R E S E N H A
Cantor: PEDRO LUÍS
CD: “APOSTO”
Gravadora: SOM LIVRE
Polivalente, o carioca Pedro Luís ataca em várias frentes. É cantor, compositor, músico, arranjador e produtor. A música entrou em sua vida nos anos oitenta do século passado quando integrou a banda de rock Urge. Na década seguinte, abraçou o funk poético do grupo Boato até que, nos anos 2000, passou a capitanear o ótimo Pedro Luís e a Parede (PLAP), usina sonora de ideias que conseguiu obter, com êxito, um local de destaque no nosso cancioneiro, chegando, inclusive, a lançar um disco ao lado de Ney Matogrosso (“Vagabundo”, em 2004). Também integrante do Monobloco, grupo percussivo que vem arrastando multidões, especialmente nos Carnavais do Rio de Janeiro, Pedro vem criando várias interessantes canções ao longo de sua trajetória, seja sozinho, seja dividindo-as com parceiros.
Algumas dessas músicas foram por ele selecionadas para compor o repertório de “Aposto”, segundo projeto musical solo do artista, o qual aportou recentemente no mercado, nos formatos CD e DVD (este dirigido por Jorge Bispo e Bianca Ramoneda), através de uma parceria entre o selo MP,B Discos e a gravadora Som Livre. Gravado ao vivo de maneira informal durante uma sessão restrita a amigos realizada, em agosto do ano passado, no atelier do artista plástico Sérgio Marimba, o set list agrega canções autorais que fazem parte do repertório de diversos artistas, em especial cantoras. Estão presentes, por exemplo, “Janeiros”, “Girando na Renda” e “Braseiro” (as três lançadas originalmente por Roberta Sá que, para quem não sabe, é casada com Pedro), além de “Rosa que me Encanta”, “Mão e Luva”, “Tudo Vale a Pena” e “Noite Severina” (já gravadas, respectivamente, por Verônica Sabino, Adriana Calcanhotto, Fernanda Abreu e Elba Ramalho – as duas últimas somente presentes do DVD, o qual traz também, de maneira exclusiva, “Imantra”, “Amar Al Mare”, “Soul” e “Interesse”).
Já o CD traz duas versões da ótima inédita “Indivídua” (ambas contando com as participações especiais do parceiro João Cavalcante e do rapper Cabelo e uma delas em versão remix pilotada por Marcelinho da Lua e Bruno LT). Outros convidados especiais são Zélia Duncan (na também inédita “De Nós”) e Nina Becker (em “Parte Coração”). Já Martinho da Vila e Mart’nália se fazem presentes nos extras do DVD, abrilhantando “Samba de Cabôco”, assim como as emergentes cantoras Bruna Caram e Duda Brack, que marcam espaço em “Véu de Filó”. Ambos os registros foram gravados posteriormente no estúdio Toca do Bandido, situado no Rio de Janeiro.
Com um som eletroacústico marcado tão somente por Pedro pilotando instrumentos de cordas (violão e cavaco) em diálogo com a percussão sempre precisa de Paulino Dias, o projeto traz ainda registros crus de belas canções conhecidas em gravações mais pulsantes, caso de “Bela Fera” (tema de abertura dos seriados globais “As Cariocas” e “As Brasileiras”), “Girassol” (sucesso propagado nacionalmente pela banda Cidade Negra) e “Miséria S.A.”. Completam o repertório a contagiante (e mais antiga) “Pode se Animar” e a interessante (e mais outra inédita) faixa-título.
À vontade com sua música, Pedro Luís já pode se dar ao luxo de reunir, num mesmo trabalho, repente agalopado, balada, samba e afins, condimentando suas influências várias numa digital própria que quase sempre desagua no suingue. Um ótimo painel de sua obra está aí para quem quiser se deleitar!
N O V I D A D E S
* O grupo carioca Coletivo Sambanoir (formado pela cantora, compositora e guitarrista Katia B, pelo violonista Luís Filipe de Lima, pelo percussionista Marcos Suzano e pelo tecladista Guilherme Gê) lançou recentemente, de maneira independente, o primeiro e homônimo CD. Trata-se de um trabalho muito legal, que soa acima da média, inclusive por trazer, no repertório de dez faixas, regravações de canções já bastante conhecidas (a exceção é “Só Deixo meu Coração na Mão de quem Pode”, de Katia em parceria com Fausto Fawcett, Marcos Cunha e Plínio Gomes), mas feitas de maneira bastante diferente e criativa. Nota-se o esmero do quarteto em trazê-las para um universo atual, o que conseguem com inatacável êxito. Não bastasse a voz bela e macia de Katia (que, paralelamente, continua a desenvolver carreira solo), os instrumentistas são exímios em seus instrumentos e emprestam às canções novas e insuspeitadas cores. As programações eletrônicas são utilizadas sem parcimônia, porém sempre se adequando ao sentido de cada canção e em perfeito entrosamento com sons acústicos. No final, a sonoridade resulta elegante e de certa forma cool (há quem catalogue isso como eletrobossa) e dá vontade de escutar mais uma vez e mais uma vez e mais… Há as participações especiais de Egberto Gismonti (piano em ”Risque”, de Ary Barroso), Carlos Malta (flauta, clarone e sax em “Pra que Mentir?”, de Noel Rosa e Vadico), Arto Lindsay (voz e guitarra em “Meu Mundo É Hoje”, de Wilson Baptista e José Baptista) e Jards Macalé (voz em “Volta”, de Lupicínio Rodrigues). Bons momentos ficam por conta de “Chove lá Fora” (de Tito Madi), “Imitação” (de Batatinha) e “Tão Só” (de Dorival Caymmi e Carlos Guinle). Corra e ouça!
