Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: KARINA BUHR
CD: “SELVÁTICA”
Gravadora: YB MUSIC

Uma das mais performáticas cantoras dessa nova geração que batalha por aí para garantir um lugar ao Sol, a baiana Karina Buhr (que, aos oito anos, se mudou para Recife/PE, onde iniciou sua carreira musical, em 1992, nos grupos de maracatu Piaba de Ouro e Estrela Brilhante, tendo, em seguida integrado as bandas Eddie e Comadre Fulozinha) está lançando o seu terceiro CD através da gravadora YB Music. Trata-se de “Selvática”, álbum de sonoridade pesada e mote feminista, o qual se faz composto por onze faixas inéditas e autorais, quatro delas criadas com parceiros.
Karina tem formação teatral (chegou a integrar o aclamado grupo do Teatro Oficina, a convite do diretor Zé Celso Martinez Correa, com o qual participou de “As Bacantes” e das cinco peças que compõem “Os Sertões”) e certamente por isso entende cada música como uma hístória própria, caso explícito de “Esôfago” e “Alcunha de Ladrão”, as duas presentes no novo repertório.
Dona de timbre característico, muito por conta de um sotaque extremamente carregado, ela contorna algumas limitações vocais com desenvoltura e criatividade. E sabe usar a imagem de forma bastante original (basta que se atente para os seus seios nus expostos na foto da capa), chamando a atenção primeiramente para o visual para garantir a curiosidade do público que, de carona, passa a conhecer o seu trabalho musical. Foi assim desde o elogiado “Eu Menti pra Você” (o primeiro disco solo, lançado em 2010), o que se repetiu em “Longe de Onde” (de 2011, disco que passou maio batido).
O recém-lançado CD mostra um amadurecimento no que tange ao quesito compositora. E isso se torna constatável já na faixa de abertura, a ótima “Dragão”, sensação ratificada logo em seguida com “Eu Sou um Monstro”, ambas destaques do repertório e assinadas por ela solitariamente. A presença em várias passagens do trombone mágico e potente de Guizado (também parceiro na boa “Conta Gotas” e na experimental “Pic Nic”) confere um toque bastante especial à sonoridade do trabalho, a qual se fez formatada com a participação de instrumentistas que entendem a linguagem musical de Karina: Bruno Buarque na bateria, MAU no baixo, André Lima no piano, Edgard Sacandurra e Fernando Catatau nas guitarras.
O momento mais punk do set list, a canção “Cerca de Prédio” (parceria com baixista Cannibal) conta com a participação especial da banda Devotos e contrasta espertamente com a apropriadamente delicada “Desperdiço-te-me”. No entanto, é em canções mais palatáveis, caso da balada “Vela e Navalha” e da ciranda “Rimã”, que Karina se dá melhor, com mais chance de ampliar o seu público para fatias mais díspares, sonho maior de todo artista.
Ao final, na faixa-título (dela, André Lima, Bruno Buarque e MAU), une-se às selváticas Elke Maravilha e Denise Assunção para gritar em um discurso contra a submissão da mulher. Tal pode até soar desnecessário a essa altura do campeonato, mas fecha o conceito de um trabalho bem-vindo, o melhor da carreira dessa talentosa artista de alma inquieta. Vale a pena conhecer!

N O V I D A D E S

* Assim como Alice Caymmi, é com o seu segundo CD (o primeiro, “Mundano”, saiu em 2009) que o paraense (de Belém) Arthur Nogueira vê seu nome começar, de fato, a ser reconhecido e valorizado no meio musical. Cantor de voz grave e compositor que se alterna na construção de poéticas letras (geralmente curtas e inspiradas) com melodias eficientes, ele recebeu recentemente o importante aval de Gal Costa que gravou em “Estratosférica” (seu mais recente e cultuado álbum) a canção “Sem Medo Nem Esperança”, parceria dele com Antonio Cícero, ora regravada sob o prisma autoral, ainda que conservando o viés feminino. Aliás, essa canção também batiza o disco que chegou recentemente às lojas através da gravadora Joia Moderna e que, sob a direção artística de Marcus Preto e a produção musical de Arthur Kunz (do duo Strobo), que optou por uma sonoridade em que predominam programações, samplers e sintetizadores, se faz composto por dez faixas autorais, duas delas criadas solitariamente: “Por um Fio” e a bela e etérea “Guamá”, um dos destaques do repertório, ao lado de “Simbiose” (outra parceria de Arthur e Cícero, este presente na faixa, declamando os versos do poema “Palavras Aladas”). Um dos pontos de maior relevância recai sobre o fato de Arthur não se deixar fazer rascunho de nenhum grande nome do nosso cancioneiro, seja como intérprete, seja como autor (embora haja lembranças melódicas de Caetano Veloso em “Eye Shark”, composta com Letícia Novaes, único tema em inglês do repertório). E se em “Vaga” (feita com Marina Wisnik), o artista faz uma ode ao surfista que desliza sobre as ondas e sob o Sol, em “Volta” (composta com Omar Salomão) resgata o amor até então julgado perdido. Há ainda mais uma parceria com Cícero (“Truques”) e canções divididas com Marcelo Segreto (“O que Você Quiser”) e com Michel Sleiman e o poeta sírio Adonis (“Fim do Céu”). Arthur Nogueira é, pois, um nome a ser anotado!

