Cantor: CARLOS CAREQA

CD: “PELO PÚBLICO”

Gravadora: INDEPENDENTE

Na apresentação do novo CD do compositor e cantor curitibano Carlos Careqa, o colega maranhense Zeca Baleiro assim escreveu: “Careqa é ótimo cantor, toca um violão elegante e tem apurado senso melódico, podia portanto ser mais um entre os bons. Só que ele prefere escrever sua própria história, com tintas irreverentes e iconoclastas, com o seu humor personalíssimo e a sua interpretação incomum, sempre flanando entre registros opostos, podendo ir do lírico ao histérico, do clean ao mais puro rock’n’roll”.

Exageros à parte, Careqa se firma realmente como um criador único. Suas composições, a maioria delas assinadas em parceria com Adriano Sátiro, revelam uma ironia característica dos que observam o cotidiano e dele retiram a inspiração para questionar o que está aí. A foto da capa já dá uma idéia do que é o trabalho do cara. Não é à toa, portanto, que em sua música encontram-se ecos dos irreverentes Tom Zé e Arrigo Barnabé.

O disco recém-lançado, uma produção independente que chega ao mercado através da distribuição da Tratore, leva a assinatura do competente Mário Manga na produção e conta com a participação especial do cantor cearense Falcão na faixa de abertura, a brega “Agora é pra Foder”, com uma letra repleta de duplos sentidos. O politicamente incorreto contido em “Os Cinco Lados da Mulher” convive lado a lado e sem maiores conflitos com a bacana “Feiúra é Fundamental”.

Como curiosidades, há que se ressaltar “Psycho Maloca”, experiência que junta David Byrne e Adoniran Barbosa, e “Samba a Bile” que brinca com repertório clássico, cantando em cima da melodia da famosa “Madalena” (de Ivan Lins): “Ô Filomena, o doutor já percebeu / O meu fígado está novo comparado ao baço teu”. Os maiores destaques, todavia, ficam por conta da meso-sertaneja e toda inspirada “Ser Solteiro”, da hipocondríaca “Vou Falar com o Pitanguy”, do rock-blues “Olhos de Star” e do frevo “O Resto é Pó” (esta, uma parceria com André Abujamra).

Um álbum no mínimo exótico e que se estabelece pela criatividade incomum. Conheça!   

R E S E N H A     2

Cantor: RENATO BRAZ

CD: “POR TODA A VIDA”

Gravadora: BISCOITO FINO

O cantor paulistano Renato Braz é tido, entre os companheiros do meio artístico nacional, como uma das melhores vozes masculinas da atualidade. Embora ainda um tanto desconhecido pelo grande público, a verdade é que o rapaz realmente canta muito bem (seu timbre lembra por vezes o de Milton Nascimento) e tem lançado CD’s muito interessantes com repertórios escolhidos entre o que há de melhor na nossa MPB. Foi ele, inclusive, o ganhador do Prêmio Visa em 2003 – Edição Intérprete.

Recém-contratado da gravadora Biscoito Fino, Renato está fazendo chegar às lojas um novo disco, o quinto de sua carreira, intitulado “Por Toda a Vida”, no qual gravou somente canções da dupla de compositores Jean e Paulo Garfunkel, dois irmãos também paulistanos. Estes são antigos batalhadores nessa dura vida de artista e, desde que tiveram a canção “Calcanhar de Aquiles” gravada magistralmente por Elis Regina em seu último trabalho (1980), só voltaram a cair na boca do povo curiosidade pelas mãos de Maria Rita, filha da Pimentinha, quando, em seu primeiro ótimo álbum, a cantora incluiu o lindo blues “Não Vale a Pena”.

O fato é que as criações mais calmas da dupla se adequam perfeitamente ao trabalho de Renato. Cantor que abriu mãos de produções luxuosas para envolver o seu canto apenas fazendo uso de tratamento acústico e com um pé no lado do Brasil rural, ele se mostra perfeitamente à vontade em faixas que enfatizam essas raízes, tais como “Avenida São João” e “Contumaz”.