* Encontra-se em estúdio carioca o cantor e compositor Arnaldo Antunes, gravando as canções que farão parte de um novo CD cujo repertório será formatado apenas com temas autorais inéditos e será lançado ainda neste segundo semestre. A conferir!
* Eclético poderia ser o adjetivo escolhido para qualificar o segundo CD do grupo Filarmônica de Pasárgada (composto por oito membros, dentre os quais Paula Mirhan, a vocalista principal), o qual chegou ao mercado no ano passado, mas merece ser conhecido por já esboçar possibilidades outras que decerto virão muito em breve. Intitulado “Rádio Lixão” e produzido por Alê Siqueira, o álbum se faz composto por quinze faixas, quatorze delas compostas solitariamente ou com parceiros pelo cantor e compositor Marcelo Segredo, o líder da galera (a exceção é ”Muro Muro Morumbi”, de Júlio Soares). Há temas de cunho experimental, porém existem também músicas muito bem desenhadas, algumas explorando com destreza o bom humor para criticar temas bastante atuais. Entre os destaques do repertório apresentado estão “Uma Canção”, “Amor e Carnaval”, “Naquele Sonho” e “Tilt”. O baiano Tom Zé é homenageado em “Estudando Tom Zé” e surge como convidado nos vocais de “Blá Blá Blá”. Outras participações especiais ficam por conta de Guilherme Arantes, Tatá Aeroplano e Kassin. Vale a pena conhecer!
* “A Mulher do Fim do Mundo” é o título do novo e aguardado CD de Elza Soares, o qual está terminando de ser gravado em estúdio paulista para ser lançado ainda este ano com a maciça participação de músicos e compositores da cena paulistana. Produzido por Guilherme Kastrup, o álbum conta com a direção artística de Celso Sim e Romulo Fróes.
* A cantora Aline Muniz está lançando um novo CD, o qual chega às lojas através da gravadora Sony Music. Dona de bonita voz de timbre agradável, a artista chega com um trabalho altamente pop composto por onze músicas. Dois dos destaques do repertório apresentado ficam por conta de “Tem que Ter um Fim” (de Rogê e Gabriel Moura) e “Sonhos Roubados” (de João Nabuco, Eugenio Dale e Antônio Villeroy). Com faixas produzidas por Dudu Marote, Pedro Dash, Rodrigo Campello e Marco De Vita (o marido de Aline, que com ela assina duas faixas), o álbum cumpre direitinho o papel a que se propõe, resgatando com êxito “Eu me Rendo” (de Sérgio Sá), um dos maiores sucessos da carreira de Fábio Jr., e jogando luzes sobre “Dançando com a Vida”, boa parceria entre Sandra de Sá e Zé Ricardo.
* O terceiro projeto musical do compositor baiano Tiganá Santana é um CD duplo que se intitula “Tempo & Magma”. Já disponível em meio digital, o trabalho se faz dividido em dois discos (“Interior” e “Anterior”, cada um contendo sete músicas) e reforça a conexão do artista com os sons e a cultura da África. Gravado em janeiro de 2014 em Dacar, no Senegal, o projeto conta com a produção assinada por Sebastian Notini e Andreas Unge. Há as participações especiais da cantora Céu e da ialorixá baiana Mãe Stella de Oxóssi.
* O quarto volume do projeto Sambabook, dedicado à obra de Dona Ivone Lara, estará chegando em agosto às lojas nos formatos de CD, DVD e blu-ray. As gravações foram realizadas em novembro do ano passado na Grande Sala da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. O projeto, que inclui também discobiografia e livro de partituras, trará inéditos registros de canções compostas pela talentosa artista feitos por um time estelar que conta, entre outros, com Adriana Calcanhotto, Beth Carvalho, Caetano Veloso, Diogo Nogueira, Elba Ramalho e Zeca Pagodinho.
* Os cinco discos lançados pelo cantor e compositor Renato Teixeira no período inicial de sua carreira fonográfica, de 1978 a 1982 (“Romaria”, “Amora”, “Garapa”, “Uma Doce Canção” e “Um Brasileiro Errante”), estão voltando ao catálogo, em edição especial, devidamente remasterizados e reunidos em um box, pela gravadora Sony Music. Renato surgiu avalizado pela eterna Elis Regina e, desde então, vem conduzindo sua carreira de forma coerente, sempre flertando com as verdadeiras tradições regionais do nosso cancioneiro. Autor de sucessos como “Recado (Meu Namorado)” e “Tocando em Frente”, por exemplo (gravadas por Joanna e Maria Bethânia, respectivamente, a segunda uma parceira com Almir Sater), o projeto ora revisitado apresenta o artista em seu áureo momento criativo. Os apreciadores da boa música poderão relembrar (ou conhecer) belíssimos temas, como é o caso de “Vira”, “Antes que Aconteça”, “Sentimental Eu Fico”, “Cavalo Bravo”, “Iluminação”, “Amizade Sincera” (com Dominguinhos como convidado especial), “O Maior Mistério” e “Irmãos da Lua”, além – é claro! – das já lendárias “Romaria” e “Amora”. Há quatro faixas bônus, dentre as quais “Frete”, canção que se tornou nacionalmente conhecida por ser o tema da série global “Carga Pesada”. Item obrigatório em toda cedeteca que se preze!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
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