* A cantora e compositora baiana Rebeca Matta e o cantor e compositor pernambucano Zé Manoel são os convidados do novo projeto musical do duo “Dois em Um”, formado pelo multi-instrumentista baiano Luisão Pereira com a violoncelista carioca Fernanda Monteiro. A gravação se deu ao vivo em setembro próximo passado durante show realizado em Salvador/BA.

* A próxima telenovela da Rede Globo das 19 horas que estreará no dia 9 de novembro e se intitulará “Totalmente Demais” terá como tema de abertura a música homônima (de autoria de Arnaldo Brandão, Robério Rafael e Tavinho Paes), especialmente regravada pela cantora Anitta. Para os quarentões de plantão vai rolar um revival, uma vez que essa música foi uma das mais executadas no já distante ano de 1986 em gravação feita por Caetano Veloso para um disco dele registrado ao vivo.

* E por falar em Caetano, o projeto idealizado em tributo à cantora portuguesa Amália Rodrigues, o CD “Amália – As Vozes do Fado”, contará com a presença dele na faixa “Naufrágio” (de Aalin Oulman e Cecília Meireles), gravada em dueto com a cantora Carminho. Quem viver ouvirá!

* A cantora Luiza Meiodavila acaba de lançar, de maneira independente, o seu primeiro EP. Trata-se de “Florescer”, composto por apenas seis faixas, mas que reflete o real talento da moça. Nascida e crescida em São Paulo, desde cedo ela sentiu pulsar no peito os chamados da música. Aos quatro anos já tocava flauta doce na escola até que, aos dez, chegou à complexa flauta transversal. Apaixonada por jazz e música brasileira, Luiza também passeia por outros gêneros como o rock, o soul e o pop. O recém-lançado trabalho foi produzido por ela própria ao lado do violonista Lipe Torre (que assina quatro das músicas, duas delas solitariamente) e do namorado, o guitarrista e engenheiro de som Zé Victor Torelli (parceiro dela na sombria canção “Mar de Devaneios”). A ficha técnica conta com músicos de peso, a exemplo de Cuca Teixeira na bateria, Gabriel Gaiardo no piano, Felipe Galeano no baixo, Renan Cacossi no saxofone e na flauta, Jarbas Barbosa na guitarra e Walmir Gil no flugel. Os arranjos são bacanas e eficientes e servem como porto seguro para a bela e suave voz da intérprete que tem um caminho a trilhar pela frente, mas já demonstra possuir uma identidade interessante. Há uma única regravação, o conhecido chorinho “Doce de Coco” (de Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho) que ganha inusitados ares de ska. Entre os melhores momentos do repertório apresentado estão a bonita “Romance de Novela” (que conta, nos vocais, com a participação do supracitado Lipe), a ciranda “Laços” e a bilíngue “Sister, Don’t You Go” (com letra escrita em inglês e espanhol). Vale a pena conhecer!

* O novo álbum do cantor e compositor Leoni se intitulará “Notícias de Mim” e será lançado muito em breve. O repertório incluirá parcerias do artista com Frejat, Chuck Hipolitho, Zélia Duncan e Sergio Britto (integrante do grupo Titãs). A conferir!

* Disponível nos formatos CD e DVD, a nova empreitada musical da cantora Verônica Sabino está chegando ao mercado através de uma parceria entre a gravadora Som Livre e o selo MP,B Discos. Trata-se de “Esse meu Olhar”, gravado ao vivo durante show realizado no Cultural Bar, em Juiz de Fora (MG), em março de 2013. O projeto se faz composto por doze faixas, metade medleys, e foi produzido pela própria artista ao lado de Amaury Linhares. A banda enxuta e coesa tem à frente Sérgio Chiavazzoli, respondendo pelos arranjos e tocando violão e guitarra, mas conta também com os exímios Chico Werneck no piano e acordeão, André Vasconcelos no baixo acústico e João Hermeto na bateria e percussão. O repertório é formado por clássicos da nossa MPB, sendo priorizadas canções de Tom Jobim, dentre as quais “Demais”, “Por Causa de Você” e “Chega de Saudade”, compostas respectivamente com Aloysio de Oliveira, Dolores Duran e Vinicius de Moraes. Há as participações especiais de Roberto Menescal (em quatro momentos) e de Milton Nascimento (em “Nada Será Como Antes”, dele e Ronaldo Bastos). As grandes sacadas do roteiro ficam por conta da ligação entre a lendária “Garota de Ipanema” (de Tom e Vinicius) com a mais recente “Garota Nacional” (de Samuel Rosa e Chico Amaral) e principalmente do uso da mesma harmonia para unir as vozes de Verônica e Menescal em “Só em teus Braços” e “Este seu Olhar”.

* A baiana Daniela Mercury anuncia que, ainda este ano, estará lançando um novo CD, o qual terá o repertório recheado de canções inéditas e servirá para marcar as cinco décadas de vida da cantora. Axé!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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