Musiqualidade

R E S E N H A

Artista: EDUARDO GUDIN
CD: “EDUARDO GUDIN & NOTÍCIAS DUN BRASIL 4”
Gravadora: DABLIÚ DISCOS

Como compositor, o paulista Eduardo Gudin já engatou belas canções gravadas por intérpretes da primeira linha da MPB, a exemplo de Leila Pinheiro, Vânia Bastos e Gal Costa (“Verde” e “Paulista”, ambas compostas com J. C. Costa Neto, e “Bem Bom”, criada ao lado de Arrigo Barnabé e Carlos Rennó, respectivamente), não se podendo esquecer também das saudosas Clara Nunes e Elizeth Cardoso e de Fátima Guedes que lançou com ele um disco memorável em 2001. Desde o início de sua carreira, em 1966, Gudin escolheu o samba como mola propulsora de sua obra, o que não significa dizer que ele não mergulhe com destreza em outras searas.
Gudin, que começou a estudar violão aos treze anos, participou de vários festivais de música, sempre conseguindo se classificar entre as primeiras colocadas. Ciente de suas limitações vocais, nos discos que gravou durante a sua trajetória, frequentemente se fez cercado por vozes mais talhadas para o canto, o que garante que suas músicas, assim, cresçam consideravelmente quando chegam aos ouvidos do público.
Nesses moldes e após nove anos de jejum fonográfico, acaba de chegar ao mercado, através da gravadora Dabliú Discos, o seu mais novo trabalho, o CD “Eduardo Gudin & Notícias dum Brasil 4”, o qual, como o próprio título já revela, se consubstancia como o quarto volume de um projeto que reúne Gudin com cantores e percussionistas. Não deixa de ser, portanto, um trabalho de grupo, mas o talento de Gudin, autor (ao lado de parceiros) das treze faixas, é o fio condutor da obra que se mostra um dos melhores títulos da discografia do artista.
A atual formação do Notícias do Brasil conta com as vozes de Ilana Volcov, Karine Telles, Maurício Sant’Anna e Cezinha Oliveira e com as percussões tocadas por Raphael Moreira, Osvaldo Reis, Ewerton de Almeida e Jorginho Cebion (aqui, faz-se mister salientar que, em tempos pretéritos, nomes como Fabiana Cozza, Mônica Salmaso e Renato Braz também já passaram pelo grupo que foi criado em 1995).
Com arranjos muito bem elaborados e contando com a adesão de exímios instrumentistas, Gudin joga ao mundo onze canções inéditas. As exceções são as regravações de “Armistício” e “Por que Razão?”, compostas respectivamente com Adoniran Barbosa e Toquinho (este, aliás, se faz presente, nos vocais, como convidado da faixa), dois ótimos momentos do repertório. Outros destaques ficam por conta das inspiradas “Olhos Sentimentais” (criada com Paulo César Pinheiro), “Nem no Samba Eu Vou” (dividida com Paulinho da Viola), “Eu Te Amo” (feita com Fátima Guedes e solada por Karina Ninni) e “Do Jeito que Você Tem” (composta com Ivan Lins que também participa da gravação). Surgem também, em participações afetivas e especiais, os parceiros Carlinhos Vergueiro, Carlos Lyra e Théo de Barros.
Prestes a inteirar meio século de carreira (o que se efetivará no próximo ano), Eduardo Gudin mostra encontrar-se em plena forma criativa, o que pode ser comprovado através da audição desse seu muito bem-vindo novo CD. Vale super a pena conhecer!

N O V I D A D E S

* Os cantores e compositores Almir Sater e Renato Teixeira uniram os seus talentos e estão gravando um CD intitulado “AR”, o qual chegará às lojas ainda este ano. Recheado de composições inéditas, o álbum está sendo gerado entre o Brasil e Nashville (EUA) e traz a assinatura do norte-americano Eric Silver na produção.

