Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: GAL COSTA
CD: “ESTRATOSFÉRICA”
Gravadora: SONY MUSIC

Baiana, a cantora Gal Costa começou a carreira influenciada pelo canto suave de João Gilberto, um dos fundadores da Bossa Nova, estreando no mercado fonográfico, em 1967, com o disco “Domingo”, dividido com o conterrâneo Caetano Veloso. Não demorou muito, contudo, para soltar com força sua voz potente aguda, o que se deu com a adesão ao Tropicalismo. Em seguida, quando Caetano e Gilberto Gil se exilaram para fugir das ameaças que pairavam em nosso Brasil nos anos de chumbo, foi dela a voz roqueira e provocativa que reinou até 1978 quando lançou “Água Viva”, início de um período de apogeu artístico que durou até 1985 com o álbum “Bem Bom”. Daí em diante, Gal meio que se acomodou, vindo a soltar novas baforadas somente em 2005 com o lançamento do polêmico “Hoje”. Já em 2011, guiada por Caetano, ela gravou “Recanto”, um álbum difícil de ser digerido, mas que fez com que novos horizontes lhe fossem abertos.
Passados quatro anos, chega agora às lojas “Estratosférica”, seu novo e aguardado CD, o qual vem sendo aclamado pelos fãs e críticos de plantão. Produzido a quatro mãos por Kassin e Moreno Veloso e sob a direção artística de Marcus Preto, é, de fato, um disco legal, muito pela coragem de Gal em se abrir para um repertório inédito de treze faixas, algumas ótimas, outras razoáveis (completa o set list, como bônus, uma releitura de “Ilusão à Toa”, de Johnny Alf, incluída por fazer parte da trilha sonora da telenovela global “Babilônia”).
Ancorada por uma banda-base formada por Guilherme Monteiro (na guitarra), Pupillo (na bateria), André Lima (no órgão e teclados) e pelo já citado Kassin (no baixo e violão), a artista comprova se encontrar em boa forma vocal (um ouvinte mais atento não vai encontrar a limpidez e a emissão precisa de outros tempos, mas não dá para deixar de constatar que o tempo lhe foi condescendente).
O disco se abre com o rock “Sem Medo Nem Esperança” (parceria do poeta Antonio Cícero com o emergente paraense Arthur Nogueira), uma espécie de carta de intenções, e se fecha com a pueril “Você me Deu” (parceria de Caetano com o filho Zeca Veloso), mas é no miolo que se encontram os melhores momentos. Entre eles estão “Dez Anjos” (improvável, mas interessante parceria de Milton Nascimento com Criolo), “Espelho d’Água” (romântico tema, simples e eficiente, de autoria de Marcelo Camelo e Thiago Camelo) e “Casca” (música de Alberto Continentino e Jonas Sá que surge encorpada por sons sintetizados).
O pernambucano Junio Barreto é o único que conseguiu se fazer duplamente presente: com “Jabitacá” (composta com Lira e Bactéria, possuidora de bela segunda parte melódica) e a canção-título (criada ao lado de Céu e Pupillo, ancorada em regionalismo pop e adornada com um naipe de metais, arranjado pelo saudoso Lincoln Olivetti). Três compositoras conseguiram emplacar suas canções: Thalma de Freitas com “Ecstasy” (parceria com João Donato), Mallu Magalhães com “Quando Você Olha Pra Ela” (que, com ecos de Jorge Ben Jor, fez a quase setentona Gal cantar que vai fugir de casa) e Marisa Monte com o acalanto “Amor se Acalme" (composto com Arnaldo Antunes e Cézar Mendes).
A sonoridade adotada, seca e com pitadas de eletrônica, embora tão em voga entre os indies e descolados, é a responsável por aprisionar algumas músicas que, decerto, voariam mais alto se fossem revestidas por arranjos mais arejados. É o caso da lúbrica “Por Baixo” (de Tom Zé), da caymmiana “Muita Sorte” (de Lincoln Olivetti e Rogê) e da experimental “Aluviar” (de Moreno Veloso e Domenico Lancellotti).
Com um bom produto nas mãos, Gal Costa pode fazer deste um ano especial em sua carreira até porque ainda vai lançar em breve o registro do show no qual mergulha no belo cancioneiro de Lupicínio Rodrigues. Que assim o seja!

N O V I D A D E S

* Filha da cantora e compositora Joyce e uma das fontes inspiradores da famosa canção “Clareana”, Clara Moreno está lançando, através da gravadora Biscoito Fino, mais um CD. Trata-se de uma recriação do primeiro disco de Jorge Ben Jor (á época Jorge Ben), o aclamado “Samba Esquema Novo”, lançado no já distante ano de 1963. Clara rebatizou-o para “Samba Esquema Novo – De Novo” e apresenta interessantes releituras para as doze faixas que compõem o trabalho (onze delas autorais – a exceção é “Tim Dom Dom”, uma parceria do nosso João Mello com Clodonaldo Brito). Talentosa e dona de incontestável carisma, ela assina a produção do álbum ao lado de Luís Paulo Serafim e do trombonista Paulo Malheiros, este também integrante da seleta banda-base, a qual se faz completada por João Cristal (ao piano), Thiago Alves (no baixo acústico) e Paulinho Vicente (na bateria). Temas clássicos como “Mas que Nada”, “Balança Pema”, “Chove Chuva”, “Rosa, Menina Rosa” e “Por Causa de Você, Menina” ganham novas cores nesse bom CD que merece ser conhecido. Em tempo: há as participações especiais de Wilson Simoninha em “Vem Morena” e de Jair Oliveira em “Uála Uálalá”.

