Musiqualidade

R E S E N H A

Cantoras: RITA BENNEDITTO e JUSSARA SILVEIRA
CD: “SOM & FÚRIA”
Gravadora: MAIANGA DISCOS

A maranhense Rita Benneditto (que, no começo da carreira, assinava artisticamente Rita Ribeiro) estreou no mercado fonográfico em 1997 com um disco homônimo muito legal. Na oportunidade, foi bem recebida pela crítica especializada que também saudava com entusiasmo o conterrâneo Zeca Baleiro, artista que lhe abriu algumas portas. De lá para cá, Rita vem diversificando o seu canto e mergulhando de cabeça em trabalhos temáticos que aliam temas de influência afro com programações eletrônicas, a exemplo do que aconteceu com o vitorioso projeto “Tecnomacumba”.
A mineira Jussara Silveira (que, por morar muitos anos em terras soteropolitanas, terminou fazendo com muitos pensem ser ela baiana) também lançou o seu primeiro e homônimo álbum em 1997, seguindo a carreira com a confecção de alguns projetos voltados, por exemplo, para os cancioneiros de Dorival Caymmi e de Angola.
Quis o destino que a voz possante de Rita se encontrasse com o timbre doce de Jussara e isso resultou no projeto “Três Meninas do Brasil”, o qual contou com a adesão da carioca Teresa Cristina e se fez eternizado, em 2008, através de registo ao vivo disponibilizado em CD e DVD.
Em julho de 2013, as duas cantoras novamente se reuniram sob a direção artística de Zé Miguel Wisnik e com a direção musical de Alê Siqueira em um estúdio especialmente montado no Vale do Capão, na Chapada Diamantina, e esse novo encontro terminou resultando no CD “Som e Fúria”, o qual, em formato físico, foi lançado somente pela gravadora Maianga Discos na Bahia no ano passado (quem se interessar pode encontrá-lo no site da loja Pérola Negra), mas chegou recentemente às plataformas digitais através de uma iniciativa da gravadora Dubas Música.
Trata-se de um trabalho único que deixa um gosto de quero mais ao final de sua audição. As duas intérpretes estão ali inteiramente entregues, ora cantando juntas (como na esperta faixa que entrelaça “Para Não Contrariar Você”, de Paulinho da Viola, e “Matriz e Filial”, de Luiz Cardim, na belíssima versão de “Rosa de Hiroshima”, de Gerson Conrad e Vinicius de Moraes que conta com um afinado coro de crianças, ou na etérea “Tom de Voz”, de Cezar Mendes e Quito Ribeiro), ora em números solo (como faz Rita em “Milagre”, de Pedro Ayres Magalhães e Rodrigo Leão, e em “A Silaba”, do já citado Baleiro, e Jussara em “Alguém Cantando”, de Caetano Veloso, e em “Ave Maria”, de Schubert).
A beleza do projeto, que foi concebido por Sérgio Guerra, também o responsável pela direção geral, muito se deve ao genial músico Mikael Mutti que, pilotando os teclados e programações, conferiu tintas as mais apropriadas para os diferentes momentos apresentados. E não se pode esquecer também dos batuques levados a cabo por Gabi Mendes, necessários em várias passagens.
O repertório conta ainda com um medley que une sambas-de-roda a “Maricotinha” (de Dorival Caymmi), mais uma canção de Schubert (“Outra Noite”), composta em parceria com Mathäus von Collin e transportada para o português por Arthur Nestrovski, e temas ligados ao candomblé (“Caboclo das Sete Encruzilhadas”, “Pisei na Terra de Caboclo” e “Saudação a Oxóssi”) e aos povos indígenas (“Yo Paranã”).
Um CD de fato imperdível, altamente recomendável para quem aprecia o talento de Rita Benneditto e Jussara Silveira, inegavelmente duas das melhores cantoras brasileiras da atualidade. Corra e ouça!

