R E S E N H A 1
Cantora: ANA CANÃS
CD: “TÔ NA VIDA”
Selos: GUELA RECORDS e SLAP
“Tô na Vida” é o título do quinto CD da cantora e compositora paulistana Ana Cañas, o qual está aportando no mercado através de uma parceria entre os selos Guela Records e SLAP.
Trata-se de um trabalho inteiramente autoral, gravado ao vivo em estúdio com todo mundo tocando junto para dar mais veracidade e que se fez concretizado sob a produção da artista com o guitarrista Lúcio Maia, ex Nação Zumbi. Composto por quatorze faixas, o álbum tem uma sonoridade basicamente pesada, calcada no rock, embora haja também baladas e blues. Ana transita por um caminho palatável, evitando arroubos sonoros e estilísticos, mas seria limitar demais sua arte cadastrando o disco na prateleira do pop rock: ele é bem mais que só isso.
Excelente cantora, dona de uma voz de alto alcance, o que a permite se arriscar em voos bastante interessantes, ela empresta o seu timbre agudo com propriedade a interpretações inteligentes, o que faz ressaltar como o seu lado de atriz a ajuda (e bem) na seara musical.
Quando surgiu no mercado fonográfico musical, em 2007, com o CD “Amor e Caos”, Ana foi aclamada de pronto pela mídia como um promissor nome. Não arrebentou de cara como supunham os deslumbrados de plantão, mas vem construindo uma carreira de forma salutarmente coerente, mostrando saber o que quer e angariando a simpatia de nomes de peso que já se declararam seus fãs, caso de Ney Matogrosso, Nando Reis e Nelson Motta.
No recém-lançado projeto, ela assina solitariamente nove canções e destas merecem destaque “Bandido”, “Mulher” e “Coisa Deus”. As demais, que comprovam que sua arte cresce quando ela se alia a parceiros, são músicas criadas com a colaboração de Arnaldo Antunes, Pedro Luís, Dadi e do já citado Lúcio Maia.
E se a ótima faixa-título, já devidamente incluída na trilha sonora da nova telenovela global “A Regra do Jogo”, bebe nas águas do blues, “O Som do Osso” é um rock da melhor estirpe. Outros destaques do repertório apresentado ficam por conta da mais calma “Hoje Nunca Mais” e da confessional “Madrugada Quer Você”.
Cercada por uma banda que conta com a presença de músicos de ponta do cenário atual (Fábio Sá e Betão Aguiar no baixo, Marco da Costa na bateria e Marcelo Jeneci nos teclados, além de Lúcio Maia pilotando guitarra e violão), Ana Cañas entrega ao público um CD bem amarrado que, se for bem trabalhado, possui grandes chances de propagar o seu talento em escala cada vez maior. Vale a pena conhecer!
R E S E N H A 2
Cantora: MARIANA AYDAR
CD: “PEDAÇO DUMA ASA”
Selos: BRISA RECORDS e POMMELO
É difícil assegurar um espaço próprio atualmente no cenário musical brasileiro, especialmente entre as mulheres. É que, dia após dia, surgem várias delas, algumas com uma estética cool (o que se encontra bem em voga), outras abraçando interpretações mais viscerais, umas com incontestável talento, outras querendo seus quinze minutos de fama, umas se apegando aos ascendentes famosos, outras tentando se garantir bela beleza estética.
A cantora e compositora paulistana Mariana Aydar poderia ter se utilizado do fato de ser filha do grande Mario Manga, por exemplo, ou por ser incontestavelmente bela, mas preferiu optar pelo caminho mais difícil, o que com certeza sedimentará sua carreira de modo único.
Surgida no mercado fonográfico em 2006 quando lançou o álbum “Kavita 1”, o qual foi muito bem recebido pela crítica, ela poderia estar repetindo a fórmula. No entanto, já no trabalho seguinte, o excelente “Peixes, Pássaros, Pessoas”, de 2009, ela mostrou que gosta mesmo é de ousar, fato que a diferencia da grande maioria das colegas cantantes de sua geração.
Assim, antes de qualquer coisa, é de se louvar a coragem em estar lançando, através de uma parceria entre o selo Brisa Records e a Pommelo, um novo CD (o sucessor de “Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo”, de 2011) no qual se voltou para o cancioneiro de Nuno Ramos, um reconhecido artista plástico de São Paulo que vem também enveredando pela seara musical. Diferente de várias outras que perdem tempo regravando canções de grandes nomes da nossa MPB já revisitadas à exaustão, Mariana resolveu jogar luzes sobre músicas criadas por um compositor que ainda trilha o caminho do reconhecimento.
Produzido por Duani, seu marido, e com a participação ativa do guitarrista Guilherme Held (em somente alguns poucos momentos surgem adicionalmente os percussionistas Mauricio Badê e Marcelo Miranda), o álbum se faz composto por uma dúzia de faixas (delas, Nuno assina sozinho quatro e há parcerias dele com a própria Mariana, com Romulo Fróes e com Clima – aliás, como liberdade artística, Mariana incluiu “Samba Triste”, composta unicamente por Clima).
