R E S E N H A
Artistas: NÁ OZZETTI e ZÉ MIGUEL WISNIK
CD: “NÁ E ZÉ”
Selo: CIRCUS PRODUÇÕES
Foi ao integrar o lendário grupo Rumo, no final da década de setenta do século passado, que a cantora Ná Ozzetti viu sua vida se entrelaçar de vez com a música. Formada em artes plásticas, ela, que nasceu em uma família de músicos, atirou-se na carreira solo ao lançar, em 1988, o seu primeiro disco, que, na época, foi muito bem recebido pela crítica especializada. Identificada com a “vanguarda paulista”, Ná já homenageou, em trabalhos conceituais, Rita Lee e Carmen Miranda, e vem lançando álbuns com regularidade, os quais consolidam sua posição privilegiada entre as grandes intérpretes da MPB atual, posto que, além de possuir bela voz, super afinada e límpida, sabe aliar (como poucas) técnica e emoção.
Em 1985 (há exatos trinta anos, portanto), Ná cantou pela primeira vez uma música de Zé Miguel Wisnik (“Louvar”, parceria com o poeta e compositor mineiro Cacaso), o que ocorreu no casamento dele com Laura Vinci. Esse encontro musical renovou-se em vários momentos ao longo dos últimos anos e atinge o ápice agora com o lançamento do CD “Ná e Zé”, recém-chegado às lojas através do selo Circus Produções.
Zé, por seu turno, estudou piano clássico e, aos dezoito anos, apresentou-se como solista da Orquestra Municipal de São Paulo. Começou a escrever suas primeiras canções no fim da década de sesseta ao entrar no Curso de Letras da USP. Em seguida, fez mestrado e doutorado em teoria literária. No início da década de noventa, mergulhou de vez na música, passando a ter, nos anos seguintes, canções gravadas por vários artistas, entre eles Edson Cordeiro, Gal Costa, Maria Bethânia, Vânia Bastos e Zizi Possi.
O recém-lançado CD é um primor! Produzido com destreza por Marcio Arantes, reúne, em quatorze faixas, quinze canções compostas por Zé com os parceiros Paulo Leminski, Paulo Neves, Marina Wisnik e Alice Ruiz. E, além de assinar solitariamente quatro músicas, ele ainda põe melodia em poemas escritos por Fernando Pessoa, Oswald de Andrade e Cacaso.
Já no medley de abertura (que reúne “Gardênias e Hortências” e “Subir Mais”), fica claro que a sonoridade do trabalho busca certa modernidade, a qual, salutarmente, vem ressaltar várias passagens melódicas. É esta, inclusive, uma das três faixas em que se ouve Zé no vocal solo (ele brilha mesmo é à frente do piano e do órgão). Nas demais, cabe a Ná o papel principal e ela o desempenha com maestria. Dominando o seu instrumento, a voz, ela a empresta às mais diversas emoções que vão desde o desassossego impregnado em “Sim, Sei Bem” até a dúvida que permeia “Sinal de Batom”, passando pela solidão interior em “Miragem” e pela adoração à vida em “Som e Fúria”. E se há lugar para a inédita “A Noite”, também existe espaço para reunir inspiradas tiradas leminskianas em “Sinais de Haikais”.
Irrepreensível, Ná alcança com naturalidade notas altíssimas em “Alegre Cigarra”, um dos grandes momentos do repertório. Outro ponto alto é “Noturno do Mangue”, cujos sopros foram arregimentados pelo maestro baiano Letieres Leite e que traz a participação especial de Arnaldo Antunes, apropriado com seu timbre gutural.
Compostas no período que vai de 1978 a 2014, as canções soam como um verdadeiro painel da obra de Zé. Há dois resgates do primeiro CD de Ná, as canções “A Olhos Nus” e “Orfeu”, e estas ganham versões contemporâneas.
A ficha técnica abriga um verdadeiro time de instrumentistas de primeira linha, a exemplo de Guilherme Kastrup e Sérgio Reze (na bateria), Teco Cardoso e Léa Freire (na flauta), Guilherme Held (na guitarra), Swami Jr. (ao violão) e Marcelo Jeneci (no vibrafone).
