceria com o mano, algumas contando com colaboradores eventuais. Recheado de metais, o que lhe confere uma sonoridade dançante (justificando o título), o recém-lançado projeto mostra uma autora que escreve sobre temas aparentemente banais, mas que fazem parte do cotidiano de todos, caso da necessidade de se encarar (em “Prumo”), da vontade de se desligar do mundo através do sono (em “Elixir”) e da inexplicável atração carnal por outro ser (em “Físico”). Tulipa chega até a incorporar uma cartomante que diz resolver todos os problemas (em “Reclame”). Sempre convivendo com o dilema da balança em sua vida pessoal, Tulipa compôs e interessante “Proporcional”, um dos melhores momentos do repertório. Outros destaques ficam por conta da roqueira “Jogo do Contente” e da meso filosófica “Expirou” (que conta com a intervenção de Lanny Gordon na guitarra). Há as participações especiais de João Donato em “Tafetá” (canção que bebe descaradamente no suingue latino típico do convidado), de Felipe Cordeiro em “Virou” (melodia calcada nos ritmos paraenses da moda) e do grupo Metá Metá, capitaneado pela vocalista Juçara Marçal em “Algo Maior” (tema denso que chega a destoar dos demais).

* Embora já efetivamente gravado, o CD em que a cantora carioca Leila Maria mergulha de cabeça no repertório de Billie Holiday ainda não foi lançado por questões judiciais, mas tais pendengas estão prestes a ser resolvidas, o que fará com que, em breve, o disco chegue ao mercado através da gravadora Biscoito Fino.

* Depois de uma década sem lançar um trabalho inédito, o cantor e ator Fábio Jr. está pondo no mercado, através da gravadora Sony Music, um novo e homônimo CD, o qual se faz composto por dez faixas autorais, seis delas feitas em parceria com o tecladista Dudu Borges que assina a produção do álbum ao lado de Silvera. Na deliciosa canção de abertura, “Amém Amor”, o artista assume de forma bem-humorada sua fama de pegador, mas os melhores momentos ficam por conta de “Com Você minha Vida É Muito Mais Legal” (que, se incluída em trilha de novela, certamente se transformará em hit imediato) e “Sempre que Estamos Juntos” (trazendo a participação especial de sua filha mais velha, a atriz Cléo Pires). A derradeira faixa é a suave e bonita “Chega”, momento em que Fábio também assume o violão.

* A banda pernambucana Eddie está lançando o sexto álbum de inéditas, já disponível para download gratuito no site oficial do grupo. “Morte e Vida” foi gravado em Olinda (PE) e traz onze faixas, dez delas criadas solitariamente por Fábio Trummer (a exceção é “Olho Você”, parceria dele com Erasto Vasconcelos e os irmãos Kiko e Rob Meira). A cantora Karina Buhr surge como convidada especial na faixa “Longe de Chegar”.

* “Carlos Malta & Pife Muderno” é o título do CD duplo que o famoso instrumentista está lançando através do selo Delira Música. Gravado ao vivo na China, o projeto registra o show feito em setembro de 2011 na Cidade Proibida, em Pequim, e celebra as duas décadas de existência do grupo carioca, as quais foram completadas no ano passado. Do repertório constam releituras bastante interessantes para conhecidas canções que frequentam os repertórios de Caetano Veloso, Edu Lobo, Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, tais como “Pipoca Moderna”, “Ponteio”, “Chiclete com Banana” e “Qui nem Jiló”, respectivamente.

* O registro ao vivo do show de voz e violão “No Osso” se transformará no próximo CD da cantora e compositora Marina Lima. Quem viver ouvirá!

* De uns anos para cá, a cantora baiana Margareth Menezes vem demonstrando, através de seus mais recentes trabalhos, uma vontade férrea de ver seu nome desvencilhado da aprisionante categoria de cantora de axé. Embora tenha sido ela uma das desbravadoras do gênero, deseja agora abrir espaços e o vem fazendo de forma segura e consequente. Diferentemente de suas duas maiores concorrentes (Daniela Mercury – que insiste em misturar as batidas percussivas com programações eletrônicas – e de Ivete Sangalo – que optou por abraçar um repertório mais rasteiro, o que lhe garante, com folga, ser a mais requisitada para shows), Margareth quer se firmar também na seara da MPB. Carisma e voz ela possui de sobra. Dona de belo timbre grave, afinada e antenada, acaba de lançar, nos formatos CD e DVD (este com nove números adicionais, dentre os quais “Esotérico”, “Reconvexo”, “Expresso 2222” e “Alguém Cantando”), o projeto “Para Gil & Caetano”. Trata-se de uma parceria entre o Canal Brasil e a gravadora Coqueiro Verde Records, o qual, dirigido musicalmente por ela própria ao lado do violonista Alexandre Leão, conta com as participações especiais dos dois homenageados (Gilberto Gil e Caetano Veloso), além dos filhos Preta Gil, Bem Gil e Moreno Veloso e dos conterrâneos Rosa Passos e Saulo Fernandes. Gravado durante apresentação realizada em maio do ano passada na casa Vivo Rio (RJ), o CD já se abre com uma arrebatadora versão em blues de “Como 2 e 2” e segue trazendo admiráveis releituras de, por exemplo, “Deixar Você”, “Buda Nagô”, “Clichê do Clichê”, “Um Índio” e “O Quereres”. Maga, como é conhecida no meio, se mostra à vontade e a sonoridade escolhida (praticamente acústica com a presença tão somente de violão, guitarra, ukulele e percussão) foi perfeita para ressaltar o alcance vocal dessa grande artista que conseguiu realizar um dos pontos altos de sua vitoriosa trajetória. Corra e ouça!

* O cantor Zé Guilherme vai quebrar um jejum de nove anos. Ele está gravando, para ser lançado em breve, um novo CD, desta feita uma homenagem ao cantor Orlando Silva (que completaria cem anos agora em 2015). Produzido por Cezinha Oliveira, o álbum intitulado “Abre a Janela” será composto por dezoito músicas, dentre as quais “Alegria” (de Assis Valente e Durval Maia), “A Jardineira” (de Benedito Lacerda e Humberto Porto), “Curare” (de Alberto Simões e Bororó) e “Faixa de Cetim” (de Ary Barroso). A conferir!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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