N O V I D A D E S

* Alfredo Del-Penho está a lançar, de maneira independente e de forma concomitante, seus dois primeiros CDs solos, um cantado (“Samba Sujo”) e outro instrumental (“Pra Essa Gente Boa”), ele que já havia gravado alguns trabalhos ao lado de Pedro Paulo Malta. Artista egresso dos bares da Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, Alfredo é um cantor correto e um compositor que entende do riscado, posto que há muito convive, no meio musical, com os mais experientes nomes ligados ao samba de várias gerações. Por isso, decerto, o repertório do CD “Samba Sujo” reúne, em suas quinze faixas, boas canções menos conhecidas de nomes como Cartola (“A Cor da Esperança”, criada com Roberto Nascimento), Paulo César Pinheiro (“Samba com Dengo”, feita com Angela Suarez), João de Aquino (“Tabuleiro”, composta com José Márcio), Nei Lopes (“Ladrão de Galinha”, assinada com Maurício Tapajós) e Baden Powell (“Garota Porongondons”, parceria com Vinicius de Moraes). Produzido pelo próprio Alfredo, o álbum (que acertadamente traz, ao lado de cada faixa, um comentário sobre a mesma) apresenta também cinco canções autorais, duas de artesanato solitário e as outras parcerias com Rodrigo Alzuguir e Delcio Carvalho. Trata-se de um lançamento muito bem-vindo que certamente servirá para fazer mais conhecido esse grande batalhador do nosso mais autêntico gênero musical!

* O sexto álbum da cantora potiguar Roberta Sá se intitula “Delírio” e estará sendo lançado em outubro através de uma parceria entre o selo MP,B Discos e a gravadora Som Livre. O novo álbum contém onze faixas, apresentando, no seleto repertório, oito temas inéditos, dentre os quais: “Me Erra” (de Adriana Calcanhotto), “Um Só Lugar” (de Cézar Mendes e Tom Veloso) e “Feito Carnaval” (de Rodrigo Maranhão). Há as participações especiais de Chico Buarque (em “Se For para Mentir”, de Cézar Mendes e Arnaldo Antunes), Martinho da Vila (em “Amanhã É Sábado”, do próprio sambista), António Zambujo (em “Covardia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago) e Xande de Pilares (em “Boca em Boca”, parceria dele com Roberta). A conferir!

* O selo Discobertas (que tem à frente o pesquisador musical Marcelo Froes) está lançando dois boxes, cada um acondicionando quatro títulos da obra seminal da cantora Vanusa, todos devidamente remasterizados e trazendo algumas faixas bônus. O volume 1 se abre com o primeiro álbum dela, lançado em 1968, o qual apresenta também uma boa compositora logo na canção de abertura, a suingante “Mundo Colorido”. Especialmente neste e no disco seguinte, de 1969 (do qual consta o hit “O que É meu É teu”, de Silvio Brito), ainda se constata a influência que a colega Wanderléa, então no auge do sucesso por conta da Jovem Guarda, exerceu no início da carreira de Vanusa, inegavelmente uma intérprete de fartos recursos vocais. Também nestes dois trabalhos, embora predominem músicas com temas e sonoridade em voga na época, encontram-se reverências da cantora a gerações anteriores, conforme se constata através das releituras (a seu estilo) de “Mensagem” (de Aldo Cabral e Cicero Nunes) e “Caminhemos” (de Herivelto Martins). O cantor Antonio Marcos, primeiro marido da artista, somente daria a cara no disco de 1971, tanto como autor como dividindo os vocais em “Agora Eu Sei”. Àquela época, Vanusa já se mostrava uma boa garimpadora de novos talentos, gravando Ivan Lins, Taiguara e Fred Falcão, o que se fez ratificar no disco seguinte, de 1973, quando ela gravou duas canções de Zé Rodrix (uma delas feita com Tavito). Foi nesse trabalho que ela registrou um dos grandes hits de sua carreira, a bonita “Manhãs de Setembro” (parceria com Mario Campanha). Do repertório dele também fazem parte um pertinente mergulho no universo infantil (“O Mago de Pornois”, de Massadas) e suas primeiras incursões no samba (“Quebra-Cabeça”, de Wiliam Acquisti, e “Mercado Modelo”, de Antônio Carlos, Jocáfi e Ildázio Tavares). Indicado para colecionadores!