* Projeto revisionista, “Meus Lados B” é o apropriado título para o novo projeto do cantor e compositor Erasmo Carlos que chega às lojas em um estojo, acondicionando CD (com vinte faixas) e DVD (contendo dois números a mais: as autorais canções “Amar pra Viver ou Morrer de Amor” e “Abra seus Olhos”, ambas compostas com Roberto Carlos). Registrado ao vivo durante apresentação realizada em janeiro deste ano na casa de espetáculos Tom Jazz, em São Paulo, o trabalho reúne músicas gravadas pelo Tremendão durante sua longa carreira (não necessariamente criadas por ele), mas que, por um motivo ou outro alheio à sua vontade, não se transformaram em hits. Acompanhado por uma banda afiada e mostrando-se integrado ao ambiente sonoro, Erasmo ora se dobra a tema de cunho social (a ótima “Cachaça Mecânica”, dele e Roberto), ora se entrega à paixão de forma bem-humorada (“Vou Ficar Nu para Chamar sua Atenção”, também da dupla). E se o jovem que teimava em burlar a censura dos anos de chumbo volta à tona com a dúbia “Maria Joana”, a preocupação pela paz se faz explicitada em “1990 – Projeto Salva Terra” (estas duas também assinadas por Roberto e Erasmo). Fora da seara autoral, são resgatadas belas canções de Gonzaguinha (“Sementes do Amanhã”), Gilberto Gil (“Queremos Saber”), Caetano Veloso (“De Noite na Cama”) e Taiguara (“Dois Animais na Selva Suja da Rua”). Uma das maiores sacadas do repertório foi repescar a bela e esquecida “Meu Mar” (mais uma de Roberto e Erasmo). Muito legal!

* O cantor, compositor e sanfoneiro pernambucano Targino Gondim, autor do sucesso “Esperando na Janela” (feito em parceria com Manuca Almeida e Raimundinho do Acordeom), está lançando um novo CD. Trata-se do independente e instrumental “Chorando Mais Eu” no qual, em várias passagens, o artista faz homenagens ao saudoso Dominguinhos (seja na regravação de três temas dele, a exemplo do conhecido “Lamento Sertanejo”, criado com Gilberto Gil, seja na inclusão de canções inéditas, como a autoral “Um Xote pra Neném” e “Salve Dominguinhos”, de Tadeu Gouveia). Nesse trabalho em que mergulha no choro e no tango, mas sem sair do universo da música nordestina, Targino também rebobina músicas de Tom Jobim (“Wave”), Waldir Azevedo (“Delicado”) e Astor Piazzolla (“Adiós Nonino”) e conta com as participações especiais dos colegas de instrumento Oswaldinho do Acordeom e Cezzinha.

* Alavancado pelo sucesso do musical que recentemente foi encenado no Rio de Janeiro e atualmente se encontra em cartaz em São Paulo, está chegando ao mercado, através das gravadoras EMI/Universal, o CD “S’Imbora – A História de  Wilson Simonal”. Na realidade, trata-se de uma coletânea que reúne, nos registros originais do artista, as canções apresentadas no musical. Simonal dominou as paradas de sucesso na década de sessenta do século passado, antes de cair no ostracismo por conta de denúncias efetivamente até hoje não clarificadas. Dono de um suingue único e de uma divisão personalíssima, o artista engatou vários hits, alguns deles encravados no inconsciente coletivo nacional, a exemplo de “Sá Marina” (de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar), “Tributo a Martin Luther King” (de Simonal e Ronaldo Bôscoli), “Mamãe Passou Açúcar em Mim” (de Carlos Imperial) e “Meu Limão, meu Limoeiro” (outra de Imperial, agora em parceria com José Carlos Burle). Sua voz potente pode ser ouvida em dezoito das vinte faixas que compõem o projeto selecionado, o qual se completa com duas gravações inéditas feitas pelos seus filhos Max de Castro e Simoninha (“Afrosamba”, de Max e Bernardo Vilhena, e “Nanã”, de Moacir Santos e Mario Telles, respectivamente).

* A cantora Cida Moreira estará lançando muito em breve o seu novo e aguardado CD. Intitulado “Soledade”, o álbum chegará às lojas através da gravadora Joia Moderna e trará quinze faixas, entre as quais “Bom Dia” (de Nana Caymmi e Gilberto Gil), “Forasteiro” (de Thiago Pethit e Hélio Flanders), “Oitava Cor” (de Luis Filipe Gama e Tiago Torres da Silva) e “Feito um Picolé no Sol” (de Nico Nicolaiewski).