E se é verdade que os arranjos por vezes heterodoxos terminam engessando algumas canções, como é o caso das boas “Atrás dessa Amizade” e “Cabou”, também é fato que Mariana se mostra sempre segura em suas colocações. Os melhores momentos do repertório selecionado ficam conta de “Caia na Risada”, “Saiba Ficar Quieto”, “Isso Pode” e “Dentro das Rosas”.
Trata-se, em suma, de um CD muito bem-vindo, o qual, entre o toque do samba e a pegada do rock, se consolida como um passo importante na trajetória de Mariana Aydar. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* Já se encontra em estúdio registrando as canções que farão parte de seu próximo CD a cantora e compositora Zélia Duncan. Com repertório autoral e inédito, o álbum se intitulará “Antes do Mundo Acabar” e se fará inteiramente dedicado ao samba. O lançamento está previsto para outubro próximo através da gravadora Biscoito Fino.
* “Like Nice” é o título do novo CD do cantor e compositor Celso Fonseca que recentemente chegou às lojas através da gravadora Universal. Dono de voz pequena, porém agradável, e violonista dos mais versáteis, Celso lança um trabalho totalmente voltado à estética da Bossa Nova. Com fortes influências de Tom Jobim, o álbum, que leva a assinatura de Moogie Canazio na produção, se faz composto por onze faixas, dez delas autorais (a exceção é “Stormy”, de J. Cobb e Buddy Buie). Há dois temas instrumentais (“Rio 56” e “Zum Zum”) e outras cinco músicas foram compostas em inglês (destas, os destaques ficam com “Road to Paradise” e “January in the Tropics”). Ronaldo Bastos, o parceiro de sempre, colabora em quatro canções, dentre elas “Onda Infinita do Amor” e “Canção que Vem”, as quais contam com as participações especiais de Marcos Valle e Rildo Hora. O ponto alto do repertório é a bonita “Meu Silêncio”, mas “Porque Era Você” e “O que Vai Sobrar” também possuem lá o seu charme.
* Elba Ramalho vem realizando pelo Brasil, desde o ano passado, um show ao lado de Geraldo Azevedo. Intitulado “Um Encontro Inesquecível”, será em breve gravado ao vivo para que possa ser lançado, nos formatos CD e DVD, até o final do ano. A conferir!
* Com o repertório baseado no mais recente CD de estúdio (lançado em maio do ano passado), a banda Titãs realizou vigorosa apresentação, em abril deste ano, na casa Áudio Club, em São Paulo, a qual foi devidamente registrada e ora está chegando ao mercado nos formatos CD (com quatorze faixas) e DVD (com vinte e três números). “Nheengatu – Ao Vivo” mostra os quatro integrantes (Branco Mello, Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto e mais Mario Fabre, o baterista convidado) em plena forma, engatando recentes canções que abordam temas bem atuais, a exemplo de “Fardado”, “Quem São os Animais?” e “República dos Bananas”. Mas o repertório contempla também alguns dos sucessos do passado, caso de “Desordem”, “Televisão” e “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”. Aconselhável para fãs novos e antigos!
* A cantora Maíra Freitas, filha mais nova de Martinho da Vila, encontra-se em estúdio registrando as canções que farão parte de “Piano e Batucada”, seu segundo CD, o qual deverá ser lançado ainda este ano. João Sabiá já gravou sua participação nesse aguardado disco que também contará com a presença do grupo baiano Ilê Aiyê.
* Residindo há cinco anos na Espanha, o cantor e compositor carioca Fred Martins está lançando um novo CD em terras brasileiras através do selo Sete Sóis. Trata-se de “Para Além do Muro do meu Quintal”, álbum majoritariamente gravado em Portugal sob a produção do pianista e arranjador açoriano Paulo Borges. São onze ótimas canções autorais, compostas pelo artista ao lado dos parceiros Roberto Bozzetti, Alexandre Lemos, Fred Girauta, Manoel Gomes e Francisco Bosco, além de Marcelo Diniz, o mais constante deles. Também um excelente cantor, Fred ainda é um exímio violonista e um compositor bastante inspirado, tanto que possui canções gravadas por Maria Rita (“Sem Aviso”), Ney Matogrosso (“Novamente”) e Zélia Duncan (“Flores”), intérpretes tidos como muito exigentes. O repertório do disco de sonoridade acústica revisita alguns temas já conhecidos (como os três anteriormente destacados) e apresenta a interessante canção inédita “Terras do Sem-Fim” que conta com a participação especial do cantor Renato Braz. Outra convidada é a cabo-verdiana Nancy Vieira que solta sua bela voz em “O Samba me Diz”, um dos melhores momentos do disco ao lado das pérolas “Poema Velho”, “Tempo Afora” e “Noite de São João”, esta uma poesia de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, musicado por Fred. Um projeto muito legal que merece ser conhecido por todos os que apreciam a música brasileira de qualidade!
* E o cantor e compositor alagoano Djavan anuncia para breve o lançamento de um novo álbum composto por doze músicas inéditas, já em fase de mixagem. Quem viver ouvirá!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
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