R E S E N H A
Cantor: CHICO CÉSAR
CD: “ESTADO DE POESIA”
Selo: CHITA DISCOS
O cantor e compositor Chico César nasceu em Catolé do Rocha, interior da Paraíba, mudando-se para João Pessoa quando tinha dezesseis anos. Ali, chegou a integrar o grupo Jaguaribe Carne, que fazia música e poesia experimental, até que em 1985 resolveu ir para São Paulo. Na metrópole, trabalhou como jornalista e começou a se apresentar em bares e pequenos teatros. O reconhecimento veio nove anos depois com o estouro da canção “À Primeira Vista” que começou a tocar nas rádios mais antenadas da época antes mesmo do lançamento de seu primeiro CD, “Aos Vivos", o qual, de fato, o apresentou de forma oficial ao público em geral, despertando o interesse de grandes intérpretes que passaram a disputar suas músicas, a exemplo de Daniela Mercury, Elba Ramalho e Zizi Possi.
Depois de sete anos sem lançar disco de inéditas, período em que esteve à frente da Secretaria de Cultura do seu Estado natal, Chico está fazendo chegar ao mercado o ótimo CD “Estado de Poesia”, o nono trabalho de sua vitoriosa trajetória, uma iniciativa de seu próprio selo, o Chita Discos. Composto por quatorze faixas autorais, treze delas inéditas (a exceção é a canção-título, lançada por Maria Bethânia em 2012 no show “Carta de Amor”), o álbum foi produzido pelo artista ao lado do austríaco Michi Ruzitschka e surge revestido por uma sonoridade seca e bonita, resultado do entrosamento de uma banda acima da média que, com Chico à frente e na guitarra, se faz composta por Helinho Medeiros (nos teclados), Oleg Fateev (no acordeão), Xisto Medeiros (no baixo), Gledson Meira (na bateria) e Simone Sou (na percussão).
Aberto com o delicioso xote “Caninana”, de irresistível pegada, um dos melhores momentos do repertório, o CD comprova a criatividade de um compositor prolífico em temas e ritmos. O Nordeste, fonte inesgotável de inspiração, surge em “Caracajus” com seus versos repletos de sensuais sensações e melodia que lembra os tempos áureos de Caetano Veloso. Aliás, esse título remete à ponte imaginária feita por Chico entre Caracas (cidade da Venezuela onde se encontrava quando a compôs) e a nossa Aracaju (onde estava a amada Bárbara Santos). O reggae, sempre presente em seus trabalhos, desta vez tem espaço garantido com “Palavra Mágica” e “Negão” (que fala sobre a existência do racismo velado e traz, como convidado, Lazzo Matumbi). Já o samba de cunho crítico-social, ao estilo Adoniran Barbosa, aparece com “No Sumaré” (gravado em dueto com o cantor Escurinho).
E se “Reis do Agronegócio” (composta com Carlos Rennó) exibe consciência política, trazendo a lume, em seus onze minutos de duração, os males gerados pela ganância dos poderosos do campo, o desejo bem-humorado do estrangeiro menos afortunado em conhecer um Brasil ainda tido como legal é o mote da cabo-verdiana “Miaêro” (que traz a participação especial do exímio Raul de Souza no trombone), outro destaque dessa muito bem-vinda safra de novas canções, ao lado do frevo “Alberto”, uma homenagem ao Pai da Aviação (em registro dividido, nos vocais, com Seu Pereira). Completam o set list a pop “Guru”, o samba-rock “Atravessa-me” e a suingante “Quero Viver” (parceria póstuma com Torquato Neto, poeta piauiense e tropicalista).
Exímio no domínio do jogo das palavras, o artista alcança o ápice nessa seara na já citada “Estado de Poesia”, instante mais suave que termina por se aliar à bonita “Da Taça” e a “Museu”, explicitas amostras da paixão por sua musa inspiradora.
Como cantor, Chico possui um estilo único e se, no começo da carreira, alguns o comparavam a outros, hoje são vários que se lhe são comparáveis. E sem se importar com a dureza do sotaque, ele usa isso, antes, como uma salutar digital e solta a voz sem medo, oitavando quando a música assim o exige, o que mostra ser possuidor de considerável extensão vocal.
Trata-se, portanto, de um disco muito legal que marca o aguardado retorno de Chico César ao mercado fonográfico nacional e que merece ser conhecido e divulgado. Corra, ouça e se deleite!
N O V I D A D E S
* Chegará às lojas ainda este ano o novo CD da cantora e atriz Zezé Motta. Totalmente voltado ao gênero mais popular do país, o álbum se intitulará “O Samba Mandou me Chamar” e será lançado pela gravadora Coqueiro Verde Records.