* O cantor e compositor paulistano André Abujamra está lançando de forma independente “O Homem Bruxa”, quarto título de sua discografia solo, ele que já foi integrante ativo da dupla Os Mulheres Negras e do grupo Karnak. São dez faixas, nove delas autorais (a exceção é “3 Homens, 3 Celulares”, de Maurício Pereira), entre as quais “Espelho do Tempo” e “Mãe Cazu”. Nelas, o artista reverencia seu pai (o ator e diretor de teatro Antonio Abujamra) e sua mãe, respectivamente. Plural, André concilia, no repertório, acentos indianos, cubanos, árabes, nordestinos e paulistanos.

* Em “Sambaião”, o seu CD de estreia, lançado em 2007, a cantora Letícia Tuí se mostrou somente como intérprete. Diferente do que se constata através do repertório de treze faixas do seu segundo álbum, “Música para Curar”, no qual unicamente a anordestinada canção-título não é por ela assinada (é de autoria de Edu Kneip). Nas demais, Letícia, que começou a carreira se apresentando em espaços como o Rio Scenarium, o Carioca da Gema e o Centro Cultural Carioca, no Rio de Janeiro, surge como uma compositora fértil que sabe unir letras curtas e bem elaboradas a melodias simples, porém eficientes. Dona de bela voz, afinada e de timbre claro e seguro, ela consegue amarrar com competência o conceito do disco sem que isso pareça forçado. Trata-se de um trabalho em que o otimismo se faz exaltado através de interessantes arranjos assinados por Alexandre Caldi (sopros), Marcelo Caldi (acordeão e piano), Thiago da Serrinha (percussão), João Callado (cavaco) e Nando Duarte (violão), estes dois últimos os responsáveis pela direção musical do trabalho. Cercada por esse time de grandes instrumentistas que ainda conta com Carlos César Mota (na bateria), Zé Luiz Maia (no baixo) e Luís Barcelos (no bandolim), Letícia apresenta um projeto de fato acima da média. Entre bons sambas (“Toninho da Glória”, “Dínamos”, “Luz e Fé” e “Dudu e Maricota”), destacam-se canções com um pé no regionalismo sincrético (a ótima “Pena Branca”), com acento bluesy (“Espaço Sagrado”) e com a irresistível pegada do frevo (“Dior Allem Di Vaz”). Letícia se revela, assim, uma compositora eclética e promissora. Corra e ouça!

* Com estreia agendada para o dia 31 deste mês, a próxima e aguardada telenovela global das 21 horas, “A Regra do Jogo”, terá como tema de abertura uma regravação feita pela cantora Alcione para o clássico samba “Juízo Final”, parceria de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares. A conferir!

* Faz-se composto por apenas dez faixas o novo CD de Fafá de Belém, o qual estará aportando nas lojas dentro de alguns dias através da gravadora Joia Moderna e servirá para marcar os quarenta anos de carreira da artista paraense. Intitulado “Do Tamanho Certo para o meu Sorriso”, o álbum homenageia a cantora Angela Maria com a regravação de “Usei Você” (de Silvio César), lançada no início da década de setenta pela Sapoti. Com a produção assinada por Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro, o disco vai aliar outras releituras com músicas inéditas. Entre estas estão “Asfalto Amarelo” (parceria dos dois citados produtores com Zeca Baleiro), “Meu Coração é Brega” (de Veloso Dias) e “Pedra sem Valor” (de Dona Onete). Já entre aquelas figuram “Volta” (de Johnny Hooker, tema propagado através da trilha sonora do filme gay “Tatuagem”), “Ao Pôr do Sol” (de Firmo Cardoso e Dino Souza), “Vem que É Bom” (Manoel Cordeiro e Ronery) e “O Gosto da Vida” (de Péricles Cavalcanti). Completam a seleção duas canções pinçadas do repertório da banda paraense Sayonara: “Quem Não te Quer Sou Eu” (de Firmo Cardoso e Nivaldo Fiúza) e “Os Passa Vida” (de Osmar Jr. e Rambolde Campos).

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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