R E S E N H A

Cantor: ZECA BALEIRO
CD: “CHÃO DE GIZ – ZECA BALEIRO CANTA ZÉ RAMALHO”
Gravadora: SOM LIVRE

No final de 2013, Zeca Baleiro foi convidado para revisitar o cancioneiro de Zé Ramalho para a série "Banco do Brasil Covers”. Ele, o maranhense que sempre admirou a obra do paraibano, aceitou na hora e fez a primeira das apresentações no Vivo Rio, casa de espetáculos do Rio de Janeiro. Depois de algumas paradas em outros palcos, a homenagem aportou, em maio do ano passado, no Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), e foi lá que o mesmo foi gravado ao vivo numa iniciativa do Canal Brasil. Esse registro acaba de chegar ao mercado, nos formatos CD (com quatorze faixas) e DVD (este com sete números adicionais, dentre os quais a seminal “Não Existe Molhado Igual ao Pranto”, parceria de Ramalho com Lula Cortes, a versão feita por Aldir Blanc que se transformou em “Entre a Serpente e a Estrela” e a obra-prima “Bicho de Sete Cabeças”, feita por Ramalho com Geraldo Azevedo e Renato Rocha, em arranjo instrumental).
Zeca é artista polivalente que ataca em muitas áreas (cantor, compositor, produtor, instrumentista, escritor, dono de selo musical) e tem se arriscado em alguns projetos paralelos, geralmente com invejável desenvoltura. Dono de voz grave e bem colocada, ele possui um séquito considerável de fãs que o abraça com carinho em todas as suas aventuras e, aqui, não seria diferente até porque o projeto é, de fato, bem legal.
Embora Zé Ramalho seja um artista que defende muito bem suas próprias criações, tornando-se complexo comparar novas interpretações com as suas gravações originais, Baleiro soube se apropriar delas de forma segura. Sem querer reinventá-las (em muitos momentos, ele até que foi muito fiel), resgatou sob seu viés inclusive temas já indissociáveis às vozes de Amelinha, Elba Ramalho e Fagner (“Frevo Mulher”, “Ave de Prata” e “Eternas Ondas”, respectivamente).
E se “A Dança das Borboletas” (composta com Alceu Valença) ganhou arranjo pesado (fruto do entrosamento da banda Cavalos do Cão, formada por Adriano Maggo nos teclados, acordeão e violão, Fernando Nunes no baixo e violão sete cordas, Kuki Stolarski na bateria, Pedro Cunha nos teclados e samplers, e Tuco Marcondes na guitarra, mandolim, sitar e banjo), “Desejo de Mouro” (unida em medley a “Kamikaze”) surge cantada a capella. Safo, Baleiro sabe pôr a plateia para cantar quando quer e isso acontece de forma praticamente natural em “Táxi Lunar” (composta por Ramalho com os já citados Alceu e Geraldo) e em “Admirável Gado Novo”.
Embora inevitável a inclusão, no roteiro, dos maiores sucessos do homenageado, tais como “Vila do Sossego” e “Avohai”, os melhores momentos do repertório selecionado ficam por conta de “Garoto de Aluguel” (esta também presente em clip constante do DVD), “Beira-Mar”, “A Terceira Lâmina” e “Kriptônia”. O set list encontrou espaço ainda para “O Rei do Rock”, a primeira parceria entre Ramalho e Baleiro, lançada em 2007.
Para quem gosta de Zeca Baleiro ou para quem aprecia a obra de Zé Ramalho, trata-se de um item imperdível. Para quem curte os dois, então, torna-se obrigatório!

N O V I D A D E S

* País de fato estranho este nosso quando se constata o valor exacerbado que se dá a compositores moderninhos com suas músicas insossas e ainda não se reconhece o talento criativo de outros tão legais como é o caso de Luizinho Lopes, mineiro de Juiz de Fora (que retornou à sua terra após residir por algum tempo em São Paulo e no Rio de Janeiro), já na estrada há algum tempo e que acaba de lançar, juntos numa mesma embalagem, o CD e DVD “Luizinho Lopes Ao Vivo”, seu quarto trabalho (o último, “Noiteceu”, saiu em 2008), um produto independente composto por dezesseis canções, o qual foi gravado durante apresentação realizada no Teatro do Centro Cultural Pró-Música, localizado na cidade natal do artista. Ao violão, ele pilotou uma banda enxuta mas competente que se fez completada por Daniel Drummond (nas guitarras), Dudu Lima (no contrabaixo) e Bré Rosário (na percussão). Com a produção e a direção geral também a cargo dele próprio, o projeto mostra um compositor de fato criativo que busca inspiração na natureza e em sentimentos que fazem parte da vida de todos nós. Esperto em jogar luzes sobre refrões que se fixam facilmente já em uma primeira audição, caso, por exemplo, dos que fazem parte das ótimas canções “Dossiê” e “Anoiteceu”, ele também se mostra um exímio construtor de versos, transformando letras em verdadeiras poesias, como se constata em “Ar” e “Não de Deve Duvidar de uma Ilusão”. E se a ‘radiografia da paixão’ se faz esboçada em “Chá”, na bonita “Eu Nem Sei” ele criou uma apropriada ode à voz e em “O Dom de Quixote” termina por expiar a dor de um amor pedido. Alguns dos melhores momentos do repertório ficam por conta de “Dinastia dos Escombros”, “Corpo de Incêndio”, “A Sola do Palato” (parceria com Roberto Lazzarini e Iacyr Anderson Freitas) e “Em Mim” (feita com o escritor Luiz Ruffato, da também mineira Cataguases). Intérprete seguro, dono de voz de bonito timbre, ele não precisa se utilizar de arroubos nem de maneirismos vocais para chegar ao coração dos ouvintes. Com sonoridade redonda, o projeto traz ainda o videoclipe de “Olhos do Oriente”. Eclético, Luizinho passeia por ritmos vários que vão do rock à toada com pitadas regionais, o que faz valer muito a pena, então, conhecer a sua obra musical!