* O pianista Gilson Peranzzetta e o saxofonista e flautista Mauro Senise estão lançando o CD “Dois na Rede”, o qual celebra os vinte e cinco anos de parceria e foi gravado ao vivo, em outubro do ano passado, durante show feito pelos dois no Espaço Tom Jobim (RJ). Trata-se de um lançamento da gravadora Fina Flor que traz a sonoridade calcada no jazz em suas doze faixas, algumas autorais. Dentre as regravações estão “Deixa” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes), “Jura Secreta” (de Sueli Costa e Abel Silva) e “Só Louco” (de Dorival Caymmi).

* “Com Todas as Letras” é o título do novo projeto musical da dupla gaúcha Kleiton e Kledir, o qual, já nas lojas através da gravadora Biscoito Fino, reúne, numa única embalagem, DVD e CD. Este, produzido por Christiaan Oyens, apresenta dez canções inéditas compostas pelos dois artistas sobre textos criados por escritores conterrâneos. Estão presentes, entre outros, Caio Fernando Abreu (“Lixo e Purpurina”, faixa que conta com a participação especial de Adriana Calcanhotto), Claudia Tajes (“Felizes para Sempre”), Luís Fernando Veríssimo (“Olho Mágico), Martha Medeiros (“Pingos nos Is”) e Paulo Scott (“Rochas”) em alguns dos destaques do repertório apresentado.  Já o DVD é dirigido e roteirizado por Gustavo Fogaça e registra o processo de criação das músicas.

* O sambista Diogo Nogueira estará lançando ainda este mês, através da gravadora EMI, o seu novo CD. Produzido por Bruno Cardoso e Lelê, o álbum se intitula “Porta-Voz da Alegria” e se faz composto por quinze faixas, as quais foram selecionadas entre canções assinadas por compositores do gênero, tais como Toninho Geraes, Paulinho Rezende, Serginho Meriti, Leandro Lehart, Xande de Pilares, Fred Camacho, Dudu Nobre, Sombrinha e Arlindo Cruz. Há ainda uma inédita parceria entre Jorge Vercillo e Paulo César Feital intitulada “Grão de Areia”.

* Oito anos depois de lançar “Anormal”, o seu CD de estreia, o cantor e compositor carioca Jonas Sá (que emplacou uma canção no novo CD de Gal Costa, conforme se pode ler acima) está pondo no mercado, através da gravadora Coqueiro Verde Records, o segundo álbum. Trata-se de “Blam! Blam!”, o qual se faz composto por quatorze faixas autorais, oito delas criadas solitariamente e as outras seis feitas em parceria com Domenico Lancellotti, Arnaldo Antunes, Rô Tapajós, Stéphane San Juan, Ricardo Dias Gomes, Alberto Continentino e Mariano Marovatto. Com sonoridade repleta de programações eletrônicas em que se destacam diversos barulhinhos, o disco (que foi produzido pelo próprio Jonas, irmão do guitarrista Pedro Sá) mostra um artista inquieto e eclético que passeia por vários temas atuais. Entre os destaques do repertório estão as faixas “Chat Roulette”, “Safo”, “Egoísmo”, “Tua Cor” e “Não É Adeus”.

* O cantor e compositor Qinho está lançando por estes dias o seu terceiro álbum solo. Intitulado “Ímpar”, trata-se de um trabalho com tintas experimentais que foi produzido pelo próprio artista. Ambientado em atmosferas rocker e psicodélica, o disco se reveste com alta dose de beats eletrônicos. Entre as doze faixas, há a inserção de trechos dos livros “Clara dos Anjos” (de Lima Barreto) e “O Livro do Riso e do Esquecimento” (de Milan Kundera) ouvidos na voz de Clara Maria.

* Em seu terceiro CD solo como cantora, a violonista Antonia Adnet mostra um considerável amadurecimento artístico. Integrante de uma família voltada para a música, a artista, dona de bela voz suave e afinada, está perfeitamente à vontade ao lado de seus convidados no recém-lançado álbum “Tem + Boogie Woogie no Samba”, o qual chegou às lojas através da gravadora Biscoito Fino. Produzido por ela ao lado de Mario Adnet, o disco desce redondinho. Composto por doze faixas, onze delas regravações (a exceção é “Astronauta no Asfalto”, feita pelo já citado Mario Adnet ao lado de Chico Adnet), termina alcançando os seus melhores momentos quando as releituras recaem sobre temas menos conhecidos. É o caso das deliciosas “Cadê a Jane?” (de Wilson Batista e Erasmo Silva) e “Joãozinho Boa Pinta” (de Geraldo Jaques e Haroldo Barbosa) em que Antonia divide harmoniosamente os vocais com Pedro Paulo Malta e João Cavalcanti, respectivamente. Mas há outros bons momentos, a exemplo de “Conversa de Samba” (de Denis Brean e Oswaldo Guilherme), “O que É que Tem?” (de Joel de Almeida e Pedro Caetano, que traz a participação de Roberta Sá) e “Bahiana no Harlem” (outra de Denis Brean, agora em parceria com Oswaldo Guilherme, que conta com a intervenção vocal de Pedro Miranda). Os arranjos são o ponto alto do CD, soando leves e arejados ao mesmo tempo em que valorizam o suingue das canções. Super aconselhável para quem gosta de música de real qualidade!

* O cantor e compositor paraense Arthur Nogueira (que ora reside em São Paulo) estará lançando, no começo do próximo mês, o seu segundo CD, o qual chegará ao mercado através da gravadora Joia Moderna. Intitulado “Sem Medo Nem Esperança” (canção criada por ele ao lado de Antonio Cícero e que abre o novo CD de Gal Costa – vide acima), o álbum tem a produção assinada pelo duo paraense Strobo. Já Marcelo Segreto e João Paulo Deogracias são os responsáveis pela coprodução desse projeto que traz Marcus Pretto à frente da direção artística. A conferir!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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