Outras faixas que, pela beleza inata, merecem destaque são “Momento Zero” (e, nela, especialmente em toda a primeira parte, Ná mostra porque é, de fato, uma cantora fora-de-série), “Tudo Vezes Dois” (pérola daquelas que pegam o ouvinte desde a primeira audição) e a já citada “Louvar” (uma inspirada ode ao que é bom e bendito).
Trata-se, enfim, de um grande álbum a ser degustado com muito prazer pelos amantes do que há melhor na nossa MPB. Ouça e se deleite!
N O V I D A D E S
* Ao surgir integrando o grupo baiano Os Novos Baianos, a cantora Baby Consuelo logo chamou a atenção, primeiro por ser a única integrante feminina e, logo depois, pela performance camaleônica que demonstrava no palco. Quando os membros do grupo resolveram seguir, cada um, o seu caminho próprio, Baby sedimentou rapidamente o seu nome ao gravar discos memoráveis como “Pra Enlouquecer” e “Cósmica”. Na década de oitenta do século passado, ela frequentava com assiduidade as paradas de sucesso. Quem, hoje com mais de quarenta anos, não se recorda de temas como “Menino do Rio” “Sem Pecado e Sem Juízo” e “Um Auê com Você”, por exemplo, os quais receberam imbatíveis registros na voz potente e afinada da versátil intérprete? Depois de dar um tempo considerável na carreira ao enveredar com caminhos religiosos e trocar o nome artístico para Baby do Brasil, ela começou a realizar shows, de alguns anos para cá, ao lado do filho, o guitarrista Pedro Baby, os quais se mostraram muito disputados, inclusive pelas novas gerações. O retorno ao mercado fonográfico se mostrou, então, inevitável e se concretiza agora com o lançamento, em registro ao vivo, do DVD/CD (vendidos juntos numa única embalagem) “Baby Sucessos – A Menina Ainda Dança”, disponibilizado através da gravadora Coqueiro Verde Records. Com voz em perfeita forma e presença cênica que ainda arrebata, Baby se faz acompanhar, sob a direção musical do já citado rebento, por uma banda azeitada que a ajuda a resgatar vários hits, dentre os quais “Telúrica”, “Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira”, “Todo Dia Era Dia de Índio”, “Acabou Chorare” e “Seus Olhos”. Há as participações especiais de Caetano Veloso, Jorginho Gomes e Dadi, três daqueles que sempre estiveram presentes na trajetória musical de Baby. Muito legal, valendo, portanto, super a pena conhecer!
* Sob a produção do seu pai, o baterista Chico Medori, a cantora paulistana Graziela Medori se encontra atualmente formatando o seu segundo CD. Uma das canções já definidas é “Toma Limonada” que conta com a participação especial do cantor carioca Seu Jorge. Outros temas selecionados são de autoria de Lô Borges, Marcos Valle, Raul Seixas, Rita Lee e Thiago Pimentel.
* A cantora paraibana Renata Arruda lançou recentemente o DVD “Marcas e Sinais”, um produto encampado pela Coleção Canal Brasil, através do qual comemora as duas décadas de sua carreira. Acompanhada por banda enxuta, porém competente, e contando com as participações especiais de Sandra de Sá e Nando Cordel, a artista apresenta ao seu público fiel esse interessante registro ao vivo, gravado durante apresentação realizada ano passado na Praia de Tambaú, em João Pessoa (PB). Sob a direção musical do experiente Robertinho do Recife, Renata alterna, no repertório, criações próprias (caso de “Toada do Gira Mundo”, “Vitamina” e “Deixa Eu Voltar”, compostas respectivamente com Paola Torres, Chico César e Lúcia Veríssimo) com releituras de conhecidos temas do nosso cancioneiro, a exemplo de “Espumas ao Vento” (de Accioly Neto), “Hoje Eu Quero Sair Só” (de Lenine, Mu Chebabi e Caxa Aragão) e “Sangue Latino” (de João Ricardo e Paulinho Mendonça). Como bônus, há três clipes e dois números extras.