* Após um jejum de quase uma década, estará ainda este mês chegando às lojas, através da gravadora Dabliú, o novo CD do cantor e compositor Eduardo Gudin. Intitulado “Eduardo Gudin & Notícias dum Brasil 4”, o projeto trará um repertório inteiramente autoral e majoritariamente inédito, contando com parcerias do artista, entre outros, com Carlos Lyra, Fátima Guedes, Ivan Lins, Paulinho da Viola e Paulo César Pinheiro.

* Os números musicais do espetáculo levado ao ar pela Rede Globo em abril próximo passado com o intuito de comemorar meio século de sua existência chegaram recentemente às lojas através do CD “Show 50 Anos”, um lançamento da gravadora Som Livre. Com bases pré-gravadas em estúdio, vários artistas puseram ao vivo suas vozes a serviço de temas de novelas e seriados, a exemplo de “Ex Mai Love” (com Gaby Amarantos, tema de “Cheias de Charme”), “Dona” (com o grupo Roupa Nova, tema de “Roque Santeiro”), “Pra Que Chorar” (com Mart’nália, tema de “Babilônia”), “O Carimbador Maluco” (com Anitta e Projota, tema do especial infantil “Plunct Plact Zum”) e “Do Seu Lado” (com a banda Jota Quest, tema do seriado teen “Malhação”). O tema de final de ano global, “Um Novo Tempo”, também faz parte do repertório composto por vinte e quatro faixas, assim como a canção homônima originalmente composta para a abertura do “Fantástico” (interpretada por Luiza Possi e Chay Suede) e a impagável “Emoções” (carro-chefe dos especiais de Roberto Carlos). Outros artistas presentes são Ednardo, Latino, Thiaguinho, Manu Gavassi, Gusttavo Lima, Paulo Ricardo, Lulu Santos, Carlinhos Brown, Michel Teló, Sandra de Sá e Seu Jorge, além das bandas Malta e Calypso e do grupo baiano Timbalada.

* Algumas das letras inéditas deixadas por Cazuza estão recebendo melodia de gente como Bebel Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Leoni, Rogério Flausino e Seu Jorge e serão gravadas em um CD que será lançado pela gravadora Sony Music no segundo semestre deste ano para marcar os vinte e cinco anos que o poeta do rock subiu para o andar de cima. A conferir!

* Sob a direção musical de Daniel Ganjaman, foi gravado em estúdio o álbum baseado no show que juntou recentemente o rapper paulistano Criolo e a cantora baiana Ivete Sangalo interpretando canções do repertório de Tim Maia. Muito em breve, chegará ao mercado através da gravadora Universal Music.

* O selo Discobertas está repondo em catálogo, no formato vinil, o disco de estreia de Gilberto Gil. Trata-se do compacto duplo “Gilberto Gil – Sua Música, sua Interpretação”, gravado e lançado em 1963 pela JS Discos e que apresentou quatro músicas autorais: “Serenata de Teleco-Teco”, “Vontade de Amar”, “Maria Tristeza” e “Meu Luar, minhas Canções”. Um luxo para colecionador!

* “Eu Gosto de Tudo em Você” é o título do novo CD de Cezzinha (cantor, compositor e acordeonista), o qual acaba de chegar ao mercado através da gravadora Som Livre. Ex-marido de Elba Ramalho, o artista está lançando um disco bem bacana, produzido por ele próprio e composto por dezesseis faixas, duas delas instrumentais (“Baião pra Bandolim” e “Forró dos ‘M’”). Primordialmente autoral e inédito, o álbum corrobora a impressão de que Cezzinha tem muito ainda a contribuir junto ao cenário musical brasileiro. Fã assumido de Dominguinhos (o timbre das vozes de ambos, aliás, se assemelham), ele homenageia o mestre no medley que junta duas de suas canções mais famosas (“Pedras que Cantam”, feita com Fausto Nilo, e “Isso Aqui Tá Bom Demais”, composta com Nando Cordel) com conhecido tema junino de Luiz Gonzaga (“Olha pro Céu”, parceria com José Fernandes). Do CD “Vambora Lá Dançar”, lançado por Elba em 2013, Cezzinha resgata “Forró Brasileiro” (dele e Fábio Simões) e a bonita “Por que Tem que Ser Assim” (dele e Chico Pessoa), esta também já incluída por ele em seu trabalho anterior, “Cezzinha & Convidados – Ao Vivo”, igualmente de 2013. Desse projeto, ele regravou ainda a apaixonada “Um Anjo Pra Cuidar de Mim” (dele e Nando Cordel). Boas releituras de obras alheias têm espaço no repertório, como é o caso de “Quando Bate o Coração” (de Accioly Neto), “O Ciúme” (de Caetano Veloso) e “Ai que Saudade d’Ocê” (de Vital Farias). Já na seara autoral, alguns dos melhores momentos ficam, além da faixa-título, por conta de “Enchente” (dele e André Rio) e do inusitado samba de gafieira “Cem Anos de Solidão” (outra dele com Fábio Simões). Zeca Pagodinho surge como convidado especial, dividindo os vocais da conhecida “Judia de Mim” (parceria do sambista com Wilson Moreira). Em franca ascensão artística, Cezzinha é um nome que merece ser observado com atenção!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
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