O disco conta com as participações especiais de Dori Caymmi (violão e arranjo de algumas faixas), da banda Mantiqueira (na regravação da já citada “Calcanhar de Aquiles”) e da cultuada cantora Mônica Salmaso (na delicada valsa-canção “Soldadinho de Chumbo”, um dos melhores momentos do CD). Outros destaques do álbum ficam por conta de “As Águas Sempre Vão”, “Aconteceu de Eu me Esquecer”, “Menino Quieto” e do belíssimo samba “Em Suma”.

N O V I D A D E S

·               Zeca Baleiro é um dos artistas que mais possui DVD’s em sua videografia. Já possui quatro lançados (recentemente chegou ao mercado o referente ao show de seu segundo CD, o excelente “Vô Imbolá”) e acaba de gravar mais um. Trata-se do registro do novo espetáculo, baseado no repertório de seu mais recente álbum (o apenas razoável “Baladas do Asfalto & Outros Blues”), mas que vai contar também com releituras de canções do grupo Secos & Molhados, de Roberto Carlos e de Benito Di Paula.

·               O filho de Edu Lobo está lançando o seu segundo CD. Intitulado “Sábado”, o novo trabalho de Bena Lobo, contém participações mais que especiais de Seu Jorge, Pedro Luís e Lenine e parcerias suas com Milton Nascimento e Paulo César Pinheiro.

·               Um título já confirmado que fará parte da nova formada da série de reedições que a gravadora Som Livre porá no mercado no segundo semestre é a trilha sonora nacional da novela “O Rebu”, levada ao ar pela Rede Globo na década de setenta. E ela tem um brilho especial, pois foi composta por ninguém mais, ninguém menos que Raul Seixas. Outra trilha que fará parte do pacote será o do seriado “Malu Mulher” (à época, protagonizado por Regina Duarte), que tem entre as suas faixas canções interpretadas por Simone, Gal Costa, Elis Regina, Maria Bethânia e Rita Lee.

·               Além de Mart’nália, o sambista Martinho da Vila lança um outro filho na carreira musical. Trata-se de Tunico Ferreira que está pondo no mercado, através da pequena gravadora ZFM Records, o seu primeiro CD intitulado “Na Cadência do Partido Alto”.

·               E por falar no pai, o irrequieto Martinho da Vila continua com seu intento de mesclar os idiomas através da música. Depois de experimentar fusões de seu samba com a língua francesa e com a música dos países de origem latina nos recentes álbuns “Conexões” e “Brasilatinidade”, respectivamente, o artista vai cantar em inglês no disco que já começou a gravar para lançar no segundo semestre.

·               Arnaldo Brandão gravou CD ao vivo que acaba de chegar às lojas. O guitarrista, que tem parceria com Lobão (“Rádio Blá”) e Cazuza (“O Tempo Não Pára”), incluiu músicas pouco conhecidas e teve Frejat como convidado especial na faixa “Inverno Europeu”.

·               A cantora Lúcia Richer está lançando o seu primeiro CD, uma produção independente, intitulado “Retratos da Alma”. A artista, que toca violão desde os nove anos e foi aluna de Tom Zé, desenvolveu profunda admiração pela música brasileira a partir de sua entrada no CLAM, escola do Zimbo Trio, na qual estudou canto durante uma década. Produzido por Marcelo Elias, o disco mostra uma intérprete de voz suave e apóia o seu repertório em regravações de canções de Djavan (“Maçã”, “Dupla Traição”, “Beiral”), Tom Jobim (“Luíza”, “Você Vai Ver”) e Fátima Guedes (“Condenados”).

·               A incensada banda pernambucana Cordel do Fogo Encantado já se encontra em estúdio gravando um novo CD. Intitulado “Transfiguração”, o trabalho promete ser bem mais musical que os discos anteriores do grupo que tinham muito mais de performáticos do que de melodiosos. A produção fica a cabo de Carlos Eduardo Miranda e a intenção é que o álbum chegue ao mercado no começo de setembro.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

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