* “Bonito de se Ver”, o DVD comemorativo dos quarenta anos do grupo baiano Ilê Aiyê se fez recentemente lançado através da gravadora Universal Music. O produto, gravado ao vivo durante show feito na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), em janeiro de 2013, também está sendo editado no formato de CD. Carlinhos Brown, Daniela Mercury e Margareth Menezes surgem como convidados especiais.
* A canção “Angel” da banda inglesa Massive Attack será o tema de abertura de "Verdades Secretas", a nova telenovela da Rede Globo que estreia hoje às 23 horas. Outros nomes confirmados na trilha sonora são os de Gal Costa, Pato Fu, Los Hermanos e The Cure.
* Lô Borges e Samuel Rosa (vocalista do Skank) vão registrar, juntos, show para futura edição de CD e DVD. O repertório trará músicas compostas em parceria, tais como “Dois Rios” e “Horizonte Vertical” (ambas criadas pelos dois com a colaboração de Nando Reis).
* É com uma baita alegria que nos deparamos com a regravação da bela canção “Arrastada” da nossa Patrícia Polayne feita pela cantora Cecília Leite em seu recém-lançado CD intitulado “Enquanto a Chuva Passa”, ora chegando às lojas de maneira independente. Um dos destaques do CD, que foi produzido pelo violoncelista Lui Coimbra (o qual divide os arranjos com Edu Neves, Luís Felipe de Lima, Marcos Suzano e Marcos Nimrichter, músicos que também tocam no disco), a música ganha a voz suave e bem colocada dessa maranhense que tenta alcançar um público maior com este seu segundo álbum. O repertório de doze faixas traz composições assinadas por autores da nova geração (caso de Marcelo Segreto com “Por um Fio” e Bruno Batista com “Maré Cheia” e “Lembranças”) e releituras de temas criados por Pedro Luís (a obra-prima “Noite Severina”, parceria com Lula Queiroga) e Fred Martins (“Tempo Afora”), além de inédita ganhada de Zeca Baleiro (“Tem Dó”, feita com Paulo Monarco). Cecília não se satisfaz apenas em regravar alguns temas, mas empresta seu talento, tingindo-os com novas e bem azeitadas tintas. Oportunamente, são resgatadas músicas menos conhecidas de Chico Buarque e Pixinguinha: “De Todas as Maneiras” (em ritmo de tango) e “Seule” (valsa letrada em francês por Vinicius de Moraes), respectivamente. Cecília ainda mostra o seu lado compositora com a canção-título e revisita as conhecidas “Ainda Mais” (de Eduardo Gudin e Paulinho da Viola) e “Traduzir-se” (de Fagner e Ferreira Gullar), unindo-a a “Palavra Acesa” (de Fernando Filizola e José Chagas). Uma intérprete pronta que merece, de fato, maior visibilidade!
* Roberta Sá se encontra em estúdio carioca pondo voz nas canções que escolheu para compor o seu novo CD, o qual será lançado no segundo semestre. Entre elas, já estão confirmadas composições inéditas de Adriana Calcanhotto e Martinho da Vila, além da releitura do samba “Covardia” (de Ataulfo Alves e Mário Lago), transformada em fado para ganhar a participação do cantor português António Zambujo. Também garantida está “Boca em Boca”, parceria de Roberta com Xande de Pilares.
* Na próxima semana, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro viverá uma noite de gala na qual será homenageada a cantora Maria Bethânia. A baiana está comemorando cinquenta anos de carreira e essa festa lhe é muito justa, pois ela conseguiu se transformar em uma das maiores intérpretes da história da nossa música popular brasileira. Bethânia será também homenageada, no próximo ano, pela escola de samba carioca Mangueira, que escolheu sua trajetória para protagonizar o enredo do Carnaval de 2015. Quem viver verá!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
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