* Bastante aguardado, especialmente pelo seu já considerável séquito de fãs, o novo CD do gaúcho Filipe Catto (que se intitula “Tomada”) estará, em breve, chegando às lojas. Embora o repertório de onze faixas seja majoritariamente inédito, há espaço para as releituras de “Do Fundo do Coração” (de Taciana Barros e Júlio Barroso), “Canção & Silêncio” (de Zé Manoel) e “Amor mais que Discreto” (de Caetano Veloso). O novo disco, produzido por Kassin, vai apresentar parcerias de Catto com Moska e Pedro Luís e trará novas canções de Marina Lima (“Partiu”) e de Fernando Temporão (“Um Milhão de Novas Palavras”, parceria com César Lacerda).

* “Rizar”, o primeiro CD solo do cantor e compositor paulistano Zé Pi está chegando ao mercado através da gravadora YB Music, contendo nove canções autorais, apenas duas criadas ao lado de parceiros. Produzido pelo guitarrista Gustavo Ruiz, o álbum de sonoridade pop conta com as participações especiais de Tulipa Ruiz (em “Depois”) e Leo Cavalcanti (em “Anoiteceu”). Entre a presença de quarteto de cordas em alguns momentos e inserções eventuais de metais em outros, a base do disco se escora mesmo é na banda formada por André Lima (teclados sintetizadores), Meno Del Picchia (baixo) e Richard Ribeiro (bateria e percussão), além do próprio Pi nas guitarras. Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Muito Tempo”, “Gosto de Você” e “Bem Melhor do que Está”.

* “Duas Noites para Dolores Duran”, um projeto capitaneado pelo pesquisador musical carioca Rodrigo Faour, está chegando às lojas nas versões CD duplo e DVD duplo. Os registros foram feitos ao vivo, um durante show realizado, em novembro de 2012, no Teatro Eva Hertz de São Paulo (SP), e o outro quando de apresentação coletiva que ocorreu na casa Miranda, no Rio de Janeiro (RJ), em março de 2013. Entre as canções selecionadas estão “Estrada do Sol”, “O Negócio É Amar”, “Não me Culpe”, “Solidão”, “Fim de Caso”, “Ternura Antiga” e “A Noite do meu Bem”. Participam desse interessante projeto, entre outros, João Donato, Leny Andrade, Carlos Lyra, Doris Monteiro, Marcia Castro, Elba Ramalho, Simone Mazzer, Claudette Soares, Cida Moreira, Cauby Peixoto e Angela Maria.

* Aguardado com justificável curiosidade pelo fato de, entre os seus cinco integrantes, estar Tom Veloso, o filho caçula de Caetano, o primeiro CD da banda carioca Dônica chegou recentemente às lojas através da gravadora Sony Music com a produção musical assinada a quatro mãos por Daniel Carvalho e Berna Ceppas. Intitulado “Continuidade dos Parques”, o álbum se faz composto por onze faixas (incluindo a instrumental “Inverno”), quase todas assinadas por Tom (que toca violão) e Zé Ibarra (o vocalista, que também toca piano) – a banda se completa com André Almeida (na bateria), Lucas Nunes (na guitarra) e Miguel Guimarães (no baixo). São todos de fato bastante jovens e, por isso mesmo, o disco resulta em uma agradável surpresa. Há temas muito bem construídos, como é o caso de “Pintor” (que conta com a participação especial de Milton Nascimento), “Casa 180”, “Macaco no Caiaque” e “Praga” (esta com um criativo refrão trava-línguas). É apenas uma amostra inicial, mas muito boa, de um grupo que toca bem e, ancorado em influências que vão do Clube da Esquina ao rock progressivo da década de setenta do século passado, poderá vir a sedimentar uma interessante carreira. Vale a pena conhecer!

* “Velhas Ideias Novas” é o sugestivo título do novo CD do saxofonista carioca Leo Gandelman. Trata-se de um álbum que cai no suingue do samba de gafieira e do samba-jazz (gênero derivado da Bossa Nova), homenageando José Ferreira Godinho Filho, o genial saxofonista e clarinetista conhecido como Casé. Do repertório constam, entre outras canções, “Se Acaso Você Chegasse” (de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins), “Quem Quiser Encontrar o Amor” (de Carlos Lyra e Geraldo Vandré), “Feitio de Oração” e “Feitiço da Vila” (ambas de Noel Rosa e Vadico). Massa!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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