* “Mineral” é o título do segundo CD da cantora e compositora mineira Raquel Coutinho, o qual chegou recentemente às lojas. Produzido por ela ao lado do percussionista Marcos Suzano e do guitarrista Maurício Negão, o álbum possui uma sonoridade calcada em percussões e programações eletrônicas. Efeitos e distorções são utilizados propositalmente, inclusive na voz da artista, a qual se revela segura nos nove temas dispostos através das dez faixas que compõem o repertório (é que “Sigo Cantando” surge em duas versões, uma delas remix). Majoritariamente autoral, o disco abre espaço para uma canção assinada por Iara Rennó (“Gris”), mas encontra, de fato, os seus melhores momentos com “Me Leva”, “O que Não se Vê” e “A Volta do Vagabundo”. Raquel demonstra saber o que quer, apresentando paisagens sonoras próprias e se propondo, em vários momentos, a misturar texturas sonoras orgânicas e digitais. Vale a pena conhecer!
* Após trinta anos em jejum, o cantor Ronald Valle (ex-integrante do grupo vocal carioca Céu da Boca) volta à cena musical com o lançamento de seu primeiro CD solo. Intitulado “Presente”, o álbum vai apresentar um repertório eminentemente autoral. A conferir!
* Karina Ninni está batalhando a divulgação de “Samba do Bem”, o seu segundo CD, o qual, sob a direção musical do violonista João Poleto (que também assina os arranjos), se faz composto por dez faixas e conta com as participações especiais de Amilson Godoy e Eduardo Gudin (em “Ela Tem”, de Gudin) e de Fabiana Cozza (em “Porta-Bandeira”, do citado Poleto em parceria com Carlinhos Vergueiro e Douglas Germano). Karina canta muito bem e se mostra uma intérprete pronta, merecendo, portanto, ter seu trabalho mais (re)conhecido. Entre os destaques do repertório, encontram-se “Dia de São Nunca” (de Délcio Carvalho e Sergio Fonseca), “Entristecer” (de Celso Viáfora) e “Bola Fora” (de Leandro Dias e Felipe Cordeiro).
* “Ayú” é o título do CD que o grupo paulistano de percussão corporal Barbatuques está gravando em estúdio paulista sob a direção musical de Fernando Barba e Carlos Bauzys. O repertório é inédito e o projeto contará com as participações especiais de Hermeto Pascoal e Naná Vasconcelos.
* Embora recifense, o cantor e compositor Siba sempre demonstrou, em sua obra musical, forte apego às suas origens rurais. Como se sabe, a partir do seu entrosamento com as tradições da Mata Norte, ele iniciou uma história de aprendizado e colaboração com os músicos da região, o que o fez exercitar, ao longo dos anos, os fundamentos da arte da poesia rimada. Grande entusiasta da ciranda e do maracatu, Siba foi integrante durante doze do grupo Mestre Ambrósio até que, em 2002, após sete anos residindo em São Paulo, ele voltou para Pernambuco e formou a “Fuloresta”, grupo composto por músicos tradicionais de Nazaré da Mata, pequena cidade distante 65 km de Recife. Atualmente em carreira solo, o artista acaba de lançar, através da gravadora YB Music, o CD “De Baile Solto”. Produzido por ele próprio, o álbum de faz composto por dez faixas inéditas e autorais, dentre as quais se destacam “A Jarra e a Aranha”, “Quem e Ninguém”, “Meu Balão Vai Voar” e “Gavião”. Kiko Dinucci surge como convidado especial, ao violão, em “O inimigo Dorme”.
* O cantor e compositor Lobão retornará ao mercado fonográfico em breve com o lançamento de um novo CD recheado de canções inéditas e autorais. Intitulado “O Rigor e a Misericórdia”, o álbum leva a assinatura de Tiago Hóspede na produção musical. Deve vir coisa muito boa por aí!
* O roqueiro Léo Jaime foi compositor e intérprete de alguns dos maiores sucessos da década de oitenta do século passado. Com um visual "rockabilly", munido de topete e jaquetas de couro, ele, que atualmente nem trabalhando também como ator e apresentador, fazia a alegria das gurias, tendo colecionado, no rol de seus romances, vários nomes de famosas. Especialmente nos discos lançados entre 1983 e 1989 (“Phodas C”, “Sessão da Tarde”, “Vida Difícil”, “Direto do meu Coração pro seu” e “Avenida das Desilusões”) residem os grandes hits desse talentoso artista que, antes de abraçar a carreira solo, foi integrante do grupo João Penca & Seus Miquinhos Amestrados. E são esses cinco títulos que acabam de voltar ao catálogo devidamente remasterizados, embalados num box intitulado “Nada Mudou”, o qual aportou recentemente no mercado através da gravadora Sony Music. Tanto a geração já hoje cinquentona quanto a galera mais jovem poderão se deleitar com canções bem legais, a exemplo de “Sônia”, “É, Eu Sei”, “A Fórmula do Amor”, “A Vida Não Presta”, “Só”, “Mensagem de Amor”, “Conquistador Barato” e “Sucesso Sexual”. Há as participaçoes especias do Kid Abelha e de Cazuza e o caprichado projeto traz ainda sete faixas-bônus.
* Um CD que vai marcar os setenta anos do nascimento do saudoso Gonzaguinha já está sendo gravado em estúdio carioca para ser lançado ainda este ano. Entre as diversas participações estelares, já estão confirmados os nomes de Alcione, Ana Carolina e Zeca Pagodinho. Quem viver ouvirá!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
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